Assassinos da Lua das Flores

Crítica – Assassinos da Lua das Flores

Sinopse (imdb): Na virada do século XX, o petróleo tornou a nação Osage a mais rica do mundo do dia para a noite. Tanta riqueza atraiu intrusos brancos, que manipularam, extorquiram e roubaram o dinheiro do povo Osage antes de assassinar a população.

Lembro que uns anos atrás a gente fez um episódio do Podcrastinadores que o tema era “Que filmão, hein?”, onde comentamos filmes que são grandes produções, de grandes diretores, com grandes elencos. Assassinos da Lua das Flores podia facilmente entrar numa lista dessas. Todo fã de cinema deveria agradecer ao fato de pessoas como Martin Scorsese existirem e continuarem trabalhando. O cara vai fazer 82 anos no mês que vem, e ele continua sendo um dos melhores diretores em atividade em Hollywood. E, mais uma vez, ele entrega um filme memorável.

Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon, no original) traz uma história que heu não conhecia: o massacre dos índios Osage, que tinham um território enorme dentro de onde são os Estados Unidos hoje, e quando o homem branco europeu chegou eles foram sendo acuados e perderam grande parte das suas terras. Acabou que eles ficaram com um território bem pequeno, mas descobriram petróleo. Ou seja, os índios Osage passaram a ser ricos – mais ricos que os brancos. E era uma época há 100 anos atrás onde os índios nem sempre eram respeitados, onde matar índio era algo relativamente normal. Então homens brancos começaram a casar com mulheres índias para herdar as terras com petróleo. Tem uma cena curta no filme que me marcou muito: um cara conversando com um juiz (acho que era um juiz, não tenho certeza), ele pergunta “Tem duas crianças Osage que são órfãs, herdeiros de uma terra com petróleo. Se eu adotar essas crianças e elas morrerem, a terra fica para mim?” E aí o juiz fala para ele “Mas, você está pensando em matar as crianças?” E o cara responde, friamente, “Eu só estou perguntando se a terra fica para mim se eles morrerem.”

Outra coisa que heu não sabia: o primeiro grande caso do FBI foi a investigação sobre os assassinatos dos Osage. Na época eles ainda eram só o “Bureau of Investigation”, ainda não tinha o “Federal” – isso está no filme.

Scorsese pegou essa pungente história e fez um “filmão”, com uma fotografia deslumbrante, uma reconstituição de época e figurinos perfeitos e uma trilha sonora contida mas usada no ponto exato. Sim, Assassinos da Lua das Flores talvez seja um pouco longo demais (mais tarde volto a esse tópico), mas é um filmaço, que deve ser visto, preferencialmente nos cinemas.

Normalmente comento o elenco no fim dos meus textos, mas hoje quero abrir com o elenco. Todos estão ótimos, mas temos que dar destaque aos três principais nomes: Robert De Niro, Leonardo DiCaprio e Lily Gladstone – que certamente estarão nas indicações ao Oscar ano que vem.

(Tem gente por aí dizendo que é a primeira vez que De Niro e Dicaprio trabalham juntos, mas não é. Eles trabalharam juntos em Despertar de Um Homem em 1993 e As Filhas de Marvin em 1996. Mais: Scorsese dirigiu um curta em 2015 chamado The Audition, com De Niro, DiCaprio e Brad Pitt!)

O principal é DiCaprio, mas vou começar falando do Robert De Niro. Lembro que em maio deste ano vi um filme novo dele, Meu Pai É um Perigo, um filme muito bobo, onde dá pena de ver um cara do porte do De Niro. Vou copiar aqui um trecho do que escrevi: “E aqui vou deixar a triste constatação de que Robert De Niro ficou devendo. Olha, sou fã do cara, se heu for fazer uma lista de 100 melhores filmes da minha vida, ele estará em vários, tipo Era uma Vez na América, Coração Satânico, Os Intocáveis, Jackie Brown, Brazil o Filme… Mas, de um tempo pra cá, ele virou uma caricatura de si mesmo. E pior do que ver Robert De Niro fazendo uma caricatura de si mesmo é vê-lo servindo de escada para um comediante ruim. Triste fim de carreira pra um grande ator com dois Oscar no currículo (O Poderoso Chefão 2 e Touro Indomável)“. E, como fã antigo do De Niro, como fico feliz de dizer que ele está longe do “fim de carreira”! Que atuação fenomenal!

