Coringa: Delírio a Dois

Crítica – Coringa: Delírio a Dois

Sinopse (imdb): O comediante fracassado Arthur Fleck conhece o amor de sua vida, Harley Quinn, enquanto está encarcerado no Arkham State Hospital. Os dois embarcam em uma desventura romântica condenada.

2019 tivemos Coringa, que parecia uma ideia arriscada: um filme do Coringa mas sem o Batman. Ideia arriscada, mas que deu muito certo: foi um sucesso de público e de crítica, e ainda ganhou dois Oscars entre onze indicações.

Cinco anos depois, o mesmo diretor Todd Phillips apresenta a continuação, Coringa: Delírio a Dois (Joker: Folie à Deux, no original), desta vez um musical, e com a Lady Gaga como Arlequina.

E ver o segundo filme dá vontade de rever o primeiro e esquecer que fizeram uma continuação…

Vamos começar pela parte musical. Não tenho nada contra musicais, sou fã de vários. Mas sempre que lembro de musicais, lembro de músicas e de cenas “pra cima”, sempre alto astral – Pequena Lojas dos Horrores, Rock of Ages, Hairspray, Hair, La La Land, Across The Universe, The Rocky Horror Picture Show, O Rei do Show, heu sempre saio do filme empolgado pelas músicas e coreografias. Mesmo quando o tema do filme é barra pesada, como Rent, a parte musical é empolgante. Os Miseráveis, que não gostei por achar longo e cansativo, tem músicas em momentos tensos, mas mesmo assim são cenas memoráveis. E aqui não, todos os momentos musicais são “pra baixo”, e acabam sendo números chatos. E ainda tem um agravante: as músicas usadas são conhecidas, são standards clássicos, de gente como Frank Sinatra e Burt Bacharach. E mesmo com músicas conhecidas, os arranjos ficaram quase todos ruins.

Provavelmente não foi o primeiro “musical deprê” da história, mas isso pra mim foi um ponto negativo. A ponto de, em determinado momento do filme, quando ia começar uma música, heu pensava “não, de novo não!”

Vamos para outro problema, que é o protagonista. O Coringa é um personagem fascinante porque é desequilibrado e imprevisível. E aqui ele está apático. Joaquin Phoenix está bem, mas o personagem não está. Não vou nem comparar com outras versões, como o Coringa do Heath Ledger, estou falando do próprio Joaquin Phoenix. Depois da sessão de imprensa, ouvi um amigo crítico que falou uma frase que resume isso: “em determinado momento de filme, eu estava vendo o filme do Coringa há duas horas, e estava há duas horas esperando o Coringa aparecer”.

Pra “fechar a tampa”, a Arlequina da Lady Gaga não é boa. Duvido que alguém veja o filme e pense na Arlequina, todos vão ver a Lady Gaga na tela.

Agora, apesar disso tudo, Coringa: Delírio a Dois não é exatamente ruim. Tecnicamente falando, é muito bem feito. A reconstituição de época é perfeita. A fotografia enche os olhos, são várias cenas belíssimas. A trilha sonora da parte “não musical” é muito boa, mais uma vez a cargo de Hildur Guðnadóttir (que ganhou o Oscar pela trilha do primeiro filme). E tem um plano sequência sensacional na parte final do filme.

Mas, repito, é um filme longo demais, e essa proposta cansou. São duas horas e dezoito minutos. Talvez se o filme tivesse meia hora a menos (meia hora de músicas a menos!), acho que a galera ia curtir bem mais.

Por fim, não tem cena pós créditos, mas tem um desenho animado na abertura. O desenho não é engraçado e não se conecta com o filme. Pra que esse desenho? Não sei. Por mim, deveria ser cortado do filme.

Aquaman 2: O Reino Perdido

Crítica – Aquaman 2: O Reino Perdido

Sinopse (imdb): Arthur precisa contar com a ajuda de seu meio-irmão Orm para proteger Atlantis contra Black Manta, que liberou uma arma devastadora em sua busca obsessiva para vingar a morte de seu pai.

Este Aquaman 2: O Reino Perdido é o décimo quinto filme do DCEU – e também o último. A partir do ano que vem, a DC já avisou que vai recomeçar seu universo expandido.

Se Aquaman 2: O Reino Perdido fosse “apenas mais um filme de super heróis, seria algo mais aceitável. Mas existe todo um legado por trás, e é o filme que vai encerrar um universo cinematográfico, e justamente por isso é complicado de analisar o filme isoladamente.

E qual é o resultado? A gente tem um filme bagunçado nas telas. Não é um filme ruim, mas está bem longe de ser bom. Vamulá.

Mais uma vez dirigido por James Wan (achei um desperdício, este é um “filme de produtor”, Wan, volte pro terror!), Aquaman 2: O Reino Perdido (Aquaman and the Lost Kingdom, no original) tem alguns erros básicos. Um deles é que existe um “reino perdido” no título do filme, mas esse tal reino é quase irrelevante pra trama. A ideia de existir um reino perdido não é ruim, mas se está no título do filme, acredito que deveria ser algo mais presente na trama.

Mas acho que ainda pior é trazer um antagonista que estava no primeiro filme e que tinha uma rivalidade real contra o Aquaman, mas esse cara é “possuído” por um vilãozão meio sobrenatural, e meio que tanto faz as motivações anteriores do personagem. Caramba, se é pra ter alguém possuído, podia ser qualquer um! Jogaram fora as reais motivações do antagonista…

Outra coisa que ficou estranha é a colagem de cenas que parecem extraídas de outros filmes. O antagonista usa um óculos que solta um raio vermelho igual ao Cíclope em X-Men. O vilãozão é quase igual ao Sauron de O Senhor dos Anéis, só que em vez de usar o Um Anel ele usa um tridente. Tem uma cena que é uma mistura de Cantina de Mos Eisley em Guerra nas Estrelas com palácio do Jabba no Retorno do Jedi – incluindo um personagem igual ao Jabba! E por aí vai…

O filme tem muitas piadinhas, mas isso nunca me incomodou. Agora, o que incomoda são sequências inteiras que não fazem o menor sentido, como uma cena numa floresta com insetos gigantes. Gente, se existem animais gigantes na ilha, por que só naquele trecho? Ou uma sequência no meio do deserto, onde falam “está no meio do deserto pro povo da água não ir”, e na cena seguinte a gente vê um polvo rolando na areia. E isso porque não vou falar no assistente do vilão, que literalmente o traiu, mas continua tendo o cargo de maior importância!

