Pinóquio por Guillermo Del Toro

Crítica – Pinóquio por Guillermo Del Toro

Sinopse (imdb): Uma versão mais sombria do clássico conto de fadas infantil, onde um boneco de madeira se transforma em um menino vivo de verdade.

Quem diria que poucos meses depois daquele desastroso Pinóquio da Disney a gente teria outro Pinóquio, desta vez digno de constar em uma lista de melhores do ano?

Sou muito fã de stop motion. Tenho uma teoria de que como é um estilo muito mais difícil que outras animações, só quem é muito apaixonado por cinema trabalha fazendo longas em stop motion. Sendo assim, temos muitos exemplos de bons filmes usando essa técnica, como O Estranho Mundo de Jack, Noiva Cadáver e Frankenweenie do Tim Burton, O Fantástico Sr. Raposo e Ilha dos Cachorros do Wes Anderson, os filmes da Laika como Coraline, Paranorman e Kubo, ou os filmes da Aardman como Wallace & Gromit e Shaun o Carneiro (que são mais infantis, mas mesmo assim são bem divertidos).

(Ok, admito que não gostei de Anomalisa. Chaaaato…)

Assim como vários dos filmes citados aí em cima, este Pinóquio é infantil e ao mesmo tempo não é. Temos a história do boneco que ganha vida, mas ao mesmo tempo tem uma pegada de filme de terror. Guillermo Del Toro tem uma característica não muito comum hoje em dia: ele é um dos poucos “autores” da Hollywood contemporânea. Seus filmes têm a cara do diretor: A Espinha do Diabo, Hellboy, O Labirinto do Fauno, A Forma da Água, O Beco do PesadeloPinóquio é coerente com sua filmografia.

(Ok, admito que Círculo de Fogo destoa da lista)

Mas, antes de tudo, precisamos lembrar que Del Toro não estava sozinho aqui, o filme é codirigido por Mark Gustafson. Heu procurei informações pela internet mas não achei, então vou dizer aqui o que acho que aconteceu. Del Toro anunciou que queria fazer uma versão de Pinóquio em 2008. De lá pra cá, ele dirigiu Círculo de Fogo, A Colina Escarlate, A Forma da Água e O Beco do Pesadelo – além de videogames, séries de tv, e ainda escreveu roteiro de vários filmes (incluindo a trilogia O Hobbit). O que me parece que aconteceu foi que ele deve ter combinado com Gustafson algo do tipo “você vai tocando o projeto e a gente vai se falando, estarei por perto pro filme continuar com a minha cara”. Será que foi assim?

Finalmente, vamos ao filme? Confesso que não conheço a história original, só conheço a da Disney. Muita coisa aqui é diferente, mas não sei se foi o Del Toro que mudou ou se foi a Disney na adaptação da década de 40. Independente disso, o visual aqui é bem legal: o Pinóquio é um boneco de madeira, não quer ser um menino com cara de menino. E o grilo não ganhou feições humanas, um visual antropomórfico como é o comum em produções assim, ele continua sendo um grilo.

Aliás, a gente precisa reconhecer que o visual de todo o filme é um espetáculo. Cada detalhe de cenário, cada detalhe de movimentação de bonequinho, tudo é perfeito! São planos longos, muitas vezes com a câmera em movimento! Imagina a loucura de você sincronizar o movimento da câmera junto com o movimento dos bonecos, tirando 24 fotos a cada segundo? Falei aqui semana passada de Avatar, e digo que o visual de Pinóquio é ainda mais impressionante.

(Pinóquio tem uma hora e cinquenta e sete minutos. Voltei na Netflix pra ver, o filme para mais ou menos em uma hora e cinquenta (quando já estão rolando os créditos mas o Grilo ainda está cantando e dançando). Se forem 24 fotos por segundo, ao longo de uma hora e cinquenta minutos, são 158.400 fotos!!!)

