A Sociedade da Neve

Crítica – A Sociedade da Neve

Sinopse (Festival do Rio): Em 1972, o voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, caiu no coração da Cordilheira dos Andes. Apenas 29 dos seus 45 passageiros sobreviveram ao acidente. Presos num dos ambientes mais hostis e inacessíveis do planeta, eles precisam recorrer a medidas extremas para permanecerem vivos. Adaptação do livro “A Sociedade da Neve”, de Pablo Vierci.

Ué, acho que já vi esse filme. Não é aquele Vivos, de 1993, com o Ethan Hawke?

Bem, 30 anos se passaram, cabe uma nova versão da mesma história. E a boa notícia é que esta nova versão é melhor que aquela!

Vivos é um bom filme, mas é muito “sessão da tarde”, tudo é muito “limpinho”. Depois da sessão de A Sociedade da Neve (La Sociedad de la Nieve, no original) fui rever uns trechos do filme de 93. Um exemplo simples e sem spoilers: depois de 70 dias isolados da civilização, os personagens ainda estão “bonitinhos”. Além disso, esse aqui ainda tem uma característica importante: é falado em espanhol. Ora, se todos os personagens são uruguaios, eles têm que falar espanhol e não inglês!

Dirigido por J.A. Bayona (O Orfanato, O Impossível), A Sociedade da Neve é mais “pé no chão”. As cenas violentas são mais duras, mais reais – nesse aspecto lembra O Impossível. O acidente de avião aqui é sensacional. Não me lembro de um acidente de avião melhor filmado do que este. (Não é spoiler falar do acidente de avião, né? Afinal, o filme existe por causa do acidente!)

O acidente não é o único momento tenso do filme. Não vou entrar em spoilers, mas alguns outros momentos também geraram desconforto na sala do cinema. Também preciso falar da maquiagem, tanto pela parte dos ferimentos quanto pela falta de higiene, a gente vê aos poucos a degradação daqueles caras isolados na neve.

Outro trunfo de A Sociedade da Neve é a construção dos personagens e as relações entre eles, que precisam encarar dilemas morais e éticos em busca da sobrevivência. Não tem nenhum ator conhecido, mas todos convencem. A gente sente o companheirismo daquele grupo.

Alguns comentários sobre a história real. A primeira coisa que a gente pensa é “por que diabos os caras não tentaram descer a montanha?” Sou carioca, a geografia aqui é mais simples: “desça a montanha, procure um rio, siga o curso do rio até encontrar uma cidade”. Mas, a cordilheira dos Andes não é apenas uma montanha. Lembro que em 1991 fui pra Santiago, no Chile, e lembro que o avião passa precisa de vários minutos pra atravessar a cordilheira.

Mesmo assim, penso que se heu estivesse lá, não esperaria tanto tempo pra tentar sair a pé. A cada dia que passava, eles estavam mais fracos. O ideal seria tentar andar o quanto antes. Lembro que quando heu tinha meus 12 ou 13 anos, meu avô tinha um sítio perto da divisa entre RJ e MG, e tinha um morro perto, e heu sempre tinha curiosidade de saber o que tinha atrás do morro. Um dia peguei uma garrafa de água na geladeira, coloquei numa mochila, e subi o morro – só pra descobrir que depois tinham outros morros iguais. Ok, sei que um morrinho no meio do “mar de morros” não é nada perto da cordilheira dos Andes, mas, penso que, se heu estivesse lá, tentaria sair.

Ontem falei de Pobres Criaturas, que é um filme que ainda vai demorar pra estrear. Como A Sociedade da Neve tem o nome “Netflix” no cartaz, achei que já ia estrear. Mas fui no site da Netflix, só em 4 de janeiro…. Mas, fica a recomendação: vejam quando tiverem oportunidade!