Preciso comentar os efeitos especiais das cenas de batalhas sub aquáticas quando vemos os personagens nadando rápido. Ok, funcionam, mas acho que vão perder a validade cedo.

Tem uma coisa que heu não entendi. A gente sabe que a Amber Heard está “cancelada” por causa da polêmica com o Johnny Depp, e disseram que este filme teria a participação dela reduzida. Mas, não só ela está presente em quase todo o filme, como ainda salva o Aquaman em uma ou duas soluções deus ex machina. Ou seja, não só a personagem está presente, como ela é necessária para a sobrevivência do protagonista! Que tipo de cancelamento foi esse?

Aproveito pra falar do elenco. Jason Momoa é um Aquaman ótimo, um cara grande, forte, carismático e que faz piadinhas o tempo todo. Patrick Wilson também está bem como o irmão, e está presente quase todo o filme. Já Yahya Abdul-Mateen II faz o vilão ruim e não está bem. Também no elenco, Nicole Kidman, Dolph Lundgren e Temuera Morrison. Willem Dafoe não pôde participar por conflito de agenda. E Ben Affleck está creditado como Batman, mas não aparece no filme, seja lá qual foi sua participação, foi cortada.

Agora, Aquaman 2: O Reino Perdido é bagunçado mas pelo menos é divertido. Tem cena que beiram a falta de lógica, mas não tem nenhum momento chato. E não canso de repetir: o carisma de Jason Momoa vale o ingresso, ele parece estar se divertindo muito.

(Tem uma coisa que achei curiosa, uma capanga do vilão é vivida pela atriz portuguesa Jani Zhao. Por duas vezes no filme ela grita ordens em português!)

Por fim, a sessão de imprensa foi em 3D. Completamente desnecessário, não tem nenhuma cena que justifique o efeito.

Ah, tem uma cena no meio dos créditos com uma piadinha, e lá no fim não tem nada. Como acabou o DCEU, não tem gancho pra continuação.

Besouro Azul

Crítica – Besouro Azul

Sinopse (imdb): Jaime Reyes, um adolescente de origem mexicana, encontra um artefato alienígena que lhe dá um exoesqueleto mecanizado e poderes, tornando-o no Besouro Azul.

A gente sabe que a DC não é organizada no cinema, e a gente sabe que o James Gunn saiu da Marvel e foi pra DC pra organizar o DCEU (o universo cinematográfico da DC). Então a gente não sabe o que vai continuar sendo “canônico” e o que vai ser “filme solo”. Este novo filme da DC, Besouro Azul (Blue Beetle, no original), fez uma coisa inteligente: a gente sabe que o filme se passa dentro do universo da DC, porque vemos um personagem usando uma camisa onde está escrito “Gotham”, ou outro personagem que comenta que o Superman é de Metrópolis; mas não usa nenhum personagem nem cita nenhum evento de algum dos outros filmes da DC. Este pode, no futuro, ser um filme independente, ou pode fazer parte do DCEU.

Preciso reconhecer que não conhecia NADA sobre o personagem. Vou além: confundi com o Besouro Verde, daquele filme fraco do Michel Gondry com o Seth Rogen. Então, preciso avisar que o meu texto será apenas sobre o filme, nunca li nenhuma HQ do herói. Não sei nos quadrinhos, mas aqui, tudo é fortemente ligado à América Latina. O diretor Angel Manuel Soto é porto-riquenho, o ator principal Xolo Maridueña é americano mas tem ascendência mexicana, cubana e equatoriana, a atriz principal Bruna Marquezine é brasileira, e o personagem tem uma família de mexicanos.

E a grande dúvida: o filme presta? Olha, não é digno de estar em listas de melhores do ano, mas é um filme divertido. A DC é tão bagunçada nos cinemas, que é uma boa notícia quando vemos um filme leve e despretensioso como esse Besouro Azul. Afinal, sempre digo que “cinema é a maior diversão”. E Besouro Azul vai divertir o público alvo.

Agora, o espectador precisa de muita boa vontade porque tem vários momentos onde o roteiro força a barra, tipo, logo na parte inicial, onde tem um escaravelho que estava perdido há 15 anos, super raro, que é deixado displicentemente em cima de uma mesa, dentro de um laboratório onde você só precisa apresentar um simples crachá pra abrir a porta. Não tem sistema de segurança, não tem sistema de câmeras… Mas, filme de super herói, a gente acredita em super poderes, tem gente super forte, tem gente que voa, ok, a gente aceita que seja fácil roubar um artefato raro.

Os efeitos especiais são muito bons, o que é algo essencial aqui. O espectador consegue entender como funcionam todas as habilidades que a armadura proporciona. Com efeitos fracos essa parte ficaria muito tosca. E a armadura tem menos cara de Power Rangers do que parecia pelo trailer.

Gostei dos dois personagens principais, tanto o Jaime Reyes do Xolo Maridueña quanto a Jenny Kord da Bruna Marquezine. A família de mexicanos é bem divertida, gostei dos personagens, mas reconheço que é um humor cartunesco e escrachado. A galera vai rir no cinema, mas a gente sabe que é completamente fora da realidade. Já os vilões, não gostei são péssimos. Susan Sarandon está caricata no mau sentido, e o vilãozão malvadão Carapax é ainda pior. E no fim tentaram dar uma redenção pra ele que ficou muito forçada.

