Megalopolis

Crítica – Megalopolis

Sinopse (imdb): A cidade de Nova Roma é palco de um conflito entre Cesar Catilina, um artista genial a favor de um futuro utópico, e o ganancioso prefeito Franklyn Cicero. Entre os dois está Julia Cicero, com a lealdade dividida entre o pai e o amado.

Poucos filmes realmente merecem o rótulo de “aguardado”. Megalopolis, novo filme de Francis Ford Coppola, é um desses. Não sei exatamente há quanto tempo, mas o projeto de Megalopolis já existe há décadas. E Coppola resolveu vender um vinhedo e bancar o custo de 120 milhões de dólares do próprio bolso!

E o resultado? Olha, não gostei do filme, mas gostei que ele foi feito. Já explico.

Vamulá. Francis Ford Coppola é um nome gigante na história do cinema. Ele dirigiu O Poderoso Chefão 1 e 2, presentes em qualquer lista de melhores filmes da história (ele também dirigiu o 3, mas este passa longe de listas de melhores). Ele arriscou tudo num projeto pessoal, Apocalypse Now, e ganhou muitos frutos com isso (incluindo dois Oscars e a Palma de Ouro em Cannes). Dois anos depois, arriscou de novo em outro projeto pessoal, O Fundo do Coração, mas desta vez foi um grande flop. Mesmo assim continuou, e nos anos 90 ainda fez o excelente Drácula de Bram Stoker, um dos melhores filmes de vampiro de todos os tempos.

Um cara talentosíssimo, com um currículo gigante, mas que me fazia pensar naquela frase do Tarantino, que disse que pretendia se aposentar depois do décimo filme. Porque os últimos Coppola que vi foram bem decepcionantes.

(Essa frase do Tarantino serve pra alguns diretores. John Carpenter, autor de vários clássicos, encerrou a carreira com Aterrorizada, um filme com cara de Supercine.)

Coppola estava no mesmo barco. Vi Tetro, com a presença do próprio, numa sessão lotada em Botafogo, mas o filme parece uma novela mexicana. Dois anos depois vi Twixt num Festival do Rio, outra decepção. Nem tive ânimo de ver Distant Vision, que ele fez em 2015 que nem sei se foi lançado no Brasil (no imdb não tem nem poster do filme!).

Pensando por este ângulo, foi uma agradável surpresa ver Megalopolis. É um filme confuso, muita coisa não funciona, mas… É um grande filme, com um grande elenco, e várias cenas memoráveis. Ou seja, se a gente for pensar em um último filme de um diretor octogenário (Coppola está com 85 anos!), Megalopolis é bem melhor que Tetro ou Twixt.

Depois dessa longa introdução, vamos ao filme? Em Nova Roma, uma cidade fictícia (segundo o que li, baseada em Nova York), rola uma briga política entre o prefeito e um arquiteto visionário que quer construir uma nova cidade baseada em um novo elemento criado por ele, o Megalon.

Tudo é contado em tom de fábula (assumido em uma frase de introdução ao filme), tudo é meio onírico, tem muitos simbolismos e muita coisa exagerada.

Mas achei o roteiro muito bagunçado. Por exemplo, a filha do prefeito se envolve com o arquiteto que é seu inimigo, e às vezes ela está com um, outras vezes com o outro, e o filme não deixa claro qual é a dela. Tem cenas que se estendem demais, como aquela cena do coliseu, tão longa que chega a cansar. Tem um narrador, vivido pelo Laurence Fishburne, que de repente some e não volta mais. Tem uma trama paralela de uma cantora que era valorizada por ser jovem e virgem, aí descobrem que ela não é jovem nem virgem, aí ela muda de estilo mas o filme esquece dela. E por aí vai…

Mas por outro lado, o elenco é repleto de grandes estrelas, e algumas sequências são belíssimas. É um filme grandioso, digno da carreira de um nome como Francis Ford Coppola.

Diferente dos últimos filmes do Coppola, Megalopolis conta com um grande elenco: Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Shia LaBeouf, Jon Voight, Laurence Fishburne, Talia Shire e Jason Schwartzman, entre outros. As atuações são exageradas, entendi que fazia parte da proposta de fábula onírica.

Quando acabou a sessão (sessão normal, não teve sessão pra imprensa), fiquei dividido. Não, não gostei do filme. Mas gostei de ver que Coppola continua grande.

MaXXXine

Crítica – MaXXXine

Sinopse (imdb): Na década de 1980, em Hollywood, a estrela de cinema adulto e aspirante a atriz Maxine Minx recebe sua grande chance. Mas conforme um assassino persegue as estrelas de Hollywood, um rastro de sangue ameaça revelar o passado sinistro dela.

Estreou o aguardado terceiro filme da trilogia X!

