Gran Turismo – De Jogador a Corredor

Crítica – Gran Turismo – De Jogador a Corredor

Sinopse (imdb): A história real da realização de um sonho de um jogador de Gran Turismo, cujas habilidades no jogo o levaram a vencer uma série de competições da Nissan e a se tornar um piloto profissional de corrida. Baseado em uma história real.

Desconfio que a maior parte do público alvo deste Gran Turismo – De Jogador a Corredor (Gran Turismo, no original) vai ao cinema por causa do videogame. A minha motivação era outra: é o novo filme de Neill Blomkamp. O que diabos o Blomkamp está fazendo em um filme de corridas de carro?

Sou fã do Neill Blomkamp desde Distrito 9 (seu filme de estreia, e também seu melhor filme até hoje). Mas, ok, concordo que a carreira dele é bastante irregular. Depois de Distrito 9, de 2009, ele fez Elysium (2013) e Chappie (2015), e depois sumiu. Segundo o imdb, entre 2016 e 2020 ele só fez curtas – vários deles estão na coletânea Oats Studios. Aí em 2021 ele lançou Demonic, que foi muito abaixo de tudo o que ele já tinha feito até então, mas pelo menos ele se mantinha dentro do cinema fantástico. Será que Blomkamp funcionaria dentro de um esquema de superprodução blockbuster completamente fora do fantástico?

Olha, podemos dizer que sim.

Gran Turismo é cheio de clichês e extremamente previsível. A gente sabe que o cara vai ganhar, se ele perdesse não teria filme. Mais: é um desfile de product placement. Mas, quando a gente vê que um filme assim vai ser lançado, a gente já sabe que o formato vai ser assim. O importante é: dentro dos clichês e da previsibilidade, Blomkamp fez um filme tecnicamente muito eficiente. E posso dizer que as corridas são emocionantes.

Heu não conhecia a história do Jann Mardenborough, que era um jogador de videogame que passou por uma academia e virou piloto profissional. É uma história muito boa, e a produção teve a inteligente escolha de adaptar essa história para o cinema, em vez de criar uma história fictícia baseada no videogame.

As cenas de corrida são muito bem filmadas, com drones passeando por cima da plateia e por entre os carros. Vemos tudo com muita precisão, e com um detalhe curioso que ajuda o espectador a se situar: o carro do Jann sempre tem um número em cima, como se fosse um videogame (os outros carros não têm números porque ninguém se importa com os outros). Ah, o verdadeiro Jann Mardenborough foi dublê de piloto.

Tem uma cena bem legal onde os efeitos especiais mostram a transição da corrida real para o videogame – vemos um carro sendo desmontado peça a peça, ficando só o console do jogo. Provavelmente tem muito cgi, mas é um cgi bem feito e o espectador nem consegue identificar.

Nem tudo funciona dentro dos clichês. Existe uma equipe que foi escolhida para ser antagonista, e o piloto é péssimo! A subtrama da namorada dele também não leva a nada. E as cenas com o criador do videogame poderiam facilmente ser cortadas do filme.

Para plateia brasuca: os brasileiros: nenhum dos personagens principais é brasileiro, mas vemos um poster do Senna no quarto do Jann, e bandeiras brasileiras ao longo do filme. A produção entende que o Brasil tem sua relevância no mundo das corridas de carro.

Sobre o elenco, Archie Madekwe funciona no papel principal, mas é um ator pouco expressivo – fui ver no imdb, já tinha visto vários outros filmes com ele e nunca tinha reparado no ator (Midsommar, Beau Tem Medo, Agente Stone). David Harbour está muito bem (e de vez em quando ele coloca o protetor de ouvidos na testa e lembra o Hellboy). Também no elenco, Orlando Bloom, Djimon Hounsou, Thomas Kretschmann e Geri Halliwell – e preciso admitir que não reconheci a Ginger Spice como mãe do protagonista!

Noite Infeliz

Crítica – Noite Infeliz

Sinopse (imdb): Quando um grupo de mercenários ataca a propriedade de uma família rica, o Papai Noel deve intervir para salvar o dia (e o Natal).

O tema “papai Noel badass” já me interessava. Mas quando soube que era produção da 87North, passou a ser um dos filmes aguardados do fim do ano!

Pra quem não se ligou no nome, 87North é a produtora fundada por David Leitch, e que está por trás de filmes como Anônimo, Trem Bala e Kate. Ou seja, estamos diante de uma galera que sabe fazer boas cenas de ação. Claro, isso não garante a qualidade do filme, mas pelo menos garante a qualidade das cenas de ação. E quem me conhece sabe que aprecio cenas de ação bem coreografadas e bem filmadas.