E chegamos ao DiCaprio, um dos melhores atores da sua geração, que tinha sido ignorado pelo Oscar em vários papéis marcantes, até merecidamente ganhar a estatueta por O Regresso. E DiCaprio está mais uma vez sensacional com seu personagem aqui, Ernest Burkhart, um cara meio bronco, que segue o que mandam, que a princípio casa por obrigação, mas mostra que realmente gosta dela.

Também preciso falar de Lily Gladstone. Heu nunca tinha visto nenhum filme com ela (ela estava em First Cow, filme que já me recomendaram, mas ainda não consegui ver). Lily tem uma atuação contida, poucas palavras, quase tudo no olhar. E que atuação! Não sei se ela leva o Oscar, porque Margot Robbie também está sensacional, mas uma indicação certamente vem aí.

Queria fazer um outro comentário sobre o elenco. Dois grandes nomes, John Lithgow e Brendan Fraser, só entram no filme depois de quase três horas de projeção! Imagina a moral do Scorsese: chama o cara que acabou de ganhar o Oscar de melhor ator e só usa o cara no fim do filme!

A edição é muito boa. Pensa num filme de quase três horas e meia que não tem nenhum momento que você pensa em pegar o celular pra dar uma olhada no zap. Dito isso, acho que foi muito longo. Talvez desse pra cortar meia hora e fazer um filme longo de quase três horas. Mas… Assassinos da Lua das Flores cansa menos que Oppenheimer, que tem vinte e seis minutos a menos.

Sem spoilers, mas o final do filme é diferente de tudo o que heu poderia imaginar. Filmes históricos neste estilo costumam terminar com um texto explicando o que aconteceu. Sim, tem um texto. Mas apresentado em um formato surpreendente.

Sim, heu sei que Assassinos da Lua das Flores vai chegar em breve ao streaming. Mas recomendo fortemente a ida ao cinema. Um filme desses merece ser visto numa tela grande. Em casa, seja na tv ou no computador, dificilmente o espectador vai conseguir ficar três horas e meia focado no filme.

Meu Pai é um Perigo

Crítica – Meu Pai É Um Perigo

Sinopse (imdb): Quando Sebastian diz a Salvo, seu pai, imigrante italiano da velha guarda, que vai pedir sua namorada americana em casamento, Salvo insiste em passar o fim de semana com seus pais elegantes.

Quando vou ao cinema, sempre vejo cartazes pra ver o que vem por aí. Lembro quando vi o cartaz deste Meu Pai É Um Perigo, e me pareceu um filme muito bobo. Mas um amigo disse, “Ah, é o Robert De Niro, sempre vale a pena”. Então fui ver o filme.

Mas, heu tinha razão. É um filme muito bobo.

Depois da sessão descobri que Sebastian Maniscalco é um comediante famoso, inclusive a página deste filme no imdb o cita como “o melhor comediante na América” (seriously?). Essa deve ser uma história baseada em algo do passado dele, tanto que o personagem tem o mesmo nome do ator. Mas preciso dizer que o estilo do comediante não é pra mim.

Meu Pai É Um Perigo (About My Father, no original) conta uma história que já vimos dezenas de vezes: um casal que pretende casar vai passar um fim de semana com os pais de ambos os lados, e rolam vários tipos de desentendimentos. Inclusive o próprio De Niro já fez um filme parecido, Entrando Numa Fria.