Atiraram no Pianista

Critica – Atiraram no Pianista

Sinopse (Festival do Rio): Um jornalista musical de Nova York embarca em uma missão para desvendar a verdade por trás do desaparecimento do jovem pianista prodígio Tenório Jr. Uma história comemorativa sobre a origem do icônico movimento musical da Bossa Nova, Atiraram no Pianista captura um tempo fugaz repleto de liberdade criativa em um ponto de virada da história latino-americana nas décadas de 60 e 70, pouco antes do continente ser engolido por regimes totalitários.

E vai começar o Festival do Rio 2023! Heu acompanho o Festival do Rio desde sempre, desde antes de chamar Festival do Rio, desde a época que era Mostra Banco Nacional (antes disso era o Festrio, mas esse só peguei uma edição). É uma época que gosto muito porque tem muitos filmes diferentes e heu gosto de ver filmes diferentes. Então é pra gente ficar de olho na programação e escolher alguns filmes no risco – já vi muitos filmes muito legais no Festival que depois nunca mais teria oportunidade de ver; mas também já vi muito filme ruim – faz parte da proposta.

Nos últimos anos, minha relação com o Festival do Rio não foi boa por vários motivos que não interessam no momento, então vi pouca coisa. Mas parece que esse ano vou conseguir ver alguns filmes. Então vamos começar hoje falando de Atiraram no Pianista (They Shot the Piano Player, título internacional), filme de abertura do Festival do Rio, que é uma animação espanhola, dirigida por Fernando Trueba e Javier Mariscal (Chico & Rita), com as vozes principais de Jeff Goldblum e Tony Ramos, e que conta a história de um pianista de bossa nova.

O filme traz um jornalista americano (voz do Jeff Goldblum) que está pesquisando sobre música brasileira, sobre o início da bossa nova e o samba jazz. Ao ouvir um solo de piano, ele resolve procurar quem é o músico, e descobre que o pianista é o Tenório Jr, um cara que sumiu. Ele então vem para o Rio de Janeiro para pesquisar sobre o pianista, e acaba descobrindo que ele foi uma provável vítima da ditadura argentina.

Antes de tudo, é bom avisar que, tecnicamente falando, a qualidade da animação não é lá grandes coisas. O objetivo aqui não é ter uma animação realista. Então quem for ao cinema esperando alguma coisa tipo os Pixar, Disney e Dreamworks da vida, ou quem for ao cinema esperando alguma animação revolucionária, como o Aranhaverso ou Tartarugas Ninja, vai se decepcionar. A animação aqui é bem simples.

Por outro lado, o filme traz depoimentos de vários ícones da música brasileira, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Toquinho, João Gilberto, etc (além de pessoas ligadas ao Tenório Jr) – tem até um depoimento do Vinicius de Moraes, retirado de um documentário. E é curioso porque a voz original da pessoa está lá, mas a pessoa é desenhada, o filme continua sendo desenho animado. Ou seja, é um desenho animado que mistura uma história fictícia com um documentário.

Heu sou músico e heu sou chato, então eu vou fazer uma reclamação, mas que sei que não é nada importante, sei que é uma bobagem. Tem um momento do filme que o jornalista acha uma partitura que seria uma música do Tenório Jr, e ele leva a um pianista cubano pra ele tocar. O problema é que dá pra ver claramente que nessa partitura não tem nenhuma melodia, só tem os acordes. O pianista não conseguiria tocar a melodia composta pelo Tenório Jr, só conseguiria tocar a sequência de acordes que ele escreveu. Mas ok, eu aceito, porque isso não é uma animação realista. Quando você vê o cara tocando piano, não é um piano de verdade, não é que nem Soul, onde você via as teclas e os dedos do cara. Não, Atiraram no Pianista não quer ser realista. Mas, sou chato e preciso falar que aquela folha que ele entregou pro pianista cubano, não, ele não conseguiria ler a melodia com aquilo.

Por outro lado, é um filme gringo, mas que respeita a geografia do Rio de Janeiro. Provavelmente filmaram ou fotografaram as paisagens e desenharam os cenários baseados nesses registros. Por exemplo, o Beco das Garrafas que aparece no filme é exatamente igual ao Beco das Garrafas da vida real. Gosto disso, quando um filme estrangeiro faz a pesquisa da maneira correta.

