Wonka

Crítica – Wonka

Sinopse (imdb): Um jovem Willy Wonka cheio de ideias está determinado a mudar o mundo a cada deliciosa mordida de seu chocolate, uma atrás da outra, provando que as melhores coisas da vida sempre começam com um sonho.

Hollywood gosta de se repetir, então um novo Fantástica Fábrica de Chocolates era algo até previsível.

Mas antes, um breve recap. O primeiro é de 1971, dirigido por Mel Stuart e eternizado por Gene Wilder no papel principal. A minha geração conhece bem, vi e revi diversas vezes – e, curiosamente, quando era criança não reparava na psicopatia do Willy Wonka, hoje vejo como o personagem era bem desequilibrado. Em 2005 veio a refilmagem / releitura do Tim Burton, estrelada por Johnny Depp, que trazia outra abordagem para o Willy Wonka, diferente, mas também desequilibrado.

Dirigido por Paul King, Wonka (idem, no original) não é uma refilmagem. É uma história que se passa antes, conhecemos o Willy Wonka ainda jovem, ele ainda não tem a fábrica. Isso é uma boa notícia, porque enfraquece a inevitável comparação que o filme de 2005 sofreu. Podemos comparar os Willys, mas não os filmes. Além disso, não precisa (re)ver os filmes antigos.

Wonka tem seus problemas, mas é um bom “filme família para o fim de ano”. Famílias podem tranquilamente ir ao cinema, é um filme alegre e colorido, vai agradar a maioria.

Nos últimos anos a gente se acostumou com histórias mais “pé no chão”. Wonka é o oposto desta tendência: é uma história mágica, de fantasia, não dá pra entrar no cinema querendo ver coisas reais. E todo o visual do filme ajudam nesse clima lúdico: cenários, props, figurinos…

É um filme musical, o que sei que vai repelir parte do público. Mas, caramba, os outros também tinham números musicais! Tenho dois comentários sobre essa parte musical. O primeiro é que não tem nenhuma musica marcante, lembro de outros musicais recentes como La La Land, O Rei do Show ou Tick Tick Boom, onde terminei o filme empolgado com as músicas, e aqui não tem nenhuma causando este efeito (a não ser as músicas “velhas”).

O outro comentário é justamente sobre essas músicas velhas. Lembro que fiquei frustrado com a versão de 2005 quando não teve a clássica música do Oompa Loompa. Aqui tem, e também tem a igualmente clássica Pure Imagination. As músicas compostas para o filme não empolgam, mas essas duas trazem um “quentinho no coração”.

Outro problema é sobre o tema central do filme: chocolate. Os chocolates criados pelo Willy Wonka não parecem chocolates, parecem aqueles doces de açúcar colorido que enfeitam mesas de festas – e não parecem ser gostosos. Ou seja, o espectador não vai sair do cinema com vontade de comer chocolate.

Sobre o elenco: Timothée Chalamet é um bom ator, tem star power, vai trazer público, mas, head canon meu, queria ver um Willy Wonka mais psicopata. Ele é muito bonzinho, e até agora só tivemos Wonkas desequilibrados. Por outro lado, adorei o Oompa Loompa do Hugh Grant, ele ficou perfeito como o pequenininho mal humorado (apesar de saber que ele deu entrevistas falando mal do papel). Também queria citar, dentre os personagens secundários, a dupla Olivia Colman e Matt Lucas, que estão ótimos e têm uma química muito boa. Também no elenco, Sally Hawkins, Paterson Joseph, Keegan-Michael Key e Rowan Atkinson.

Apesar dos problemas, acho que Wonka vai agradar.

Top 6 pontos ruins de Invasão Secreta

Top 6 pontos ruins de Invasão Secreta

Sinopse (imdb): Nick Fury e Talos estão tentando deter os Skrulls que se infiltraram nas esferas mais altas do universo Marvel.

Quando estreou Invasão Secreta, nova série da Marvel na Disney+, pensei em esperar acabar a série e fazer um texto comentando toda a temporada. Mas, o resultado final foi tão decepcionante que mudei de ideia e vou fazer um top 6 de momentos ruins da série.

