Ligação Sombria

Ligação Sombria

Sinopse (imdb): Um motorista se encontra em um jogo de gato e rato de alto risco depois de ser forçado a dirigir para um homem misterioso conhecido como O Passageiro.

Dirigido por Yuval Adler, Ligação Sombria (Sympathy for the Devil, no original) usa aquele formato de poucos personagens, poucos cenários e muitos diálogos, onde aos poucos vamos montando o quebra cabeças com as peças que o roteiro nos dá. Quase o filme inteiro tem apenas dois personagens, quase o filme inteiro se passa em dois cenários (dentro do carro ou no restaurante). Um homem está indo ao hospital porque sua mulher vai dar à luz, mas outro homem armado entra no carro e o obriga a irem para outro lugar. Inicialmente vemos um sequestrador e um sequestrado, e ao longo do filme precisamos descobrir o que cada um esconde.

Ligação Sombria tem uma coisa muito boa e outra que me desagradou bastante. Vamos ao ponto positivo: Nicolas Cage. De um tempo pra cá, Cage virou um adepto do “over acting”. O cara quase sempre exagera nas suas atuações. E quando o filme sabe usar isso a seu favor, o resultado é muito bom. E isso acontece aqui. Cage está exageradíssimo, em algumas cenas ele parece completamente alucinado. Se existe um bom motivo para se assistir a Ligação Sombria, este motivo é Nicolas Cage.

Agora, conforme vamos descobrindo o que é cada personagem, o filme vai enfraquecendo, porque são personagens que tomam atitudes incompatíveis. Vou fazer um comentário, mas antes, aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

No fim do filme descobrimos que o sequestrado matou a mulher e a filha do sequestrador, então isso seria uma jornada de vingança. Mas, se a vingança é contra o sequestrado, por que matar o policial e deixar o sequestrado vivo? Pior ainda: por que fazer aquela “queima de arquivo” no restaurante e matar o cozinheiro – e deixar o sequestrado vivo???

FIM DOS SPOILERS!

Enfim, só vale pra quem curte o Nicolas Cage alucinado.

O Silêncio da Vingança

Crítica – O Silêncio da Vingança

Sinopse (imdb): Um pai enlutado realiza sua tão esperada vingança contra uma gangue implacável na véspera de Natal.

Filme novo do John Woo!

Lembro de quando estava procurando possíveis títulos para a minha lista de expectativas não óbvias pra 2023, mencionei este O Silêncio da Vingança (Silent Night, no original) mesmo sem ter a certeza se ele ia estrear. Foi uma boa surpresa ver que entrou em cartaz no circuito (apesar da outra surpresa, negativa, de não ter tido sessão de imprensa).

A proposta era ousada: um longa metragem de ação sem diálogos. Não é um filme mudo, tem efeitos sonoros, trilha sonora, uma frase dita aqui e outra ali, mas, zero diálogos.

A princípio a gente acha que vai ser o formato clichê de sempre: o cara sofre uma perda, passa por uma fase de treinamento e vai enfrentar os adversários. Mas o roteiro espertamente coloca falhas no plano do protagonista. Ele treinou meses para o confronto, mas está enfrentando oponentes que estão nessa vida há muito mais tempo. Ou seja, nem tudo funciona e ele descobre que é bem mais difícil do que esperava. Prefiro assim do que filmes onde o protagonista quase ganha super poderes.

A proposta de não ter diálogos trouxe um problema: algumas partes ficaram meio lentas. A parte do meio, quando acontece o treinamento, é arrastada e dura tempo demais. Por outro lado, as cenas de ação são excelentes. Woo ainda manja dos paranauês quando o assunto é filmar cenas de ação. Tiroteios, perseguições de carro, uso de armas brancas, o repertório é farto.

(Aliás, tem uma cena numa escada, “plano sequência fake”, que fiquei imaginando onde estava o cameraman.)

Tem uma característica que talvez incomode parte do público. O protagonista carrega uma caixinha de música que toca sempre a mesma melodia, e isso acontece em todas as cenas onde ele se lembra do filho. Isso acontece muitas vezes! Mas, se a gente analisar a carreira do diretor, vai lembrar que acontece algo semelhante em Bala na Cabeça – uma melodia insistente que permeia todo o filme. Ou seja, goste ou não, é coerente com o diretor.

Aliás, falando nas características de Woo, reclamação por um head canon meu: em um momento cabia a clássica cena dos dois oponentes um com a arma no pescoço do outro. Além disso, não tem pombas voando em câmera lenta! Woo, é você mesmo?