Além disso, a parte musical é muito bem feita. Reconheço que não sou um grande apreciador de bossa nova e samba jazz, mas reconheço a qualidade das músicas. E a seleção musical é muito boa.

Atiraram no Pianista ainda aproveita para denunciar barbaridades que aconteceram nas ditaduras sul americanas entre nos anos 60 e 70. Temos depoimentos de pessoas que até hoje não tiveram uma conclusão para um familiar desaparecido na época. Curioso um filme estrangeiro vir cutucar essa nossa ferida.

Atiraram no Pianista tem previsão de estrear no circuito no fim do mês.

A Primeira Comunhão

Crítica – A Primeira Comunhão

Sinopse (imdb): Sara tenta se encaixar com os outros adolescentes na pequena cidade na província de /. Eles saem uma noite para uma boate, a caminho de casa se deparam com uma menina segurando uma boneca, vestida para sua primeira comunhão.

Bora pra outro terror espanhol?

Comentei no texto sobre 13 Exorcismos que curto o cinema fantástico espanhol, que nos trouxe alguns filmes muito bons nas últimas décadas. Dirigido por Víctor Garcia, este A Primeira Comunhão (La niña de la comunión, no original) não entra nessa lista de “muito bons”, mas pelo menos não faz feio como alguns recentes títulos de terror lançados nos cinemas.

O filme se passa nos fim dos anos 80 (não me lembro se isso é dito no filme, peguei a informação no imdb). A ambientação de época é boa, e isso faz diferença no filme (porque se as pessoas tivessem celulares e internet como hoje em dia, não sei se a história funcionaria).

A Primeira Comunhão é cheio de jump scares. Mas, por outro lado, falha na criação da tensão. Um filme de terror precisa causar medo e tensão no espectador, e isso não acontece aqui.

Gostei de uma coisa, que foi o modo como A Primeira Comunhão mostrou o ponto de vista das pessoas atacadas pela entidade – elas ficam paralisadas no “mundo real”, mas dentro de suas cabeças são levadas a um local assustador. Ok, provavelmente isso já foi feito em outros filmes (não me lembro), mas, ideia nova ou não, funcionou aqui.

Por outro lado, algumas coisas do filme ficaram mal desenvolvidas, como por exemplo o padre, que dá a entender que ele já sabia há anos sobre o que estava acontecendo. Mas o padre sai do filme e não volta para concluir seu arco.

O elenco é ok. Carla Campra e Aina Quiñones funcionam bem como as amigas que enfrentam um mal desconhecido.

No finzinho tem um plot twist desnecessário, que me pareceu ser uma porta aberta para continuações, coisa comum no cinema de terror.

No fim, fica um gosto de filme genérico. Não é um grande filme, mas vai agradar os menos exigentes.

O Corpo (2012)

Crítica – O Corpo (2012)

Sinopse (imdb): Um detetive está procurando o corpo de uma mulher que desapareceu de um necrotério.

Uma vez uma amiga me recomendou o filme Um Contratempo, um suspense espanhol de 2016 onde somos apresentados a um complexo quebra cabeça e no fim temos uma solução que completa todas as peças soltas. Claro que guardei o nome do diretor, Oriol Paulo.

Catei outros dois filmes do diretor, Durante a Tormenta, de 2018, e O Corpo, de 2012. Durante a Tormenta é bom, mas tem um lance de viagem no tempo que achei mal construído. O filme é legal, recomendo, mas não é tão bom quanto Um Contratempo. Já O Corpo (El Cuerpo, no original) segue o mesmo formato: um quebra cabeça cheio de peças soltas, confundindo a o entendimento do espectador, até um final bombástico onde tudo é explicado.