Aí o leitor do heuvi vai dizer “mas, ora, Helvecio, você falou bem outro dia do filme Casamento em Família, que tem exatamente a mesma premissa!”. Sim, mas o melhor daquele filme não era a história clichê, e sim o fantástico elenco de veteranos (Diane Keaton, Susan Sarandon, Richard Gere e William H. Macy). Os quatro na tela valiam o ingresso!

E aqui vou deixar a triste constatação de que Robert De Niro ficou devendo. Olha, sou fã do cara, se heu for fazer uma lista de 100 melhores filmes da minha vida, ele estará em vários, tipo Era uma Vez na América, Coração Satânico, Os Intocáveis, Jackie Brown, Brazil o Filme Mas, de um tempo pra cá, ele virou uma caricatura de si mesmo. E pior do que ver Robert De Niro fazendo uma caricatura de si mesmo é vê-lo servindo de escada para um comediante ruim. Triste fim de carreira pra um grande ator com dois Oscar no currículo (O Poderoso Chefão 2 e Touro Indomável). No resto do elenco, dois nomes conhecidos, Leslie Bibb e Kim Cattrall. Não atrapalham, mas tampouco ajudam.

Sobre o humor do filme: deve ser engraçado para alguns. Algumas fileiras atrás de mim, algumas pessoas davam gargalhada altas. Quase fui sentar lá com eles, pra tentar ver se eles estavam vendo outro filme. Porque o filme que passou onde heu estava é muito fraco.

Amsterdam

Crítica – Amsterdam

Sinopse (imdb): Na década de 1930, três amigos testemunham um assassinato, são incriminados e descobrem uma das tramas mais ultrajantes da história americana.

Antes de falar do filme, preciso falar da sessão de imprensa. Normalmente, críticos e jornalistas têm acesso a uma sessão antes da estreia, pra dar tempo de produzir conteúdo. E normalmente essa sessão acontece alguns dias antes. Mas, não sei por que, Amsterdam teve uma sessão quase um mês antes da estreia. Pior: sessão foi sem legendas! Pra que exibir um filme com tanto tempo de antecedência?

Enfim, estreia esta semana, então agora é hora do texto. Vamos ao filme?

A primeira coisa que chama a atenção aqui é o elenco. Afinal não é sempre que temos Margot Robbie, Christian Bale, John David Washington, Robert DeNiro, Rami Malek, Anya Taylor-Joy, Zoe Saldaña, Michael Shannon, Mike Myers, Chris Rock, Taylor Swift, Timothy Olyphant e Andrea Riseborough. É tanta gente legal passando pela tela que o espectador até se distrai e esquece as falhas.

Além do elenco, a reconstituição de época também é muito boa, assim como a fotografia de Emmanuel Lubezki (que ganhou três vezes seguidas o Oscar de fotografia, por Gravidade, Birdman e O Regresso). Amsterdam é um filme bonito. E as maquiagens também são muito boas, os dois atores principais tiveram graves ferimentos de guerra.

Mas, dito isso, achei o filme meio vazio.

Diria que o problema é o roteiro, escrito pelo diretor David O Russell, que não lançava nenhum filme desde Joy, de 2015. E, olha só, fui reler o que escrevi sobre Joy na época, vou copiar um trecho aqui: “Mais um filme meia boca do superestimado David O. Russell… A história de uma mulher que inventou um esfregão daria um bom filme? Talvez. Mas precisaria de um bom roteiro, já que a história em si é besta. E isso não acontece aqui. Joy: O Nome do Sucesso tem uma cena boa aqui, outra acolá. Mas no geral, é um filme bobo.”

Ou seja, O. Russell continua o mesmo. Mas, péra, posso catar um trecho do que escrevi em 2013 sobre Trapaça, seu filme anterior? “Sabe quando um filme tem um monte de coisas legais, mas simplesmente não funciona? Tem a Amy Adams linda e com decotes generosíssimos, bons atores com boas caracterizações, figurinos bem cuidados, boa ambientação de época, boa trilha sonora? Mas, apesar de tudo isso, parece que o filme não “dá liga”.