Pinóquio trata de alguns temas bem adultos. Um deles é a morte. Logo no início a gente vê que Geppetto perdeu o filho. Quem me conhece sabe, esse é um tema delicado pra mim, nesse momento quase pausei o filme. Mas segui em frente e posso dizer que esse tema é abordado de uma maneira bonita e delicada (lembrei de Festa no Céu, produção do Del Toro, que também lida com a morte).

Além de morte, o filme também fala de guerra, de preconceito e outros temas adultos – o Geppetto está bêbado quando constrói o boneco! Mas o Pinóquio, inocente, que está descobrindo tudo no mundo, é um personagem tão cativante, que traz leveza a todos os temas mais pesados.

O filme tem músicas compostas por Alexandre Desplat. Normalmente sou fã das músicas dos filmes, mas desta vez preciso admitir que nenhuma delas entrou na minha cabeça. Não são ruins, apenas não são marcantes.

O elenco é impressionante. Pinóquio e Geppetto não são dublados por nomes muito conhecidos, mas o filme conta com Ewan McGregor, Christoph Waltz, Tilda Swinton, Ron Perlman, John Turturro, Finn Wolfhard, Tim Blake Nelson e Cate Blanchett. Detalhe: Cate Blanchett trabalhou com Del Toro em Beco do Pesadelo e disse que queria participar do Pinóquio, mas todos os personagens importantes já tinham elenco escalado. Então ela entrou fazendo a voz do macaco Spazzatura! Imagina a moral do Del Toro, usar uma atriz do porte da Cate Blanchett num papel onde ela não tem diálogos!

Heu poderia continuar aqui falando, mas chega. Se você ainda não viu, Veja! Ainda este mês este filme volta aqui no heuvi na lista dos dez melhores do ano.

As 6 tosqueiras mais toscas de Obi Wan Kenobi

As 6 tosqueiras mais toscas de Obi Wan Kenobi

Não escondo de ninguém que sou fã de Guerra nas Estrelas. Pra mim, qualquer filme ou série ligado a Star Wars será bem vindo, e vou falar bem. Reconheço que passo pano.

Mas… Essa série do Obi Wan tem tanta coisa tosca… É uma boa série, me diverti, tem alguns momentos excelentes, mas, talvez, se dessem uma enxugada e transformassem num longa metragem, talvez o resultado fosse bem melhor (são 6 episódios entre 40 e 50 min cada, vamos arredondar, seriam 4 horas e meia no total, corta a metade, tem um filme de 2 horas e 15 minutos).

Vejam bem, não estou falando de head canon. Conheço gente que não gostou porque pelo trailer a série seria com o jovem Luke, e na verdade foi foi com a jovem Leia. Gosto de ser surpreendido, não trouxe nenhum head canon para a série.

Também não estou falando de decisões burras dos personagens, como por exemplo o Bail Organa mandar uma mensagem que poderia facilmente ser interceptada. Boa parte do cinema como conhecemos hoje é baseada em decisões burras de personagens.

Meu problema foram detalhes toscos. Gostei da série, gostei de vários momentos, todas as cenas com o Darth Vader nos dois últimos episódios são muito boas. Mas ao lado tinham vários detalhes que a gente pensava “seriously?”.

Vou listar os seis que achei mais toscos. Claro, spoilers liberados.

6- A gente vê uns 50, talvez 100 Stormtroopers, esperando pra entrar na caverna. Tem um canhão lá fora, o ideal seria dar uns tiros de canhão antes, pra dar uma limpada, mas, deixa pra lá. O problema é depois. Ok, a gente sabe que stormtroopers não são bons de mira, a gente sempre viu isso. Mas, é um corredor estreito e eles estão muito perto. Essa cena, pra funcionar, teria que ser num espaço mais amplo, ou com menos gente. Colocar esse monte de gente aglomerada atirando ficou muito ruim. Será que não tinha um estúdio maior?

5- Essas naves menores parecem os snow speeders do Império Contra Ataca. Ok, elas chegam atirando. Mas… Saem atirando de qualquer maneira, acertaram vários stormtroopers, poderiam ter acertado Obi Wan e Leia! E outra coisa: pela velocidade que chegam, não teriam como manobrar e fazer a volta.