Escolhi 6 momentos ruins. Podia ser mais, mas a decepção de Invasão Secreta me lembrou a decepção que tive com Obi Wan, e fiz um post com As 6 tosqueiras mais toscas de Obi Wan Kenobi. Então mantive o número 6. E acho que foi uma boa escolha, Invasão Secreta tem mais coisas ruins, mas deu preguiça de rever a série só pra aumentar a lista.

Antes de entrar na lista, uma crítica e um elogio. A crítica é que tudo é arrastado demais, dava tranquilamente pra se cortar as gorduras e fazer um filme de longa metragem em vez de uma série de seis episódios. Conheço várias pessoas fãs do MCU, e quase todos “se esqueciam” de ver os novos episódios a cada semana – diferente de outras séries onde todos corriam logo pra ver.

Agora, nem tudo é ruim. Olivia Colman está ótima, e sua personagem Sonya Falsworth foi a melhor coisa da série. Ela aparece pouco, mas todas as vezes são cenas boas. Uma boa personagem que espero que continue no MCU.

Vamos à lista? Claro, spoilers liberados a partir de agora!

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

– Não acho ruim quando matam um personagem se isso causar um grande impacto na trama e nos personagens. Aquela morte significou algo! Um exemplo dentro do MCU foi a morte da Viúva Negra, que foi um evento bem trabalhado dentro do filme e que causou um enorme impacto em todo o MCU. Agora, quando matam a Maria Hill e o Talos e isso não causa nenhum impacto, aí é ruim. Principalmente a Maria Hill – se o Gravik queria uma imagem do Fury atirando na Maria Hill, causaria o mesmo impacto se o tiro atingisse algo grave e ela precisasse ir para o hospital. Ok, entendo que nem a Maria Hill nem o Talos são personagens muito importantes, a gente nunca veria um filme solo de nenhum deles, mas, mesmo assim, acho que foi desrespeito com o fã.

– A gente descobre que quando um skrull é ferido, aparece a pele real verde dele. Isso acontece algumas vezes ao longo da série. Pra que todo aquele “mexican standoff” entre o Fury e o Rhodes na frente do presidente? Não era só atirar na mão ou na perna do Rhodes?

– A Emilia Clarke é ruim. Existem atores que têm talento, outros têm carisma, e outros têm talento e carisma. Emilia Clarke não tem nenhum dos dois. Acho que está na hora de Hollywwod repensar a carreira dela. Talvez ela funcione melhor como coadjuvante.
(Pra piorar, no fim dá a entender que ela vai trabalhar com a Olivia Colman, que tem talento e carisma. Essa dupla não vai funcionar!)

– Admito que gostei da batalha final, quando usam poderes de vários heróis misturados. Mas, tem uma coisa que ficou estranha: eles aprenderam a dominar os poderes muito rapidamente. Em um filme com o modelo clássico de “filme de origem de super herói”, sempre tem uma parte do filme que é o personagem aprendendo a usar seus novos poderes. Aqui não, os dois já conseguem dominar tudo, automaticamente.

– O local da batalha final era radioativo. Como é que eles guardavam prisioneiros humanos lá?

– Nick Fury foi o cara que organizou a Iniciativa Vingadores. Ele conhecia todos os heróis. Se nenhum herói aparece na série, isso precisa ser verbalizado, senão é um furo de roteiro. Ok, verbalizaram. Existe a pergunta “por que você não chama os seus amigos?”. O problema é a resposta “porque é algo pessoal”. O mundo está à beira da terceira guerra mundial e essa foi a melhor desculpa que os roteiristas pensaram?

Gato de Botas 2: O Último Pedido

Crítica – Gato de Botas 2: O Último Pedido

Sinopse (imdb): O Gato de Botas descobre que sua paixão pela aventura cobrou seu preço: ele esgotou oito de suas nove vidas. O Gato de Botas embarca em uma jornada épica para encontrar o mítico Último Desejo e recuperar suas nove vidas.

Lembro de quando a Dreamworks começou. A Disney reinava sozinha nos longas de animação, então surgiram a Pixar e a Dreamworks, e por um tempo eram as três no topo, com algumas poucas exceções. Mas com o passar do tempo, a Dreamworks investiu em várias continuações e spin offs, e, pelo menos pra mim, perdeu parte da graça (tirando Toy Story, a Pixar demorou bastante pra entrar no mundo das continuações).