Outra coisa que falo sempre aqui é que precisamos entender a proposta do filme. Noite Infeliz (Violent Night, no original) não quer ser um grande filme, é sim uma boa diversão a partir de uma ideia maluca – um Papai Noel real, e bem diferente do que a gente imagina. O resultado é um um bom equilíbrio entre ótimas cenas de ação e sequências engraçadíssimas, com um ator protagonista inspirado, que quando acaba o filme a gente já fica com vontade de rever.

A direção é do norueguês Tommy Wirkola, um nome não muito conhecido, mas que heu acompanho desde Dead Snow, filme nórdico de zumbis lançado em 2009. Já em Hollywood, ele fez o divertido e meio trash João e Maria Caçadores de Bruxas em 2013, e já na era do streaming fez Onde Está Segunda em 2017. Currículo pequeno, mas já tem alguns bons títulos.

Um dos grandes trunfos de Noite Infeliz é não se levar a sério em momento algum – o filme é divertidíssimo! É claro que existem espaços para citações a outros filmes de Natal, como Duro de Matar e Esqueceram de Mim. Aproveito para comentar o “momento Esqueceram de Mim”. Certo momento, parece que o filme pega outra pegada no humor. Isso talvez incomode alguns espectadores, mas hei entendi que era uma homenagem ao filme do Macauley Culkin.

Outra coisa que precisa ser mencionada é a trilha sonora de Dominic Lewis. A trilha é orquestrada, parece um Alan Silvestri dos áureos tempos, e cheia de pequenas citações a temas clássicos de Natal. Há tempos que uma trilha sonora não me chamava tanto a atenção.

O roteiro não é perfeito, tem algumas situações bem forçadas. Mas… o próprio roteiro assume que são forçadas e manda a frase “é a mágica do Natal, não sei como funciona, mas funciona”. Assim, o roteiro não se preocupa com algumas incoerências. Mas, tenho uma crítica. O filme mostra alguns breves flashbacks do passado do Papai Noel, antes dele assumir o cargo. Mas não desenvolve esse plot. Ora, se você vai entrar no assunto, desenvolva. Ficar só na pincelada ficou estranho.

No elenco, todos os elogios possíveis a David Harbour, ótimo como esse Papai Noel politicamente incorreto. Ele bebe demais, ele parece ser um cara egoísta, mas mostra que lá no fundo é coerente com a mitologia do personagem. E Harbour ainda faz cenas de ação, tem uma cena num salão de jogos (a cena que termina com a estrela no olho) que tem um longo plano sequência! O vilão John Leguizamo também está bem. O terceiro nome conhecido do elenco é Beverly D’Angelo – será que seria uma citação implícita a Férias Frustradas de Natal, de 1989? No resto do elenco, ninguém relevante.

Noite Infeliz pode ficar junto de Gremlins e Duro de Matar como filmes para serem revistos a cada Natal!

Viúva Negra

Crítica – Viúva Negra

Sinopse (imdb): Em missões entre os filmes Guerra Civil e Guerra Infinita, Natasha Romanoff precisa lidar com seu passado como espiã e os relacionamentos rompidos deixados em seu rastro, muito antes de se tornar uma Vingadora.

A Marvel deu sorte com timing da pandemia. Quando os cinemas fecharam, a Marvel tinha acabado de fechar a fase 3 com Vingadores Ultimato e Homem Aranha Longe de Casa – imagina se tivessem fechado antes do Vingadores Ultimato?

Sem os cinemas, a Marvel se adaptou ao streaming e lançou 3 séries, Wandavision, Falcão e o Soldado Invernal e Loki – enquanto Falcão e o Soldado Invernal segue o formato dos filmes, Wandavision e Loki pegaram caminhos diferentes e mostraram que a Marvel ainda pode ir muito longe quando se fala de audiovisual de super heróis.

Mas… Cinemas estão aos poucos voltando, e ao mesmo tempo o streaming tá aí firme e forte, e finalmente chegou a hora de um novo lançamento de filme do MCU. Viúva Negra estreia nos cinemas e ao mesmo tempo no Disney+.

Finalmente temos o filme solo da Natasha Romanoff – tivemos filmes solo de vários outros, por que nunca tinham feito o dela? Dirigido pela quase desconhecida Cate Shortland (mais uma vez mostrando que a Marvel faz “filme de produtor” e não “filme de diretor”), Viúva Negra é o filme que estava faltando. Pena que talvez tenha vindo tarde demais. Tarde demais porque a Natasha morreu no último Vingadores, e a princípio sua personagem não voltará mais. Será que não era melhor ter esse filme antes?

