Guardiões da Galáxia Especial de Festas

Crítica – Guardiões da Galáxia Especial de Festas

Sinopse (Disney+): Com a missão de tornar o Natal inesquecível para Quill, os Guardiões vão à Terra em busca do presente perfeito.

James Gunn é “o cara”. Se antes já era impressionante o fato dele ter saído da Troma (sua estreia foi o roteiro de Tromeu & Julieta) e chegar na Marvel, agora ele está ligado a projetos simultâneos na Marvel e na DC!

Guardiões da Galáxia Especial de Festas (The Guardians of the Galaxy Holiday Special, no original) é uma divertidíssima brincadeira. Gunn aproveitou as filmagens de Guardiões 3 e juntou o elenco para filmar um especial de natal, independente dos filmes, de pouco mais de quarenta minutos. Pretensão zero, diversão nota 10.

O filme segue uma ideia maluca (e coerente com tudo o que o diretor já tinha feito com os Guardiões): tirando Peter Quill, todos são alienígenas e não sabem o que é o Natal. Então Mantis e Drax resolvem vir até a Terra para trazer um presente para Quill: o Kevin Bacon! Sim, afinal rolou uma piada no primeiro ou segundo Guardiões onde Quill fala que Kevin Bacon foi um herói que salvou uma cidade com a dança.

Uma coisa bem legal dessa fase atual da Marvel é que cabem experimentações em formatos diferentes. Depois de uma sitcom de uma advogada Hulk e de um filme sério com homenagem ao Pantera Negra, agora tem espaço para uma bobagem divertida.

Em sua incursão pela DC, em Esquadrão Suicida e na série Peacemaker, James Gunn usou muita violência gráfica, mas aqui em Guardiões da Galáxia Especial de Festas o clima é família, mantendo a linha dos filmes dos Guardiões. Outra característica constante em seus filmes, a trilha sonora é importante, e a música de Natal que toca no início é sensacional. Não achei informações no imdb, mas desconfio que seja a banda Old 97’s caracterizada interpretando a música no filme.

O elenco é fantástico. Mesmo sendo uma produção simples, direto para o streaming, Guardiões da Galáxia Especial de Festas traz de volta quase todo o elenco dos filmes (só Zoe Saldana não está aqui). Os principais são Pom Klementieff e Dave Bautista (que estão ótimos em sua incursão pela Terra), e temos também Chris Pratt, Karen Gillan, Michael Rooker, Bradley Cooper, Vin Diesel e Sean Gunn. De novidade, Maria Bakalova faz a voz do cachorro Cosmo, ela deve estar no próximo filme. Claro, Kevin Bacon também tem uma grande participação, e sua esposa Kyra Sedgwick é quem fala ao telefone com ele.

Por fim, não me lembro de personagens da DC sendo citados no MCU. E aqui falam do Batman! Olha, se alguém for fazer um crossover Marvel x DC nos cinemas, acho que já temos a pessoa certa para tocar o projeto!

Super Quem?

Crítica – Super Quem?

Sinopse (Paris Filmes): Um ator só tem azar quando a questão é trabalho. E quando, por obra do destino, consegue o protagonismo em um filme de super-herói chamado BadMan, ele sofre um acidente e começa a viver como se fosse o personagem da história. Imerso em alucinações de sua nova vida, ele e seus amigos se veem no meio de uma grande confusão com bandidos reais e um caso para solucionar.

No meio de um monte de filmes de super heróis, que tal uma comédia francesa parodiando o gênero?

Já vi muitos filmes franceses, mas preciso admitir que não acompanho de perto o que acontece por lá. Nunca tinha visto nenhum filme do ator / diretor / roteirista Philippe Lacheau, e preciso dizer que tive uma surpresa positiva. O formato lembra aquelas paródias hollywoodianas que vieram na onda de Todo Mundo em Pânico e Não é mais um Besteirol Americano, tipo Os Espartalhões, Deu A Louca em Hollywood, Super Heróis: A Liga da Injustiça (teve uma leva de filme “alguma coisa movie”, tinha Epic Movie, Date Movie, Disaster Movie, todos muito bobos.) A diferença é que Super Quem? (Super-héros malgré lui, no original) me fez rir, coisa que não aconteceu com os filmes americanos.

Algumas piadas são muito boas. Ri alto em algumas sequências, como quando o protagonista vai tentar impedir um assalto a banco e sua companheira se machuca involuntariamente várias vezes. Ou na parte final, quando os quatro estão “fazendo cosplay”, e mais uma vez tudo dá errado sem querer.