4- Os caras têm uma porteira laser. Isso faz sentido para a estrada, para impedir veículos. Por que o Obi Wan precisava atirar e interromper a barreira? Não era só dar a volta?

3- A perseguição na floresta que acontece no primeiro episódio tem que ser citada aqui. Os sequestradores são os mais incompetentes da história, parece até que estávamos vendo um filme dos Trapalhões.

2- A cena do fogo é intrigante. Darth Vader resolve queimar Obi Wan, para se vingar. Aí ele mostra que facilmente pode apagar o fogo. Mas, logo depois, não pode mais? Pra piorar: essa “parede” de fogo tem uns 50 metros. Por que os stormtroopers não deram a volta?

1- Em primeiro lugar, não tem como não ser a fuga da base imperial com a Leia escondida debaixo do roupão. Sim, debaixo do roupão. Sem precisar de muito esforço, qualquer um consegue pensar em vários jeitos melhores dessa fuga acontecer.

Pra terminar, não é exatamente um detalhe, mas achei que a Reva não deveria estar no último episódio. Ela levou um golpe de sabre de luz na barriga – por que Quin Gon Jin morreu, se aqui dois personagens levaram exatamente o mesmo golpe e estão serelepes pela série? Mas, ok, ela sobreviveu. Não estou reclamando disso, estou reclamando dela ir pra Tatooine sem motivo – pra que ela queria o Luke? E aquela redenção dela ficou ruim, muito ruim. Tire a Reva do sexto episódio, o episódio cresce em qualidade.

Obi-Wan Kenobi

Crítica – Obi Wan Kenobi (episódios 1 e 2)

Sinopse (imdb): Spin-off da saga Guerra das Estrelas, centrada em Obi-Wan Kenobi.

Diferente de Mandalorian e Boba Fett, que tinham como protagonistas personagens novos ou secundários, Obi Wan Kenobi traz alguns dos personagens centrais da saga: é o momento entre os episódios 3 e 4, onde Obi Wan vai para Tatooine para proteger Luke Skywalker criança (pra quem não se lembra de detalhes dos filmes, tem um resumo antes do primeiro episódio). E um dos trunfos da série é a volta de Ewan McGregor ao papel de Obi Wan (ok, a gente já sabe que também vai ter Hayden Christensen, mas esse nunca teve outro filme ou papel marcante além de Star Wars, enquanto McGregor tem uma carreira cheia de filmes marcantes).

Um ponto positivo aqui é que todos os seis episódios têm a mesma diretora, Deborah Chow. Sei que ela dirigiu dois episódios de Mandalorian, mas não conheço o trabalho dela. Mas acho positivo toda a série ser dirigida por apenas uma pessoa.

Como fã de Star Wars, uma coisa que acho muito legal (e que também tinha em Mandalorian e Boba Fett) é ver rotinas que aconteciam muito tempo atrás em uma galáxia muito muito distante. Vemos Obi Wan trabalhando numa espécie de açougue, vemos que existe um comércio clandestino de drogas, vemos um ex clone trooper que virou mendigo (interpretado pelo mesmo Temuera Morrison, afinal, eram clones!).

A primeira cena do primeiro episódio mostra jovens jedis sendo atacados pela Ordem 66, numa sequência bem emocionante. E logo depois temos uma cena que lembra Bastardos Inglórios, onde um inquisidor à procura de um jedi fugitivo interroga um comerciante. A série começa excelente!

Quero comentar sobre o meio e sobre o fim, mas vamos aos avisos de spoilers:

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Pela sinopse e pelo trailer, a gente achava que a série seria sobre o Obi Wan protegendo o pequeno Luke Skywalker. Luke até aparece, mas de longe, numa cena muito rápida, que até está no trailer. Mas, surpresa! Temos a pequena Leia Organa! Somos apresentados a uma Leia de dez anos de idade, uma menina esperta, inteligente e desafiadora. A personagem é ótima, e a atriz Vivien Lyra Blair está muito bem!

