MaXXXine

Crítica – MaXXXine

Sinopse (imdb): Na década de 1980, em Hollywood, a estrela de cinema adulto e aspirante a atriz Maxine Minx recebe sua grande chance. Mas conforme um assassino persegue as estrelas de Hollywood, um rastro de sangue ameaça revelar o passado sinistro dela.

Estreou o aguardado terceiro filme da trilogia X!

Em 2022 Ti West lançou X, um bom slasher com cara de anos 70. Poucos meses depois, tivemos Pearl, um prequel, contando a história da velhinha do filme anterior. MaXXXine é o filme que segue a história de X. Ou seja, é bom ter visto Pearl, mas é essencial ter visto X.

Antes de tudo, preciso dizer que MaXXXine é um bom filme, mas achei o mais fraco dos três. Mas reconheço que parte dessa conclusão é head canon. Porque fui ao cinema esperando ver um terror slasher, e MaXXXine é mais um suspense tentando emular Brian de Palma do que um filme de terror – só vemos três mortes em tela! MaXXXine tem muito menos mortes, nudez e sexo do que X.

Mas, por outro lado, tiro o meu chapéu para Ti West com a sua concepção de trilogia. Em vez de fazer “mais do mesmo”, que é o que a maior parte do público esperava (não me lembro qual filme dizia que uma continuação de filme de terror apenas precisa se preocupar sem ter mais mortes e mais violência gráfica), Ti West criou três filmes distintos, com propostas diferentes. X parece um slasher filmado nos anos 70. Já Pearl tem outro ritmo e parece ter sido feito nos anos 40 ou 50 (peço desculpas, conheço pouco do cinema dessa época). MaXXXine parece um suspense policial filmado nos anos 80. Sim, é a mesma personagem do primeiro filme, mas são filmes completamente diferentes nas suas propostas.

(Lembrei de A Morte te Dá Parabéns, que tem uma continuação completamente diferente do primeiro filme.)

Nesse sentido de ambientação nos anos 80, palmas para Ti West. Tudo aqui emula os anos 80, não só os óbvios figurinos, penteados e trilha sonora. O filme realmente parece ter sido feito naquela época. Segundo o imdb, a produção procurou equipamentos e câmeras usadas nos anos 80, e evitaram “truques modernos” durante as filmagens.

MaXXXine é recheado de referências a outros filmes. Quando sair no streaming, devem pipocar alguns vídeos no youtube tipo “10 referências que você não reparou em MaXXXine!”. Algumas estão muito na cara, como o Kevin Bacon de terno claro e curativo no nariz, igual ao Jack Nicholson em Chinatown; ou citarem Marilyn Chambers, que era atriz pornô e fez um filme de terror em 1977, Rabid, dirigido por David Cronenberg. Outras são menos óbvias, teve uma que comentei com alguns amigos depois da sessão e ninguém tinha reparado. Tem uma cena em uma boate que lembra muito Dublê de Corpo, e está tocando uma música muito parecida com Relax, do Frankie Goes to Hollywood (música usada no Dublê de Corpo). Aguardei até os créditos e confirmei: é outra música do Frankie Goes to Hollywood. Ti West provavelmente usou a mesma banda pra fazer mais uma referência.

(Aliás, em alguns momentos vemos a tela dividida, justamente como Brian de Palma costumava fazer.)

O elenco tem muito mais star power do que os anteriores (X tinha a Jenna Ortega, mas antes do hype de Wandinha). MaXXXine conta com Elizabeth Debicki, Giancarlo Esposito, Kevin Bacon, Michelle Monaghan, Sophie Thatcher, Bobby Cannavale, Halsey e Lily Collins, além, claro da Mia Goth, que, mais uma vez, está muito bem no papel – logo no início, na audição para o papel, ela já mostra que é muito boa. Ah, não sei vocês, mas toda vez que o Kevin Bacon aparecia, heu achava que era o Ethan Hawke.

Sou poucas mortes, mas temos uma violência gráfica bem forte. Diria que tem uma cena em particular onde não morre ninguém que é a mais forte de todas, que é quando Maxine se defende de um agressor atacando suas partes íntimas. Essa cena vai dar o que falar!