Super Quem? é cheio de referências a filmes de super heróis (tem uma boa sequência usando X-Men!). Nada muito “heavy user”, mas talvez o espectador não familiarizado com o gênero perca algumas referências. trilha sonora

Ok, o humor às vezes é bobo, como aquele pino no banco do motorista. E o filme tem algumas coisas bem previsíveis e clichês, como o vilãozão que a gente sabe que vai aparecer no final. E não gostei da parte final mostrando o casal. Por outro lado, a piada sobre o “product placement” é ótima!

O maior foco são as piadas, mas Super Quem? ainda tem umas boas sequências de ação. São pelo menos duas sequências com coreografias muito bem feitas.

Sobre o elenco, disse lá em cima, não conhecia Philippe Lacheau. Vi no imdb que ele já fez outros sete filmes com a dupla Tarek Boudali e Julien Arruti, além de três filmes com Élodie Fontan. Taí, não vi nenhum desses filmes, vou procurar. Do elenco, só conhecia Jean-Hugues Anglade, de Betty Blue e Subway.

Super Quem? não é um grande filme. Mas é melhor que a maioria das comédias que chegam por aqui.

Ingresso para o Paraíso

Crítica – Ingresso para o Paraíso

Sinopse (imdb): Um casal divorciado viaja junto para Bali para impedir que sua filha cometa o mesmo erro que eles acham que cometeram há 25 anos.

Este é mais um daqueles filmes que pedem “críticas super curtas”: “comédia romântica estrelada por Julia Roberts e George Clooney”. Porque não tem muita coisa a mais pra falar.

Mas, vamulá. Vou defender o filme!

Sempre falo que precisamos ver qual é o objetivo do filme. Quem vai ver uma comédia romântica está atrás de cenas eletrizantes, ou de reviravoltas de roteiro, ou de efeitos especiais que explodem cabeças? Ou está afim de uma história leve e divertida, atores carismáticos e belos cenários?

Dirigido por Ol Parker, Ingresso para o Paraíso (Ticket to Paradise, no original) traz esses três elementos. Afinal, ninguém pode reclamar de ver Julia Roberts e George Clooney em cenários paradisíacos de Bali. A história é previsível? Claro que é. Mas quem procura um filme assim, quer uma história previsível.

No elenco, claro que o destaque é com Julia Roberts e George Clooney, que têm uma boa química juntos (é a quinta vez que trabalham juntos). Também gostei do outro casal, a filha deles e o noivo, Kaitlyn Dever e Maxime Bouttier. Por outro lado, achei forçados os personagens da amiga da filha e do namorado da Julia Roberts. Passaram um pouco do tom.

Ingresso para o Paraíso é uma boa comédia romântica. Se você não gosta, veja outro filme; se você curte o estilo, é o seu filme.

Thor: Amor e Trovão

Crítica – Thor: Amor e Trovão

Sinopse (imdb): A aposentadoria de Thor é interrompida por um assassino galáctico conhecido como Gorr, o Carniceiro dos Deuses, que busca a extinção dos deuses. Para combater a ameaça, Thor pede a ajuda da Valquíria, do Korg e da sua ex-namorada Jane Foster, que – para surpresa de Thor – inexplicavelmente empunha seu martelo mágico, Mjolnir, como Poderoso Thor. Juntos, eles embarcam em uma angustiante aventura cósmica para descobrir o mistério da vingança do Carniceiro dos Deuses e detê-lo antes que seja tarde demais.

E a Marvel continua desenvolvendo o seu cada vez mais complexo universo cinematográfico. A boa notícia aqui é que, se Doutor Fantástico precisava de pré requisitos (quem não viu a série Wandavision deve ter ficado um pouco perdido), este Thor: Amor e Trovão (Thor Love and Thunder, no original) funciona como filme solto – o que o espectador não lembra, aparece o Korg (interpretado pelo diretor Taika) contando.

A direção mais uma vez ficou nas mãos de Taika Waititi, o mesmo do anterior Thor Ragnarok. Taika tem uma pegada forte no humor, todos sabiam que este quarto filme do Thor seria mais uma comédia. Mas a comédia é intercalada por momentos sérios. A história tem algo de drama, temos alguns temas sérios, temos personagem de luto porque perdeu filho, temos personagem com câncer. Conversei com alguns críticos que não gostaram da mistura, mas, na minha humilde opinião, o filme tem um bom equilíbrio entre o drama e a comédia escrachada.

