Um Lugar Silencioso Parte 2

Crítica – Um Lugar Silencioso Parte 2

E vamos para um dos filmes mais aguardados desde o início da pandemia!

Sinopse (imdb): Após os acontecimentos em casa, a família Abbott agora enfrenta os terrores do mundo exterior. Forçados a se aventurar no desconhecido, eles percebem que as criaturas que caçam pelo som não são as únicas ameaças à espreita além do caminho de areia.

Explico a introdução. A sessão de imprensa de Um Lugar Silencioso Parte 2 (A Quiet Place Part 2, no original) estava marcada, em março de 2020. Veio a pandemia, cancelaram a sessão. E, diferente de outros títulos, Um Lugar Silencioso Parte 2 nunca foi para os streamings, estavam guardando para a volta dos cinemas. Ou seja, pelo menos pra mim, esta estreia foi um marco – o cinema está voltando!

Antes de entrar nesta segunda parte, um rápido comentário sobre o primeiro filme. É um bom filme, reconheço suas qualidades, mas… tem uma coisa naquele filme que me incomoda. Me incomoda tanto que não consigo relevar. Vamulá. Eles vivem num mundo onde monstros atacam guiados pelo som, então tudo precisa ser no máximo de silêncio possível. E vai nascer um bebê, não tem como controlar o silêncio com um bebê recém nascido. Mas… Eles descobrem que podem falar alto ao lado da cachoeira. Como a cachoeira faz um barulho constante, as falas ficam “camufladas”.

ENTÃO POR QUE NÃO FAZER UMA CASA AO LADO DA CACHOEIRA???

Achei isso uma atitude tão burra que nem cogitei o primeiro filme no meu top 10 daquele ano…

Mas, vamos ao segundo filme!

Mais uma vez co-escrito e dirigido por John Krasinski, que também co-escreveu e dirigiu o primeiro, Um Lugar Silencioso Parte 2 segue a vida da mesma família, logo depois dos eventos do primeiro filme.

Na verdade, o filme tem uma sequência inicial que é um prólogo, sequência muito boa, diga-se de passagem. Não li em lugar nenhum, é um palpite meu, me parece que John Krasinski queria aparecer como ator, e como o seu personagem morreu no primeiro filme, ele precisava de um flashback. Sei lá se isso é verdade ou não, mas posso dizer que a sequência é boa, mostra o momento que os monstros chegaram e começam a atacar. Os bichos são rápidos e assustadores, e as cenas são extremamente bem filmadas.

Krasinski consegue fazer um bom trabalho na construção da tensão que permeia toda a projeção. O filme é muito tenso, e rolam uns bons jump scares aqui e ali.

Aliás, a parte técnica do filme é primorosa. Pelo lado dos efeitos especiais, desta vez vemos os monstros com muito mais detalhes, e o cgi está perfeito. Mas, não podemos ignorar o minucioso trabalho de som. É um filme que usa muito o silêncio, tanto em cenas onde os personagens precisam ser silenciosos, quanto em cenas onde o som é cortado, para mostrar o ponto de vista de uma personagem que é surda.

No elenco, Cillian Murphy se junta à familia de Emily Blunt, Millicent Simmonds e Noah Jupe, e também temos um Djimon Hounsou num papel menor, quase uma ponta de luxo. Todos estão muito bem. A personagem de Millicent Simmonds ganha uma importância maior e ela quase vira uma protagonista. Nada contra, principalmente se a gente lembrar que, além de boa atriz, ela é surda, então esse papel é perfeito pra ela. Minha única reclamação é mimimi de fã chato, então podem ignorar: sou fã da Emily Blunt, queria vê-la mais tempo na tela.

Ouvi falar de boatos sobre um vindouro terceiro filme. Que mantenha a qualidade!

Anna: O Perigo tem Nome

Crítica – Anna: O Perigo tem Nome

Sinopse (imdb): Sob a beleza marcante de Anna Poliatova está um segredo que vai liberar sua força indelével e habilidade para se tornar uma das mais temidas assassinas do mundo.

Luc Besson é um grande nome no cinema de ação das últimas décadas, seja como diretor, roteirista ou produtor. Mas, na direção, há muito tempo ele vive à sombra dos seus melhores trabalhos. Assim como Lucy, Anna: O Perigo tem Nome (Anna, no original) fica à sombra de Nikita. O filme tem seus bons momentos, mas parece uma cópia genérica do filme de 1990 (principalmente porque o argumento dos dois filmes é bem parecido).

