Ghostbusters: Apocalipse de Gelo

Crítica – Ghostbusters: Apocalipse de Gelo

Sinopse (imdb): Quando a descoberta de um artefato antigo libera uma força do mal, os Caça-Fantasmas originais e os novos precisam unir forças para proteger Nova York e salvar o mundo de uma segunda Era do Gelo.

Tivemos dois Caça Fantasmas nos anos 80, um muito bom em 1984, e uma continuação bem mais fraca em 1989. Em 2016 fizeram um reboot completamente isolado dos outros dois filmes, e que não agradou muito. Aí lançaram um “requel” em 2021, que é um reboot, com personagens novos, mas com elementos dos filmes da década de 80. Claro que teria continuação, né?

Mas, na minha humilde opinião, o pior problema de Ghostbusters: Apocalipse de Gelo (Ghostbusters: Frozen Empire, no original) é que este novo filme, na dúvida entre usar o elenco novo ou usar a galera dos filmes originais, resolveu usar todos ao mesmo tempo. E ainda traz personagens novos. Aí tem MUITA gente em tela, e o filme definitivamente não consegue equilibrar bem toda essa galera.

Um exemplo simples: Dan Aykroyd tem um papel importante, seu personagem tem uma função na trama. Ernie Hudson tem uma importância secundária, o personagem dele é o dono da parada, ele tem uma função, ainda que pequena. Agora, Bill Murray e Annie Potts não têm nenhuma importância na trama. Zero. Tire esses dois personagens e o filme não muda absolutamente nada. “Ah, mas e legal ver o Bill Murray de novo com o uniforme dos Caça-fantasmas!” Concordo, é legal. Mas não adianta trazer o cara e ele ser apenas “mais um”. Aqui ele tem a mesma importância de um figurante.

O mesmo posso dizer sobre “a nova geração”. Paul Rudd começa o filme parecendo que vai ser o protagonista, mas seu personagem some na metade do filme. E parece que a única função do Finn Wolfhard é interagir com o Geleia. E isso porque não estou falando do “segundo escalão”, de personagens inúteis como Lucky e Podcast!

Ghostbusters: Apocalipse de Gelo repete o trio de roteiristas de 2021: Ivan Reitman, Jason Reitman e Gil Kenan. Em 2021 a direção foi de Jason Reitman, agora é Gil Kenan que assume a cadeira. Falecido ano passado, Ivan Reitman (diretor dos dois filmes da década de 80), é homenageado nos créditos.

Tecnicamente, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo é bem feito – o mínimo, já que estamos falando de uma superprodução blockbuster. O filme de estreia do diretor Gil Kenan foi a boa animação A Casa Monstro, e tem um trechinho aqui em animação bem legal, contando a história do monstro. E tem algumas piadas muito boas, ri alto no cd player com Spin Doctors. E, mais uma vez, os pequenos bonecos de marshmellow Stay Puft são as melhores piadas do filme. Pena que aparecem pouco!

Por outro lado, tudo demora muito pra se desenvolver. Quase nada acontece na primeira hora do filme. E o tal monstro só aparece na cena final, é um vilão muito pouco aproveitado. E a cena da cidade congelando, que está no trailer, é bem legal, mas é muito curta.

Tem outro problema, mas como vou comentar o destino de alguns personagens, preciso colocar um aviso de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Tem uma cena na biblioteca onde eles explicam como o monstro age: ele congela o sangue, bla bla bla, mata a pessoa de frio. Um tempo depois, o monstro está solto, ataca a Phoebe, que é salva pela Lucky, que solta um raio em cima do monstro. O monstro então congela a Lucky. Mas, ela não morre! Pra que serve uma cena explicando o modus operandi do monstro, se quando ele entra em ação aquilo não vale nada?

Na verdade, na cena final, todos deveriam morrer, menos a Phoebe e o “Mestre do Fogo”. O resto estaria morto antes do monstro ser derrotado.

FIM DOS SPOILERS!

No elenco, além dos já citados Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Bill Murray, Annie Potts, Paul Rudd e Finn Wolfhard, temos Mckenna Grace, Carrie Coon, Kumail Nanjiani, Patton Oswalt, Celeste O’Connor, Logan Kim, Emily Alyn Lind e James Acaste. Muita gente…

Ghostbusters: Apocalipse de Gelo não chega a ser ruim, mas é bem mais fraco que o anterior.

Evidências do Amor

Crítica – Evidências do Amor

Sinopse (imdb): Marco e Laura se conhecem em um karaokê e cantam juntos “Evidências”. Desde então, eles se apaixonam e formam um casal que parecia perfeito, até o destino ter outros planos.

Uma comédia nacional, baseada numa música sertaneja / brega, estrelada pela Sandy. E sim, é um dos melhores filmes que vi no cinema nas últimas semanas!