(Susan Sarandon estava na cena pós créditos de Jolt, dando a entender que viraria uma franquia. Mas deve ter dado errado…)

Tem uma galera hater reclamando da Bruna Marquezine como protagonista de filme da DC. Em alguns momentos ela abusa das caras e bocas, mas no geral ela manda bem e acho que vai conquistar os haters. Uma coisa curiosa: a personagem é brasileira, mas não tem outro brasileiro, então não tem nenhum diálogo em português – vemos vários diálogos em espanhol, vindos da família mexicana. Mas, em um determinado momento catártico no fim do filme, ela solta uma frase em português – claro que a galera no cinema foi ao delírio. Mas, não sei, não li em nenhum lugar, mas acredito que ela deve ter gravado essa cena duas vezes, uma falando em português e outra em inglês. Porque não tem nenhum sentido a personagem dela falar uma frase em português assim do nada. Será que nas versões gringas também tem essa frase?

No fim, o tradicional de filmes de super: duas cenas pós créditos. Um gancho pra continuação, e uma piadinha lááá no fim dos créditos.

The Flash

Crítica – The Flash

Sinopse (imdb): Barry Allen usa sua supervelocidade para mudar o passado, mas sua tentativa de salvar sua família cria um mundo sem super-heróis, forçando-o a correr por sua vida para salvar o futuro.

É complicado falar de um filme como este The Flash. O filme é divertido, mas não é nada demais. Mas, assim como aconteceu com o filme do Homem Aranha que trouxe os três Aranhas juntos, The Flash ganha pontos pelas referências e easter eggs. E não vou falar dos easter eggs por causa de spoilers!

Na minha humilde opinião, o quanto menos a gente souber sobre um filme, melhor será a experiência de vê-lo. Lembro de dois exemplos que aconteceram mais ou menos na mesma época, as aparições do Homem Aranha em Guerra Civil e da Mulher Maravilha em Batman vs Superman, duas participações que seriam grandes surpresas, mas estavam nos trailers dos respectivos filmes! E aqui acontece o mesmo: temos o Batman do Michael Keaton de volta. Isso seria uma grande surpresa, mas está em toda a divulgação do filme.

Então, o meu limite de spoiler será o trailer. O que aparece no trailer será comentado aqui. O resto, fica a recomendação: fujam de spoilers e vejam no cinema!

A direção é de Andy Muschietti (Mama, It A Coisa), confirmando uma curiosa predileção da DC por diretores que vieram do terror – Aquaman foi dirigido por James Wan (Sobrenatural, Invocação do Mal); Shazam! foi dirigido por David F. Sandberg (Quando as Luzes se Apagam, Annabelle 2). O filme segue o universo de Liga da Justiça (incluindo o Alfred do Jeremy Irons e o Batman do Ben Affleck) – tem até uma cena copiando o estilo do Mercúrio dos filmes do X-Men – até que o Flash volta no tempo e muda a linha temporal.

Sim, é mais um filme de multiverso, o tema está na moda. Está rolando no MCU, no desenho do Aranhaverso, tem até no filme ganhador do último Oscar, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. E o multiverso aqui gerou uma cena bem engraçada usando filmes clássicos dos anos 80 com atores trocados.

Dois comentários sobre este multiverso. Um deles é que a gente aqui tem um novo conceito de viagem no tempo. Ate uns anos atrás, todos os filmes se baseavam apenas em dois conceitos: “Exterminador do Futuro” (o passado e imutável, tudo vai acontecer de novo da mesma forma) ou “De Volta Para o Futuro” (suas ações no passado vão modificar o futuro). Vingadores Ultimato trouxe um novo conceito, com a viagem em universos paralelos. Aqui em The Flash, essa viagem em universos paralelos é adaptada para poder usar um Batman mais velho.

O outro comentário é sobre o timing errado. A gente acabou de ver o Aranhaverso 2 (ainda está em cartaz nos cinemas), e aqui tem uma situação quase igual: “alguns acontecimentos da vida do herói precisam acontecer para a sua formação”. Sei que não era pra parecer uma cópia, mas como foi lançado depois, parece plágio.

Agora, como falei, o filme é divertido, mas metade da graça do filme está no “massaveísmo” dos easter eggs. Tipo, é muito legal rever o Michael Keaton como Batman, e a trilha sonora usada nas suas cenas é a trilha clássica do Danny Elfman (trilha muito mais marcante que a do próprio filme). E as cenas com os easter eggs fizeram a plateia urrar de emoção durante a sessão de imprensa. Mas acredito que esse “massaveísmo” não vai durar para quem for ver o filme uma segunda vez.

Tem outro problema que precisa ser citado. O cgi aqui e tão pobre que é difícil de acreditar que estamos vendo uma super produção de milhões de dólares. As cenas da Supergirl lutando parecem ser feitas com tecnologia de Playstation! E algumas das cenas onde vemos dois Barrys ficaram bem artificiais.

(Um comentário bairrista sobre a Supergirl. Quase que tivemos uma brasileira no papel. E essa informação não foi tirada de um site brasileiro de fofocas, está no imdb: “Bruna Marquezine and Isis Valverde. The two actresses were top choices for the role, but the COVID-19 pandemic prevented them from traveling to London.” Pena. Pelo menos Bruna Marquezine conseguiu um papel importante em outro filme da DC, o Besouro Azul.)

Aproveito pra falar do elenco. Ezra Miller em dose dupla talvez esteja um pouco acima do tom, mas acredito que tenha sido proposital – o segundo Barry e irritantemente bobão. Michael Keaton está ótimo, como sempre; Sasha Calle, que faz a Supergirl, tem um papel bem menor. Também no elenco sem spoilers, Maribel Verdú, Kiersey Clemons, e Ron Livingston. O resto não vou comentar. 😉

No fim, fica a sensação de filme divertido mas que só será lembrado pelos easter eggs. E também pelo cgi ruim.

Shazam! Fúria dos Deuses

Crítica – Shazam! Fúria dos Deuses

Sinopse (filmeB): Agraciado com os poderes dos deuses, Billy Batson e seus irmãos adotivos ainda estão aprendendo a conciliar a vida adolescente com alter egos de super-heróis adultos. Mas quando as Filhas de Atlas, um trio vingativo de deusas antigas, chegam à Terra em busca da magia roubada deles há muito tempo, Billy – também conhecido como Shazam – e sua família são lançados em uma batalha por seus superpoderes, suas vidas e o destino de seu mundo.