Um filme nesse formato precisa de um ator inspirado pra funcionar, e Joel Kinnaman (Robocop, Esquadrão Suicida) não decepciona nessa tarefa. Que bom que ele tem muito mais tempo de tela do que qualquer outro personagem, porque o vilãozão malvadão é caricato ao extremo.

Por fim, um comentário aleatório: em inglês, faz sentido ser um “filme de natal” pelo trocadilho com “Silent Night”. Em português o trocadilho se perdeu. E pro filme, tanto faz ser no Natal ou em qualquer outra época do ano.

O Esquadrão Suicida

Crítica – O Esquadrão Suicida

Vou começar lançando a polêmica: será que estamos diante do melhor filme da DCEU?

Sinopse (imdb): Os supervilões Harley Quinn, Bloodsport, Peacemaker e uma coleção de malucos condenados na prisão de Belle Reve juntam-se à super-secreta e super-obscura Força Tarefa X enquanto são deixados na remota ilha de Corto Maltese, infundida pelo inimigo.

Antes de começar, vamos explicar as siglas. A Marvel tem o MCU, o Marvel Cinematic Universe, que é o universo onde estão situados as dezenas de filmes. DCEU é o DC Extended Universe, o paralelo da DC. Não leio HQs, então não posso palpitar sobre qual editora é mais bem sucedida nos quadrinhos. Mas no cinema, nem o mais fanático fã da DC vai deixar de reconhecer a superioridade da Marvel.

(Bem, fãs fanáticos às vezes têm cegueira seletiva, então se o cara é muito fanático ele não vai reconhecer os fatos. Mas isso é assunto pra outro post.)

Em 2016 a gente viu o primeiro filme do Esquadrão Suicida, que teve um trailer excelente, um bom início, mas que depois se perdeu completamente e conseguiu decepcionar quase todo mundo. Até achei que iam desistir do time do Esquadrão Suicida, deixa pra lá, foi uma parada que não deu certo.

Mas aí apareceu um James Gunn no horizonte. Vamos lembrar quem é James Gunn? O cara começou na Troma, produtora de filmes trash, acho que seu primeiro trabalho no cinema foi o roteiro de Tromeu e Julieta, de 1996. Ele tinha uma carreira discreta, com filmes “menores” como Seres Rastejantes (2006) e Super (2010), até que foi contratado pela Marvel pra fazer Guardiões da Galáxia. Só pra dar um exemplo da proporção: o orçamento de Super era de 2,5 milhões de dólares, enquanto Guardiões tinha 170 milhões.

Guardiões da Galáxia era um projeto audacioso. Um filme que se encaixaria nos filmes dos Vingadores, mas era uma aventura espacial com um grupo que tinha um guaxinim e uma árvore, feito por um diretor que começou na Troma. E o resultado foi excelente, um dos melhores filmes do MCU (lembrando que tem um monte de filmes bons no MCU!).

Claro que a moral do James Gunn subiu. Ele fez o Guardiões volume 2, e ia fazer o terceiro – até que resolveram catar uns tweets politicamente incorretos que ele tinha feito anos antes, e a conservadora Disney (como mencionei no texto de anteontem sobre Jungle Cruise) o demitiu.

A Warner então o contratou pra “consertar” o Esquadrão Suicida – afinal, tanto os Guardiões quanto o Esquadrão são grupos de anti-heróis com alguns esquisitões no meio.

Vendo isso, a Disney o recontratou pra fazer Guardiões 3, mas antes ele ainda ia fazer este Esquadrão Suicida antes.

E agora a gente tem um James Gunn livre das restrições da Disney. O Esquadrão Suicida parece uma mistura dos anti-heróis de Guardiões da Galáxia com a violência e o humor politicamente correto do Deadpool. Um filme violento, engraçado, e, principalmente, divertidíssimo!

Antes de entrar no filme, vamos à pergunta: é uma continuação ou um reboot? Na verdade, tem cara de reboot, mas é uma continuação. Alguns personagens do outro filme voltam. Mas não precisa (re)ver aquele, a história aqui é independente.

Uma das poucas coisas boas do primeiro filme foi a introdução dos personagens. Aqui não tem isso, sabemos pouco sobre cada um. Mas sabe que não fez falta? O filme até faz piada com isso.