Em 2022 Ti West lançou X, um bom slasher com cara de anos 70. Poucos meses depois, tivemos Pearl, um prequel, contando a história da velhinha do filme anterior. MaXXXine é o filme que segue a história de X. Ou seja, é bom ter visto Pearl, mas é essencial ter visto X.

Antes de tudo, preciso dizer que MaXXXine é um bom filme, mas achei o mais fraco dos três. Mas reconheço que parte dessa conclusão é head canon. Porque fui ao cinema esperando ver um terror slasher, e MaXXXine é mais um suspense tentando emular Brian de Palma do que um filme de terror – só vemos três mortes em tela! MaXXXine tem muito menos mortes, nudez e sexo do que X.

Mas, por outro lado, tiro o meu chapéu para Ti West com a sua concepção de trilogia. Em vez de fazer “mais do mesmo”, que é o que a maior parte do público esperava (não me lembro qual filme dizia que uma continuação de filme de terror apenas precisa se preocupar sem ter mais mortes e mais violência gráfica), Ti West criou três filmes distintos, com propostas diferentes. X parece um slasher filmado nos anos 70. Já Pearl tem outro ritmo e parece ter sido feito nos anos 40 ou 50 (peço desculpas, conheço pouco do cinema dessa época). MaXXXine parece um suspense policial filmado nos anos 80. Sim, é a mesma personagem do primeiro filme, mas são filmes completamente diferentes nas suas propostas.

(Lembrei de A Morte te Dá Parabéns, que tem uma continuação completamente diferente do primeiro filme.)

Nesse sentido de ambientação nos anos 80, palmas para Ti West. Tudo aqui emula os anos 80, não só os óbvios figurinos, penteados e trilha sonora. O filme realmente parece ter sido feito naquela época. Segundo o imdb, a produção procurou equipamentos e câmeras usadas nos anos 80, e evitaram “truques modernos” durante as filmagens.

MaXXXine é recheado de referências a outros filmes. Quando sair no streaming, devem pipocar alguns vídeos no youtube tipo “10 referências que você não reparou em MaXXXine!”. Algumas estão muito na cara, como o Kevin Bacon de terno claro e curativo no nariz, igual ao Jack Nicholson em Chinatown; ou citarem Marilyn Chambers, que era atriz pornô e fez um filme de terror em 1977, Rabid, dirigido por David Cronenberg. Outras são menos óbvias, teve uma que comentei com alguns amigos depois da sessão e ninguém tinha reparado. Tem uma cena em uma boate que lembra muito Dublê de Corpo, e está tocando uma música muito parecida com Relax, do Frankie Goes to Hollywood (música usada no Dublê de Corpo). Aguardei até os créditos e confirmei: é outra música do Frankie Goes to Hollywood. Ti West provavelmente usou a mesma banda pra fazer mais uma referência.

(Aliás, em alguns momentos vemos a tela dividida, justamente como Brian de Palma costumava fazer.)

O elenco tem muito mais star power do que os anteriores (X tinha a Jenna Ortega, mas antes do hype de Wandinha). MaXXXine conta com Elizabeth Debicki, Giancarlo Esposito, Kevin Bacon, Michelle Monaghan, Sophie Thatcher, Bobby Cannavale, Halsey e Lily Collins, além, claro da Mia Goth, que, mais uma vez, está muito bem no papel – logo no início, na audição para o papel, ela já mostra que é muito boa. Ah, não sei vocês, mas toda vez que o Kevin Bacon aparecia, heu achava que era o Ethan Hawke.

Sou poucas mortes, mas temos uma violência gráfica bem forte. Diria que tem uma cena em particular onde não morre ninguém que é a mais forte de todas, que é quando Maxine se defende de um agressor atacando suas partes íntimas. Essa cena vai dar o que falar!

Agora, vamos ao principal problema do filme. Quando X acaba, policiais encontram uma câmera no meio de vários cadáveres. MaXXXine se passa seis anos depois, a Maxine Minx hoje é uma estrela pornô. Mas ela estava nas filmagens encontradas, e todas as outras pessoas que aparecem nas filmagens morreram. Como é que não teve uma investigação policial sobre isso? Como é que conseguiram abafar um caso desse porte? MaXXXine dá a entender que existe alguém poderoso por trás, mas se essa pessoa é tão poderosa a ponto de apagar uma investigação policial envolvendo sete mortos, acho que o roteiro deveria ter deixado isso mais claro. Do jeito que ficou, parece que o que aconteceu no final de X foi algo pequeno e discreto.

Além disso, não gostei do final de MaXXXine. Achei toda aquela sequência mal construída, mas não entro em detalhes pra não dar spoilers.