Gostei do personagem Haja Estree, do Kumail Nanjiani – Star Wars sempre teve muito maniqueísmo, o bem é 100% bem e o mal é 100% mal, gosto quando vemos personagens de moral duvidosa.

A princípio não gostei da Third Sister, achei que ela, com aquela insubordinação, seria punida pelo Inquisidor. Mas no fim descobrimos que existe algo por trás, que liga ela ao Darth Vader, então passei a aceitar a sua postura.

Sobre a cena final do segundo episódio, conversando com amigos, ouvi duas interpretações. A Third Sister fala para Obi Wan que Anakin ainda está vivo. Amigos meus acharam que Obi Wan se surpreendeu ao saber que Anakin virara Vader, mas, se não me engano, ele já sabia disso desde o ep. 3. A minha interpretação foi outra: Obi Wan já sabia que Anakin era Vader, sua surpresa foi por saber que ele ainda estava vivo – a última vez que ele tinha visto Anakin foi em Mustafar, quando Anakin estava queimado, à beira da morte.

Por fim, sei que está rolando uma discussão sobre o Inquisidor, porque o personagem aparece em Rebels, e vemos sua morte neste episódio. Mas, como não lembro de Rebels, não sei se é o mesmo personagem ou um parecido – e não podemos esquecer que em Star Wars, alguns personagens morrem e voltam depois.

FIM DOS SPOILERS!

Alguns comentários sobre o elenco. Ewan McGregor está excelente, talvez esta seja uma de suas melhores interpretações. Me surpreendi com Vivien Lyra Blair, ela estava em Pequenos Grandes Heróis, num papel importante, mas numa interpretação fuén. Também gostei do já citado Kumail Nanjiani, tomara que seu papel tenha mais importância. Hayden Christensen vai voltar, mas ainda não podemos julgar sua participação. Outro que volta é Jimmy Smits, que estava na trilogia prequel como Bail Organa. Achei curioso ver que os inquisidores são atores relativamente conhecidos, tem o Rupert Friend (o Assassino 47), o Sung Kang (o Han de Velozes e Furiosos) e Rya Kihlstedt (que já vi em alguns filmes mas sempre em papeis secundários). Joel Edgerton está bem como o tio Owen, não sabemos se ele terá uma participação maior. Não gostei de Moses Ingram, que faz a vilã Reva, achei caricata demais, mas pode melhorar com o decorrer da série. E achei uma surpresa divertida ver Flea, do Red Hot Chili Peppers, como o sequestrador.

Serão seis episódios, quarta que vem tem mais um, já estou ansioso!

Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa

Crítica – Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa

Sinopse (imdb): Depois de se separar do Coringa, Harley Quinn se junta aos super-heróis Canário Negro, Caçadora e Renee Montoya para salvar uma jovem de um senhor do crime.

Pouca coisa se salvava no filme Esquadrão Suicida. Uma dessas coisas era a Arlequina da Margot Robbie. Um filme solo da personagem não era exatamente uma surpresa.

Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa (Birds of Prey: And the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn, no original) tem mais acertos do que erros. Focar o filme numa personagem carismática, interpretada por uma atriz carismática, foi uma boa sacada.

Uma coisa boa foi o jeito como lidaram com o Coringa – lembrando que o Coringa aqui é aquele todo errado do Jared Leto, nada a ver com o oscarizado Joaquin Phoenix. O Coringa é citado, mas a trama não pede a sua presença. Boa.

Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa também tem uma edição divertida e uma trilha sonora com músicas pop bem escolhidas – quase todas cantadas por mulheres. Aliás, o empoderamento feminino é um tema constante aqui: todas as personagens femininas são fortes; enquanto todos os masculinos são caricatos. Ah, esqueci de citar: a direção também é de uma mulher, a pouco conhecida Cathy Yan.