(E isso porque achei O Lado Bom da Vida um filme bem fuén…)

Pior é que depois que vi Amsterdam, fui catar informações pela internet e descobri que David O. Russell já teve problemas nos bastidores com alguns de seus atores, como George Clooney e Amy Adams. Mas, não sei por quais motivos, os filmes dele sempre geram indicações ao Oscar, sete atores diferentes já foram indicados por filmes com ele: Jennifer Lawrence (três vezes), Christian Bale (duas vezes), Amy Adams (duas vezes), Bradley Cooper (duas vezes), Melissa Leo, Robert De Niro e Jacki Weaver. Mais: ele é o único diretor que já teve dois filmes consecutivos com indicações para os quatro Oscars de atuação (O Lado Bom da Vida e Trapaça). Deve ser por isso que ele consegue tal elenco.

E, pra fechar, falando do elenco deste Amsterdam. São três papeis centrais, Margot Robbie, Christian Bale e John David Washington. Mas o único destaque é para Bale, que está ótimo com suas cicatrizes e seu olho de vidro. Os outros dois estão apenas no piloto automático. E o resto do elenco mal dá pra julgar, alguns deles aparecem em uma ou duas cenas!

Por fim, mais uma vez, longo demais (acho que comentei isso em todas as críticas sobre os filmes do diretor), são duas horas e quatorze minutos que chegam a cansar.

No fim, fica aquela sensação de potencial desperdiçado. Pena.

Coringa

Crítica – Coringa

Sinopse (imdb): Um corajoso estudo de caráter de Arthur Fleck, um homem desconsiderado pela sociedade.

Estreou o filme que vai gerar as maiores discussões nerds do semestre!

O Coringa é um personagem icônico na cultura pop, mas sempre foi ligado ao Batman. Fazer um filme “solo” do Coringa era um risco (lembrando que o filme do Venom sem o Homem Aranha foi muito ruim). Mas não é que deu certo?

Uma coisa chama a atenção do cinéfilo atento. O diretor é Todd Phillips, que ganhou fama pelos três Se Beber Não Case. Assim como aconteceu ano passado com Peter Farrelly e o seu Green Book, um diretor ligado a comédias de humor grosseiro resolveu fazer um drama – e mandou bem no novo estilo.

Coringa (Joker, no original) é um filme “redondinho”. Boa história, um personagem central muito bem construído, um ator protagonista inspiradíssimo, e uma parte técnica impecável – boa fotografia, boa direção de arte, boa trilha sonora, etc. Não será surpresa se tiver algumas indicações ao Oscar.

Joaquin Phoenix aqui tem talvez a melhor interpretação de sua carreira. Seu Coringa é diferente dos anteriores, aqui temos um cara desequilibrado, que para de tomar seus remédios e entra numa violenta espiral de loucura. Coringa se passa dentro do universo do Batman, ou seja, teoricamente podemos chamar de um filme de super heróis. Mas nada aqui tem ligação com super poderes – Arthur Fleck é um cara “normal”, pode ser o seu vizinho. Talvez isso seja o mais assustador de toda a história.

(Muita gente deve estar se perguntando quem seria o melhor Coringa, afinal, Heath Ledger também fez um trabalho excepcional em Batman Cavaleiro das Trevas. Mas pra mim não tem como comparar, ambos mandaram muito bem, mas em propostas diferentes. A única certeza é que Jared Leto foi infinitamente pior com seu Coringa em Esquadrão Suicida).

Joaquin Phoenix não é o único nome grande no elenco. Robert De Niro tem sua melhor atuação em muito tempo (nem me lembro quando foi seu último destaque). Sua presença confirma a intenção “scorsesiana” do filme (muita gente traça paralelos com Táxi DriverO Rei da Comédia, duas parcerias Scorsese / De Niro). Também no elenco, Zazie Beetz, Frances Conroy, Brett Cullen e Shea Whigham.

Preciso fazer um comentário, mas antes, os avisos de spoiler.