Falei humor escrachado, né? Assim como Ragnarok, Thor: Amor e Trovão é muito engraçado. Traz umas cenas hilárias com o Stormbreaker, o machado do Thor, com ciúmes do Mjolnir. E tem uns bodes que são o alívio cômico perfeito, e que protagonizam a melhor piada do ano no cinema até agora.

Uma coisa me intrigava, que era a Jane Foster como Thor. O roteiro explica o que aconteceu. Se é uma boa explicação, aí não sei. Achei forçada. Mas, pelo menos explica.

Sobre a trilha sonora, queria fazer uma crítica. A trilha sonora é do quase onipresente Michael Giacchino (só este ano, ele já esteve em Batman, Jurassic World e Lightyear), mas nenhum tema dele me chamou a atenção. O que chama a atenção são as músicas de hard rock usadas em algumas cenas impactantes. Todas são boas músicas, todas engrandecem a cena, mas… São QUATRO músicas do Guns’n’Roses! Ok, entendo usar o Guns, tem uma piada envolvendo um dos personagens, mas me pareceu um exagero. Taika não conhece outras bandas de rock? Rainbow in the Dark, do Dio, aparece só nos créditos…

O visual do filme é fantástico, como era de se esperar. Mas teve um detalhe que achei genial. Em um filme muito colorido, determinado momento o filme perde a cor. Fica quase tudo preto e branco, com exceção de alguns detalhes aqui e ali.

Temos um novo vilão, Gorr, o Carniceiro dos Deuses. É um bom vilão, com uma boa motivação, interpretado por um grande ator, Christian Bale (sim, o Batman). Mas, achei ele mal aproveitado, e não gostei do fim que deram a ele. Me pareceu uma oportunidade desperdiçada.

Já que falamos do Christian Bale, bora falar do elenco. Chris Hemsworth parece muito à vontade com o personagem, até perdi a conta de quantos filmes ele já fez como Thor. Temos a volta de Natalie Portman como Jane Foster e Tessa Thompson como Valquíria, mas ambas parecem estar no piloto automático – sorte que o filme não pede muito delas. O diretor Taika Waititi faz a voz do Korg, personagem que tem uma importância grande (afinal, é direção e roteiro dele, né?). Temos participação da galera dos Guardiões da Galáxia: Chris Pratt, Dave Bautista, Karen Gillan, Pom Klementieff e Sean Gunn, e as vozes de Vin Diesel e Bradley Cooper. Russel Crowe faz um Zeus engraçado. Matt Damon, Luke Hemsworth e Sam Neill estavam no Thor Ragnarok, como atores teatrais interpretando Loki, Thor e Odin. Aqui eles voltam, e também temos Melissa Macarthy como Hela. E Elsa Pataky, esposa do Chris Hemsworth, aparece muito rápido como a mulher loba.

Por fim, o tradicional da Marvel: duas cena pós créditos, uma com um gancho para uma provável continuação, outra com uma homenagem bonitinha.

Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo

Crítica – Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

Sinopse (imdb): Uma idosa imigrante chinesa se envolve em uma aventura louca, onde só ela pode salvar o mundo explorando outros universos que se conectam com as vidas que ela poderia ter levado.

Este ano tivemos um bom filme com o subtítulo “Multiverso da Loucura”. Quem diria que pouco mais de um mês depois teríamos outro bom filme usando multiversos, e ainda mais louco que o primeiro filme?

Escrito e dirigido pela dupla “Daniels” (Dan Kwan e Daniel Scheinert), Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (Everything Everywhere All at Once no original) usa o conceito de multiverso de maneira insana. Algumas sequências têm poucos segundos e conseguem mostrar diversos cenários e figurinos misturados. Parece aquela sequência do gerador de imprevisibilidade de O Guia do Mochileiro das Galáxias, mas que dura muito mais tempo. É tudo muito intenso, pisque o olho e perdeu partes da viagem.

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo tem várias sequências geniais. Para ativar a viagem entre os multiversos, a pessoa precisa fazer algo inesperado. Se a primeira coisa inesperada é comer um batom, essa “inesperabilidade” vai escalando até coisas completamente malucas conforme o filme avança. E como tudo é possível, vemos por exemplo uma batalha entre a vilã e alguns guardas onde cada guarda é derrotado de maneira mais criativa possível.

