Feriado Sangrento

Crítica – Feriado Sangrento

Sinopse (imdb): Depois que um tumulto em uma liquidação acaba em tragédia, um assassino misterioso fantasiado de peregrino aterroriza a cidade de Plymouth em Massachusetts, cidade berço do feriado americano de Ação de Graças.

Antes de falar sobre o filme, aquele comentário que infelizmente tem sido mais recorrente do que deveria ser. A crítica está atrasada porque Feriado Sangrento não teve sessão de imprensa. Cheguei a entrar em contato com a assessoria, disseram que ia ser exibido na CCXP, ou seja, quem não foi pra CCXP não viu antes da estreia…

Enfim, vamos ao filme. Feriado Sangrento, ou Thanksgiving, no original, na verdade era um trailer fake do projeto Grindhouse. Pra quem não se lembra, em 2007 Quentin Tarantino e Robert Rodriguez criaram um projeto que emularia sessões de cinemas vagabundos dos anos 70. Tarantino fez À Prova de Morte; Rodriguez, Planeta Terror, e a ideia era exibir uma sessão dupla com alguns trailers de filmes que não existem.

A ideia não deu certo, quase nenhum cinema exibiu a sessão dupla, e os dois filmes acabaram sendo lançados individualmente. Mas os trailers estão por aí, inclusive o trailer de Thanksgiving está no youtube.

(Outros dois trailers fakes também viraram longas metragens, Machete e Hobo With a Shotgun.)

Anos se passaram, e agora Eli Roth, que tinha feito aquele trailer, agora finalmente apresenta o longa!

Algumas das cenas do trailer estão no longa, mas a proposta é um pouco diferente. No trailer tudo tinha cara de anos 70, e Feriado Sangrento não só se passa nos dias de hoje, como lives de redes sociais são parte intrínseca da trama.

Feriado Sangrento não é um grande filme, é apenas um slasher eficiente. Mas, em tempos de lançamentos ruins no circuito como O Jogo da Invocação e A Maldição do Queen Mary, ser “apenas um slasher eficiente” num cenário desses é uma boa notícia. Temos boas mortes, um clima tenso até o fim do filme, e um whodunit que funciona.

Talvez Eli Roth seja mais conhecido por ter sido um dos atores principais de Bastardos Inglórios, mas a gente não pode esquecer que um dos seus primeiros filmes como diretor foi O Albergue. Ou seja, o cara manja dos paranauês de filmar um bom gore. E isso tem aqui em uma quantidade razoável: são algumas mortes bem criativas – apesar de algumas delas estarem no trailer fake.

E preciso falar do whodunit. Assim como Pânico, este é um slasher com whodunit – a gente tem alguns personagens suspeitos, precisamos descobrir qual deles é o assassino e qual foi o motivo. E, admito: não pesquei quem era.

No elenco, pouca gente conhecida. Patrick Dempsey tem um papel importante, mas secundário; Gina Gershon faz quase uma ponta. A final girl da vez é Nell Verlaque, não conhecia, ela funciona pro que o filme pede.

Como falei antes, Feriado Sangrento não é um grande filme, mas é bem feito, divertido, e serve ao seu propósito: um bom slasher que vai agradar o público que for ao cinema.

Agora, dos cinco trailers fakes do Grindhouse, faltam dois. Será que veremos os longas Don’t, do Edgar Wright, ou Werewolf Women of the S.S., do Rob Zombie?

Emily the Criminal

Crítica – Emily the Criminal

Sinopse (imdb): Sem sorte e sobrecarregada de dívidas, Emily é envolvida em um golpe de cartão de crédito que a leva para o submundo do crime de Los Angeles, levando a consequências mortais.

Quando vi o cartaz, pensei que era mais um filme de ação girl power. Mas não, Emily the Criminal é um drama focado nos problemas de uma mulher com problemas financeiras, e que toma algumas decisões erradas na vida.

Exibido no último Sundance, o filme escrito é dirigido pelo estreante John Patton Ford tem mesmo cara de filme independente. Câmera constantemente na mão, focando sempre na personagem título. E aqui a gente tem que falar do que talvez seja o maior mérito de Emily the Criminal: sua protagonista Aubrey Plaza (que também é produtora).

Não me lembro de outra atuação tão marcante de Aubrey Plaza. Mas aqui ela está ótima – o que é essencial para o formato proposto, afinal a gente precisa se preocupar com a personagem. E Aubrey traz uma Emily sofrida e guerreira, que levou porrada da vida, está devendo um crédito estudantil, e não consegue um bom emprego por causa de uma condenação criminal no passado. Quando ela resolve tomar o caminho do crime, a gente acaba entendendo que era a sua melhor chance. E todo o problema passado pela personagem ainda pode gerar um bom comentário social.

(Impossível não ficar com raiva na cena da entrevista de emprego, quando a personagem da Gina Gershon propõe seis meses de trabalho sem remuneração.)