Enfim, antes tarde do que nunca. Viúva Negra é um “legítimo Marvel”. Cenas de ação excelentes, algumas piadinhas aqui e ali, inclusive satirizando os clichês de super herói – em determinado momento a Yelena pergunta por que a Natasha sempre cai fazendo pose. E, principalmente, um filme sólido e coeso com um grande universo cinematográfico cada vez mais complexo.

Não li nada antes de assistir, achava que era o “filme de origem”, mas, na verdade, Viúva Negra se passa entre Guerra Civil e Guerra Infinita. Mas, ok, o filme ficou coerente com o MCU.

Claro que temos vários novos personagens. Rachel Weisz e David Harbour estão bem – Harbour faz um alívio cômico que beira a caricatura, mas heu gostei do personagem. Mas, a melhor coisa do elenco é Florence Pugh, que já tinha mandado bem em Midsommar, e aqui quase rouba o protagonismo da Scarlett Johansson. Ela é uma excelente personagem, não só na parte física (ela é muito boa nas cenas de briga). mas também no pouco espaço que o filme deixa pro drama – a personagem dela, Yelena, é quem mais sofreu as consequências dos atos praticados no início do filme.

Sobre os vilões, duas críticas. Gostei do Taskmaster, que parece meio um robô – e tem olhos de cylon! Mas o plot twist sobre quem é debaixo da armadura é meio óbvio. Já o outro vilão, Dreykov, vivido por Ray Winstone, é bem clichê. Sabe aquele vilão que conta o plano todo para o mocinho no momento chave do filme? Poizé. Ok, entendo que metade dos filmes de ação têm esse clichê, mas, da Marvel, a gente espera mais, né? (Pô, tá rolando a série do Loki! Que vilão!)

A mesma crítica falo sobre o terceiro ato do filme. Muita correria e muita explosão, a gente até se perde no meio daquilo tudo. Mas, repito, metade dos filmes de ação têm isso, não é uma crítica à Viúva Negra em particular… Agora, vou te falar que a cena final é de tirar o fôlego. Não falo aqui por causa de spoilers, mas é quando a Natasha consegue escapar.

(Um pequeno parênteses pra reclamar de uma cena em particular: quando a avalanche alcança a prisão, as montanhas não estavam meio longe? Uma avalanche avança tanto em terreno plano?)

Apesar desses clichês, curti o filme. A Marvel continua mostrando porque virou referência quando se fala de filme de super heróis. Aguardemos os próximos, ainda estão previstos mais 3 filmes ainda este ano: Shang Chi, Eternos e o novo Homem Aranha.

Ah, tem uma cena pós créditos. Boa cena. Mas só quem estiver em dia com a Marvel que vai pegar.

Hellboy (2019)

Crítica – Hellboy

Sinopse (imdb): Baseado nas graphic novels de Mike Mignola, Hellboy, preso entre os mundos do sobrenatural e do humano, luta contra uma antiga feiticeira empenhada em vingar-se.

Outra adaptação deste anti herói vindo dos quadrinhos. Os filmes anteriores foram dirigidos pelo hoje oscarizado Guillermo del Toro, e foram bem legais (principalmente o primeiro). E agora, será que a nova versão vai superar a já conhecida?

O problema aqui é que a história é uma bagunça. Nazismo, bruxas, monstros, gigantes, inferno, rei Arthur e mago Merlin, sei lá, achei uma bagunça tão grande que fica difícil de acompanhar.

O diretor é Neil Marshall, que tem alguns bons filmes no currículo (Dog Soldiers, Abismo do Medo), e que estava na tv há algum tempo (seu último filme pro cinema fora Centurião, de 2010). Marshall tem boa mão para as cenas de ação, algumas cenas de luta são muito boas, incluindo alguns planos sequência bem bolados (gostei da luta com os gigantes). Mas boas cenas de ação não conseguem salvar um roteiro sem pé nem cabeça.

Mesmo assim, algumas coisas se salvam, além da já citada luta com os gigantes. A bruxa Baba Yaga é um ótimo personagem, tomara que volte em alguma continuação / spin off. As criaturas que aparecem na sequência final são assustadoras, pena que têm pouco tempo de tela. Ah, e é bom avisar: é um filme baseado em HQ de super herói, mas tem muito mais sangue e gore do que os MCUs da vida.

No elenco, David Harbour (de Stranger Things) até manda bem como o personagem título. Já Milla Jovovich decepciona. Ainda no elenco, Sasha Lane, Daniel Dae Kim, Ian McShane e uma divertida ponta de Thomas Haden Church.

Gosto do Neil Marshall. Mas deu saudades do Del Toro…