SPOILERS!

SPOILERS!

SPOILERS!

Aparece o Bruce Wayne, ainda criança. Mas o Arthur Fleck já é quarentão. Se tivermos uma continuação deste universo, o Coringa será muito mais velho que o Batman!

FIM DOS SPOILERS!

Ah, sim, claro que um bom filme dentro do universo DC vai gerar briga entre Marvetes e DCzetes. “Chupa Marvel, Coringa está mais perto do Oscar do que qualquer filme do MCU!”. Bobagem. Mais uma vez, assim como Ledger vs Phoenix, são propostas diferentes. O MCU é um universo coeso com mais de vinte de filmes de super heróis, com os principais objetivos de divertir o público e fazer bilheterias milionárias. Coringa tem outra proposta. E vale dizer: as duas propostas são válidas. Quem ganha é o espectador!

Jackie Brown

Crítica – Jackie Brown

Sinopse (imdb): Uma mulher de meia-idade encontra-se no meio de um enorme conflito que vai lhe dar lucro ou custar sua vida.

Há tempos queria rever e comentar este terceiro filme do Tarantino, tão mal falado na época do lançamento. Vamulá.

Vamos ver o contexto histórico. Quentin Tarantino surgiu para o cinema em 1992, com Cães de Aluguel. Antes de Pulp Fiction, de 94, ele vendera dois roteiros, Amor À Queima RoupaAssassinos por Natureza. E ainda teve o curta de Grande Hotel, de 95, e Um Drink no Inferno, de 96, onde ele escreveu o roteiro e atuou.

Agora, em 97, era anunciado “o terceiro longa dirigido por Quentin Tarantino”. E foi uma grande decepção na época.

Olhando os filmes anteriores, a gente consegue entender facilmente parte da decepção. Pela primeira vez (e até hoje, acho que única) adaptando um material já existente (o livro Rum Punch, de Elmore Leonard), Jackie Brown (idem, no original) tem muito menos violência gráfica que os outros. São poucas mortes e muito pouco sangue. Boa parte do público devia estar esperando mais um banho de sangue, e Tarantino resolveu fazer do jeito dele.

(Tarantino já fez isso várias vezes em sua carreira: faz o espectador acreditar que está indo para uma direção, enquanto ruma seu filme para outra. Kill Bill 1 termina com violência exagerada e muito sangue, enquanto a grande luta final do 2 é rápida e sem sangue; ou toda a participação de Channing Tatum em Oito Odiados.)

Mas, revendo Jackie Brown, inserido no contexto de quase três décadas de filmes, Jackie Brown está longe de ser ruim. Assim como fez em filmes posteriores, aqui ele homenageia uma parte do “lado B” da história do cinema, o Blaxploitation. Os personagens são interessantes (como sempre), os diálogos são ótimos (como sempre), a trilha sonora é mais uma vez um espetáculo à parte (como sempre). E Taratino mostra pleno domínio de câmera e narrativa cinematográfica – a parte final, com o plano sendo posto em prática, com as linhas temporais embaralhadas, é genial. Agora, concordo que a primeira hora e meia do filme é arrastada (são duas horas e trinta e seis minutos de projeção).

A nota curiosa sobre o elenco é que se dizia à época que a carreira de Robert Foster ganharia um gás (como aconteceu com John Travolta no Pulp Fiction). Bem, ele concorreu ao Oscar de melhor ator por este filme e… sumiu de novo. O mesmo podemos dizer sobre a protagonista Pam Grier, “sobrevivente” de filmes de blaxploitation nos anos 70, que nem ganhou a indicação ao Oscar, mas também sumiu. O resto do elenco tem um monte de bons atores em bons papeis: Samuel L. Jackson, Bridget Fonda, Michael Keaton, Robert De Niro e Chris Tucker.

Se vale rever? Claro. Tarantino é Tarantino, sempre vale rever.