Agora, vamos ao principal problema do filme. Quando X acaba, policiais encontram uma câmera no meio de vários cadáveres. MaXXXine se passa seis anos depois, a Maxine Minx hoje é uma estrela pornô. Mas ela estava nas filmagens encontradas, e todas as outras pessoas que aparecem nas filmagens morreram. Como é que não teve uma investigação policial sobre isso? Como é que conseguiram abafar um caso desse porte? MaXXXine dá a entender que existe alguém poderoso por trás, mas se essa pessoa é tão poderosa a ponto de apagar uma investigação policial envolvendo sete mortos, acho que o roteiro deveria ter deixado isso mais claro. Do jeito que ficou, parece que o que aconteceu no final de X foi algo pequeno e discreto.

Além disso, não gostei do final de MaXXXine. Achei toda aquela sequência mal construída, mas não entro em detalhes pra não dar spoilers.

Mas, mesmo achando MaXXXine um degrau abaixo dos outros dois, podemos dizer que Ti West fez uma boa trilogia. MaXXXine estreia semana que vem, dia 11 de julho, e merece ser visto no cinema.

Infinity Pool

Crítica – Infinity Pool

Sinopse (imdb): James e Em Foster estão desfrutando de umas férias na ilha fictícia de La Tolqa, quando um acidente fatal expõe a subcultura perversa do turismo hedonista, a violência imprudente e os horrores surreais do resort.

Já tinham me recomendado conhecer o trabalho do diretor Brandon Cronenberg, filho do David Cronenberg. Me falaram do filme Possessor, de 2020, mas outros filmes entraram na frente e acabei me esquecendo. Quando surgiu a oportunidade de ver Infinity Pool, não deixei pra depois!

O trabalho do Cronenberg filho traz semelhanças com o do pai – body horror, cenas graficamente fortes, com muita violência, nudez e sexo. Além disso, tem a parte “cabeça”, imagens viajantes que nem sempre têm explicação dentro da trama. Infinity Pool tem cenas fortes, tanto na parte da violência quanto na parte das perversões sexuais. Isso certamente vai afastar boa parte do público.

Falei aqui recentemente de Triângulo da Tristeza, que levanta questionamentos sobre convenções sociais. Infinity Pool traz alguma semelhança. Se em Triângulo da Tristeza vemos pessoas ricas que não aceitam seguir algumas regras, aqui em Infinity Pool a situação é um pouco mais grave: turistas ricos descobrem que podem cometer crimes e sair impunes. Explico: o país fictício onde a história se passa tem uma lei que diz que um estrangeiro pode pagar para criar um clone, e o clone será punido. Ou seja, o turista pode fazer o que quiser, porque quem vai enfrentar a justiça é o seu clone.

Claro que essa impunidade escala no comportamento dos personagens. E claro que isso gera inúmeras questões na cabeça do espectador.

Sobre o elenco, dois nomes precisam ser citados. Pena que as premiações têm preconceito contra o cinema fantástico. Depois de arrebentar em Pearl, aqui Mia Goth mostra mais uma vez que é uma das melhores atrizes em atividade. E depois de escolher alguns papéis ruins, parece que Alexander Skarsgård está se encontrando – ano passado ele mandou bem em O Homem do Norte, e aqui ele está ainda mais intenso. Também no elenco, Cleopatra Coleman, Jalil Lespert e Thomas Kretschmann.

Infinity Pool é um filme diferente, vai desagradar quem está atrás do terror montanha russa. Mas recomendo pra quem estiver atrás de um filme profundo e perturbador.

Pearl

Crítica – Pearl

Sinopse (imdb): Veja como Pearl se tornou a assassina feroz vista em “X”.

Poucos meses atrás tivemos X, bom slasher da A24, dirigido por Ti West. Na época já se falava sobre um prequel contando o passado da personagem Pearl. Olha lá, o filme já está pronto!

Pearl teve um caminho diferente da maior parte das continuações no cinema. Normalmente um filme é lançado, aí dependendo do sucesso, continuações são agendadas. Aqui não, Pearl foi filmado na mesma época que X. Como minha memória é ruim, gostei de ter um lançamento perto do outro (os dois filmes são de 2022).