O primeiro Shazam!, lançado em 2019, foi uma divertida bobagem, com um herói adolescente num corpo de um adulto. Não era um grande filme, mas o resultado ficou divertido. Claro que iam fazer uma continuação. Shazam! Fúria dos Deuses (Shazam! Fury of the Gods no original) segue a mesma proposta do primeiro filme: um super herói bobinho e inseguro, num clima mais colorido e divertido que o “padrão DC”.

Shazam! Fúria dos Deuses (por que não “Shazam 2”?) repete o diretor David F. Sandberg do filme anterior. Sandberg tem passado no cinema de terror – procurem uma boneca Annabelle no consultório do pediatra! A primeira sequência do filme, no museu, é bem violenta (mesmo sem sangue). Se o filme fosse nessa pegada até o fim, ia ser bem legal, pena que larga esse caminho logo depois.

Como falei, é DC, mas tem um pé muito forte na comédia. Algumas piadas são meio sem graça, mas admito que ri alto em algumas cenas (a piada que encerra a primeira cena pós créditos é muito boa!). Além disso, Shazam! Fúria dos Deuses tem várias referências à cultura pop, são citados inúmeros filmes, como Star Wars, Senhor dos Anéis e Game of Thrones – e fazer uma citação a Velozes e Furiosos com a Helen Mirren presente foi genial!

Agora, precisamos reconhecer que o roteiro é cheio de “roteirices”, tipo um dragão que solta raios mortais pela boca, mas que tem um raio inofensivo quando está diante de um dos personagens principais. E aquela redoma segue as regras que o roteiro pede no momento.

Achei as vilãs bem ruins. Hellen Mirren é a menos pior, ela nem está tão mal como as outras duas, mas, caramba, é a Hellen Mirren, está bem aquém do esperado, trazer alguém do porte da Hellen Mirren só pra isso é um enorme desperdício. As outras duas estão realmente ruins: Rachel Zegler só faz a mesma cara de espanto ao longo de todo o filme; e Lucy Liu, caricata ao extremo, está ainda pior. (Aliás, a personagem da Rachel Zegler não faz o menor sentido, ela tem seis mil anos e se envolve romanticamente com um adolescente. Isso é errado em tantos níveis…)

Ainda sobre o elenco, tem uma coisa que ficou esquisita. São seis irmãos, crianças e adolescentes. No filme anterior, eram seis atores adultos diferentes quando eles viravam super. Mas agora uma atriz, Grace Caroline Currey, faz as duas versões, “adolescente” e super (ela já tem 26 anos, já não mais adolescente há algum tempo). Nada contra a mesma atriz ficar nas duas versões da personagem, mas destoa do resto. Todos os outros cinco ficam completamente diferentes, mas ela tem a mesma cara.

Já que estou falando dos irmãos… São seis, e o filme só foca em três: Billy, Freddy e Mary. A Darla tem alguma relevância só no “momento unicórnio”, e o Pedro só serve pra fazer uma piada (que pareceu inspirada em Quase Famosos). O sexto irmão é tão inútil que a gente nem sabe o nome dele (catei no imdb, é Eugene). Enfim, roteiro mal escrito, não sabe equilibrar os personagens.

Um último comentários sobre o elenco. Heu sei que é uma referência muito específica, que poucos vão pegar, mas… Achei que o Djimon Hounsou está igual ao Daminhão Experiença.

A parte final do filme é meio confusa, mas, quem gostou do primeiro e se deixar levar, vai curtir o segundo. Só recomendo não parar pra pensar muito.

Ah, importante: são duas cenas pós créditos, tem uma lá no finzinho.

Adão Negro

Crítica – Adão Negro

Sinopse (imdb): Quase 5.000 anos após ser agraciado com os poderes onipotentes dos deuses egípcios e preso com a mesma rapidez, Adão Negro alcança a liberdade de sua tumba terrena, pronto para liberar sua justiça no mundo moderno.

Bora pra mais um filme de super heróis da DC!

O que mais me intrigava sobre este Adão Negro (Black Adam, no original) era o protagonista. Porque, na Hollywood de hoje, é difícil imaginar o Dwayne Johnson como um vilão. Mas, olha, nesse aspecto, gostei do que vemos no filme. Diferente da maioria dos filmes de super heróis onde existe um grande maniqueísmo, o bem contra o mal, aqui a gente tem dois grupos distintos onde dependendo do ponto de vista, um deles pode não ser exatamente de “mocinhos”. Inclusive isso é falado por uma personagem – “onde estavam vocês quando fomos invadidos 27 anos atrás?”

Dito isso, preciso dizer que o vilãozão que temos no terço final do filme é fraco. Mais tarde volto a falar dele.

A direção é de Jaume Collet-Serra, de A Órfã, Águas Rasas, e alguns filmes com o Liam Neeson badass (Desconhecido, O Passageiro, Noite Sem Fim e Sem Escalas). Bom diretor, mas que aqui não mostra nada autoral. Ele usa tanta câmera lenta que às vezes parece que estamos vendo um filme do Zack Snyder.

Ainda na câmera lenta: são boas cenas, só que em excesso. Talvez o ideal fosse reduzir um pouco. As cenas de ação são boas, e o filme tem um pouco mais de violência do que estamos acostumados na concorrente Marvel.

Já que falamos da Marvel… Preciso dizer que não conheço as HQs, meus comentários são apenas relativos ao que tivemos no cinema nos últimos anos. E preciso falar que esse filme parece muito um filme da Marvel. Temos um novo elemento, o Eternium, que é equivalente ao Vibranium. O time de super heróis é liderado por uma mistura de Tony Stark com Falcão, e seu time tem um “Doutor Estranho” (que vê o futuro e encontra apenas uma solução para enfrentar o vilão), um Homem Formiga com máscara de Deadpool (inclusive usado como alívio cômico) e uma espécie de Tempestade (ok, essa é a mais diferente). Só que a Marvel passou anos e anos construindo um time, e agora na DC veio tudo jogado de uma vez.