Infelizmente nem tudo funciona. As personagens secundárias são mal desenvolvidas, e o roteiro não se decide muito sobre suas características – tipo, uma delas tem super poderes, mas só na hora que o roteiro pede uma solução deus ex-machina.

No elenco, o destaque, claro, é Margot Robbie. Ewan McGregor está caricato, mas acho que é proposital. Também no elenco, Mary Elizabeth Winstead, Rosie Perez, Jurnee Smollett e Ella Jay Basco.

No geral, o resultado é positivo. Só achei o nome errado. O espectador vai ao cinema para ver um filme das Aves de Rapina, e o grupo só aparece quando o filme acaba…

Doutor Sono

Crítica – Doutor Sono

Sinopse (imdb): Anos após os eventos de “O Iluminado”, Dan Torrance, agora adulto, deve proteger uma jovem com poderes semelhantes de um culto conhecido como O Verdadeiro Nó, que ataca crianças com poderes para permanecer imortais.

Ninguém esperava uma continuação do clássico O Iluminado, mas, olha lá a programação dos cinemas…

Heu não sabia, mas existe um livro escrito pelo mesmo Stephen King onde ele conta a vida do Danny Torrance adulto. Coube ao diretor Mike Flanagan (que fez um excelente trabalho com a série A Maldição da Residência Hill) adaptar este livro.

O terreno era perigoso, afinal a comparação com a obra de Kubrik era inevitável. Felizmente o filme acerta mais do que erra.

Um ponto positivo é não querer fazer uma refilmagem. Temos personagens novos que guiam a trama por um caminho completamente diferente do filme anterior. Também gostei da caracterização dos atores escolhidos para interpretarem os personagens do filme anterior (Henry Thomas, o garotinho do ET, que estava em Residência Hill, funciona bem como o “Jack Nicholson”). E, claro que fãs de O Iluminado vão ver um monte de referências ao filme de 1980. Tem bastante fan service!

Algumas coisas do roteiro ficaram um pouco forçadas. Não vou comentar aqui pra evitar spoilers, mas falei tudo no Podcrastinadores, quem quiser, ouve lá!

O elenco é muito bom. Ewan McGregor funciona muito bem como o Danny adulto, e Rebecca Ferguson está excelente como a vilã. Também no elenco, Kyliegh Curran, Cliff Curtis, Zahn McClarnon e Emily Alyn Lind, além de uma ponta de Jacob Tremblay (O Quarto de Jack).

No fim, saldo positivo. O Iluminado não precisava de continuação, mas até que funcionou.

T2 Trainspotting

Trainspotting2Crítica – T2 Trainspotting

Vamos à continuação?

Depois de 20 anos fora, Renton volta para a Escócia e se reencontra com Spud, Sick Boy e Begbie.

Duas décadas depois, Danny Boyle volta ao universo do seu segundo filme, Trainspotting (1996). A boa notícia é que boa parte da galera que trabalhou no primeiro filme está de volta. Mesmo diretor, mesmo roteirista, mesmo produtor, mesmos quatro atores principais. Foi muito legal, não me lembro de outra continuação assim, que retoma uma história 20 anos depois, com toda a galera original.

T2 Trainspotting (idem no original) é parcialmente baseado no livro “Porno”, continuação do livro “Trainspotting”, escrito pelo mesmo Irvine Welsh. “Porno” se passa dez anos depois dos acontecimentos do primeiro filme. No novo livro, os personagens seriam viciados em pornografia em vez de heroína, mas o novo filme não segue exatamente isso.

T2 Trainspotting é cheio de referências ao primeiro filme, recomendo rever pra ficar fresco na memória. O estilo é o mesmo, temos a volta dos personagens e de alguns cenários, temos até vários trechos do filme de 96 – Kevin McKidd, por exemplo, só aparece em imagens “de arquivo” (quando vemos imagens da infância deles, são outros atores, claro; mas imagens da juventude são imagens deles mesmo na época do outro filme).