Mas, mesmo achando MaXXXine um degrau abaixo dos outros dois, podemos dizer que Ti West fez uma boa trilogia. MaXXXine estreia semana que vem, dia 11 de julho, e merece ser visto no cinema.

Magnatas do Crime (2024)

Crítica – Magnatas do Crime

Sinopse (imdb): Eddie Horniman herda a grande propriedade de seu pai, um aristocrata inglês, e se torna o novo duque de Halstead, apenas para descobrir que ele está na maior fazenda de ervas da Europa, de propriedade do lendário Mickey Pearson.

Magnatas do Crime é um longa dirigido por Guy Ritchie e lançado em 2019. E agora em 2024 veio uma série homônima, dirigida pelo mesmo Guy Ritchie. Como assim?

O filme mostrava um traficante de maconha que tinha plantações escondidas no subsolo de mansões de famílias aristocratas falidas. A série não repete nenhum personagem do filme, mas traz o mesmo conceito: a família de um duque, sem dinheiro, é sustentada pelo tráfico de maconha.

São quatro diretores diferentes – os dois primeiros episódios são dirigidos por Ritchie, e os seguintes, a cada dois, são dirigidos por Nima Nourizadeh (Gangs of London), Eran Creevy e David Caffrey. A boa notícia é que todos mantém o estilo do Guy Ritchie, com personagens marginais mas charmosos, situações bizarras, edição estilosa com uso de elementos gráficos na tela, e muita violência estilizada misturada com humor negro. Ou seja, mudou de diretor, mas continua tudo com a mesma cara.

(Aliás, Ritchie está num frenético ritmo de trabalho, deve ser por isso que delegou episódios pra outros diretores. De 2019 pra cá, ele dirigiu Aladdin, Magnatas do Crime, Infiltrado, Esquema de Risco, O Pacto, os dois primeiros episódios dessa série, e já tem filme novo dele lançado lá fora que ainda não chegou no Brasil, The Ministry of Ungentlemanly Warfare. Pensa num cara que trabalha muito!)

Os dois personagens centrais são muito bons. Theo James e Kaya Scodelario estão ótimos, tanto individualmente quanto juntos – detalhe que rola uma boa química mas eles nunca confirmam se são ou se serão um casal (tem uma cena com imagens de um flashback onde todos estavam alcoolizados que dá a entender alguma intimidade, mas parou aí).

Mas, além dos protagonistas, outra coisa que merece destaque são os personagens secundários. Magnatas do Crime tem uma vasta galeria de personagens esquisitões (começando pelo alucinado irmão do protagonista, Freddie). Outra característica dos filmes do Guy Ritchie: personagens secundários exóticos. No elenco, além dos já citados Theo James e Kaya Scodelario, Magnatas do Crime conta com Giancarlo Esposito, Vinnie Jones, Joely Richardson e Ray Winstone

Respondendo à pergunta óbvia: filme ou série? Na minha humilde opinião, o filme é melhor. Reconheço que na série dá pra desenvolver melhor algumas situações e personagens, mas sempre prefiro um produto final mais enxuto.

São oito episódios que variam entre 41 e 67 minutos. Existe um gancho pra uma segunda temporada. Que mantenham a qualidade!

Abigail

Crítica – Abigail

Sinopse (imdb): Um grupo de criminosos sequestra uma bailarina de doze anos, filha de um poderoso homem do submundo, para coletar um resgate de US$ 50 milhões. Em uma mansão isolada, os raptores logo descobrem que não estão com uma garota normal.

Antes de falar do filme, queria falar mal da divulgação. Todo o marketing se baseou na “menina vampira”. O trailer já mostra isso! Mas ela só se revela uma vampira no meio do filme, lá pelos 40 ou 45 minutos. Imagina que legal seria se o espectador não soubesse? Ia ser que nem Um Drink Para o Inferno, onde o espectador entrava no cinema sem saber que era um filme de vampiros!

Enfim, vamos ao filme. Abigail (idem, no original) é o novo filme da dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett (que têm uma produtora chamada Radio Silence), que fizeram o bom Casamento Sangrento (filme acima da média que quase ninguém viu porque foi lançado no meio da pandemia), e depois foram fazer “mais do mesmo” com Pânico 5 e Pânico 6 (não são filmes ruins, mas também não são nada de mais).

Abigail lembra bastante Casamento Sangrento: personagens sendo perseguidos em uma mansão antiga e enorme. Os diretores souberam aproveitar bem o clima nos ambientes e cômodos da mansão.

Abigail tem MUITO gore. Algumas mortes, alguns membros decepados, e muito, muito sangue. Mas, o filme tem um pé na comédia, o gore aqui não causa repulsa. Algumas cenas são bem engraçadas, seja pelos diálogos ou pelas situações de humor negro. O filme até faz piadas com os clichês de vampiros no cinema!