Vamos por partes. Primeiro queria falar da minha relação com a música Evidências. Vi na wikipedia que a música é de 1990, e fez muito sucesso em 90 e 91. Estranho, nessa época heu estava entrando na UFRJ, heu frequentava várias festas universitárias, heu deveria conhecer a música. Mas, não. Não tenhi nenhuma recordação de ter ouvido. Até que, já na década de 2010, minha banda Perdidos na Selva ia tocar num casamento, e os noivos pediram Evidências. Achei estranho, um show de rock nacional alguém pedir Chitãozinho e Xororó, mas achei que o casal poderia ter alguma história com a música. Fui estudar, a música é boa, tem acorde sus, diminuto, quinta aumentada, é uma música gostosa de tocar. No show, o salão inteiro perdeu a linha na hora da música. Fiquei impressionado, “como assim todos conhecem essa música que heu nunca tinha ouvido falar?”. É, heu estava realmente por fora.

Anos depois, entrei pra banda de karaokê da Érika Martins, o Chuveiro in Concert. E posso afirmar: temos um repertório com 70 músicas, e a única música que toquei em TODOS os shows é Evidências. E sempre a galera perde a linha. Não sei qual é o feitiço que existe nessa música, mas é real. Evidências altera o comportamento das pessoas!

Agora vamos ao filme. Mas, antes, queria repetir um parágrafo que escrevi no texto sobre O Sequestro do Voo 375, que se encaixa perfeitamente aqui: “o cinema nacional é composto, basicamente, de dois tipos de filme: a comédia besta com cara de Globo Filmes, e o filme hermético feito para passar em festivais. E heu não falo mal de nenhum dos dois tipos de filme. Porque a comédia é besta, mas muita gente curte e muita gente vai ao cinema por causa disso, e heu sempre defendi um filme que leva público para o cinema. Por outro lado, o filme hermético leva o cinema nacional para festivais importantes como Cannes e Veneza. Defendo que existam esses tipos de filme. O que não defendo é que quase todos os filmes lançados no circuito sejam desses dois tipos. Heu acho que a gente deveria ter vários estilos de filmes, como ação, terror, suspense, ficção científica, aventura…”

Sim, Evidências do Amor é comédia. Mas não é “comédia de bordão”, não tem cara de Globo Filmes. Parece mais uma cópia das comédias românticas hollywoodianas. Sim, não é original, mas é diferente do “de sempre”. Então, acho que podemos classificá-lo como “filme de gênero”.

A proposta lembra Eduardo e Mônica, outra comédia romântica brasileira baseada em uma música muito popular. Ambos são muito muito bons, mas são filmes com propostas bem diferentes, Eduardo e Mônica se baseia mais na letra da música, Evidências do Amor usa a música apenas como pano de fundo.

Dirigido por Pedro Antônio (que já dirigiu outras comédias que heu, por preconceito, escolhi não ver), Evidências do Amor traz uma história engraçada e emocionante sobre um casal que se conheceu cantando Evidências num karaokê, mas se separaram às vésperas do casamento. Um ano depois, toda vez que ele ouve a música, ele tem um apagão e é levado para uma lembrança ruim do relacionamento.

A edição é muito boa. Heu vi no relógio: a introdução do filme tem 11 minutos, e nesses 11 minutos conta um resumo de toda a história do casal, desde o momento que se conheceram até a traumática separação, e ainda tem várias versões da música Evidências ao fundo. E aproveito pra elogiar a edição musical: são muitas versões da música, e todas soam bem no filme!

O elenco está bem. Fabio Porchat é um cara muito engraçado, às vezes ele exagera um pouco, mas aqui os exageros dele cabem no personagem. Já a Sandy não é engraçada, e às vezes me parecia que o casal não tinha muita química, não sei o quanto disso é porque a gente tem uma certa dificuldade em separá-la do seu passado – não tem como vê-la em tela e não lembrar de “Sandy & Jr”. Mesmo assim, funciona pro que o filme pede. No elenco secundário, preciso citar a Evelyn Castro, que protagoniza algumas cenas hilárias ao lado do Fábio Porchat (apesar de até agora heu não ter entendido muito bem a amizade dela com o personagem do Fábio, se ela é a zeladora do prédio, se é a síndica, se é a dona, sei lá).

Evidências do Amor não é um grande filme, não vai ganhar prêmios. Mas, na minha humilde opinião, é o que o cinema nacional precisa: filme de gênero de qualidade. Porque, assim como aconteceu ano passado com O Sequestro do Voo 375, o espectador que entrar num multiplex no fim de semana para ver o filme, vai sair feliz e satisfeito com o que viu. Viva o cinema nacional de gênero!

O Problema dos 3 Corpos

3 Problemas em O Problema dos 3 Corpos

Sinopse (imdb): Uma fatídica decisão tomada na China dos anos 60 ecoa através do espaço e do tempo até um grupo de cientistas no presente, forçando-os a enfrentar a maior ameaça à humanidade.

Tá todo mundo falando dessa nova série da Netflix. Heu ia retomar Magnatas do Crime, mas resolvi antes encarar O Problema dos 3 Corpos, nova série criada por David Benioff e D.B. Weiss, criadores de um tal Game Of Thrones. Coincidência ou não, outra série que começou bem, mas não segurou a qualidade até o fim.