Aproveito pra falar do elenco. O filme é todo em cima da Aubrey Plaza. Os coadjuvantes mais presentes são Theo Rossi e Megalyn Echikunwoke. Gina Gershon só aparece em uma cena.

O roteiro não é perfeito, algumas situações ficam meio forçadas, tipo quando dois caras grandes a ameaçam e ela simplesmente vai embora. Mas a atuação de Plaza sustenta mesmo essas pequenas inconsistências.

Emily the Criminal ainda não tem previsão de lançamento no Brasil, mas torço pra que chegue logo!

Killer Joe

Crítica – Killer Joe

Endividado, o jovem Chris planeja matar a própria mãe para pegar o dinheiro do seguro de vida. Para isso, ele e o seu pai contratam o policial Joe Cooper para fazer o serviço. O problema é que Joe quer Dottie, a irmã caçula de Chris, como caução até o pagamento.

O veterano diretor William Friedkin (O Exorcista, Operação França) está de volta, ainda em forma aos 77 anos de idade. Seu novo filme, Killer Joe, não é um filme fácil. Não é fácil de se assistir, muito menos de se criticar. Por um lado é um filme muito bem feito e com um elenco inspiradíssimo; por outro lado, é um filme extremamente desconfortável.

O melhor de Killer Joe sem dúvida é o elenco. Mathew McConaughey, Thomas Haden Church e Emile Hirsch estão sensacionais. Odiáveis e sensacionais. Gina Gershon parece que enganou a todos quando fez Showgirls e parecia uma atriz fraca, aqui ela arrebenta. E Juno Temple consegue exalar ao mesmo tempo ingenuidade e sensualidade.

Friedkin repete a parceria com Tracy Letts, com quem fez Possuídos em 2007. Letts é o roteirista e também autor da peça de teatro que deu origem ao filme. Killer Joe traz uma excelente galeria de personagens bem construídos – e todos são pessoas desprezíveis e sem moral. São bons exemplos de “white trash” sulista americano. Ninguém se salva, não conseguimos torcer por nenhum dos personagens do filme.

Li em alguns lugares que Killer Joe seria uma comédia de humor negro. Olha, algumas cenas causaram risos nervosos no cinema onde vi o filme, mas acho difícil chamar um filme desses de comédia. Killer Joe tem alguns momentos difíceis. Uma cena em particular, envolvendo uma coxa de frango do Kentucky Fried Chicken, vai fazer algumas pessoas se retirarem da sala do cinema com o estômago embrulhado.

Apesar de sua qualidade, Killer Joe é daqueles filmes que a gente não recomenda pra qualquer um. Mas se você tiver estômago forte, pode curtir.

A Outra Face

faceoff3

A Outra Face

John Travolta e Nicolas Cage trocando de rosto? A idéia parece absurda. Mas, além de absurda, é genial!

No fim dos anos 80, o diretor chinês John Woo começou a chamar a atenção de Hollywood com filmes como The Killer e Bala na Cabeça. O seu estilo era inconfundível: muitos tiroteios, muitas explosões, tudo muito estilizado, usando muita câmera lenta. E sua assinatura: em algum momento do filme, há pombas voando, também em câmera lenta.

John Woo foi “importado” para Hollywood em 93 por Jean Claude Van Damme, para dirigir O Alvo (que acabou sendo um dos melhores filmes deste). E, em Hollywood, Woo virou diretor de primeira linha.

E em 97, Woo lançou sua obra-prima: A Outra Face.

A trama é inverossímil. Um grande agente do FBI (Travolta) persegue um grande terrorista (Cage). Quando o terrorista é preso e entra em coma, o agente, para conseguir informações sobre uma bomba escondida, faz uma cirurgia para trocar de rosto com o bandido. Mas este acorda do coma e pega o rosto do mocinho. E assim, mocinho e bandido trocam de lugar – e só eles sabem disso.

Esqueça a lógica! Afinal, Travolta precisava de reduzir o peso pra ser Cage, mas este não precisava engordar pra ficar no lugar daquele! Isso dentre outras incoerências.

Mas a graça do filme é justamente a forma, e não o conteúdo. E que forma! São várias seqüências antológicas, como logo no início do filme, com Cage chegando ao seu jato particular e sendo perseguido por Travolta; ou o tiroteio ao som de Somewhere Over the Rainbow; ou ainda a fantástica cena final nas lanchas.

O elenco está ótimo. Travolta e Cage se revezam nos papéis de mocinho e vilão. A cena que ambos estão com as armas apontadas um para o outro, com um espelho entre os dois (ou seja, cada um vê o outro através do próprio reflexo) é genial. E ambos fizeram laboratório um com o outro, estudando os detalhes para a hora de trocar de lugar. Completam o elenco Joan Allen, Gina Gershon, Dominique Swain e Alessandro Nivola.

As pombas voando em câmera lenta? Estão lá, em mais uma seqüência antológica, desta vez na igreja!