Joy: O Nome do Sucesso

JoyCrítica – Joy: O Nome do Sucesso

Mais um filme meia boca do superestimado David O. Russell…

Inspirado em uma história real, o filme mostra a jornada de uma mulher determinada a manter sua excêntrica e disfuncional família unida em face da aparentemente insuperável probabilidade. Motivada pela necessidade, engenhosidade e pelo sonho de uma vida, Joy triunfa como a fundadora e matriarca de um bilionário império, transformando sua vida e a de sua família.

A história de uma mulher que inventou um esfregão daria um bom filme? Talvez. Mas precisaria de um bom roteiro, já que a história em si é besta. E isso não acontece aqui.

Joy: O Nome do Sucesso (Joy, no original) tem uma cena boa aqui, outra acolá. Mas no geral, é um filme bobo. Uma história desinteressante sobre uma personagem desinteressante. O filme acaba e a gente fica com aquela sensação de “pra que alguém fez um filme sobre uma mulher que inventou um esfregão?” E o pior é que mais uma vez o filme foi elogiado.

Sobre a Jennifer Lawrence: acho que é uma grande atriz, uma das melhores de sua geração, sabe escolher bons filmes, mas vamos combinar que ela está um pouco supervalorizada. Mais uma vez ela concorre ao Oscar por um filme de O. Russell – ela ganhou por O Lado Bom da Vida e concorreu por Trapaça. Nada contra ela concorrer, mas ela não está tão bem assim. E o pior é a gente sentir que ela está no papel errado – a Joy deveria ser uma atriz mais velha, Jennifer tem 25 anos, ficou forçado imaginá-la como uma mulher separada, mãe de duas crianças.

O elenco tem bons atores, mas nenhum está bem. O. Russell deve gostar dos mesmos atores, mais uma vez temos Jennifer Lawrence, Bradley Cooper e Robert De Niro (os 3 estavam em O Lado Bom da Vida; os dois primeiros em Trapaça). Mas o destaque negativo fica com Isabella Rosselini, grande atriz, mas que está péssima aqui. Também no elenco, Edgar Ramirez, Diane Ladd, Virginia Madsen e Dascha Polanco.

Enfim, dispensável.

A Família

0-a famíliaCrítica – A Família

Pouca gente viu, mas, olha só, ano passado teve filme novo do Luc Besson!

A família Manzoni, uma notória família da máfia, é realocada para a Normandia, na França, depois de aderir ao programa de proteção à testemunha, onde tem problemas para se adaptar, porque não consegue se livrar dos antigos hábitos.

A Família (The Family, no original) é uma despretensiosa comédia de ação, com pitadas de humor negro. Se visto assim, é um fime divertido. Pena que o currículo do diretor faz a gente pensar mais alto.

Pra quem não sabe: Besson é um dos maiores nomes do cinema contemporâneo francês quando se fala em filmes pop. Já nos anos 80 e 90 ele se destacava por usar na França uma linguagem hollwoodiana em filmes de ação como Nikita, O Profissional e O Quinto Elemento. Nos anos 2000, ele dirigiu menos, mas produziu e escreveu roteiros pra um monte de filmes, quase todos de ação, como Carga Explosiva, B13, Busca Implacável e Dupla Implacável, enquanto variava o estilo nos poucos filmes que dirigia – o drama fantástico Angel-A, a aventura As Múmias do Faraó, o drama histórico Além da Liberdade e a trilogia infantil Arthur e os Minimoys.

Com um currículo desses, e com Robert de Niro e Michelle Pfeiffer no elenco, fica difícil não ter expectativa alta. E este é o problema aqui: A Família não é um filme ruim, mas também está longe de ser um filmaço.

Visto de maneira descompromissada, A Família é até divertido. As maneiras como a família Manzoni resolve os seus problemas geram momentos bem engraçados, como quando Maggie coloca fogo no mercado só porque falaram mal dos EUA, ou as estratégias de Warren para tomar conta da escola.