E finalmente, 11 anos depois do primeiro filme, chegamos a Gato de Botas 2, que é uma continuação de um spin off de Shrek. Mas… Não é que o filme é bom?

Podemos citar dois méritos de Gato de Botas 2: O Último Pedido. O primeiro é meio previsível: uma boa história, com bons personagens. Nem me lembro se vi o primeiro filme do Gato de Botas, só me lembrava do personagem pelos grandes olhos na cara de pidão. Mas pelo menos neste novo filme, é um personagem muito bom: ele é um guerreiro, um espadachim, canta, toca violão, e depois de tudo isso vai beber leite como um gatinho normal.

E não é só ele, mas temos vários bons coadjuvantes. O time formado pela Cachinhos Dourados e os três ursos é genial, e o Perrito é um coadjuvante sensacional. E, de quebra, ainda tem vários easter eggs de contos de fada – coisa que sempre aconteceu na franquia Shrek.

O outro ponto a ser citado é a qualidade da animação. Hoje, em 2023, quando a gente vê um grande lançamento vindo de um grande estúdio, a qualidade da imagem é meio que obrigação. Ver imagens perfeitas não é mais do que obrigação. Não gostei de Os Caras Malvados, mas não gostei por causa da história e dos personagens, não tenho queixas à qualidade da animação.

Mas… Gato de Botas 2 vai um pouco além. Se chegamos a um ponto onde não tem como a animação ser mais perfeita, como fazer para se diferenciar? As cenas de ação aqui trazem um traço diferente, uma textura diferente. Procurei pela Internet elementos técnicos pra trazer aqui, mas não achei nada que explique muito o que foi feito. O que descobri é que depois do sucesso do Homem Aranha no Aranhaverso – que trazia texturas diferentes – outras animações estão pegando este caminho. E aqui a gente vê, nas cenas de ação, que o filme muda o estilo e essas cenas ficam muito mais agradáveis de se ver do que as mesmas cenas de sempre, repetindo o mesmo estilo de sempre.

Longa de animação muitas vezes é exibido dublado em português. Por sorte vi o original em inglês. O lobo é dublado pelo Wagner Moura! Gostei de vê-lo (ouvi-lo?) com uma voz diferente do que estamos acostumados! Outro detalhe que não sei se conseguiram traduzir: os capangas do vilão são os “baker dozen”, que poderia ser traduzido como “uma dúzia de padeiros”, mas na verdade é uma expressão em inglês que significa treze (catei no Google, parece que quando você comprava uma dúzia de pãezinhos e ganhava um extra de cortesia).

Já que falei do Wagner Moura, vamos ao resto do elenco. O gato é dublado pelo Antonio Banderas, e o filme ainda conta com Salma Hayek, Florence Pugh, Olivia Colman, Ray Winstone, Samson Kayo e Harvey Guillén.

Gato de Botas 2 funcionou tão bem que está concorrendo ao Oscar de melhor longa de animação. Claro que acho que não tem chances, porque o Pinóquio do Del Toro é uma coisa de outro mundo. Mas, ser considerado pela Academia um dos cinco melhores desenhos do ano já é uma coisa boa para um filme que a principio seria apenas uma continuação de um spin off.

Império da Luz

Crítica – Império da Luz

Sinopse (filmeB): Uma história poderosa e comovente sobre a conexão humana e a magia do cinema, situada em uma cidade litorânea inglesa no início dos anos 80.

Comentei no texto sobre Amsterdam, às vezes a gente vê filmes em sessões de imprensa que acontecem muito antes da estreia. Nesses casos, fico na dúvida se vale a pena lançar a crítica logo e ser um dos primeiros, ou se é melhor aguardar o lançamento, porque provavelmente vai ter mais gente falando sobre o filme. Vi Império da Luz umas duas semanas atrás, e até agora não ouvi NINGUÉM comentando, não vi nenhum vídeo no youtube, na página do imdb só tem uma crítica. Fui ver no filme B, a previsão de estreia é em 23 de fevereiro de 2023! Claro que não tem ninguém falando sobre o filme!

Enfim, vou falar logo, porque prefiro fazer uma crítica com o filme recente na memória. Não quero esperar meses. Vamos lá?