Sobre o elenco, Dwayne Johnson está ótimo como sempre. Um personagem mais sombrio que o habitual, mas mesmo assim mantendo o bom humor. Sarah Shahi tem o principal papel entre os “não heróis”, e Pierce Brosnan é o único conhecido do grupo de heróis Sociedade da Justiça (os outros são Aldis Hodge, Quintessa Swindell e Noah Centineo). E temos Viola Davis como Amanda Waller, meio que pra justificar que este é mais um filme do universo cinematográfico da DC.

A parte técnica teve uma coisa que me incomodou. O áudio parecia que algumas cenas estava mal dublado, principalmente em cenas do menino. Achei estranho, mas deixei pra lá. Ao fim da sessão, um amigo comentou sobre isso, e vi que não fui o único.

Adão Negro é legal, mas não gostei do terço final. O personagem título tinha sido isolado, mas consegue voltar numa cena muito forçada. E é o momento onde temos o vilãozão. E aquele exército de zumbis foi completamente desnecessário.

Tem uma cena pós créditos, depois dos créditos principais, que fez parte da galera urrar na sessão de imprensa. Admito, boa cena. No fim dos créditos não tem nada.

Aguardemos mais filmes do Dwayne Johnson na DC!

Batman

Crítica – Batman

Sinopse (imdb): Quando o Charada, um serial killer sádico, começa a assassinar figuras políticas importantes em Gotham, Batman é forçado a investigar a corrupção oculta da cidade e questionar o envolvimento de sua família.

Tinha uma galera reclamando “nas internetes’ sobre este novo Batman. As críticas sempre eram quase sempre relacionadas ao novo protagonista, Robert Pattinson, que parece que sempre será lembrado como o “vampiro purpurina” da saga Crepúsculo. Heu não tenho nada contra ele, sei que é um bom ator. Minha dúvida com este filme era “mas será que a gente já precisa de um novo Batman?” Afinal, “anteontem” ainda era o Ben Affleck, que, na minha humilde opinião, fez um bom trabalho como o homem morcego, e ano passado teve filme com ele no papel.

Mas, Hollywood é assim, eles vão fazer novos filmes não importa se é a hora certa ou não. Pelo menos, a boa notícia: este novo Batman é muito bom!

Ok, quase 3 horas, não precisava de tanto, podia cortar algumas gordurinhas aqui e ali e fazer um filme mais enxuto. Mas algumas cenas são tão boas que entrariam facilmente numa lista de momentos mais icônicos de todos os filmes do Batman, como a cena no corredor escuro onde só vemos alguma coisa quando os vilões atiram; ou a cena de cabeça para baixo do Batman vindo até o carro capotado, na chuva e com a explosão ao fundo.

Dirigido por Matt Reeves, que já tinha mostrado competência na franquia Planeta dos Macacos, Batman (The Batman, no original) é um belo espetáculo visual. A fotografia de Greig Fraser (que está concorrendo ao Oscar por Duna) é um espetáculo, muitas cenas escuras, muitas cenas com chuva, muito contra luz. E não é só isso, a cenografia também enche os olhos – Gotham é uma cidade suja e decadente. Também gostei de como os vilões aparecem mais reais – o Pinguim parece mais um líder mafioso do que um freak (como era o Danny De Vito do filme de 1992); e o Charada é um louco com seguidores pela internet.

Vamos ao elenco. Robert Pattinson já mostrou que é um bom ator, e ele está muito bem como o Batman. Mas… Não curti muito ele como Bruce Wayne. Enquanto o novo Batman me convenceu, o Bruce Wayne do Christian Bale vinha à minha cabeça cada vez que aquele jovem emo aparecia na tela. Zoë Kravitz está ótima como a Selina Kyle, e a relação dela com o Batman é perfeita. Paul Dano está impressionante como o Charada, e Colin Farrell, irreconhecível como o Pinguim. Também no elenco, Peter Sarsgaard, John Turturro, Andy Serkis e Jeffrey Wright.

Tem uma perseguição de carro que me causou sensações opostas. Por um lado, é uma cena plasticamente muito bonita. Muitas luzes, muita água, a cena eleva a adrenalina lá no alto. Mas, por outro lado, as imagens são muito entrecortadas. Nem consegui ver a cara do novo Batmóvel. Vão me xingar, mas deu saudade de Velozes e Furiosos

Tenho um comentário negativo sobre a trilha sonora de Michael Giacchino. O tema que fica tocando repetidamente é muito igual à marcha imperial de Guerra nas Estrelas. Ok, boa trilha, mas preferia um tema diferente.

A sessão de imprensa foi na segunda de carnaval, não fui porque estava viajando com a família, e o filme ia estrear no dia seguinte. Fui então terça em uma sessão dublada com meus filhos. Dois comentários, um geral e um pessoal. O primeiro comentário é que não só a dublagem é muito boa, como o filme tem várias coisas escritas na tela, e quase tudo estava em português – conseguiram alterar os textos! O comentário pessoal é que o Charada foi dublado pelo meu amigo Philippe Maia, que fez um trabalho excelente!
Claro que o filme tem espaço para continuações. Que mantenham a qualidade!

Ah, tem uma cena pós créditos com uma piada bem cretina. Ri alto na sala de cinema, não pela piada, e sim pela quantidade de gente que ficou esperando para ver aquilo!

O Esquadrão Suicida

Crítica – O Esquadrão Suicida

Vou começar lançando a polêmica: será que estamos diante do melhor filme da DCEU?

Sinopse (imdb): Os supervilões Harley Quinn, Bloodsport, Peacemaker e uma coleção de malucos condenados na prisão de Belle Reve juntam-se à super-secreta e super-obscura Força Tarefa X enquanto são deixados na remota ilha de Corto Maltese, infundida pelo inimigo.