Por tratar de drogas, claro que o primeiro filme era pesado. Quando revi, tive uma bad trip com uma das cenas. Este novo é bem mais leve e divertido. Gostei da mudança no clima.

Claro que ter o elenco original fez diferença. Na época de A Praia, quarto filme do Danny Boyle, ele teria brigado com o seu “ator assinatura”, Ewan McGregor. Felizmente, eles fizeram as pazes, T2 Trainspotting não seria o mesmo se um dos dois não estivesse por perto. Robert Carlyle e Johnny Lee Miller hoje têm carreira na tv, mas conseguiram conciliar as agendas. E Ewan Bremner, o menos conhecido, talvez seja o melhor dos quatro neste filme. Ah, Kelly McDonald, que fazia um papel pequeno mas importante no filme anterior, faz o mesmo aqui. A única novidade no elenco principal é a búlgara Anjela Nedyalkova.

Será que daqui a 20 anos vamos rever os personagens sessentões?

Trainspotting – Sem Limites

TrainspottingCrítica – Trainspotting – Sem Limites

O filme conta as histórias de viciados em heroína que vivem num subúrbio de Edimburgo, Escócia, narradas do ponto de vista de um deles, que tenta interromper o vício mas sempre acaba retornando. Baseado no livro homônimo de Irvine Welsh.

Lembro do lançamento de Trainspotting – Sem Limites (Trainspotting, no original) nos cinemas brasileiros em 1996. O segundo filme de Danny Boyle (depois do ótimo Cova Rasa) já me fez virar fã deste novo e promissor diretor inglês. Vi na época do lançamento, anos depois comprei o dvd (tenho quase tudo do Danny Boyle). Aproveitei que ia ter uma continuação e revi o filme, que heu não via há anos.

O filme continua muito bom. Como usual na carreira de Boyle, o visual do filme é marcante. Edição cheia de cortes rápidos, trilha sonora alta, tudo acelerado lembrando linguagem publicitária. E tem tudo a ver com o tema do filme…

Em Trainspotting, Danny Boyle reuniu o time com quem tinha feito Cova Rasa: o ator Ewan McGregor, o produtor Andrew McDonald e o roteirista John Hodge (que ainda se reuniriam no filme seguinte, Por Uma Vida Menos Ordinária). O time se dividiu no filme seguinte, quando Boyle chamou Leonardo DiCaprio para fazer A Praia, mas voltaram vinte anos depois para a continuação T2 Trainspotting. (No total, até hoje, Hodge escreveu roteiros de seis filmes de Boyle; McDonald produziu sete).

Admito que hoje, que sou pai, uma certa cena do filme me incomodou muito mais do que vinte anos atrás, a cena do bebê morto. Entendo a cena no filme, mas acho que Boyle cruzou a linha. Preferia não ter visto daquele jeito, isso me causou uma bad trip…

No elenco, é curioso rever o início da carreira de nomes que hoje são grandes, como Ewan McGregor e Robert Carlyle. Também no elenco, Ewen Bremner, Jonny Lee Miller, Kevin McKidd e Kelly MacDonald.

Em breve falo aqui da continuação, T2 Trainspotting!

A Bela e a Fera

a-bela-e-a-feraCrítica – A Bela e a Fera

(Antes de tudo, preciso falar que não gosto desta história. Numa sociedade que briga pelos direitos das mulheres, acho um retrocesso uma princesa que só gosta do príncipe porque ele é rico. Estamos ensinando nossas filhas a serem interesseiras? Isso porque não estou falando da Síndrome de Estocolmo! Mas, vamos ao filme…)

Adaptação do conto de fadas onde uma jovem e um príncipe monstro se apaixonam.

A Disney é especialista na arte de fazer dinheiro. A novidade (de uns anos pra cá) é criar versões live action (com atores) dos desenhos clássicos. Já tivemos Malévola, Cinderela e Mogli. Agora chegou a vez de A Bela e a Fera.

