Saltburn

Crítica – Saltburn

Sinopse (imdb): Lutando para encontrar seu lugar na Faculdade de Oxford, um aluno é atraído para o mundo de um encantador aristocrata, que o convida para Saltburn, a enorme mansão de sua família excêntrica, para passar um verão inesquecível.

Comecei a ver gente comentando sobre este Saltburn, novo filme escrito e dirigido por Emerald Fennell, que ganhou Oscar de Melhor Roteiro Original pelo seu filme anterior, Bela Vingança, que estreou na Amazon Prime no finzinho do ano passado.

Comentários falavam sobre “polêmica” e sobre “plot twist”. Polêmica, ok, concordo. Agora, não tem plot twist. Tem gradativas revelações sobre o que realmente estava acontecendo. Isso não é plot twist, galera!

Agora, sim, o filme traz assuntos polêmicos. Temos uma visão nada glamourizada da vida dos super ricos, e além disso, todos os personagens têm falhas de caráter, e vemos alguns comportamentos completamente fora do padrão. E o filme ainda tem algumas cenas que parece que foram colocadas lá só pra provocar.

Tecnicamente, é tudo muito bem feito. Saltburn é um filme bonito e bem filmado. E heu diria que o destaque são as atuações, principalmente os dois principais, Barry Keoghan (Os Banshees de Inisherin) e Jacob Elordi (Priscilla) – indicações ao Oscar devem vir em breve. Mas o resto do elenco também está bem, Rosamund Pike, Richard E. Grant, Archie Madekwe, Alison Oliver e Carey Mulligan.

Agora, teve uma coisa na parte final que me incomodou, vou falar depois do aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

A gente descobre que Oliver tinha um plano, elaborado desde a época do colégio. Ok. Onde uma cena como ele lambendo a água do banho do Felix se insere nesse plano?

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo assim, ainda achei Saltburn um bom filme. Talvez um degrau abaixo de Bela Vingança, mas nada que estrague o currículo de Emerald Fennell. Que venha seu próximo filme!

Maestro

Critica – Maestro

Sinopse (imdb): O amor complexo de Leonard Bernstein e Felicia Montealegre, desde o momento em que se conheceram em 1946 em uma festa e continuando por dois noivados, um casamento de 25 anos e três filhos.

É complicado falar de Maestro, novo filme escrito, produzido, dirigido e estrelado por Bradley Cooper. Porque é um projeto com muitos méritos, mas ao mesmo tempo nem tudo funciona. Vamulá.

As atuações e caracterizações, assim como a reconstituição de época, estão fantásticas. Não conheço muita coisa sobre Leonard Bernstein, mas já vi vários filmes com Bradley Cooper, e é nítido que ele está bem diferente. Encontrei um vídeo no youtube do Bernstein original regendo uma orquestra, e uma cena que aparece perto do fim do filme aparentemente mostra a mesma ocasião, Cooper está impressionante! E nunca tinha ouvido falar da Felicia Montealegre, mas me disseram que Carey Mulligan está perfeita.

Mas o que mais gostei no filme não foram as caracterizações, e sim a câmera do Bradley Cooper. Em várias cenas ele move a câmera e a deixa posicionada em movimentos e ângulos fora do convencional. Não sei se a gente poderia chamar de planos sequência, porque normalmente o plano sequência é uma coreografia que envolve todo o elenco e equipe enquanto a câmera se move, e o que acontece aqui é um pouco diferente – por exemplo, num diálogo, a câmera fica fixa num ator mesmo quando ele não está falando, captando suas expressões e reações. Outra coisa que também gostei é quando passa algo na frente da câmera em movimento, e o que está atrás mudou, dando a impressão de ser um plano sem cortes.

Agora, por outro lado, achei que o filme falhou em contar a história do Leonard Bernstein. A gente vê o filme e continua sem saber de muitas coisas sobre a vida dele. Por exemplo, em um determinado momento falam que ele fez a trilha sonora de West Side Story / Amor Sublime Amor. Vi o original muito tempo atrás, vi a refilmagem do Spielberg poucos anos atrás, e fiquei tentando me lembrar quais eram as canções famosas deste musical – porque o filme não mostra as canções de West Side Story! Por que não aproveitar e incluir um trecho de America ou Maria, canções famosas daquele filme?