Antes de começar, vamos explicar as siglas. A Marvel tem o MCU, o Marvel Cinematic Universe, que é o universo onde estão situados as dezenas de filmes. DCEU é o DC Extended Universe, o paralelo da DC. Não leio HQs, então não posso palpitar sobre qual editora é mais bem sucedida nos quadrinhos. Mas no cinema, nem o mais fanático fã da DC vai deixar de reconhecer a superioridade da Marvel.

(Bem, fãs fanáticos às vezes têm cegueira seletiva, então se o cara é muito fanático ele não vai reconhecer os fatos. Mas isso é assunto pra outro post.)

Em 2016 a gente viu o primeiro filme do Esquadrão Suicida, que teve um trailer excelente, um bom início, mas que depois se perdeu completamente e conseguiu decepcionar quase todo mundo. Até achei que iam desistir do time do Esquadrão Suicida, deixa pra lá, foi uma parada que não deu certo.

Mas aí apareceu um James Gunn no horizonte. Vamos lembrar quem é James Gunn? O cara começou na Troma, produtora de filmes trash, acho que seu primeiro trabalho no cinema foi o roteiro de Tromeu e Julieta, de 1996. Ele tinha uma carreira discreta, com filmes “menores” como Seres Rastejantes (2006) e Super (2010), até que foi contratado pela Marvel pra fazer Guardiões da Galáxia. Só pra dar um exemplo da proporção: o orçamento de Super era de 2,5 milhões de dólares, enquanto Guardiões tinha 170 milhões.

Guardiões da Galáxia era um projeto audacioso. Um filme que se encaixaria nos filmes dos Vingadores, mas era uma aventura espacial com um grupo que tinha um guaxinim e uma árvore, feito por um diretor que começou na Troma. E o resultado foi excelente, um dos melhores filmes do MCU (lembrando que tem um monte de filmes bons no MCU!).

Claro que a moral do James Gunn subiu. Ele fez o Guardiões volume 2, e ia fazer o terceiro – até que resolveram catar uns tweets politicamente incorretos que ele tinha feito anos antes, e a conservadora Disney (como mencionei no texto de anteontem sobre Jungle Cruise) o demitiu.

A Warner então o contratou pra “consertar” o Esquadrão Suicida – afinal, tanto os Guardiões quanto o Esquadrão são grupos de anti-heróis com alguns esquisitões no meio.

Vendo isso, a Disney o recontratou pra fazer Guardiões 3, mas antes ele ainda ia fazer este Esquadrão Suicida antes.

E agora a gente tem um James Gunn livre das restrições da Disney. O Esquadrão Suicida parece uma mistura dos anti-heróis de Guardiões da Galáxia com a violência e o humor politicamente correto do Deadpool. Um filme violento, engraçado, e, principalmente, divertidíssimo!

Antes de entrar no filme, vamos à pergunta: é uma continuação ou um reboot? Na verdade, tem cara de reboot, mas é uma continuação. Alguns personagens do outro filme voltam. Mas não precisa (re)ver aquele, a história aqui é independente.

Uma das poucas coisas boas do primeiro filme foi a introdução dos personagens. Aqui não tem isso, sabemos pouco sobre cada um. Mas sabe que não fez falta? O filme até faz piada com isso.

Falei que o filme era violento, né? MUITO violento. Sem entrar em spoilers, mas muita gente morre no filme. Aliás, essa é uma grande diferença para os filmes de super heróis que a gente está acostumado. Aqui morre um monte de gente, tanto personagens quanto extras. Mas não são mortes dramáticas – apesar de algumas serem bem gráficas – tem tiro na cara, tem cabeça explodindo… O filme tem muito sangue, mas a pegada é humor negro – várias mortes geram gargalhadas.

Um bom exemplo disso é uma sequência muito boa onde rola quase uma competição entre o Idris Elba e o John Cena pra ver quem é mais eficiente matando. E quase todas as mortes são engraçadíssimas. E o encerramento da sequência é inesperado e genial!

Uma coisa que gostei muito aqui é justamente essa imprevisibilidade. O roteiro sai do óbvio várias vezes (característica que também acontecia em Guardiões da Galáxia). Você está vendo a cena, achando que ela vai ter uma conclusão, e o roteiro te dá uma rasteira e mostra outro caminho. Gosto disso, gosto de ser surpreendido por soluções fora do óbvio.

As cenas de ação são muito boas. São várias, com vários personagens, e a câmera sempre consegue mostrar bem a ação. E os efeitos especiais também são ótimos. Falei mal da onça de Jungle Cruise, né? O Tubarão Nanaue aqui é muito mais bem feito. Ok, parece uma ideia reciclada, um novo Groot – inclusive porque ambos são dublados por atores famosos (o Groot é o Vin Diesel; o Nanaue é o Sylvester Stallone). Mas, assim como o Groot é um personagem adorável, digo o mesmo sobre o Nanaue.

Ah, ainda nos efeitos. O filme é entrecortado por intertítulos, como se fossem títulos para cada capítulo. E esses intertítulos são escritos com elementos que estão na cena. Boa ideia. Simples e eficiente.

Claro que ainda preciso falar da trilha sonora. Assim como nos dois Guardiões, a trilha aqui é muito bem escolhida. E, olha só, tem música brasileira no meio!

O elenco é ótimo. Mas, como falei, morrem personagens, então não vou entrar em detalhes sobre cada um, pra não dar indícios de quais são os mais importantes. Pelo star power do elenco, arrisco a dizer que os principais seriam Margot Robbie e Idris Elba, mas o filme divide bem o protagonismo entre todo o time. Tem a Alice Braga, num papel pequeno mas importante, mais um filme fantástico na carreira dela (comentei sobre isso no texto sobre Novos Mutantes). Também no elenco, Michael Rooker, Viola Davis, Joel Kinnaman, Nathan Fillion, Jai Courtney, Sean Gunn, John Cena, Daniela Melchior, David Dastmalchian, Sylvester Stallone, Peter Capaldi e uma ponta do Taika Waititi (pisque o olho e você perderá!).