Não sei se podemos chamar Tudo em todo lugar ao mesmo tempo de comédia, mas tem cenas engraçadíssimas. Tem uma luta na parte final onde a protagonista enfrenta um adversário sem calças, e com algo enfiado naquela parte famosa da anatomia da Anitta. Tem uma divertidíssima citação ao Ratatouille. E o universo com as pessoas com salsichas no lugar dos dedos das mãos é hilário!

Acho que o que mais chama a atenção é a edição. Fiquei imaginando, deve ter dado um trabalho hercúleo organizar todas aquelas imagens misturadas de forma que ainda fizessem algum sentido. E ainda tem inúmeras mudanças de formato de tela (aspect ratio), o que confunde ainda mais.

Mas, também preciso falar da protagonista Michelle Yeoh. Já falei dela outras vezes, mas aqui acho que foi sua melhor atuação. Ela consegue transparecer todos os conflitos de todas as versões de sua personagem – e ainda mostra nas cenas de luta a habilidade que a gente já conhece desde O Tigre e o Dragão – sem uma atriz que luta artes marciais o filme não seria o mesmo. Não será surpresa vê-la concorrendo ao Oscar ano que vem.

Ainda no elenco, preciso falar de dois nomes. Primeiro, a agradável surpresa que foi rever Ke Huy Quan, que foi o Short Round em Indiana Jones e o Templo da Perdição e o Data em Goonies, e não lembro de nenhum outro filme dele desde 1985 (vi no imdb, ele fez pouca coisa de lá pra cá, e nada relevante). Além dele, vemos Jamie Lee Curtis num papel diferente de tudo o que ela já fez. Também no elenco, Stephanie Hsu e James Hong.

Os efeitos especiais são simples e eficientes. Tem um efeito recorrente onde a protagonista parece ser puxada em alta velocidade, que não requer malabarismos em cgi e tem um efeito excelente na tela.

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo é longo, duas horas e dezenove minutos, e não mantém o pique até o final. Achei a segunda metade bem inferior à primeira. Ok, talvez o filme ficasse louco demais se fosse o tempo todo no mesmo ritmo insano, mas sei lá podiam ter reduzido a segunda metade.

Mas mesmo com o final longo demais, Tudo em todo lugar ao mesmo tempo é um filme altamente recomendado. Afinal, não é todo dia que vemos algo realmente diferente no cinema.

O Peso do Talento

Crítica – O Peso do Talento

Sinopse (filmeB): Depois de perder seu dinheiro, Nicolas Cage precisa recuperar-se financeiramente, mas o problema foi a solução que ele encontrou: aceitar o valor de US$ 1 milhão para ir à festa de aniversário de um super fã que também é um chefão do crime. Parecia que ia dar certo, mas o inesperado acontece quando uma agente da CIA o recruta para viver o papel de sua vida: Nicolas Cage e seus grandes sucessos nas telonas.

A ideia de O Peso do Talento (The Unbearable Weight of Massive Talent, no original) era interessante. Fazer um filme em cima dos exageros do Nicolas Cage, estrelado pelo próprio Nicolas Cage.

Cage era o nome certo para um projeto destes. Não consigo pensar em outro nome que funcionaria tão bem. O cara estrelou vários filmes de sucesso, ganhou o Oscar, e ficou conhecido por ser um cara extravagante e que gosta de gastar dinheiro em coisas caras e nem sempre necessárias. De uns anos pra cá, sua carreira entrou numa espiral de filmes de gosto duvidoso, mas que, diferente de um Bruce Willis (que, doente, fez uma série de filmes vagabundos onde pouco aparecia, para juntar um pé de meia), Cage continua atuando intensamente, quase sempre com o seu over acting que se tornou uma de suas principais características. Nome perfeito para um projeto que satiriza ele mesmo!

E realmente Cage é uma das melhores coisas daqui. Temos várias referências aos seus filmes como A Outra Face, Despedida em Las Vegas, A Rocha, 60 Segundos… E tem uma coisa que gostei, que é um Nicolas Cage imaginário, mais novo (me parece o Cage de Coração Selvagem), que aparece conversando com o Cage atual.

Outro ponto positivo é Pedro Pascal, que interpreta o milionário fã do Nicolas Cage. Não só Pascal está muito bem, como sua química com Cage é ótima. No resto do elenco, o único nome que me chamou a atenção foi uma ponta de Neil Patrick Harris.

O filme tem algumas cenas bem engraçadas, outras meio bobas. Pra ser sincero, achei divertido, mas apenas isso, mas, na sessão onde fui, tinha gente perdendo o fôlego de tanto rir. Ou seja, não achei tão engraçado, mas presenciei gente que achou.