O corpo de Mayka, uma mulher rica e poderosa, some do necrotério, e a polícia está interrogando o viúvo. Enquanto isso, vemos flashbacks que mostram a personalidade excêntrica de Mayka. E vemos várias possíveis versões para o que aconteceu: ela poderia não ter morrido, ou o corpo pode ter sido roubado para evitar uma autópsia – o filme não descarta nem uma possibilidade sobrenatural. E o bom do roteiro escrito pelo próprio Oriol Paulo (em parceria com Lara Sendim) é que todas as pontas soltas são explicadas num momento final tipo “vilão de James Bond”.

O elenco é bom, as locações são boas, e o modo como Oriol Paulo conduz sua história deixam o espectador tenso até o fim do filme. Ok, achei algumas coisas forçadas. Mas, pelo final proposto, até dava pra fazer daquele jeito. Ia ser difícil, claro, mas, como falei no texto sobre Desaparecida, isso é ficção, não é um documentário!

No elenco, o único nome que heu conhecia era Belén Rueda, de O Orfanato e Os Olhos de Julia (que tinha Oriol Paulo como roteirista), que faz a Mayka e consegue confundir ainda mais a cabeça do espectador. Também no elenco, Jose Coronado, Hugo Silva e Aura Garrido.

Um belo suspense espanhol, pena que é pouco conhecido.

13 Exorcismos

Crítica – 13 Exorcismos

Sinopse (imdb): Após o estranho comportamento exibido pela adolescente Laura Villegas, sua família chama um exorcista sancionado pelo Vaticano para intervir no caso de possessão demoníaca. A partir daí, uma série de fenômenos estranhos aparecerá.

Confesso que estava com um pé atrás, traumatizado com os recentes A Profecia do Mal e Oferenda ao Demônio. Mas aí vi que era um filme espanhol. Ei, isso ajuda, gosto de terror espanhol, tem muita coisa boa vinda do cinema fantástico de lá, tipo A Espinha do Diabo, do Guillermo del Toro, ou REC, do Jaume Balagueró e do Paco Plaza, ou Abre Los Ojos, do Alejandro Almenábar, ou O Dia da Besta, do Álex de la Iglesia, ou Los Cronocrimenes, do Nacho Vigalondo, ou O Orfanato, do Juan Antonio Bayona… A lista é enorme!

E, realmente, 13 Exorcismos (idem no original) não é tão ruim quanto os dois supracitados. Não é um filme “obrigatório”, mas é um terror ok. Dificilmente o espectador comum vai sair desapontado do cinema.

13 Exorcismos é o longa de estreia do diretor Jacobo Martínez. E, por ser um filme espanhol, foge um pouco dos clichês hollywoodianos – por exemplo, tem uma cena com gore, mas é só uma cena. E, boa notícia: alguns dos jump scares não são muito óbvios.

13 Exorcismos tem algumas saídas criativas. Gostei muito de uma sacada de quando o padre exorcista está no hospital. Por outro lado, algumas tramas ficam pelo meio do caminho e não são concluídas – que fim levou o garoto atacado no banheiro?

Teve outra coisa que me incomodou um pouco. A família é muito religiosa, e passou por alguns traumas com os filhos (um filho morreu, outro é cadeirante, a outra teve anorexia). Católicos, eles acreditam que Deus está os castigando por alguma coisa do seu passado. E por outro lado tem a personagem da psicóloga da escola, que traz o ponto de vista ateu. Na minha humilde opinião, essa dualidade entre a religião e a ciência podia ser melhor explorada, porque parte do filme ignora um dos lados e fica só com o outro.

Ah, achei escura a cópia exibida na sessão de imprensa. Não sei se foi alguma falha técnica ou se foi proposital.

Queria falar mal do nome do filme. Não só o nome brasileiro, mas também o nome original (que é o mesmo). O plot de exorcismo só acontece na segunda metade do filme. Mas, por causa do nome, o espectador entra no cinema já pensando em exorcismos. Fiquei pensando, não seria legal se a gente não soubesse de nada antes?