Falei que o filme era violento, né? MUITO violento. Sem entrar em spoilers, mas muita gente morre no filme. Aliás, essa é uma grande diferença para os filmes de super heróis que a gente está acostumado. Aqui morre um monte de gente, tanto personagens quanto extras. Mas não são mortes dramáticas – apesar de algumas serem bem gráficas – tem tiro na cara, tem cabeça explodindo… O filme tem muito sangue, mas a pegada é humor negro – várias mortes geram gargalhadas.

Um bom exemplo disso é uma sequência muito boa onde rola quase uma competição entre o Idris Elba e o John Cena pra ver quem é mais eficiente matando. E quase todas as mortes são engraçadíssimas. E o encerramento da sequência é inesperado e genial!

Uma coisa que gostei muito aqui é justamente essa imprevisibilidade. O roteiro sai do óbvio várias vezes (característica que também acontecia em Guardiões da Galáxia). Você está vendo a cena, achando que ela vai ter uma conclusão, e o roteiro te dá uma rasteira e mostra outro caminho. Gosto disso, gosto de ser surpreendido por soluções fora do óbvio.

As cenas de ação são muito boas. São várias, com vários personagens, e a câmera sempre consegue mostrar bem a ação. E os efeitos especiais também são ótimos. Falei mal da onça de Jungle Cruise, né? O Tubarão Nanaue aqui é muito mais bem feito. Ok, parece uma ideia reciclada, um novo Groot – inclusive porque ambos são dublados por atores famosos (o Groot é o Vin Diesel; o Nanaue é o Sylvester Stallone). Mas, assim como o Groot é um personagem adorável, digo o mesmo sobre o Nanaue.

Ah, ainda nos efeitos. O filme é entrecortado por intertítulos, como se fossem títulos para cada capítulo. E esses intertítulos são escritos com elementos que estão na cena. Boa ideia. Simples e eficiente.

Claro que ainda preciso falar da trilha sonora. Assim como nos dois Guardiões, a trilha aqui é muito bem escolhida. E, olha só, tem música brasileira no meio!

O elenco é ótimo. Mas, como falei, morrem personagens, então não vou entrar em detalhes sobre cada um, pra não dar indícios de quais são os mais importantes. Pelo star power do elenco, arrisco a dizer que os principais seriam Margot Robbie e Idris Elba, mas o filme divide bem o protagonismo entre todo o time. Tem a Alice Braga, num papel pequeno mas importante, mais um filme fantástico na carreira dela (comentei sobre isso no texto sobre Novos Mutantes). Também no elenco, Michael Rooker, Viola Davis, Joel Kinnaman, Nathan Fillion, Jai Courtney, Sean Gunn, John Cena, Daniela Melchior, David Dastmalchian, Sylvester Stallone, Peter Capaldi e uma ponta do Taika Waititi (pisque o olho e você perderá!).

Se for pra falar mal de alguma coisa, falo do vilão Thinker, interpretado pelo Peter Capaldi. Personagem sub aproveitado. Não estraga o filme, claro. Mas é um personagem besta.

Heu poderia continuar falando aqui, mas chega. O filme estreia hoje, quero rever assim que possível. E recomendo pra qualquer um que goste de se divertir nos cinemas.

Ah, tem cena pós créditos! Fiquem até o fim do filme!

Por fim, só pra confirmar a frase do início. Não dá pra comparar este filme com filmes de fora do DCEU, como Coringa ou a trilogia do Nolan, porque são propostas completamente diferentes. Agora, dentro do DCEU, já tivemos Homem de Aço, Batman vs Superman, Esquadrão Suicida, Mulher Maravilha, Liga da Justiça, Aquaman, Shazam, Aves de Rapina, Mulher Maravilha 84 e o novo Liga da Justiça versão do diretor. Alguns bons, outros maomeno, outros ruins. É, olhando a lista, O Esquadrão Suicida é realmente o melhor até agora.

#pas

Esquadrão Suicida

Esquadrão Suicida posterCrítica – Esquadrão Suicida

Estreou o aguardado Esquadrão Suicida!

Depois dos eventos de Batman Vs Superman, uma agência secreta do governo recruta presos com super poderes para executar perigosas missões em troca de clemência.

Uma grande expectativa acompanhava este Esquadrão Suicida (Suicide Squad, no original). Primeiro, porque é a continuação do “universo cinematográfico da DC” (assim como a Marvel faz há anos, agora a DC quer colocar todos os filmes no mesmo universo). Depois porque Batman Vs Superman, o outro filme da DC neste ano, foi muito criticado, e pelo trailer, este Esquadrão acertaria a mão.