Sobre o elenco, parece que Robert de Niro assumiu que hoje ele é uma caricatura dele mesmo – em determinada cena, seu personagem assiste a Os Bons Companheiros, filme estrelado pelo próprio De Niro! Acho que nunca a metalinguagem foi tão explícita… Michelle Pfeiffer não é famosa por filmes de máfia, mas não podemos esquecer que ela estava em Scarface e De Caso Com a Máfia. Tommy Lee Jones faz o polcial do serviço de proteção à testemunha. Ainda no elenco, Dianna Agron e John D’Leo como os filhos.

Enfim, nada demais. Mas pelo menos dei algumas risadas.

Trapaça

Crítica – Trapaça

Mais um dos favoritos ao Oscar 2014!

Dois vigaristas são forçados a ajudar um agente do FBI em uma operação para prender políticos corruptos.

Sabe quando um filme tem um monte de coisas legais, mas simplesmente não funciona? Tem a Amy Adams linda e com decotes generosíssimos, bons atores com boas caracterizações, figurinos bem cuidados, Amy Adams com decotes sensacionais, boa ambientação de época, boa trilha sonora, já falei dos decotes da Amy Adams? Mas, apesar de tudo isso, parece que o filme não “dá liga”.

O melhor de Trapaça (American Hustle no original) é o elenco – o quarteto principal está concorrendo a Oscars. Christian Bale, gordo e careca, quase irreconhecível, está muito bem, assim como Bradley Cooper de rolinhos no cabelo. Jennifer Lawrence aparece menos, mas tem um papel ótimo. Ah, e tem a Amy Adams, linda linda linda, e com decotes sensacionais, mostrando que, aos 39 anos, ainda está com “tudo em cima”. Ainda no elenco, Jeremy Renner, Louis C. K., e uma divertida ponta de Robert de Niro.

Também gostei muito da ambientação setentista do filme. Fotografia, figurinos, penteados, trilha sonora, tudo somado dá um clima ótimo a Trapaça.

Mas, apesar de tudo isso, o filme não engrena. Não sei se o problema está no roteiro, na direção ou na edição, mas o ritmo é tão ruim que o filme cansa com menos da metade da projeção. E, pra piorar, Trapaça tem mais de duas horas de duração.

A época do lançamento também foi infeliz. O Lobo de Wall Street tem temática parecida, e é muito melhor…

Fui ler o que escrevi um ano atrás sobre O Lado Bom da Vida, filme anterior do mesmo diretor e roteirista David O. Russell. Olha que coisa curiosa, quase dá pra usar o mesmo parágrafo: Sem as atuações inspiradas, acho que O Lado Bom da Vida ia passar desapercebido. A história nem é ruim, mas é bem bobinha. A estrutura parece a de uma comédia romântica, e o filme é tão previsível quanto uma. E, pra piorar, o filme é mais longo do que deveria. Precisava de mais de duas horas?

Mas O. Russell deve ter amigos influentes na indústria. O cara já tinha sido indicado ao Oscar de diretor em 2011 por O Vencedor, e diretor e roteirista em 2013 pelo mediano O Lado Bom da Vida. E agora está concorrendo de novo a melhor diretor e melhor roteirista – Trapaça teve dez indicações. Entendo as indicações para os quatro atores principais e para o figurino e direção de arte. Mas, na boa, melhor filme, direção, roteiro e edição é uma piada. Só se explica com pistolão…

Ou seja, com o perdão do trocadilho, Trapaça é uma enganação. A não ser para os fãs radicais da Amy Adams. Já falei dos decotes dela nesse filme?

p.s.: Tem uma cena que um personagem fala para outro mais ou menos assim: “Você é mentiroso. Imagine se pessoas como você governassem alguma coisa? Aqui não é a Guatemala!” Ah, como heu queria ser tradutor… Heu ia trocar “Guatemala” por “Brasil”…

Ajuste de Contas

Crpitica – Ajuste de Contas

Rocky e Touro Indomável na terceira idade? Pára tudo, quero ver isso!