Pelo menos algumas sequências de ação são muito boas – a cena do restaurante é excelente (ah, se o filme todo fosse no mesmo pique desta cena…). A trama traz alguns plot twists, uns meio óbvios, outros nem tanto. E gostei das idas e vindas temporais do roteiro.

No elenco, a modelo Sasha Luss funciona para o que o papel pede. Helen Mirren já teve papeis melhores, mas não atrapalha. Também no elenco, Cillian Murphy, Luke Evans e Lera Abova.

Mas, no fim, fica aquele gosto de comida requentada. Não que seja ruim, mas que podia ser melhor, ah, podia. Bem melhor.

Dunkirk

DunkirkCrítica – Dunkirk

História real do resgate de soldados aliados, que foram encurralados pelos alemães na cidade de Dunquerque, na França.

Filme novo do Christopher Nolan sempre me deixa com o pé atrás. Se por um lado o cara é indubitavelmente talentoso e sabe filmar como poucos, por outro lado, muitas vezes seus filmes são chatos. É só a gente se lembrar do seu último filme, Interestelar – filmaço, mas longo e arrastado, IMHO.

Logo de cara vi que este Dunkirk (idem, no original) tinha uma vantagem: a duração. Menos de duas horas? Taí uma boa notícia quando falamos de um diretor que às vezes se estende demais.

A narrativa é dividida em três linhas temporais. A ação na terra se passa ao longo de uma semana; na água, em um dia; no ar, em uma hora. Essas linhas são misturadas, mas a edição ficou um pouco confusa. Nolan fez isso melhor em A Origem.

Por outro lado, o visual do filme é fantástico. Nolan usou câmeras Imax e lentes de 70 MM, e evitou o cgi (como costuma fazer). Boa parte do que vemos na tela estava realmente lá. A produção conseguiu um avião Spifire original, e uma das cenas no mar contou com 62 barcos. O filme teve 1.500 figurantes, e nas cenas onde aparecia ainda mais gente, usaram figuras de papelão lá no fundo. O resultado visual é incrível!

A onipresente trilha sonora de Hans Zimmer ajuda a manter o clima pesado e desconfortável. E aqui, mais uma boa notícia ligada à duração do filme. Se a metragem fosse maior, ia cansar.

Dunkirk não tem um protagonista, os personagens principais são vários. Aliás, também não tem exatamente um antagonista, o inimigo são os alemães, que nem aparecem. No meio de vários jovens desconhecidos, temos alguns nomes familiares, como Mark Rylance, Tom Hardy, Kenneth Brannagh e Cillian Murphy. Uma curiosidade: um dos atores novos é Harry Styles, ídolo adolescente, ex membro da banda teen One Direction. Li em algum lugar que Nolan não sabia disso, e teria se espantado quando, em uma pré estreia, várias fãs foram tietar o cantor.

Boa opção para os fãs de filmes de guerra. Também boa opção para quem gosta de um belo espetáculo visual. E a boa notícia é que o Imax não está em 3D!

p.s.: Por que o nome do filme não foi traduzido? Os livros de história falam da Batalha de Dunquerque, a cidade francesa tem nome em português. É que nem se traduzissem “London has Fallen” por “Invasão a London”…

Transcendence – A Revolução

0-TranscendenceCrítica – Transcendence – A Revolução

Ficção científica nova, estrelada por Johnny Depp acompanhado de um bom elenco. Será que é bom?

Um cientista, famoso por suas polêmicas pesquisas na área de Inteligência Artificial, sofre um atentado vindo de um grupo extremista contra a evolução da tecnologia. Depois disso, ele resolve fazer um upload de sua consciência para o programa de IA.

Transcendence – A Revolução (Transcendence, no original) é um daqueles filmes que nos fazem pensar sobre a espiritualidade na evolução da sociedade. Por isso, é o tipo de filme que gera debate. Mas a função da crítica é analisar a obra, e não a filosofia, então vou tentar separar uma coisa da outra.

Transcendence parte de uma premissa fascinante: e se fosse criada uma inteligência artificial capaz de substituir Deus? Por um lado, seria um mundo perfeito: fim das doenças e melhor contato do homem com a natureza. Mas, e se o preço a se pagar por isso fosse a perda da liberdade individual?