Se for pra falar mal de alguma coisa, falo do vilão Thinker, interpretado pelo Peter Capaldi. Personagem sub aproveitado. Não estraga o filme, claro. Mas é um personagem besta.

Heu poderia continuar falando aqui, mas chega. O filme estreia hoje, quero rever assim que possível. E recomendo pra qualquer um que goste de se divertir nos cinemas.

Ah, tem cena pós créditos! Fiquem até o fim do filme!

Por fim, só pra confirmar a frase do início. Não dá pra comparar este filme com filmes de fora do DCEU, como Coringa ou a trilogia do Nolan, porque são propostas completamente diferentes. Agora, dentro do DCEU, já tivemos Homem de Aço, Batman vs Superman, Esquadrão Suicida, Mulher Maravilha, Liga da Justiça, Aquaman, Shazam, Aves de Rapina, Mulher Maravilha 84 e o novo Liga da Justiça versão do diretor. Alguns bons, outros maomeno, outros ruins. É, olhando a lista, O Esquadrão Suicida é realmente o melhor até agora.

#pas

Liga da Justiça de Zack Snyder

Crítica – Liga da Justiça de Zack Snyder

Heu não ia postar este texto. Pra fazer um bom texto sobre esta nova versão de Liga Da Justiça, o tal “Snydercut”, heu precisaria rever o original, e não estava nem com tempo nem com saco para tal. Mas, me pediram, e, parafraseando o meu lado músico, “o artista tem que ir aonde o povo está”.

Então vamulá. Mas vou falar mais do conceito do que da nova versão do filme.

Primeiro, queria falar do conceito de “versão do diretor”. Não faz muito tempo, gravei um Podcrastinadores sobre versões do diretor. Existem casos e casos, mas o mais comum é quando o estúdio pede uma alteração e o diretor faz a contragosto (existe uma área cinzenta sobre quem é o “dono” do filme, normalmente o diretor é o dono da visão artística, mas o real dono do filme é o produtor, tanto que é este que ganha o Oscar de melhor filme). Um exemplo famoso é a narração em Blade Runner. Diziam na época que o estúdio pediu uma narração em off, aí o Ridley Scott teria pedido ao Harrison Ford pra falar de má vontade pra convencer os produtores a tirar a narração, mas os produtores teriam achado genial, porque o filme ficou com cara de filme noir.

O fato é: normalmente uma versão do diretor é uma coisa pros fãs. Tenho aqui o DVD de Quase Famosos, um dos meus filmes favoritos. É um DVD duplo, um dos DVDs é a versão que passou nos cinemas, com 1 hora e 58 minutos; o outro é a versão do diretor, com 2 horas e quarenta minutos. Quem quer ver um bom filme, veja a versão pro cinema; quem quer ver um bom filme com mais algumas cenas legais, veja a versão estendida.

Ah, também queria falar de outro caso, A Pequena Loja dos Horrores, outro dos meus filmes favoritos. Na época, 1986, filmaram dois finais – um era o final do teatro, um final pessimista, onde o herói morre e a planta vence (spoiler!); o outro era um final feliz, onde o herói consegue derrotar a planta. Na época, acharam melhor deixar o final feliz, e nem divulgaram o outro final – era 1986, nem existia internet! Até que, uns 20 anos depois, anunciaram na Amazon um blu ray com um “final alternativo”. Comprei, comecei a ver, e eram mais de 20 minutos de cenas novas! Que heu nem sabia que existiam!

Bem, chega de falar de outras versões estendidas. Mas, antes de entrar no Snydercut, vamos nos situar historicamente.

O ano era 2017, mais pro fim do ano. A Marvel estava a toda, lançando filmes do MCU desde 2008 – nessa época estávamos com Thor Ragnarok, o décimo sétimo filme do MCU. Enquanto isso, a DC continuava lançando um filme aqui, outro ali, alguns bons, outros não, o último tinha sido o fraco Batman vs Superman. Ao ficar pra trás, no desespero, a DC fez um “all in” de poker, e lançou um filme com todos os super heróis – mas se esquecendo que antes de lançar o primeiro Vingadores, a Marvel tinha cinco filmes “solo” com Homem de Ferro, Capitão América, Hulk e Thor. E o filme da Liga ainda teve outro problema, que vou falar daqui a pouco. Ou seja, o resultado de Liga da Justiça foi cambaleante, e, na época, perdia na comparação com a rival. O terceiro filme de um herói de segunda linha, Thor, foi melhor que o filme que reunia Superman, Batman e Mulher Maravilha.

(Se heu fosse executivo da DC, propunha outro caminho. Esqueçam a Marvel, esqueçam o MCU, vamos focar em filmes solo, com temas mais adultos. Vamos seguir a linha de Coringa, que chegou a ser indicado a 11 Oscars, dos quais ganhou dois.)

O outro problema de Liga da Justiça não tem nada a ver com falta de planejamento, foi uma coisa muito triste. A filha do diretor Zack Snyder cometeu suicídio, e ele se afastou do projeto, que foi assumido pelo Joss Whedon. E foi por causa dessa troca que o Snyder, de um tempo para cá, começou a anunciar que queria apresentar a versão dele do filme, e seus fãs começaram a encher o saco de todos.

Até aí, ok. Faça que nem A Pequena Loja dos Horrores e lance uma nova versão para os fãs em home vídeo.

Mas, não. Novas filmagens foram feitas – ué, se refilmou, ainda conta como “novo corte”? – e os fãs malas estavam cada dia mais chatos sobre esse assunto. Não me lembro de nenhuma outra versão de diretor que gerou tanto assunto!

Bem, finalmente, vamos falar do filme.

Já falei que não revi o primeiro Liga da Justiça, então não vou fazer muitas comparações. Mas tem duas coisas que a gente precisa falar logo de cara. A primeira é essa imagem 4×3. Snyder queria lançar em Imax. Lembro que vi Dunkirk com imagem assim, 4×3, ocupando toda a tela do Imax. Aquilo ficou muito legal, realmente, a imagem quadrada numa tela daquelas faz diferença. Mas… o Snydercut está sendo lançado em streaming! Os cinemas estão fechados há um ano! Qual é o sentido de ter uma imagem quadrada pra se ver na TV de casa?