No elenco, heu não conhecia nenhum nome. Gostei da protagonista María Romanillos. Cristina Castaño, que faz a professora de religião, é um bom personagem, mas foi deixada de lado.

No fim, fica aquela sensação de que poderia ter sido melhor, mas pelo menos foi uma diversão honesta.

As Aventuras de Tadeo e a Tábua de Esmeralda

Crítica – As Aventuras de Tadeo e a Tábua de Esmeralda

Sinopse (imdb): Tadeo acidentalmente desencadeia um antigo feitiço pondo em perigo a vida de seus amigos: Mumia, Jeff e Belzoni.

Minha banda tinha um show pra fazer num shopping. Queria levar meus filhos. Pensei “vamos aproveitar pra ver um filme no cinema antes”. Fui catar um filme infantil, e escolhemos este As Aventuras de Tadeo e a Tábua de Esmeralda. O problema é que o filme é tão bobinho que acho que posso passar para uma nova fase da paternidade. Vou falar primeiro sobre o filme, depois uma breve reflexão sobre amadurecimento dos filhos.

(Claro, terá spoilers leves na segunda parte do texto.)

Entrei na sala de cinema sem saber quase nada sobre o filme. Só sabia que era uma produção espanhola. Só fui saber que era o terceiro filme de uma franquia depois que tinha terminado o filme (é o terceiro longa, e ainda tem dois curtas e uma série de tv, segundo o imdb). Mas, já desconfiava disso, porque o personagem da Múmia, do jeito que aparece no filme, tinha que vir de algo previamente conhecido. Personagem bem ruim, aliás, mas já chego lá.

Tecnicamente, As Aventuras de Tadeo é um bom filme. A animação é boa colorida, divertida e tem algumas boas piadas – tem até uma citação a Indiana Jones! O que enfraquece é o roteiro. Vou fazer duas críticas ao roteiro. A primeira é que algumas coisas não fazem muito sentido, tipo a Múmia. A primeira vez que a gente a vê, ela tem que ficar fechada em casa, escondida de todos, porque afinal, é uma múmia viva. Mas, ao longo do filme esquecem disso e o personagem está normalmente à vista de todos. E isso porque não estou falando dos clichês – As Aventuras de Tadeo não tem nada de surpresa.

Mas o que mais me incomodou foi o final do filme, onde todos são bonzinhos demais. O grupo dos três arqueólogos é um grupo rival – podem se respeitar, mas nada levou àquele clima de parceria. E vou além: a “vilã” precisava enfrentar as as consequências dos seus atos.

E aí mudo o assunto do texto. Spoilers leves a partir de agora.

Desde o início do heuvi sempre falei de filmes infantis porque quando comecei, lá em 2008, minha filha estava com 7 anos. E em 2009 nasceu um novo filho, e mais um em 2011. A mais velha já é adulta, 21 anos, mas os outros ainda são novos, 13 e 11 anos.

Só que essa fase já acabou. Meu filho de 13 fazia comentários “adultos” ao meu lado no cinema. Tipo quando vemos pela primeira vez uma personagem ao telefone, com um close na boca e uma música diferente, e meu filho falou “e acabamos de conhecer a vilã!” Ou, num momento onde um personagem se separa do grupo dos protagonistas, e volta num momento chave onde eles precisavam de ajuda, e meu filho comentou “e o filme nunca vai explicar como esse personagem achou o grupo que estava longe!” E fiquei feliz quando ele reclamou do momento “piada de pum” que tem no meio do filme!

Quando o filme acabou – principalmente depois daquele final bobinho – pensei “é, é hora de entrar numa nova faixa etária da ‘paternidade cinematográfica’…”

O Segredo de Marrowbone

MarrowboneCrítica – O Segredo de Marrowbone

Sinopse (imdb): Um jovem e seus três irmãos mais novos, que mantiveram em segredo a morte de sua amada mãe para permanecerem juntos, são atormentados por uma presença sinistra na enorme mansão em que vivem.