Por fim, sempre fico feliz de ver filmes no cinema, mas tenho minhas dúvidas se este O Peso do Talento não teria um público maior se fosse lançado em streaming. Hoje em dia é difícil levar a galera para as salas de cinema, não sei se o filme terá o público almejado.

Jackass Forever

Crítica – Jackass Forever

Sinopse (imdb): Após 11 anos, a equipe Jackass retorna para sua cruzada final.

É complicado falar de Jackass. Porque quem vai ver Jackass sabe exatamente o que está vendo. Pra fazer uma análise crítica a gente precisa ter isso em mente.

Pra quem não conhece Jackass: era uma série da MTV do início dos anos 2000 onde um grupo de malucos faziam várias pegadinhas, alternando entre coisas perigosas e momentos escatológicos. E sempre se sacaneavam e se divertiam muito no processo – era nítido que entre eles era uma grande curtição. Depois da MTV, eles fizeram alguns filmes para o cinema. Falei aqui no heuvi sobre o filme Jackass 3D, de 2010, vou copiar aqui alguns trechos do que escrevi naquela ocasião:

Um grupo de insanos inconsequentes (li em algum lugar que são dublês) começou um programa na MTV, dez anos atrás, onde a ideia era, basicamente, ver eles mesmos se ferrando. Ou eles faziam algo perigoso e alguém saía machucado, ou então algo nojento. A parte da nojeira não me atrai, mas os momentos onde eles quase sempre se machucam são muito engraçados. (…) É difícil falar de um filme desses. Afinal, quem se propõe a ver, já sabe o que vai encontrar. Quem não curte, passa longe de filmes assim!

Disse isso na época, e repito aqui. A parte da nojeira realmente continua sem graça, tipo, esperma de porco? Sério? Mas, algumas das pegadinhas são realmente engraçadas. Em alguns momentos, me vi rindo alto, como no momento marching band, ou no sapateado em cima de uma plataforma de choque, ou a cena do conserto da lâmpada no poste, ou o toboágua que não caía na água.

E preciso dizer que alguns momentos foram realmente corajosos. Tem duas pegadinhas, uma envolvendo uma aranha, outra com um urso, que são momentos bem tensos. E Johnny Knoxville se machucou sério na tourada!

Uma coisa legal é que boa parte da galera das antigas está de volta – se a gente pensar que esse tipo de pegadinha envolve riscos físicos, é bem mais complicado para serem performadas por pessoas de 40 e muitos anos do que pessoas de 20 e poucos. A gente vê a volta dos cinquentões (ou quase) Johnny Knoxville, Steve-O, Wee Man, Preston Lacy, Chris Pontius e Dave England (os mais velhos são de 1969, os mais novos de 1973). Acho que do time principal antigo só faltam dois: Ryan Dunn, que faleceu num acidente de carro, e Bam Margera, que se desentendeu com a produção do filme e se desligou do projeto (ele aparece em uma das pegadinhas, filmada antes da sua saída). A direção ainda é de Jeff Tremaine, diretor desde a época da MTV. E Spike Jonze, um dos criadores, também continua com a turma. E junto deles vemos alguns novos nomes – me parece que isso seria uma saída pra continuar a franquia mesmo sem os originais.

Dito tudo isso, preciso reconhecer que Jackass é meio bobo. Mas, admito, também sou meio bobo e me diverti vendo.

Metal Lords

Crítica – Metal Lords

Sinopse (imdb): Dois amigos se reúnem para formar uma banda de heavy metal com uma violoncelista para participar de uma competição de bandas.

Às vezes a gente tem uma decepção, como foi com o recente Águas Profundas, que tem um bom diretor e um bom casal de protagonistas, mas que apesar disso é um filme bem ruim. E outras vezes a gente tem uma grata surpresa, quando vamos ver uma comédia adolescente sem ninguém muito conhecido no elenco principal, mas que proporciona divertidas e agradáveis duas horas em frente à tela. É o caso deste Metal Lords, nova comédia da Netflix.

Metal Lords foi dirigido por Peter Sollett, e escrito por D.B. Weiss, que curiosamente foi o co-criador e showrunner de Game of Thrones – que não tem nada a ver com este filme. Mas, lembrei de um vídeo que rolou um tempo atrás que tem tudo a ver. Era uma espécie de jam session de guitarristas tocando o tema de Game of Thrones, com o próprio D.B. Weiss tocando guitarra ao lado de Ramin Djawadi (compositor do tema), Tom Morello (Rage Against The Machine), Scott Ian (Anthrax) e Nuno Bettencourt (Extreme). E ele não faz feio! Ou seja, D.B. sempre foi um cara do rock. Ah, Ramin Djawadi e Tom Morello trabalharam na trilha sonora de Metal Lords.