Pelo que li, X foi filmado na Nova Zelândia, e a equipe ficou de quarentena por causa da pandemia. Assim como James Gunn aproveitou esse período de isolamento para escrever Peacemaker, Ti West e Mia Goth teriam aproveitado para escrever o roteiro de um prequel, para aproveitar equipe técnica e locações. Claro que lembrei de Roger Corman, que fazia essas economias para criar novos filmes vagabundos. Mas Pearl não tem cara de produção feita com “restos”, o resultado final ficou bom, parece um filme projetado do zero.

Mesmo diretor, mesma atriz, roteiro escrito por ambos. Mas são filmes diferentes. Pearl é bem mais lento, e a primeira morte demora bastante pra acontecer. Mas, se é lento como slasher, Pearl traz um excelente desenvolvimento de personagem. Poucas vezes na história do cinema a gente teve tanto foco na construção de um vilão.

Uma coisa curiosa: se X tem cara de filme feito nos anos 70, Pearl tem cara de produções dos anos 40/50 (inclusive nos créditos). E isso deixou o filme bem mais claro e colorido, coisa que não é muito comum em filmes de terror.

Achei a parte final muito boa. Mia Goth tem um longo monólogo que se não fosse o preconceito das premiações com terror provavelmente lhe indicaria a prêmios. E a cena final, o take final, quando começam a rolar os créditos mas a câmera continua gravando, é assustadoramente bonita.

Em breve teremos um terceiro filme, Maxxxine, mas ainda não sei nada sobre ele. Que Ti West e Mia Goth mantenham a qualidade!

X

Crítica – X

Sinopse (imdb): Em 1979, um grupo de jovens cineastas se propôs a fazer um filme adulto na zona rural do Texas, mas quando seus solitários e idosos anfitriões os pegam em flagrante, o elenco se vê lutando por suas vidas.

E vamos ao melhor filme de terror de todos os tempos da última semana!

X é a nova produção de terror da A24, o que faz a gente logo lembrar de filmes “terror cabeça” como A Bruxa e Midsommar. E a boa notícia é que pode ser curtido tanto pelo pessoal cabeça quanto pela galera que gosta de um terror montanha russa.

Você pode ver X como apenas mais um slasher. Um pessoal vai para um local isolado para filmar um pornô e mortes começam a acontecer. Mas… X tem camadas que serão apreciadas pelo espectador chegado ao filme cabeça – desde simbolismos conectando a protagonista à velha que morava na casa, até detalhes cinematográficos como uma cena onde uma personagem sai de uma casa, e na cena seguinte vai até o carro – mas as cenas foram editadas de forma entrecortada; ou uma cena de metalinguagem onde vemos um personagem oferecendo um suco a outro, dentro do filme ao mesmo tempo que dentro da “vida real”. Recomendo prestar atenção nos detalhes!

X é o novo filme escrito e dirigido por Ti West. Só vi um dos seus filmes, A Casa do Diabo, de 2009, e lembro que na época falavam bem do diretor. Mas aparentemente ele gosta mais de TV do que de cinema, seu último filme foi em 2016, de lá dirigiu episódios de nove séries diferentes… Sobre A Casa do Diabo, o curioso é que é um filme que parece ser feito nos anos 70, e o mesmo acontece aqui em X.

Ouvi comentários dizendo que X é muito gráfico, tanto na parte de violência quanto na parte de sexo. Não concordo. Na parte de violência, sim, mostra várias mortes e tem bastante gore, mas nada muito diferente do que a gente vê por aí em outras produções. Já na parte de sexo, achei que, para a proposta de mostrar bastidores do cinema pornô, até tem pouco. Tem nudez, tem sexo, mas nada muito explícito.

No elenco, não sei se é um spoiler, acredito que não, mas… Mia Goth faz dois papéis: a protagonista Maxine e a velha Pearl. Mia está bem, mas é um papel que não exige muito, apesar de ser um papel duplo. Também no elenco, Jenna Ortega, Brittany Snow, Kid Cudi, Martin Henderson, Owen Campbell e Stephen Ure.