Império da Luz foi o filme escolhido para abrir o Festival do Rio deste ano. Quem viu na ocasião viu, quem não viu agora só ano que vem. E aproveito pra citar o Festival do Rio, que em outros anos sempre teve um grande espaço aqui no heuvi, mas este ano recusaram a minha credencial, então decidi ignorar o festival. Quem sabe ano que vem?

Minha expectativa por Império da Luz era por ser o novo filme dirigido por Sam Mendes, o primeiro depois do sensacional 1917 – que foi o melhor filme de 2020 aqui no heuvi! Mas, pena, Império da Luz não é tão bom quanto 1917.

Império da Luz fala de vários temas importantes, como racismo, pessoas com desequilíbrio emocional e abuso sexual no trabalho. Mas, senti uma falta de foco, o filme aborda vários temas e não se aprofunda em nenhum. Um bom exemplo é o racismo. O filme tem uma cena forte usando skinheads racistas, mas depois o filme deixa esse plot pra lá.

Por outro lado, é um filme muito bonito. Império da Luz abre com belíssimas imagens de um saguão de cinema nos anos 80. Não li em lugar nenhum isso, mas arriscaria dizer que é uma parte autobiográfica do diretor e roteirista Sam Mendes, que nasceu em 1965 e tinha 15 anos na época em que o filme se passa. Mas a sequência mais bonita é uma onde a personagem principal vê um filme, sozinha no cinema. Ok, vários clichês, como a personagem de frente emocionada com a luz do projetor ao fundo, mas uma cena inegavelmente bela e emocionante. Essa sequência tem cara de clipe pra passar no Oscar…

Sim, Oscar. A decisão de lançar o filme em fevereiro do ano que vem deve ser porque este filme deve ganhar algumas indicações, como melhor filme, melhor diretor, melhor fotografia para Roger Deakins (que já tem dois Oscars, por 1917 e Blade Runner 2049), e melhor atriz para Olivia Colman, que está ótima (ela ganhou por A Favorita e foi indicada por Meu Pai e A Filha Perdida).

Mas, apesar dos pontos positivos, Império da Luz termina com ar de decepção. Bonito, mas vazio.

A Favorita

Crítica – A Favorita

Sinopse (imdb): No início do século XVIII na Inglaterra, uma frágil rainha Anne ocupa o trono e sua amiga mais próxima, Lady Sarah, governa o país em seu lugar. Quando chega uma nova serva, Abigail, seu charme a leva a Sarah.

Estranhei quando vi o nome do diretor Yorgos Lanthimos aqui. Lembro de quando vi O Lagosta no Festival do Rio, gostei do estilo esquisitão do diretor e fiquei de catar outros filmes dele, como Dente Canino ou O Sacrifício do Cervo Sagrado (filme que já me foi recomendado mais de uma vez). Ok, ainda não vi os outros, mas aproveitei para conferir este A Favorita, badalado na atual temporada de prêmios (está concorrendo a dez Oscars).

Olhando de longe, A Favorita (The Favourite, no original) parece ser mais próximo de um Ligações Perigosas ou um Valmont, dramas de época com tramas cheias de intrigas. Sim, é um drama de época com trama cheia de intrigas. Mas… olhando de perto, também é esquisitão – como gosta o diretor.

Duas coisas chamam a atenção logo de cara. Primeiro, o cuidado com a produção. Os figurinos são exuberantes, e os cenários, grandiosos. Quase toda a luz usada é natural (luz do dia para externas, lareiras e velas para internas), o que deu um charme todo especial à fotografia do filme.

A outra coisa que chama a atenção são as lentes usadas. Temos várias cenas com lente grande angular, em algumas, os cantos da tela chegam a ficar arredondados (aquele efeito “olho de peixe”). Se isso já parece estranho com a câmera parada, quando temos uma câmera rodando dentro do cenário, o desconforto é ainda maior.

O trio principal de atrizes é excelente. Olivia Colman, Emma Stone e Rachel Weisz estão ótimas, é até difícil destacar qual está melhor – tanto que as três estão indicadas ao Oscar. Também no elenco, Nicholas Hoult, James Smith e Mark Gattis.

É. Gostei de O Lagosta e de A Favorita. Preciso ver O Sacrifício do Cervo Sagrado assim que possível…