Bem, não acertou. Esquadrão Suicida não chega a ser ruim, mas falta muito para ser um grande filme. E, por causa da expectativa alta, vai decepcionar muita gente.

Esquadrão Suicida começa bem, a apresentação da equipe funciona. Mas logo depois o roteiro, escrito pelo diretor David Ayer, escorrega em alguns pontos básicos, como por exemplo não saber dosar a importância de cada personagem no filme – o Capitão Bumerangue deveria ser um alívio cômico, mas as melhores piadas estão com a Arlequina; ou então o Crocodilo, que não tem nenhuma importância na trama, então inventaram uma cena subaquática para justificar sua presença. Além disso, o vilão é péssimo. E isso porque não estou falando do personagem que entra na trama sem introdução, só porque “a gente precisava matar um personagem, então pegamos um que ninguém ia se importar”.

Ouvi gente falando que o problema do filme é que tem pouco humor. Discordo. Esta é uma característica da DC, seus filmes são mais sérios que os da Marvel. O problema é o roteiro preguiçoso mesmo.

Pelo menos temos alguns destaques positivos no elenco. Rolava uma certa preocupação em ter um nome caro como Will Smith, afinal o filme é “do Esquadrão” e não “do Pistoleiro”. Claro que Smith virou o líder do grupo. Mas não achei que isso atrapalhou. Agora, quem rouba a cena é Margot Robbie, muito bem como a Arlequina, que era pra ser coadjuvante, mas podemos dizer que é virou um personagem central. Também gostei de Jay Hernandez como o Diablo. Por outro lado, Jared Leto foi uma grande decepção como o novo Coringa. Não só ele tem pouca importância no filme (tire suas cenas, nada muda), como sua interpretação nos deixa com saudades do Heath Ledger… Ainda no elenco, Viola Davis, Cara Delevingne, Joel Kinnaman, Jai Courtney, Adewale Akinnuoye-Agbaje, David Harbour e Karen Fukuhara, além de uma ponta não creditada de Ben Affleck. A trilha sonora também é muito boa.

Talvez a DC devesse arriscar mais. No início do ano, Deadpool mostrou que um filme baseado em quadrinhos de super heróis pode ser violento. Com um pouco mais de violência, e usando de maneira correta o Coringa (como a Marvel fez com o Homem Aranha em Guerra Civil), talvez o resultado fosse melhor. Ah, claro, um bom roteirista também não deveria ser dispensado.

Crimes Ocultos

crimes ocultosCrítica – Crimes Ocultos

Na União Soviética pós Segunda Guerra Mundial, o policial Leo Demidov desobedece ordens superiores e investiga uma série de assassinatos de crianças.

Sabe quando um filme te atrai com um elenco legal, mas a história é tão mal conduzida que põe tudo a perder?

Dirigido por Daniel Espinosa (Protegendo o Inimigo), Crimes Ocultos (Child 44, no original) não chega a ser exatamente ruim. Mas a trama é mal construída, e os personagens, mal desenvolvidos. Ouvi um papo que o filme originalmente teria mais de cinco horas (!), e foi editado para ter “apenas” 137 minutos. Assim, várias sequências ficam sem sentido (como, por exemplo, as trocas de olhares entre os personagens de Joel Kinnaman e Noomi Rapace no início do filme), e alguns personagens são desperdiçados, como o General Nesterov de Gary Oldman. E, mesmo com os cortes, o resultado ficou cansativo.

Teve outra coisa que me incomodou, mas é um detalhe. O filme é falado em inglês. Mas como se passa na Rússia, todos os atores estão falando com sotaques. Não gostei, achei que ficou forçado. Na minha humilde opinião, ou fala em russo, ou esquece esse sotaque forçado…

Se algo se salva, é o elenco. O filme é confuso, mas é sempre legal ver gente como Tom Hardy, Gary Oldman, Noomi Rapace, Joel Kinnaman, Paddy Considine, Vincent Cassel, Jason Clarke e Charles Dance em ação.

Crimes Ocultos é baseado no livro Criança 44, de Tom Rob Smith, primeiro livro de uma trilogia com o personagem Leo Demidov. Ou seja, devemos ter outros dois filmes…

Robocop 2014

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Crítica – Robocop 2014

O Robocop do José Padilha!