Vou fazer uma comparação com um filme bem inferior a Maestro. No fraco A Era de Ouro, a gente termina o filme conhecendo a obra de Neil Bogart (que é um nome muito menos relevante do que Leonard Bernstein na história da música). E aqui a gente termina o filme sem conhecer a obra de Bernstein. O filme foca mais no relacionamento entre Leonard e Felicia e menos no maestro e compositor.

Outra coisa ficou estranha. O filme mostra que Leonard tinha relacionamentos com outros homens, apesar de ser casado com Felicia, e pelo filme a gente entende que isso acontecia naturalmente. Se a história se passasse nos dias de hoje, seria mais fácil de aceitar. Mas, décadas atrás, a sociedade era muito mais preconceituosa, acho que ele não seria tão livre como o filme quer mostrar.

Tem um outro detalhes técnico que confesso que não entendi. O filme começa em preto e branco, e depois vira colorido. Ok, deve ser pra mostrar a passagem de tempo. Mas, o filme é todo no formato 4:3, formato comum na época da TV de tubo. Por que alguém usaria 4:3 hoje em dia?

Por fim, um pouco de cultura inútil. Martin Scorsese e Steven Spielberg foram cogitados para dirigir, antes de Bradley Cooper apresentar Nasce Uma Estrela, a partir daí Cooper ganhou o cargo de diretor, e Spielberg e Scorsese ficaram como produtores. Spielberg e Scorsese são amigos de longa data, mas este é o primeiro filme que tem os dois dividindo os créditos. E uma curiosidade: inicialmente, Spielberg dirigiria Cabo do Medo e Scorsese, A Lista de Schindler, e os dois acabaram trocando de lugar.

Bela Vingança

Crítica – Bela Vingança

Sinopse (imdb): Uma jovem, traumatizada por um trágico acontecimento de seu passado, busca vingança contra aqueles que cruzaram seu caminho.

Preciso dizer que o nome em português me afastou desse filme. A distribuidora claramente quis linkar o filme a outros títulos onde uma mulher se vinga dos seus agressores, como Doce Vingança ou Vingança. Até curto filmes assim, mas deixei de lado, “um dia vejo”.

Aí vi Bela Vingança na lista dos 5 indicados a Globo de Ouro de melhor filme drama. Péra, deve ter algo a mais com esse filme. You had my curiosity, now you have my attention!

Realmente. Bela Vingança (Promising Young Woman, no original) não segue a linha dos filmes citados antes. Sim, tem uma mulher se vingando de homens, mas é outro tipo de vingança. No filme escrito e dirigido pela estreante Emerald Fennell, ela vai pra balada, finge que está bêbada, espera um cara abordá-la pra se aproveitar, vai pra casa com o cara, e aí ela entra em ação.

Se tem uma coisa que, pra mim, não funcionou nesse filme, é que acho que ela se arrisca muito. Vejo fácil fácil um cara desses – muito maior e mais forte – dando uns tapas nela só por ter sua masculinidade “ameaçada”.

Mesmo assim, achei a abordagem muito boa. É bem mais fácil de acreditar do que filmes que focam em “homens maus” e mulheres com vinganças cheias de pirotecnias. De repente o cara que é alvo da protagonista não é exatamente um mau caráter, mas, sabe a expressão “a ocasião faz o ladrão”? Será que ele continua assim se aparecer uma “oportunidade”? Acabou o filme e fiquei imaginando que esse tipo de coisa deve acontecer muito por aí.

(Li no imdb que o título original “Promising Young Woman” é uma referência a uma citação de um caso de um universitário de Stanford, acusado de agredir sexualmente uma mulher em 2016. Falavam na época que ele era um “promising young man” – ou seja, segundo essa lógica, se ele tem um futuro pela frente, a gente pode ignorar se ele for um cometer um crime?)