Existem planos de um prequel, contando a história da Pearl – que parece que já foi filmado! Aguardemos.

X tem previsão de chegar aos cinemas no segundo semestre, o que me parece uma decisão burra. Hoje em dia existem meios alternativos de se procurar os filmes. Se o filme está sendo bem falado internacionalmente, por que esperar tanto para lançar? Quando chegar aqui, boa parte do público já terá assistido.

Suspiria (2018)

Crítica – Suspiria (2018)

Sinopse (imdb): Uma escuridão rodopia no centro de uma companhia de dança de renome mundial, que englobará a diretora artística, uma ambiciosa jovem bailarina e um psicoterapeuta de luto. Alguns vão sucumbir ao pesadelo. Outros finalmente vão acordar.

Depois do original, vamos à refilmagem. Dirigido por Luca Guadagnino (Me Chame Pelo Seu Nome), Suspiria (idem no original) tem uma característica que já o coloca à frente de outras refilmagens de clássicos: não quer copiar o original (como, por exemplo, o Psicose do Gus Van Sant). Se você tem um clássico incontestável na mão, o ideal seria não refilmar; mas se a refilmagem é inevitável, não copie o original, porque provavelmente você não fará um trabalho melhor.

Este Suspiria é diferente do anterior. Parece uma outra história contada a partir do mesmo argumento (dançarina americana vai estudar numa escola de dança na Alemanha dos anos 70 e descobre que é um covil de bruxas). Diferente, não ficou melhor, mas tem seus méritos.

A sequência final é boa, mas o destaque está bem antes, numa cena de ensaio de dança solo misturada com uma das mortes mais violentas já mostradas no cinema. Se o filme todo fosse na pegada desta cena, teríamos um novo clássico.

Mas o filme tem barrigas. São duas horas e trinta e dois minutos (o original tinha uma hora e trinta e oito!), não tem história para tudo isso, o filme cansa. E isso num filme de terror sem jump scares (outra coisa que vai afastar parte do público).

O elenco até funciona. Dakota Johnson não é uma grande atriz, mas serve para o que o filme pede. Chloë Grace Moretz está excelente, mas aparece pouco. Tilda Swinton dá um show, como sempre. Também no elenco, Mia Goth, Jessica Harper, Malgosia Bela e Angela Winkler.

A cena que citei vale o ingresso. Mas o filme original é melhor.

O Segredo de Marrowbone

MarrowboneCrítica – O Segredo de Marrowbone

Sinopse (imdb): Um jovem e seus três irmãos mais novos, que mantiveram em segredo a morte de sua amada mãe para permanecerem juntos, são atormentados por uma presença sinistra na enorme mansão em que vivem.

Terror espanhol é sempre bem-vindo aqui no heuvi!

O Segredo de Marrowbone (El secreto de Marrowbone, em espanhol; Marrowbone, em inglês) é a estreia na direção de Sergio G. Sánchez, roteirista de O Orfanato e O Impossível, ambos dirigidos por J.A. Bayona. Se por um lado pode ter gente reclamando da semelhança entre Marrowbone e O Orfanato, por outro lado Sánchez demonstra boa mão para construir cenas de tensão. E quem me conhece sabe que aceito ideias repetidas, desde que bem filmadas. Ou seja: gostei do filme!

O Segredo de Marrowbone mantém um bom clima tenso ao longo do filme. A história é cheia de mistérios revelados aos poucos. E vou falar que o plot twist me pegou desprevenido!

Outra coisa bem legal aqui é o elenco. Temos quatro novos nomes hollywoodianos conduzindo o filme: Anya Taylor-Joy (A Bruxa, Fragmentado), Mia Goth (A Cura, Ninfomaníaca), George MacKay (Capitão Fantástico) e Charlie Heaton (Stranger Things). Além deles, O Segredo de Marrowbone conta com Matthew Stagg, Nicola Harrison e Kyle Soller Kyle Soller. Sim, a produção é espanhola. mas o filme é falado em inglês.

O Segredo de Marrowbone não é um filme essencial, mas está bem acima da média.