O risco de adaptar A Bela e a Fera era um pouco maior. Não só é mais recente (1991), como é um filme historicamente importante na linha do tempo da Disney – depois de uma década de 80 com pouco sucesso artístico e comercial (época de O Cão e a Raposa, O Caldeirão Mágico e As Peripécias do Ratinho Detetive), A Bela e a Fera não só foi um grande sucesso de bilheteria como também concorreu a seis Oscar (incluindo melhor filme – a primeira vez que uma animação concorreu ao prêmio principal) e ganhou as estatuetas de trilha sonora e canção. E ainda ajudou a firmar a Disney no topo novamente (logo antes tivemos A Pequena Sereia, logo depois, Alladin e O Rei Leão). Ou seja, um marco.

Bem, acredito que quem gostou do desenho não vai se decepcionar. Todas as músicas estão lá e algumas sequências foram recriadas fielmente. Aposto como vai ter fã chorando de emoção. Porém… o grande mérito é, ao mesmo tempo, um problema. Porque, na comparação, o filme perde para o desenho.

O filme é muito mais longo que o desenho (45 minutos!). Como era previsível, temos músicas novas (uma música só concorre ao Oscar se for feita para o filme, por isso adaptações sempre trazem pelo menos uma música inédita). E essas músicas novas não são tão cativantes quanto as do filme dos anos 90.

Outro problema do filme é a caracterização da Fera. Em vez de maquiagem, a produção optou por captura de movimentos. Mas o resultado ficou bem artificial. E pensar que há mais de 30 anos o Michael Jackson usou maquiagem no videoclipe de Thriller e ficou infinitamente melhor…

Os efeitos especiais são muito bons. Os coadjuvantes Lumiere (o candelabro) e Cogsworth (o relógio) são perfeitos! Já o bule Ms. Potts ficou esquisito, porque tem olhos e bocas desenhados, foge ao padrão que todos os outros objetos usam.

A direção ficou com Bill Condon, que tem um Oscar pelo roteiro de Deuses e Monstros, mas já trabalhou com musicais: escreveu o roteiro de Chicago e dirigiu Dreamgirls. Mas não podemos nos esquecer que o cara também dirigiu dois CrepúsculosA Bela e a Fera se aproxima mais destes últimos…

O elenco é muito bom. Mas o destaque não está com os protagonistas. Sempre canastrão, Luke Evans está ótimo como Gaston, e digo o mesmo sobre o LeFou de Josh Gad, aqui abertamente assumindo ser gay (fato que irritou alguns fãs xiitas, mas não me incomodou). Os coadjuvantes / objetos (Ewan McGregor, Ian McKellen, Emma Thompson, Stanley Tucci e Gugu Mbatha-Raw), que só mostram a cara no fim, também estão bem. Emma Hermione Watson está bem, mas nada demais (ela não tem uma grande voz, mas não atrapalha); Dan Stevens (quem?) fecha o elenco principal, interpretando a Fera.

Enfim, como disse lá em cima, quem curtiu a versão dos anos 90 vai se divertir. Mas ainda acho melhor rever o desenho.

Cova Rasa

ROTULO COVA RASA (NOVODISC) 4.QXD_ROTULOCrítica – Cova Rasa (1994)

Hora de rever o primeiro Danny Boyle!

Três amigos dividem um apartamento, mas procuram uma quarta pessoa. O novo inquilino morre de overdose logo após a mudança, deixando uma mala de dinheiro em seu quarto. A vida dos três não será a mesma depois disso.

A primeira metade dos anos 90 trouxe várias boas novidades para o cinema pop. Uma delas foi esse tal de Danny Boyle, que anos mais tarde ganharia até um Oscar de melhor diretor por Quem Quer Ser um Milionário.