Esta é a questão filosófica levantada. Agora, analisemos friamente…

Transcendence é a estreia na direção de Wally Pfister, diretor de fotografia que ganhou o Oscar por A Origem – e também foi indicado outras três vezes, por Batman Begins, O Grande Truque e Batman – O Cavaleiro das Trevas, todos do Christopher Nolan (que aqui aparece como produtor). Como diretor de fotografia, Pfister é muito bom; como diretor, nem tanto.

Além do filme ter sérios problemas de ritmo – a parte do meio, principalmente, é arrastaaada, a história tem alguns lances sem sentido – por exemplo: um diálogo entre Rebecca Hall e Paul Bettany logo antes da sequência final dá a entender que o filme teria uma grande virada de roteiro, mas isso é ignorado logo na cena seguinte.

O elenco é bom, né? Além dos já citados Johnny Depp, Rebecca Hall e Paul Bettany, Transcendence conta com Morgan Freeman, Cillian Murphy, Kate Mara e Cole Hauser. Mas eles não salvam o roteiro sem sal. Aliás, se tirassem a personagem de Kate Mara da história, nada mudava.

Se salva o visual do filme, e também alguns efeitos especiais. Mas é pouco. O questionamento filosófico proposto merecia um filme melhor.

Sunshine – Alerta Solar

Crítica – Sunshine – Alerta Solar

Continuemos com ficção científica. Vamos de Danny Boyle?

No ano 2057, o sol está morrendo. A nave Icarus II leva uma missão com oito astronautas e uma bomba nuclear com a mesma massa da ilha de Manhattan para tentar “reiniciar” o sol.

Danny Boyle já tinha uma carreira sólida na época de Sunshine – Alerta Solar, com alguns bons filmes no currículo, como Cova Rosa, Trainspotting e Extermínio. Boyle tem um estilo característico, muitas cores, muitos cortes rápidos – seus filmes têm muito de linguagem publicitária. E ele conseguiu encaixar seu estilo numa ficção científica fora do eixo aventura-fantasia, como a maioria das fcs que chegam às telas.

Nesta terceira parceria com o roteirista Alex Garland (Extermínio, A Praia), Boyle conseguiu criar um ótimo clima tenso e claustrofóbico. Sunshine tem muito de 2001 (como um computador falante) e de Alien, o Oitavo Passageiro (como poucos passageiros em uma grande nave com algo misterioso escondido). Os efeitos especiais funcionam perfeitamente, e a trilha sonora também é muito boa.

No elenco, é curioso notar um coadjuvante que tem hoje muito mais star power do que na época do lançamento: Chris Evans, o Capitão América (e ex-Tocha Humana). Cillian Murphy está bem como o protagonista (repetindo a parceria com Boyle, que lhe deu sua primeira grande oportunidade na carreira com Extermínio). Ainda no elenco, Rose Byrne (Sobrenatural 1 e 2), Michelle Yeoh (O Tigre e o Dragão), Hiroyuki Sanada (Wolverine Imortal), Mark Strong (Sherlock Holmes), Troy Garity, Benedict Wong e Cliff Curtis.

Não gostei muito do fim, acho que o elemento sobrenatural enfraquece a trama original. Felizmente, não chegou a “estragar” o filme. Sunshine ainda é uma boa ficção científica “séria”.

p.s.: O desenho do capacete dourado, que eles usam para sair da Icarus, foi inspirado no capuz do Kenny, de South Park…

Extermínio

Crítica – Extermínio

Empolgado com Em Transe, fui catar outro Danny Boyle pra ver. Peguei os DVDs que tenho do diretor e escolhi este Extermínio, de 2002, depois de ficar balançando entre ele, Cova Rasa e Trainspotting.

Um vírus mortal se espalha e mata quase toda a população da Inglaterra. Quatro semanas depois, um homem acorda de um coma, sozinho, num hospital abandonado e precisa descobrir o que aconteceu e como sobreviver.

Como diz um amigo meu, Extermínio (28 Days Later, no original) é o “melhor filme de zumbis sem zumbis da história do cinema”. Explico: o filme não tem nenhum zumbi. São pessoas infectadas com uma mutação do vírus da raiva. As pessoas estão vivas, não tem nenhum morto vivo. Mas… O comportamento dos infectados lembra muito o comportamento dos zumbis de outros filmes. Com uma única diferença: aqui os “zumbis” correm, o que causa um efeito ainda mais assustador.