Detroit, 2028. Alex Murphy, pai, marido e bom policial, é ferido gravemente num acidente. O conglomerado multinacional OmniCorp, que fabrica policiais robôs, vê a chance de criar um policial meio homem meio máquina.

Admito que tinha sentimentos dúbios antes de ver o novo Robocop. Por um lado, torço muito pela carreira internacional do José Padilha. O cara é bom, merece fazer sucesso e ter reconhecimento mundial. Por outro lado, o Robocop de 1987 é muito bom até hoje e não pedia uma refilmagem.

Bem, a comparação com o original é inevitável. Mas não vou me aprofundar na comparação, outro artigo do abacaxi vai focar nisso. Posso dizer que o filme de 2014 é muito bom, mas infelizmente perde na comparação com o original de 87. Se este é mais sério e mais político, aquele era mais cínico e mais sarcástico, e, principalmente, muito mais violento.

Não sei quem são os donos dos direitos do Robocop, não sei quem escolhe o diretor. Mas achei curioso pegarem dois diretores estrangeiros para as duas versões do filme. Em 1987, era Paul Verhoeven, que tinha uma boa carreira na sua Holanda natal, mas só uma co-produção americana, Conquista Sangrenta. Agora é a vez do “nosso” José Padilha, que conquistou reconhecimento internacional com os dois Tropa de Elite.

Em entrevista concedida aqui no Rio, Padilha falou que já tinha feito documentários produzidos nos EUA, e que por isso esta sua “estreia” não foi traumática como acontece com outros brasileiros em Hollywood. Padilha estava com tanta moral que convenceu o estúdio a levar o fotógrafo Lula Carvalho, o montador Daniel Rezende e o músico Pedro Bromfman, seus colaboradores habituais (os três estavam nos dois Tropa). Padilha declarou, brincando: “galera, é um filme brasileiro!”

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Joel KInnaman, José Padilha e Michael Keaton logo antes da coletiva, no Rio de Janeiro

Não sabemos o quanto o estúdio palpitou na parte criativa de Padilha – segundo o imdb, a cada dez ideias de Padilha, o estúdio recusava nove. Mas pelo menos o resultado final parece “um filme do mesmo diretor de Tropa de Elite“. O novo Robocop tem muito de Tropa de Elite – determinada cena quase que dá pra ver o Robocop gritando para um bandido “TU É MOLEQUE! PEDE PRA SAIR!”. E a cena onde o Robocop descobre quem são os policiais corruptos é a cara do Capitão Nascimento. Afinal, são dois policiais incorruptíveis vestindo preto…

(Me lembrei da cena final de Tropa 2, que mostra Brasília. Um Robocop solto no Congresso ia deixar o lugar vazio…)

O roteiro escrito por Joshua Zetumer foi inteligente em adaptar a história sem copiar cena a cena. Algumas soluções diferentes do outro filme ficaram bem legais. Mas em outros momentos o roteiro ficou mais fraco. Por exemplo, a trajetória do vilão Clarence J. Boddicker do original foi muito mais bem resolvida do que a do seu correspondente Antoine Vallon, da refilmagem.

Os efeitos especiais estão na dose certa. O próprio Robocop teve a cintura reduzida por CGI para parecer mais robô do que gente. E os robôs ED 209 e EM 208 (que parecem cylons!) também são bem “reais”.

A trilha sonora tem alguns momentos geniais. Pra começar, o tema do filme original, de Basil Poledouris, está presente em alguns momentos, como uma homenagem. Durante o primeiro teste do Robocop, colocam, só de provocação, If I Only Had A Heart, tema do Homem de Lata de O Mágico de Oz. E a improvável Hocus Pocus, do grupo progressivo holandês Focus, aparece em outro momento, sublinhando perfeitamente uma sequência de tiroteios.

No elenco, o papel principal ficou com o pouco conhecido Joel Kinnaman (da série The Killing), talvez por ser um nome mais barato para possíveis continuações. Já para os papeis secundários, temos vários nomes conhecidos, como Michael Keaton, Gary Oldman, Samuel L. Jackson e Jackie Earle Haley. Ainda no elenco, Abbie Cornish, Jennifer Ehle, Jay Baruchel e Marianne Jean-Baptiste. Pena, não vi nenhum ator brasileiro…

Enfim, esqueçam o original e pensem neste filme como um Tropa de Elite 3 – Capitão Nascimento versão robô!

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Heu e o Michael Keaton!