A segunda é a duração. 4 horas de filme??? Tirando O Senhor dos Anéis, que era um livro enorme adaptado, não lembro de outro caso na história do cinema onde uma versão de 4 horas se justificaria.

Resultado: o filme é chato. É um filme longo demais, com sérios problemas de ritmo, difícil de se ver de uma vez – quase todos que conheço que viram, o fizeram em partes.

A história em si não tem muita coisa diferente. Fiquei até curioso pra saber como o cara conseguiu esticar tanto, com duas horas e meia de filme não tinha quase nada de inédito, e o filme anterior só tinha duas horas! Mas não, não faço questão de saber o que foi acrescentado, deixa pra lá. A vida é curta demais pra ficar comparando versões de Liga da Justiça!

Agora, admito que tem coisa que ficou melhor. O Ciborgue tem uma história bem mais complexa (já que não teve filme de origem). O vilão, Steppenwolf, também tem uma história maior por trás (mas a minha implicância com ele é o nome – não dá pra não pensar na banda). Ah, na outra versão tinha uma história paralela, bem chatinha, com uma família russa, e isso sumiu.

Tem uma outra mudança que é bem visível: o filme é mais escuro e tem menos piadas. Os fãs acham que isso é uma coisa que melhorou, mas não acho isso nem melhor nem pior, é apenas uma característica: um filme mais escuro e mais sério. Heu, particularmente, gosto das piadas, então, na minha humilde opinião, um filme ter menos piadas não é uma boa mudança… (Aliás, o Flash tem menos piadas, mas continua como alívio cômico. Se era pra ser um filme sério, por que manter um alívio cômico?)

Outra coisa: o Snydercut tem muita câmera lenta. MUITA câmera lenta. Mas isso é característica do diretor. Reclamar disso não rola, é que nem reclamar de lens flare nos filmes do JJ Abrams.

Seguindo a mesma linha, li críticas falando que Snydercut parece uma colagem de comerciais, usando heróis posando e falando frases de efeito. Mais uma vez, isso é a cara do diretor, e se a gente pensar que isso é um produto direcionado ao fã, deixa quieto, porque os fãs devem ter gostado.

Tem gancho pra continuação, aparece um vilãozão, o Darkseid, ele aparece que nem o Thanos nas primeiras vezes que apareceu no MCU. Dá pra sacar que é um personagem importante, mas ele só vai ser usado em outros filmes.

Tem uma cena extra num epílogo que parece uma tentativa de continuação – “ei, fãs, olha só o novo filme que posso fazer, comecem a encher o saco!”. A cena não é ruim, mas também não é boa, é apenas uma cena solta, sem nenhuma conexão a nada no filme, jogada lá só pros fãs darem gritinhos.

(Falando nisso, lembro da sessão pra imprensa do Liga da Justiça em 2017, tinha fãs dando gritinhos em algumas cenas, tipo quando aparece um Lanterna Verde. Isso foi uma vantagem de ver o novo filme em casa, beatlemania é uma coisa ultrapassada.)

No fim, fica a sensação que Liga da Justiça de Zack Snyder é um produto só pros fãs. Os fãs devem ter adorado. Heu ia gostar de uma versão exagerada de um filme que sou fã. Mas, pra quem não é fã, talvez seja melhor ficar com a versão de 2017. Não que aquele seja um filme bom, mas pelo menos não é chato. Um filme de super herói pode ser ruim, pode ser tosco, mas não pode ser chato. E Liga da Justiça de Zack Snyder é chato.

Mulher-Maravilha 1984

Crítica – Mulher-Maravilha 1984

Sinopse imdb: Fast Forward para a década de 1980, quando a próxima aventura da Mulher Maravilha no cinema a encontra enfrentando dois novos inimigos: Max Lord e Mulher Leopardo.

Mulher-Maravilha 1984 (Wonder Woman 1984, no original) é o segundo grande lançamento cinematográfico pós covid – depois de Tenet. E Mulher-Maravilha 1984 vai sofrer com os mesmos problemas. Assim como Tenet, Mulher-Maravilha 1984 é filme pra ser visto nos cinemas, na tela grande. E boa parte do público ainda não voltou pros cinemas. Ou seja, vai ser mais um prejuízo.

Mas, vamos ao filme. Mulher-Maravilha 1984 tem alguns bons momentos, alguns momentos excelentes, mas nem tudo funciona. Achei o final péssimo.

Vamos ao que funciona. A direção é da mesma Patty Jenkins que dirigiu o primeiro, acho isso algo positivo, não tem alguém diferente tentando “consertar” alguma coisa. A reconstituição de época está ótima. Às vezes parece meio caricato, mas, poxa, os anos 80 foram caricatos. Heu sei porque heu vivi aquilo! (Nasci em 71, em 84 tinha 13 anos).

Algumas sequências são ótimas, como a que abre o filme, com a Mulher Maravilha ainda criança, ou a perseguição de carros. Não vou entrar em spoilers, mas tem um elemento que tinha no desenho animado da Liga da Justiça que aparece aqui, e o modo como apresentaram isso foi muito muito legal.

Gal Gadot é bonita, é carismática, e ainda é boa atriz. Vê-la na tela é um prazer. Chris Pine funciona bem ao lado dela, a química é boa. E os dois vilões são interpretados por dois atores inspirados: Kristen Wiig e Pedro Pascal (Hoje um nome hypado por causa de Mandalorian).

Agora… O personagem do Pedro Pascal é bom, mas não gostei nem um pouco da solução que deram pra ele. Tudo ficou exagerado e inverossímil. Mais uma vez não vou entrar em spoilers, mas, se o fim do primeiro filme já não é lá grandes coisas, esse aqui é ainda pior.

Mulher-Maravilha 1984 está nos cinemas. É um filme para ver no telão. Mas, lembrem-se: ainda estamos na pandemia! Se cuidem!