Danny Boyle fez Extermínio logo depois de A Praia, talvez o seu filme mais fraco. E aqui ele se redimiu. Boyle usa seu estilo de cortes rápidos, cores fortes e música alta para fazer um filme tenso, um excelente misto de suspense com terror.

No início do filme, foi usado um artifício muito interessante: temos várias tomadas de Londres sem absolutamente ninguém nas ruas. Isso ajuda a criar o convincente clima de fim de mundo – uma coisa é você ver um cenário desconhecido desolado; outra coisa é mostrar devastada uma das maiores cidades do mundo.

Boyle filmou usando câmeras digitais – lembro que Extermínio é de mais de dez anos atrás, as câmeras digitais daquela época eram diferentes das atuais. As escolha pelas câmeras digitais foi pelo motivo estético, pra dar um ar de documentário; e também pela praticidade para filmar rapidamente e aproveitar cenários vazios.

Como de costume em bons filmes de zumbi, o melhor aqui não são os zumbis, e sim as relações humanas no mundo pós apocalíptico. O filme é violento e tem um pouco de gore, mas boa parte da violência é entre humanos, não tem nada com os infectados.

No elenco, Cillian Murphy, na época um rosto desconhecido, está muito bem. Naomie Harris (que estava no último 007) também manda bem como a “mocinha”. Ainda no elenco, Brendan Gleeson, Megan Burns e Christopher Eccleston.

Agora tô na dúvida sobre qual será o próximo da “fila”: Cova Rasa, Trainspotting ou Extermínio 2

p.s.: Por favor, não confundam este filme com o 28 Dias, da Sandra Bullock, lançado dois anos antes!

Vôo Noturno

Crítica – Vôo Noturno

Hora de rever Vôo Noturno (Red Eye), de 2005!

Durante um vôo de madrugada, uma gerente de hotel é obrigada a ajudar um terrorista, que ameaça a vida do seu pai.

O diretor Wes Craven tem lugar de destaque na história do cinema de horror. Mas sua carreira é bastante irregular, isso ninguém discorda. Por um lado ele é incensado por ser o criador do Freddy Krueger e da série A Hora do Pesadelo; e também da franquia Pânico, que deu um novo sopro de criatividade ao cinema de terror nos anos 90. Por outro lado ele “cometeu” atrocidades como Amaldiçoados, um dos piores filmes de lobisomem da história.

Este Vôo Noturno veio pouco depois de Amaldiçoados, e é muito melhor. Não é terror, e sim um suspense. É um filme simples, sem nada sobrenatural na trama, com efeitos especiais discretos, pouco sangue e nenhum gore. E, importante, um filme muito eficiente ao criar tensão.

Os primeiros dois terços do filme se passam dentro do avião, causando um ótimo clima claustrofóbico. A boa química entre o casal protagonista e o talento do diretor com o posicionamento de câmera proporcionam uma boa experiência cinematográfica.

O roteiro tem algumas forçações de barra – como é que o barco é revistado e ninguém pensa em verificar as varas de pescar? – mas nada grave. E a terceira parte do filme, fora do avião, é um pouco inferior, mas não chega a atrapalhar o bom resultado final.

O elenco é liderado pelo casal Rachel McAdams e Cillian Murphy. Bons atores, mas, sei lá por que, nenhum dos dois alcançou o primeiro escalão de Hollywood – ela estava nos dois Sherlock Holmes; ele, nos três Batman. Ainda no elenco, Brian Cox e Jayma Mays.

Bom filme, esquecido nas prateleiras das locadoras. Comprei o meu dvd numa promoção dessas, quando uma locadora repassa os filmes velhos…

Poder Paranormal

Crítica – Poder Paranormal

Novo filme de Rodrigo Cortés, diretor e roteirista de Enterrado Vivo, desta vez à frente de uma produção de maior porte.

A Dra. Margaret Matheson e seu parceiro Tom Buckley são especialistas em desmascarar falsos casos paranormais. Quando Simon Silver, um vidente cego de fama internacional, resolve retornar depois de 30 anos afastado dos holofotes, ele acaba atraindo a atenção da dupla, que quer desmascarar o “poder” do médium.