Cova Rasa (Shalow Grave, no original) traz um bom time, que se repetiria outras duas vezes (em Trainspotting e Por Uma Vida Menos Ordinária): Boyle na direção, John Hodge no roteiro, Andrew McDonald na produção e Ewan McGregor no elenco. (Hodge trabalhou seis vezes com Boyle; McDonald, sete)

(Na época do quarto filme de Boyle, rolou uma lenda que não sei se procede. Ewan McGregor iria fazer o novo Star Wars, então Boyle resolvera chamar uma estrela maior para seu novo filme – tipo “Ah, é? Já que você me trocou por um projeto maior, vou trocar você por um cara mais famoso”. Se é verdade ou não, não sei. O fato é que Leonardo Di Caprio estava no novo filme, A Praia – que foi um fracasso…)

Voltemos a Cova Rasa… Temos um bom estudo do comportamento humano – como uma mala cheia de dinheiro pode transformar as pessoas e o relacionamento entre elas. O recente Dívida de Sangue usou um argumento parecido, mas é bem inferior a Cova Rasa. que sabe desenvolver bem a trama e a transformação dos personagens.

Paralelo a isso tudo, Boyle já mostra o estilo que usaria ao longo de sua carreira: ângulos bem pensados, edição ágil, boa escolha da trilha sonora, violência moderada e bastante humor negro. Além disso, a fotografia é muito legal, a iluminação do sótão ficou fantástica.

Sobre o elenco: hoje uma grande estrela, Ewan McGregor era quase um estreante nessa época. Christopher Eccleston, considerado por alguns o melhor Dr. Who, também estava em início de carreira. Fechando o trio principal, temos Kerry Fox, que, na época, era quem tinha o maior currículo, mas que sumiu – coincidência ou não, ela fez uma cena de sexo explícito em Intimidade, de 2001, talvez ela tenha se queimado com isso.

Cova Rasa demorou a ser lançado oficialmente em dvd aqui no Brasil, mas hoje em dia é facilmente encontrável nas Lojas Americanas da vida. Vale ser revisto!

Jack – O Caçador de Gigantes

Crítica – Jack O Caçador de Gigantes

Mais um conto de fadas revisto…

A “fábula da vez” é João e o Pé de Feijão, só que em vez de João, é Jack; e em vez de trocar a vaca da família, troca um cavalo por grãos mágicos, que, ao caírem no chão, brotam um gigantesco pé de feijão que vai até as nuvens, onde moram gigantes.

Impossível não nos lembrarmos do recente João e Maria – Caçadores de Bruxas – dois filmes baseados em fábulas, com nomes parecidos e que estrearam quase juntos nos cinemas (foram lançados com dois meses de intervalo). E, pelo menos para o meu gosto, a comparação não foi boa – gostei muito mais de João e Maria do que de Jack

O que tem de bom aqui é que a história original sofreu poucas alterações – João e Maria é uma história medieval com armas de fogo e roupas apertadas de couro. Jack – O Caçador de Gigantes (Jack the Giant Slayer, no original) não inventa moda, pode ser vendida como uma fábula “clássica”. Por outro lado, tudo aqui é meio previsível, meio maçante – meio chato até. E o curioso é que o diretor aqui tem um bom currículo. Jack – O Caçador de Gigantes foi dirigido por Bryan Singer, o mesmo de Os Suspeitos e dos dois primeiros X-Men. Pelo diretor, heu esperava mais… Pelo menos a parte técnica é muito bem feita. Os efeitos especiais são muito bons, os gigantes impressionam pela riqueza de detalhes. Pena que todas as lutas são discretas e ninguém sangra – provavelmente por pressão do estúdio por uma censura mais branda.

No elenco, achei curioso um nome como Ewan McGregor ter um personagem coadjuvante. McGregor tem star power pra estrelar seus filmes! Mas aqui, ele serve de escada para os desconhecidos Nicholas Hoult e Eleanor Tomlinson, casal de protagonistas bonitinhos e pouco expressivos. Ainda no elenco, Stanley Tucci e Ian McShane.

No fim, fica aquela sensação de que poderia ter sido bem melhor. Jack – O Caçador de Gigantes é melhor que Espelho, Espelho Meu, mas fica bem atrás de Branca de Neve e o Caçador e João e Maria, Caçadores de Bruxas