Ok, a gente tem que reconhecer que Metal Lords não traz nada de novo. A gente já sabe como o filme vai se desenvolver e como vai terminar. Não é um filme para figurar em listas de melhores do ano. Mas, pode entrar em listas de bons filmes com temática rock’n’roll, como Escola de Rock, Still Crazy ou Rock Star. E, principalmente, é um filme leve e agradável, que deixa a gente com vontade de rever na primeira oportunidade.

Me perguntaram se me identifiquei com a banda, afinal, comecei a tocar na época do colégio, e tive uma fase de heavy metal no currículo. Mas, na verdade, na época do colégio minha banda era mais parecida com a banda “rival”, só comecei a tocar metal anos depois. Mas, claro, vivi algumas daquelas situações presentes no filme.

Gostei muito do trio principal do elenco, tanto pelos atores quanto pelos personagens. Falei que o elenco principal era de desconhecidos, né? Mais ou menos. O protagonista Jaeden Martell estava em It e Entre Facas e Segredos, não é um rosto completamente novo. Mas aqui em Metal Lords é que ele realmente tem espaço para mostrar um bom trabalho. Seu personagem Kevin tem um bom desenvolvimento, tanto na parte musical quanto na personalidade. Adrian Greensmith faz um personagem que é meio caricato, mas, acreditem, conheci gente igual. O garoto que só pensa no metal, filho de pai rico, com problemas de relacionamento com todos em volta – inclusive o pai. A menina Isis Hainsworth também é ótima, tanto a atriz quanto a personagem, mas achei que a mudança dela ficou meio abrupta. Mas, gostei da “nova Emily”.

Esqueci de falar, vemos os garotos tocando os instrumentos. Podem até não ser grandes músicos (não dá pra saber), mas pelo menos demonstram bem na tela.

Preciso citar aqui uma cena que achei muito boa, que é quando Kevin aprende a tocar War Pigs. No início do filme a gente vê que o garoto não toca direito e tem problemas com ritmo. Durante a War Pigs, vemos a evolução do Kevin, tanto na parte técnica tocando bateria, quanto na parte de postura e de figurino. A cena ficou muito legal!

Tem um detalhe que vou implicar, mas sei que é um preciosismo. A cena final, quando eles tocam na batalha das bandas, aquela música nunca seria tocada daquele jeito sem ensaio. Nem com músicos profissionais, muito menos com músicos amadores. Já subi no palco sem ensaio, mas eram músicas mais conhecidas e com menos convenções. Certamente eles errariam a execução. Mas… É “filme de sessão da tarde”, a gente releva isso e aceita que a música saiu sem nenhum tropeço.

Tem uma outra cena que achei genial, mas não sei se é spoiler, então vou colocar os avisos.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Tem uma cena onde Kevin “ouve vozes na sua cabeça”. Aí aparecem Scott Ian (Anthrax), Tom Morello (Rage Against the Machine), Kirk Hammett (Metallica) e Rob Halford (Judas Priest) para conversar com ele. Achei genial! Mas acho uma boa citar aqui quem são, porque o filme não explica quem é quem. Só quem realmente conhece as bandas de metal é que vai reconhecer.

FIM DOS SPOILERS!

Nem sei se era pra falar tanta coisa de um filme tão despretensioso, mas é que curti e terminei a sessão empolgado. Recomendo pra todos os que gostam de música!

Como se Tornar o Pior Aluno da Escola

Crítica – Como se Tornar o Pior Aluno da Escola

Sinopse (google): Os estudantes Bernardo e Pedro têm dificuldades para cumprir todas as regras de uma escola que adota medidas politicamente corretas graças ao diretor Ademar. No banheiro do colégio, Pedro encontra um diário com dicas para instaurar o caos na escola sem ser notado.

Lançado em 2017, Como se Tornar o Pior Aluno da Escola virou “o assunto da semana” por causa de uma polêmica sem sentido. Mas, antes de falar da polêmica, vamos falar sobre o filme?