Terror espanhol é sempre bem-vindo aqui no heuvi!

O Segredo de Marrowbone (El secreto de Marrowbone, em espanhol; Marrowbone, em inglês) é a estreia na direção de Sergio G. Sánchez, roteirista de O Orfanato e O Impossível, ambos dirigidos por J.A. Bayona. Se por um lado pode ter gente reclamando da semelhança entre Marrowbone e O Orfanato, por outro lado Sánchez demonstra boa mão para construir cenas de tensão. E quem me conhece sabe que aceito ideias repetidas, desde que bem filmadas. Ou seja: gostei do filme!

O Segredo de Marrowbone mantém um bom clima tenso ao longo do filme. A história é cheia de mistérios revelados aos poucos. E vou falar que o plot twist me pegou desprevenido!

Outra coisa bem legal aqui é o elenco. Temos quatro novos nomes hollywoodianos conduzindo o filme: Anya Taylor-Joy (A Bruxa, Fragmentado), Mia Goth (A Cura, Ninfomaníaca), George MacKay (Capitão Fantástico) e Charlie Heaton (Stranger Things). Além deles, O Segredo de Marrowbone conta com Matthew Stagg, Nicola Harrison e Kyle Soller Kyle Soller. Sim, a produção é espanhola. mas o filme é falado em inglês.

O Segredo de Marrowbone não é um filme essencial, mas está bem acima da média.

Verónica

VeronicaCrítica – Verónica

Sinopse (imdb): Madri, 1991. Uma menina adolescente encontra-se cercada por uma força sobrenatural maligna depois de ter jogado Ouija com duas colegas de classe.

Filme novo do Paco Plaza!

Plaza sempre terá meu respeito e admiração, mas com um pé atrás. Explico. Pra quem não reconheceu o nome, Plaza co-dirigiu REC, ao lado de Jaume Balagueró. O primeiro REC é um filmaço, mas suas continuações são bem mais fracas. E o piorzinho dos quatro é o terceiro – justamente o que teve Plaza sozinho na direção. E agora, será que ele acertou?

Bem, Verónica não é um REC, mas pelo menos é bem melhor que o REC 3

Hoje em dia estamos acostumados com terror “padrão Blumhouse”. Europeu, Verónica tem outra pegada. Temos um terror sério, com pouco cgi e poucos jumpscares, não tem o jeitão “trem fantasma de parque de diversões” que rola em Hollywood.

Verónica diz que se baseia em fatos reais, que teriam acontecido em Madri nos anos 90. Se é verdade ou não, não tem como saber… Mas no fim do filme aparecem umas fotos, supostamente do caso real. Fake ou não, ficou legal.

O elenco é bom. É o primeiro (e até agora único) filme da protagonista Sandra Escacena. Gostei das crianças, o garoto Iván Chavero é muito carismático. Também no elenco, Ana Torrent e Consuelo Trujillo. E Leticia Dolera faz uma ponta como uma das freiras professoras.

Como disse lá em cima, Verónica não é um REC. Mas mesmo assim é melhor que muito terror americano.

Preso na Escuridão / Abre los Ojos (1997)

Abre-Los-OjosCrítica – Abre Los Ojos (1997)

Um jovem rico e bonito encontra o amor da sua vida, mas sofre um acidente que deixa o seu rosto desfigurado.

Antes do podcast “O que você entendeu destes filmes?”, revi Vanilla Sky, e em seguida revi Abre Los Ojos. Mas como aquele é a refilmagem deste, vou falar primeiro do original.

(Mal) lançado no Brasil com título Preso na Escuridão (vi no SBT, ainda na época do VHS!), Abre Los Ojos traz uma impressionante e bem construída trama, meio suspense, meio drama, meio ficção científica, daquelas que o espectador precisa prestar atenção para sacar todas as nuances.