A maquiagem também é muito boa. A produção optou por dentes que lembram os grandes predadores, como tubarões, em vez dos tradicionais caninos dos vampiros. E também usaram efeitos práticos, como por exemplo na cena onde Abigail se equilibra no corrimão – ela estava pendurada por cabos de segurança, mas era ela mesma se equilibrando.

Sobre o elenco, o grande nome é Alisha Weir. A menina é ótima, tanto quando passa a impressão de ser uma menininha doce e inocente, quanto quando vira um monstro. E ela atacando enquanto dança balé deu um charme especial à personagem. Agora, sobre o resto, os personagens são unidimensionais, achei todos meio caricatos. Acho que o único que se salva é o Kevin Durand, que faz o “grandalhão burro”, mas pelo menos tem carisma na entrega de alguns bons diálogos. O resto é mais do mesmo: Melissa Barrera, Dan Stevens, William Catlett, Kathryn Newton e Angus Cloud (este último, infelizmente, morreu de overdose, aos 25 anos, antes da estreia do filme). Completam o elenco participações especiais de Giancarlo Esposito (em duas cenas) e Matthew Goode (em uma cena).

Por fim, uma referência que nem todos vão pegar. O personagem do Giancarlo Esposito dá apelidos aos outros personagens, e depois os chama de “pack of rats”. “The Rat Pack” era o apelido dado a um grupo de artistas populares nos anos 50 e 60: Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Peter Lawford e Joey Bishop – Don Rickles era considerado um “membro honorário”. É daí que vem os nomes dos personagens Frank, Dean, Sammy, Peter, Joey e Rickles. (Nos anos 80, adaptaram esse nome em outro grupo, o “brat pack”, com Emilio Estevez, Anthony Michael Hall, Rob Lowe, Andrew McCarthy, Demi Moore, Judd Nelson, Molly Ringwald e Ally Sheedy.)

Caleidoscópio

Crítica – Caleidoscópio

Sinopse (Netflix): Um ladrão magistral e sua equipe querem roubar 7 bilhões de dólares. Mas, para o plano dar certo, eles terão que lidar com traições, ganâncias e muitas outras ameaças.

Surgiu na Netflix uma série com um novo formato: oito episódios, e você pode vê-los em qualquer ordem.

A princípio achei que era o “formato antigo”, série com episódios fechados, como era na época que a gente acompanhava Supernatural e CSI, que traziam um arco ao longo da temporada, mas a maioria dos episódios eram independentes uns dos outros – hoje é tudo “novelinha”, o que, na minha humilde opinião, é pior pra assistir. Mas não, Caleidoscópio (Kaleidoscope, no original) conta uma única história, e conseguiram roteirizar e editar de maneira que você não precisa ver em uma ordem específica. A produção diz que tanto faz a ordem, mas recomenda deixar o episódio “Branco” para o fim. Realmente, este episódio encerra bem a história.

E agora a grande dúvida: funcionou?

Vamos por partes. Antes de tudo, preciso falar que gostei da proposta. É legal ver algo diferente do óbvio, vai ter muita gente vendo e comentando a série justamente pela novidade. Digo mais: em termos de marketing, é uma boa a Netflix inovar assim, aposto como Caleidoscópio terá mais views do que se fosse um seriado no mesmo formato dos outros.

Porque o roteiro não tem nada de mais. A gente já viu vários filmes e séries de “heist”, e a história de Caleidoscópio não traz nenhuma novidade. É vou além: o roteiro tem algumas coisas bem forçadas, como o lance das abelhas, que ninguém explicou como e por que funciona.

Teve uma coisa que heu não gostei. Determinado momento da série o Leo fala que eles precisam ter confiança nos outros membros da equipe. E o Bob é marrento, violento e desagregador, ele é o oposto da confiança. Ele deveria ser expulso do time. Mas, a série explica por que ele continua na equipe. A explicação não me convenceu, mas existe uma explicação, então não podemos falar de falha de roteiro.

A produção é muito boa. Não sei qual foi o orçamento, mas temos a sensação de uma série cara, com vários cenários, alguns deles grandiosos. A fotografia, claro, usa cores diferentes para cada episódio. Também gostei da trilha sonora.

O elenco também está bem. Ok, achei estranha a maquiagem (ou cgi) que usaram pra rejuvenescer o Giancarlo Esposito e o Rufus Sewell no episódio que se passa 24 anos antes, mas, ok, aceito. Além dos dois, Caleidoscópio conta com Paz Vega, Rosaline Elbay, Jai Courtney, Tati Gabrielle e Peter Mark Kendall.

Espero que Caleidoscópio traga um bom retorno à Netflix, e que eles arrisque mais vezes com formatos diferentes!