Não tinha visto Como se Tornar o Pior Aluno da Escola, mas vi Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro, que é um divertido trash movie brasileiro, também dirigido pelo mesmo Fabrício Bittar. O humor tem qualidade duvidosa e às vezes resvala na grosseria gratuita. Mas o filme é engraçadíssimo! E, vou além: acho importante um filme desses, que quebra o estilo padrão de quase 100% do cinema nacional. Sempre gosto de ver filmes com propostas diferentes.

Como se Tornar o Pior Aluno da Escola tem algumas semelhanças com Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro. O humor também resvala na grosseria. Mas, pelo menos na minha opinião, Como se Tornar o Pior Aluno da Escola tem um problema bem mais grave: as piadas são sem graça. Dei umas duas ou três risadas leves ao longo de todo o filme. Pouco não?

Existe uma outra crítica que pode ser feita com relação ao humor apresentado no filme, mas aí seria uma crítica ao estilo. É que heu, particularmente, não curto muito piadas escatológicas. Piada com xixi, cocô e pum tem que ser genial pra ter graça – porque mostrar alguém fazendo som de pum com as axilas não é engraçado. Mas, esse tipo de humor vende, tem parte do público que gosta de humor escatológico, então entendo que o filme opte por este caminho.

Mas não é só o humor grosseiro. Como se Tornar o Pior Aluno da Escola é repleto de cenas que não fazem o menor sentido, começando com o ponto de partida do filme: por que um adulto ajudaria dois adolescentes daquele jeito? E a partir daí, várias situações ilógicas, como o cara levando adolescentes numa boate onde não entram menores de idade. Detalhe:o carro foi roubado na frente do dono e dos motoristas do hotel e ninguém fala nada!

Se isso tudo viesse com boas piadas, heu até relevava o roteiro esdrúxulo. Mas se é piada de xixi cocô e pum, a tolerância diminui…

Pelo lado bom, a edição do filme é muito boa. O filme usa os rabiscos do “livro” para emendar as cenas, isso deu agilidade. A trilha sonora rock’n’roll também combina bem com a proposta. E, perto do fim, tem uma cena – uma única cena – onde Danilo Gentili e Carlos Villagrán conversam, onde a metalinguagem rola solta. A cena é muito boa, eles sacaneiam as carreiras de ambos os atores, e ainda tem quebra da quarta parede. Ah, se todo o filme fosse nessa pegada…

Sobre o elenco, nenhuma boa atuação. O garoto principal Bruno Munhoz não é ruim, mas não faço questão de revê-lo em novas produções. Daniel Pimentel, o amigo gordinho, é ruim, mas não sei se é culpa do ator ou do roteiro, que transformou o personagem em um alívio cômico sem graça. Danilo Gentili não é um bom ator, ele funciona muito melhor como apresentador. Talvez com um bom diretor de atores ele estivesse melhor aqui. Fábio Porchat tem uma ponta, aparece em duas cenas, no papel desconfortável. Nem dá pra julgar a sua atuação. Aliás, se a gente parar pra pensar, essas duas cenas poderiam ser cortadas e o filme não perderia nada. Carlos Villagrán, o Quico do Chaves, faz o diretor da escola, uma presença interessante, mas um papel caricato e sem nenhuma profundidade. Ah, achei engraçado ver Rogério Skylab entre os professores. Também no elenco, Joana Fomm, Moacir Franco e Raul Gazolla.

Não é um grande filme. Mesmo assim, defendo a existência de um filme nacional assim, com humor grosseiro. Assim como Exterminadores do Além contra a Loira do Banheiro, Como se Tornar o Pior Aluno da Escola é um filme diferente do rótulo “cinema nacional”.

Agora, vamos à polêmica. Danilo Gentili é um cara que sempre se envolveu em polêmicas em sua carreira. Claro que ele coleciona inimigos com este comportamento. Aparentemente um desses inimigos resolveu espalhar uma fake news, e recortou uma cena onde aparece um pedófilo. Só que é desonesto você mostrar parte da cena sem mostrar o conceito onde ela está inserida. Porque os protagonistas têm contato com o pedófilo, e isso é mostrado como algo extremamente negativo. Em momento algum o pedófilo é exaltado.

E o pior foi acusar o ator Fábio Porchat, que apenas interpreta um papel. Sim, acusaram um ator por atuar. Seriously?

E como tem muita gente preguiçosa por aí, a galera saiu compartilhando como se fosse verdade. Como se Como se Tornar o Pior Aluno da Escola realmente fizesse apologia à pedofilia. A cena é ruim, é desconfortável, é desnecessária, mas não é apologia. Se qualquer um quiser falar mal do filme, é fácil. O filme não é lá grandes coisas, tem um monte de coisas reais pra se falar contra o filme.