O elenco é fantástico. Carey Mulligan está perfeita – tanto que concorreu ao Globo de Ouro e agora concorre ao Oscar. Mas não só ela, outros atores conhecidos aparecem em papeis menores, e todos estão bem: Clancy Brown, Jennifer Coolidge, Laverne Cox, Alison Brie, Christopher Mintz-Plasse, Connie Britton, Molly Shannon, Adam Brody. Ouvi gente criticando o Bo Burnham, que é o par romântico, porque o filme resvala num clima de comédia romântica. Mas gostei da atuação dele, e gostei de como isso é inserido no filme e ajuda o desenvolvimento da personagem principal.

O final não é o previsível. Vai desagradar muita gente. Mas heu gostei do final assim, um final desconfortável, que te deixa pensando depois.

Bela Vingança concorreu a 4 Globos de Ouro: melhor filme drama, roteiro, atriz e direção. 4 indicações dentre as mais importantes, mas não ganhou nenhum. E ontem saíram as indicações ao Oscar, Bela Vingança está concorrendo a 5 estatuetas, filme, roteiro, atriz e direção, e também edição. Não acho que tenha o perfil de ganhar melhor filme, mas ano passado ninguém achava que Parasita tinha o perfil, então, aguardemos.

Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum

insidellewyndavisCrítica – Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum

O novo irmãos Coen!

Greenwich Village, Nova York, 1961. Acompanhamos uma semana na vida de Llewyn Davis, um cantor folk que está passando por uma maré de azar e não consegue administrar os seus próprios problemas.

Os irmãos Joel e Ethan Coen não precisam provar mais nada pra ninguém. Donos de quatro Oscars cada um (roteiro original por Fargo, filme, direção e roteiro adaptado por Onde os Fracos Não Têm Vez), os irmãos mostraram ao longo de sua rica carreira que gostam de variar o estilo. Depois de uma comédia (Queime Depois de Ler), um drama (Um Homem Sério) e um faroeste (Bravura Indômita), fizeram agora um filme com um pé no musical e outro na cinebiografia (apesar de apenas se inspirar na vida de uma pessoa real, o músico Dave Van Ronk) – sempre com uma pitada de humor negro.

O maior problema de Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum é ao mesmo tempo o seu maior atrativo: a trilha sonora. Pra quem gosta de música folk, deve ser um prato cheio. Mas confesso que folk não faz a minha cabeça. Achei tudo muito chato, algumas músicas são intermináveis. Deu um sono…

O que salva é que os Coen são excepcionais na construção dos personagens. A galeria de personagens secundários interessantes de Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum é fantástica – como acontece muitas vezes nos filmes da dupla. É até difícil separar um destaque, acho que todos são importantes para a trama, apesar de nenhum ter muito tempo de tela. Gostei muito da Jean de Carey Mulligan, mas seria injustiça não citar John Goodman e F. Murray Abraham.

Ah, quase esqueci. O papel principal coube ao pouco conhecido Oscar Isaac, que está muito bem como “o cara das atitudes erradas”. Ainda no elenco, Justin Timberlake, Garret Hedlund, Jeanine Serralles, Adam Driver e Stark Sands.

A sequência final traz um pequeno lance genial, que mostra como Llewyn Davis é “o cara certo, na hora errada”. No fim, Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum nem é ruim. Mas precisa aturar o folk.

Shame

Crítica – Shame

Muito tem se falado sobre Shame. Incensado por uns, odiado por outros, qualé a desse filme polêmico?

Bem sucedido profissionalmente, Brandon cuida de sua vida particular de modo que consiga cultivar o seu vício por sexo. Até que sua problemática irmã Sissy aparece e bagunça sua rotina.

O tema de Shame é polêmico por natureza – o dia-a-dia de um cara viciado em sexo. Mas o filme é daqueles que se baseiam na polêmica para se vender, porque tirando o sexo e o impressionante trabalho dos atores principais, não sobra muita coisa.