Enterrado Vivo foi um interessante e criativo exercício de claustrofobia – um filme de uma hora e meia que só tem um único ator, e tudo se passa dentro de um caixão. Um ótimo exemplo de como se fazer um filme com recursos mínimos. Agora, Cortés tinha uma produção convencional em mãos. Bom sinal, né? Pena que nem tudo funciona.

Poder Paranormal (Red Lights, no original) se desenvolve bem, cria uma boa tensão ao longo da projeção, mas parece que no meio do caminho algo se perdeu. O roteiro, também escrito por Cortés, resolve guardar uma grande reviravolta para o fim. O problema é que essa reviravolta não convence ninguém. Mas antes de falar disso, vamos aos avisos de spoiler:

SPOILERS!!!

SPOILERS!!!

SPOILERS!!!

Um monte de coisas soam forçadas depois da revelação final. Mas nada justifica o fato de ninguém pensar em testar a visão de Silver. Como assim o cara não é cego e ninguém pensou em verificar isso em mais de 30 anos?

FIM DOS SPOILERS!

O elenco traz alguns bons nomes. Cillian Murphy e Sigourney Weaver estão bem liderando o elenco. Robert De Niro não está mal, mas está longe do grande ator que foi anos atrás. Ainda no elenco, Elizabeth Olsen, Joely Richardson e Toby Jones.

No fim, fica aquela sensação de boa ideia estragada por um fim preguiçoso. Rodrigo Cortés ainda tem crédito, ainda quero acompanhar sua carreira. Mas precisa tomar cuidado para não virar um novo Shyamalan.

O Preço do Amanhã

Crítica – O Preço do Amanhã

Num futuro próximo, a medicina evoluiu e conseguiu parar o envelhecimento. As pessoas param de envelhecer quando completam 25 anos, depois têm que trabalhar para comprar mais tempo para viver – neste caso, literalmente, “tempo é dinheiro”.

Trata-se do novo filme de Andrew Niccol, o nome por trás dos interessantes Gattaca (roteiro e direção) e O Show de Truman (apenas roteiro). E, mais uma vez, Niccol acertou a mão – O Preço do Amanhã é um bom filme!

A premissa é muito boa e foge do óbvio. Tá, não é a trama mais original do mundo, mas, no meio do mar de refilmagens, releituras e continuações que infestam Hollywood atualmente, é legal ver algo que não parece uma cópia descarada.

Assim como fizera em Gattaca, Niccol cria um conceito muito interessante para o seu filme – parece até uma história de Philip K. Dick. Gosto do seu estilo de ficção científica – nada de alienígenas ou naves espaciais, a história se passa aqui mesmo, em um possível futuro, onde a nossa sociedade vive em meio a avanços tecnológicos. Aliás, essa trama com as pessoas contando as horas que faltam inclusive poderia render um bom seriado, à la Fuga do Século 23 (Logan’s Run). A cenografia também é muito boa, um cenário moderno, mas com prédios e carros clássicos ao fundo.

A trama pode ser interpretada como uma grave crítica ao capitalismo. Mas o filme não é sisudo, também pode ser visto como diversão pipoca, com direito a cenas de ação e correria. Um bom equilíbrio entre o blockbuster e o “filme sério”.

O elenco é ótimo. Não acompanho a carreira musical de Justin Timberlake, mas posso dizer que se o cara só dependesse dos filmes para sobreviver, ele não passava fome. Assim como em A Rede Social, Amizade Colorida e Professora Sem Classe, Timberlake manda bem aqui. E ele não está sozinho, o resto do elenco também está bem: Amanda Seyfried (Mamma Mia), Olivia Wilde (Tron – O Legado), Cillian Murphy (Batman – O Cavaleiro das Trevas), Johnny Galecky (The Big Bang Theory), Alex Petyfer (Eu Sou o Número 4) e Vincent Kartheiser.