Dois ex-lutadores de boxe, grandes rivais nos anos 80, resolvem sair da aposentadoria e voltar aos ringues para saberem qual é o melhor dos dois – 30 anos depois de sua última luta.

É curioso como o mundo dá voltas. Voltemos 16 anos no tempo, época de Copland, um filme pequeno e pouco badalado lançado em 1997, que também tinha Robert De Niro e Sylvester Stallone no elenco. A diferença é que, naquela época a carreira de De Niro ainda tinha prestígio (entre 75 be 92, ele ganhou dois Oscars – O Poderoso Chefão 2 e Touro Indomável – e ainda concorreu outras quatro vezes), enquanto Stallone era “apenas um ator de filmes de ação”. Já hoje, De Niro acumula bomba atrás de bomba, enquanto Stallone soube administrar melhor a carreira e tem um star power maior que o colega, apesar de continuar “apenas um ator de filmes de ação”.

Felizmente, aqui não interessa quem tem o maior star power. Ambos estão bem em seus personagens, o introspectivo Razor (Stallone) e o fanfarrão Kid (De Niro). E principalmente: ambos convencem como ex-lutadores de boxe aposentados. O diretor Peter Segal (Tratamento de Choque, Agente 86) conseguiu fazer uma comédia leve, divertida e com um bom ritmo. O humor não é escrachado, mesmo assim Ajuste de Contas (Grudge Match, no original)  tem alguns momentos hilariantes.

O grande marketing de Ajuste de Contas está nos famosos personagens boxeadores que os dois protagonistas fizeram entre o fim dos anos 70 e o início dos 80, Rocky Balboa e Jake LaMotta. Inclusive, vemos imagens de ambos em seus personagens icônicos – uma reportagem de tv mostra o passado dos personagens, e mostra fotos do Rocky e do Jake.

Ajuste de Contas ainda traz alguns lances geniais, como o início do filme, que mostra uma luta dos dois personagens, 30 anos antes, num impressionante trabalho de cgi; ou a cena do MMA, com participação do lutador Chael Sonnen. E a luta final é muito bem coreografada, e, importante, respeita a idade dos atores (De Niro está com 70 anos; Stallone, com 67). Agora, seria legal se, em vez de Back In Black, tocasse The Eye Of The Tiger na entrada de Razor na luta. Ah, ia…

Outro ponto forte é o elenco. Kim Basinger, com 60 anos, está mais bonita que muita menina novinha; Alan Arkin está muito bem, com diálogos engraçadíssimos. E Kevin Hart também está ótimo, no limite da caricatura – ele tem vários diálogos excelentes com Arkin. Ainda no elenco, Jon Bernthal, o Shane de The Walking Dead.

Enfim, boa comédia! Ah, é bom avisar: Ajuste de Contas tem cenas durante os créditos finais. Uma das melhores piadas do filme foi guardada para este momento!

Temporada de Caça

Crítica – Temporada de Caça

John Travolta e Robert De Niro juntos? Boa, vamos ver qualé.

Um americano, veterano da Guerra da Bósnia, que decide morar em uma cabana isolada na floresta para esquecer os traumas dos anos de combate, recebe a visita de um militar sérvio que procura um acerto de contas.

Às vezes a gente cai em erros básicos, né? Vi os dois atores no elenco, mas esqueci de checar quem era o diretor. Só depois que notei meu erro: Temporada de Caça (Killing Season, no original) foi dirigido por Mark Steven Johnson, o mesmo de Demolidor e Motoqueiro Fantasma.

Temporada de Caça não é tão ruim quanto os outros dois, mas está bem longe de ser um bom filme. O filme não tem ritmo, a trama é previsível, os personagens são mal construídos e o final é horroroso.

Ah, tem os atores, quase esqueci. Se Temporada de Caça tem alguma coisa que presta são os dois protagonistas. Nenhum dos dois está mal, mas como seus personagens são inconsistentes demais, não adianta ter bons atores.

Resumindo: desnecessário.