Além de dirigir, Alejandro Almenábar (que tem feito pouca coisa, de 2002 pra cá só dirigiu dois longas, Mar Adentro e Alexandria) também escreveu o roteiro (em parceria com Mateo Gil), que é a melhor coisa do filme. Abre Los Ojos não é um filme fácil, mas o espectador inteligente vai se deliciar com a trama não linear onde nem tudo é o que parece.

Nos papeis principais, Eduardo Noriega (A Espinha do Diabo, Agnosia) e Penélope Cruz (que estava na refilmagem). Ainda no elenco, Najwa Nimri, Chete Lera e Fele Martinez.

Abre Los Ojos foi refilmado quatro anos depois. Diz a lenda que Tom Cruise viu o filme com o seu amigo Cameron Crowe, e Cruise então chamou Almenábar e propôs a refilmagem, e em contrapartida ele “emprestaria” sua então esposa Nicole Kidman para a sua estreia hollywoodiana” (Os Outros). Curiosamente, Penélope Cruz veio no “pacote”, e reencenou o mesmo papel – e depois tomou o posto de Nicole no coração de Cruise… Amanhã falo da refilmagem!

p.s.: Normalmente procuro no google imagens das versões brasileiras dos filmes. Mas não achei deste filme, então peguei a americana, igual à do dvd gringo que tenho.

Perseguição Virtual / Open Windows

perseguição virtualCrítica – Perseguição Virtual / Open Windows

Direção de Nacho Vigalondo, estrelado por Elijah Wood e Sasha Gray. Precisa de mais algum motivo?

Um blogueiro, obcecado por uma atriz, se vê num mortal jogo de gato e rato quando aceita a oportunidade de espioná-la através do seu laptop.

A narrativa de Perseguição Visual (Open Windows no original) é muito interessante: todo o filme (ou pelo menos quase todo) se passa como se alguém estivesse filmando a tela de um computador, onde várias janelas estão abertas (daí o nome em inglês, “janelas abertas”. A câmera pula de uma janela para outra, sem nenhum corte aparente, usando diferentes texturas de imagens e criando um novo tipo de plano sequência. Detalhe: o filme todo se passa em tempo real.

O diretor Nacho Vigalondo já tinha chamado a minha atenção com Los Cronocrimenes. Quando vi VHS Viral, onde o único segmento que presta é “Paralel Monsters”, o que ele dirigiu, pensei “vou ver o que mais esse cara fez”. E achei este Perseguição Virtual, do mesmo ano de 2014.

(Curiosidade: quando estive em Montenegro, conheci Fernando Gomez Gonzalez, um diretor espanhol, e falei para ele que gostava de vários conterrâneos seus. Quando mencionei Nacho Vigalondo, Fernando falou o nome de um filme em espanhol, mas não anotei e acabei me esquecendo. Só lembrei quando encontrei o filme com o nome em inglês…)

Perseguição Virtual começa muito bem. A primeira parte é eletrizante, enquanto o blogueiro ainda está no hotel. Pena que ritmo cai um pouco quando ele vai pro carro, e mais pena ainda depois, porque o filme se perde no final.

Na minha humilde opinião, temos dois problemas aqui, um no roteiro, outro na história. Pelo roteiro, o fim é confuso demais – a trama fluía bem, sem precisar de tantas reviravoltas mirabolantes. Já pela história, implico com um detalhe: se o hacker era tão bom assim, ele não precisaria da ajuda de um blogueiro.

No elenco, temos outros atores, mas os únicos que merecem ser citados são Elijah Wood e Sasha Grey. Ambos estão bem e funcionam dentro do esperado. Aliás, não sei se foi coincidência, mas Wood esteve em um papel parecido, dirigido por outro espanhol, Eugenio Mira, em Toque de Mestre: um personagem vigiado e ameaçado por um outro misterioso. E Wood deve gostar do cinema espanhol, ele também fez The Oxford Crimes, do Álex de la Iglesia.

Mesmo com o final confuso, o saldo é positivo. Chequei no imdb, Vigalondo fez uma comédia / ficção científica em 2011, Extraterrestrial. Acho que vou catar esse filme…