(Ainda sobre o elenco, rola uma coisa curiosa: como os personagens param de envelhecer aos 25 anos, só rolam atores jovens no filme…)

O Preço do Amanhã é bom, mas poderia ser melhor, se tivesse um roteiro mais bem amarrado. A grande quantidade de pontas soltas me incomodou um pouco. Vou citar alguns exemplos, mas, para evitar spoilers, vou deixar o texto em branco. Para ler, selecione o texto abaixo:

– Will acordou com 116 anos a mais. Por que esperar a noite para encontrar com a mãe?
– A mãe de Will foi pagar um empréstimo e saiu de lá com apenas uma hora e meia de vida, sendo que tinha que pagar uma hora no ônibus. Não é meio arriscado? E se o ônibus quebrasse? E se ela não se encontrasse com o filho?
– Um carro conversível capota ribanceira abaixo, e os dois passageiros sem cinto de segurança ficam quase intactos dentro do carro?
– Onde Will aprendeu a atirar e dirigir tão bem?
– Os “minute men” não seriam tão fáceis de ser derrotados!
E por aí vai…

Posso afirmar que essas inconsistências no roteiro não chegam a estragar o filme. Mas acho que, se não fossem as inconsistências, O Preço do Amanhã seria um forte candidato a um dos melhores filmes do ano…

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Se você gostou de O Preço do Amanhã, o Blog do Heu recomenda:
Contra o Tempo
Blade Runner
A Origem

A Origem

A Origem

O novo filme de Christopher Nolan, o incensado diretor de Batman – O Cavaleiro das Trevas, chega aqui com algo invejável no currículo: o terceiro lugar no Top 250 dos melhores filmes de todos os tempos do imdb. Impressionante, não?

O filme é bom. Mas não achei tudo isso não…

A trama fala de pessoas com a habilidade de entrar no sonho de outras pessoas. Um homem com habilidade de roubar ideias e conhecimentos de dentro de sonhos alheios é contratado para inserir uma ideia – algo que até agora nunca tinha sido feito.

O filme tem um grande mérito: é uma ideia nova, numa Hollywood repleta de refilmagens e releituras. Ok, esse papo de entrar nos sonhos alheios já estava em Dreamscape – Morte nos Sonhos, de 1984. Mesmo assim, não é uma ideia reciclada, são filmes diferentes.

Os efeitos especiais são impressionantes. Ruas que se dobram, brigas em gravidade zero, edifícios desmoronando como castelos de areia… Rola até uma versão “real” da famosa escada infinita de Escher! E o melhor de tudo é que os efeitos não são daqueles que atrapalham a história, como num Transformers, por exemplo.

O elenco estelar é outro destaque. Leonardo Di Caprio, ainda com resquícios de seu papel em Ilha do Medo, lidera um elenco cheio de atores legais: Joseph Gordon-Levitt (500 Dias Com Ela), Ellen Page (Juno), Marion Cotillard (Inimigos Públicos), Ken Watanabe (O Último Samurai), Cillian Murphy (Extermínio), Tom Berenger, Lukas Haas, Tom Hardy, Dileep Rao, e ainda rolam participações especiais de Michael Caine e Pete Postlethwaite.

(Pequeno parênteses para falar do Joseph Gordon-Levitt. Sou fã dele desde a época que ele era o ator adolescente que fazia o Tommy Solomon em 3rd Rock From The Sun. Parece que ele encontrou o caminho para o estrelato. Depois de Killshot, G.I. Joe e 500 Dias com Ela, aqui ele é o principal coadjuvante. Tommy Solomon vai longe!)

E aí a gente chega no ponto que falei lá em cima. Uma super produção destas merecia um roteiro melhor! O roteiro de A Origem tem um monte de pequenas inconsistências. Por exemplo: quem está sonhando acorda ao sentir que está caindo – mas quando a van capota, ninguém acorda. Ou então o lance de morrer no sonho e, às vezes acordar, às vezes ir pro limbo. Ou ainda a gravidade zero, que rola em um nível, mas não no nível seguinte. Algumas destas falhas são explicadas, mas as explicações são tão forçadas…

(Também tem a péssima mira dos vilões armados, mas isso infelizmente é uma constante nos filmes de ação em Hollywood…)

Christopher Nolan é um cara talentoso. Este é o seu sexto filme nos últimos 10 anos, todos bons (Amnésia, Insônia, O Grande Truque e os dois novos Batman). Com o crescente sucesso de público e crítica, ele escreveu e dirigiu este A Origem, e aredito que ele achava que ia ser a sua obra prima. E o pior é que tem muita gente que concorda com ele, vide a lista do imdb!

Como disse lá em cima, o filme é bom, melhor que a média. Só não espere por uma obra prima, como os outros que estão na lista do imdb.