Mas, espalhar fake news aparentemente é mais fácil.

Bem, acho que o tiro saiu pela culatra. Como se Tornar o Pior Aluno da Escola é de 2017, ninguém mais se lembrava da existência do filme. Danilo Gentili deve estar feliz com a divulgação retardatária.

Eduardo e Mônica

Crítica – Eduardo e Mônica

Sinopse (imdb): Será que o romance entre uma estudante de medicina e um colegial pode dar certo? Um casal que deve superar suas diferenças significativas para viver um grande amor.

Preciso falar que rolava um certo pé atrás com este filme. É dirigido por René Sampaio, o mesmo diretor de Faroeste Caboclo, que é um bom filme, mas que altera algumas partes essenciais da música original. Ok, admito, o meu head canon me atrapalhou. Mas não consegui curtir aquele filme por causa das adaptações.

Felizmente, aqui em Eduardo e Mônica as adaptações funcionaram – pelo menos para mim – e posso dizer que “entrei no filme”.

Tudo funciona redondinho no filme, que usa o formato de comédia romântica – duas pessoas se conhecem, se gostam, se estranham, se separam, se reconciliam, etc. Fórmula batida, mas eficiente.

Os trechos da música entram naturalmente no roteiro, tipo rola um telefonema onde eles decidem se encontrar e o Eduardo sugere uma lanchonete enquanto a Mônica sugere um filme da nouvelle vague – ou seja, um filme do Godard. Sim, alguns elementos da música estão colocados discretamente, por exemplo, na música a Mônica cita Mutantes, no filme tem uma rodinha de violão tocando Ando Meio Desligado.

Uma boa sacada foi situar o filme na década de 80. Não fala exatamente em quais anos, mas a gente sabe que se passam alguns anos durante o filme. Tem pelo menos dois indicativos: Eduardo tem um poster do Fluminense campeão brasileiro de 1984 no quarto; e um tempo depois aparece ele fazendo o vestibular em 1987.

A reconstituição de época é muito bem feita – tem um personagem que usa mochila da Company! E tem uma cena que a galera da nossa idade vai lembrar do perrengue que era telefonar interurbano com fichas de telefone!

Tem um detalhe que gostei mas que vai passar desapercebido por boa parte da audiência. Tem uma trilha sonora instrumental, tocada por violões e outras cordas, que evoca os acordes da música título. Fica aquele clima no ar, mas sem entrar na música propriamente dita (que só é tocada nos créditos finais).

A música não citava nada de política, mas política era um tema recorrente na época, o Brasil estava saindo da ditadura militar, e duas das principais bandas que vieram de Brasília traziam política e críticas sociais nas suas letras (Legião Urbana e Plebe Rude). No filme, o pai da Mônica foi exilado por causa da ditadura, e o avô do Eduardo é um ex militar. Achei uma boa sacada.

Ok, vou reclamar de uma coisa. Admito que é um problema que acontece muito no audiovisual: a idade dos atores. Não sei exatamente quando foi filmado, a data no imdb é 2020, ou seja, essas filmagens já aconteceram há um tempo. Hoje, Alice Braga tem 38 anos, e Gabriel Leone (Dom) tem 28. A diferença de idade entre os dois é boa, compatível com ele fazendo vestibular enquanto ela se forma em medicina. Mas, o Gabriel Leone, com vinte e muitos anos, dizendo “eu tenho 16 anos” não ficou legal. Mas, sei que é um problema recorrente no cinema, lembro de um Espetacular Homem Aranha onde a Emma Stone, com vinte e muitos, grita “eu tenho dezessete anos!”.

Dito isso, preciso dizer que os dois estão ótimos, são grandes atores e a química entre o casal está perfeita. Excelente escolha de elenco.

(Tem uma participação de Fabricio Boliveira, que fez o João de Santo Cristo no Faroeste Caboclo. Será que existe um “legiãoverso”?)

Como falei, ao fim do filme estava feliz e com vontade de rever. E ao mesmo tempo frustrado, porque não sei quando o filme será lançado – inicialmente a data de estreia era pra ser 06 de janeiro, mas já adiaram de novo pro dia 20.

Mas, posso dizer que, dos últimos quatro filmes que vi no cinema, dois nacionais (Eduardo e Mônica e Turma da Mônica Lições) e dois blockbusters gringos (Matrix e King’s Man), os nacionais são muito melhores!