Crítica – Coringa: Delírio a Dois
Sinopse (imdb): O comediante fracassado Arthur Fleck conhece o amor de sua vida, Harley Quinn, enquanto está encarcerado no Arkham State Hospital. Os dois embarcam em uma desventura romântica condenada.
2019 tivemos Coringa, que parecia uma ideia arriscada: um filme do Coringa mas sem o Batman. Ideia arriscada, mas que deu muito certo: foi um sucesso de público e de crítica, e ainda ganhou dois Oscars entre onze indicações.
Cinco anos depois, o mesmo diretor Todd Phillips apresenta a continuação, Coringa: Delírio a Dois (Joker: Folie à Deux, no original), desta vez um musical, e com a Lady Gaga como Arlequina.
E ver o segundo filme dá vontade de rever o primeiro e esquecer que fizeram uma continuação…
Vamos começar pela parte musical. Não tenho nada contra musicais, sou fã de vários. Mas sempre que lembro de musicais, lembro de músicas e de cenas “pra cima”, sempre alto astral – Pequena Lojas dos Horrores, Rock of Ages, Hairspray, Hair, La La Land, Across The Universe, The Rocky Horror Picture Show, O Rei do Show, heu sempre saio do filme empolgado pelas músicas e coreografias. Mesmo quando o tema do filme é barra pesada, como Rent, a parte musical é empolgante. Os Miseráveis, que não gostei por achar longo e cansativo, tem músicas em momentos tensos, mas mesmo assim são cenas memoráveis. E aqui não, todos os momentos musicais são “pra baixo”, e acabam sendo números chatos. E ainda tem um agravante: as músicas usadas são conhecidas, são standards clássicos, de gente como Frank Sinatra e Burt Bacharach. E mesmo com músicas conhecidas, os arranjos ficaram quase todos ruins.
Provavelmente não foi o primeiro “musical deprê” da história, mas isso pra mim foi um ponto negativo. A ponto de, em determinado momento do filme, quando ia começar uma música, heu pensava “não, de novo não!”
Vamos para outro problema, que é o protagonista. O Coringa é um personagem fascinante porque é desequilibrado e imprevisível. E aqui ele está apático. Joaquin Phoenix está bem, mas o personagem não está. Não vou nem comparar com outras versões, como o Coringa do Heath Ledger, estou falando do próprio Joaquin Phoenix. Depois da sessão de imprensa, ouvi um amigo crítico que falou uma frase que resume isso: “em determinado momento de filme, eu estava vendo o filme do Coringa há duas horas, e estava há duas horas esperando o Coringa aparecer”.
Pra “fechar a tampa”, a Arlequina da Lady Gaga não é boa. Duvido que alguém veja o filme e pense na Arlequina, todos vão ver a Lady Gaga na tela.
Agora, apesar disso tudo, Coringa: Delírio a Dois não é exatamente ruim. Tecnicamente falando, é muito bem feito. A reconstituição de época é perfeita. A fotografia enche os olhos, são várias cenas belíssimas. A trilha sonora da parte “não musical” é muito boa, mais uma vez a cargo de Hildur Guðnadóttir (que ganhou o Oscar pela trilha do primeiro filme). E tem um plano sequência sensacional na parte final do filme.
Mas, repito, é um filme longo demais, e essa proposta cansou. São duas horas e dezoito minutos. Talvez se o filme tivesse meia hora a menos (meia hora de músicas a menos!), acho que a galera ia curtir bem mais.
Por fim, não tem cena pós créditos, mas tem um desenho animado na abertura. O desenho não é engraçado e não se conecta com o filme. Pra que esse desenho? Não sei. Por mim, deveria ser cortado do filme.