Pra começar, o roteiro é fraquíssimo. Muito pouca coisa acontece ao longo de pouco mais de hora e meia. E o ritmo é leeento… O diretor Steve McQueen (também co-roteirista) usa planos demasiadamente longos em algumas cenas – por exemplo, pra que a câmera acompanha Brandon por mais de dois minutos enquanto ele pratica cooper? Ou então a interminável tomada no restaurante, quase seis minutos de câmera quase parada! Se a gente pegasse só história, ia ter só meia hora de filme…

Shame é lento, mas nem achei o filme muito chato – apesar das cenas mais longas do que o necessário. A sequência fora de ordem cronológica na parte final (quando ele apanha no bar) é muito boa, com a narrativa indo e vindo em diversos eventos na mesma noite.

Além disso, a atuação de Michael Fassbender merece todo e qualquer elogio. O Magneto de X-Men Primeira Classe e o Jung de Um Método Perigoso mostra aqui que é um ator do primeiro time. E Carey Mulligan não fica atrás. Prato cheio para os fãs da dupla.

E agora a parte polêmica – o sexo. Sim, tem mais do que o padrão – rola muita nudez frontal masculina, o que não é comum em Hollywood. Mas não achei nada tão chocante em termos gráficos. As cenas de sexo sugerem mais do que mostram, mesmo as duas mais faladas – o menage e a boate gay. Tem filme por aí mostrando mais…

No fim, fica aquela sensação de que Shame poderia ser um filme melhor, se se preocupasse com o roteiro. O filme tem seus méritos, mas o resultado final é vazio. Acho que o burburinho em torno do filme é mais pela polêmica do que pelas suas qualidades.

Por fim, me pergunto: heu sou o único que achei o nome do diretor estranho? Steve Mcqueen não é o ator de Papillon e Bullit, que morreu em 1980? 😉

Drive

Crítica – Drive

Na época do Festival do Rio, ouvi bons comentários sobre este Drive. Não consegui ver na ocasião, pelos horários escassos, mas achei que ia entrar no circuito. Ainda não entrou, mas, como já saiu o brrip, aproveitei pra conferir.

Um motorista que trabalha às vezes como dublê em filmes, às vezes como piloto de fugas para criminosos, descobre que caiu em uma armadilha quando seu último trabalho dá errado.

A princípio não tinha entendido qual o propósito de Drive. É parado demais pra ser um filme de ação, mas violento demais para um filme cabeça. Aí vi que é de Nicolas Winding Refn, o mesmo diretor de Valhala Rising, e “caiu a ficha”. É a mesma coisa: um cara misterioso, caladão e solitário, cenas looongas com a câmera parada onde nada acontece, e muita violência gráfica. Igualzinho ao seu filme anterior.

E chato. Assim como o seu filme anterior.

A gente fica esperando a história do motorista monossilábico engrenar, mas parece que o diretor só gosta de planos longos e contemplativos, onde vemos os atores parados. Muito pouca coisa acontece no filme.

Com um roteiro onde quase nada acontece, os personagens são rasos. Afinal, como eles vão se desenvolver se não há história? Assim, o bom elenco é desperdiçado: Ryan Gosling, Carey Mulligan, Ron Perlman, Albert Brooks, Christina Hendricks e Brian Cranston não têm muito o que fazer.

E tem a violência. Olha, já vi filme vagabundo de terror com desculpas menos esfarrapadas pra mostrar violência gratuita. O gore aqui é desmedido – chega a aparecer um crânio sendo esmagado – e, na minha humilde opinião, completamente fora do contexto. E olha que gosto de filmes com violência gráfica!

Pra não dizer que o filme é um lixo total, gostei da trilha sonora, que emula sons synth pop dos anos 80. Também gostei de algumas perseguições de carro – a sequência inicial é muito boa, assim como a que sucede o assalto à loja de penhores. A fotografia também é bem cuidada.

Mas é pouco. Muito pouco para um filme que está com nota 8,1 no imdb e que a respeitada crítica Ana Maria Baiana considerou o melhor de 2011. Acho que essas pessoas viram um filme diferente do que heu vi. Ou então elas curtem um filme onde nada acontece…