O Problema dos 3 Corpos é a adaptação do livro homônimo escrito por Liu Cixin, que já tinha ganhado uma adaptação de 30 episódios pela TV chinesa. Não li o livro, não vi a série chinesa, meus comentários serão apenas sobre a série da Netflix.

É complicado falar dos problemas de O Problema dos 3 Corpos sem entrar em spoilers, então vou dividir o texto em duas partes. Primeiro falo da série de um modo geral, depois entro em detalhes, com spoilers.

A série começa muito bem. Em uma linha temporal acompanhamos uma história que se passa na China dos anos 60, enquanto em outra linha vemos um grupo de jovens cientistas lidando com mistérios que estão acontecendo no mundo. Não sabemos se estamos em uma realidade paralela, se existe algo sobrenatural, ou alguma outra coisa, mas definitivamente “algo errado não está certo”.

Ao mesmo tempo somos apresentados a uma espécie de videogame de realidade virtual onde o jogador precisa salvar uma população de um planeta que orbita três sóis, e por isso tem uma órbita caótica. E tudo flui bem até a sequência no Canal do Panamá, uma sequência muito boa, voltarei a ela na parte com spoilers.

O problema é que isso acontece no quinto episódio, e a série tem oito episódios. A partir daí, são dois problemas. Um deles é que focam tempo demais num plot chato sobre a doença de um dos personagens, e é um plot arrastaaado… Ok, a gente já entendeu, podemos seguir com a história? Parece que não, porque continua arrastaaado… E pra piorar, na parte final inventam um plano que não faz o menor sentido em várias camadas diferentes.

Na minha humilde opinião, a série podia seguir caminhos muito mais interessantes do que os escolhidos. Por exemplo: o roteiro mostra um grupo que é uma mistura de seita religiosa fanática com adoradores de alienígenas, mas esse plot, que poderia render muita coisa, é apenas pincelado. Pensa só: se acontece algo misterioso que todo o planeta vê, muita gente ia mudar de comportamento na mesma hora!

Vamos à parte com spoilers?

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Antes de entrar nos problemas, preciso fazer um elogio à cena do Canal do Panamá. Eles usam fios super fortes criados por uma nanofibra, e fatiam o navio, e tudo o que está dentro dele. A cena é sensacional, se você não quiser ver a série, vale catar essa sequência!

Vamulá. Tem uma coisa que me incomodou, mas não sou cientista, talvez tenha lógica, peço desculpas se o que vou falar é bobagem. Mas, o planeta dos aliens está orbitando em volta de três sóis, e por isso, acontece de vez em quando da população ser dizimada. E em um determinado momento da série os aliens falam que o desenvolvimento deles é mais evoluído que o nosso, mas esse desenvolvimento é mais lento, e que em 400 anos a tecnologia humana seria mais evoluída que a deles. Péra, como um planeta onde a população é dizimada de tempos em tempos consegue se evoluir tanto assim? Uma coisa que eles não têm é tempo!

Mas, não sou cientista. Talvez isso seja possível. Mesmo assim, achei que faltou uma linha de diálogo comentando isso.

Outra coisa estranha, mas não necessariamente uma falha, é a personagem Tatiana. A princípio é uma humana normal, mas ela parece que tem o super poder de se materializar onde ela quer. Pode ter explicação dentro do plano dos aliens? Pode. Faltou o roteiro desenvolver essa explicação.

Mais uma: depois do Canal do Panamá, aparece algo que cobre todo o planeta, o “olho do céu”. E no episódio seguinte, parece que isso nem aconteceu. Na boa, a sociedade ia mudar de vez depois daquilo. Várias pessoas iriam se dividir em grupos, ia ter a galera contra os aliens, a galera a favor dos aliens, a galera que ia dizer “tanto faz, já estarei morto quando chegarem”. O ponto é: o mundo não seria o mesmo.

Vamos aos problemas?

  • A sequência do Canal do Panamá é sensacional, mas tem uma falha grave. Eles falam que precisam abordar o navio de forma rápida, para não dar tempo de apagarem o HD. Mas, se o navio está sendo fatiado, como garantir que o HD não será fatiado também?
  • O alienígena que conversa com o líder da “seita” descobre que humanos mentem e, na mesma hora, cancela todo e qualquer contato. Vem cá, esse alien está em contato há anos, talvez décadas. Só agora descobriu que humanos mentem? Sério que essa é uma espécie mais inteligente? Vou além: o que aquela IA dentro do jogo faz, quando está testando as pessoas, não é uma espécie de mentira?
  • O plano final não faz o menor sentido. Eles vão mandar um cérebro, congelado, que vai se encontrar com o comboio dos alienígenas daqui a 198 anos (ou 398, não lembro). 1- Como o cérebro vai saber o momento de se descongelar? 2- Mesmo que se descongele, como o cérebro vai interagir com os aliens? 3- Se conseguir interagir, como vai mandar informações de volta pra Terra?

FIM DOS SPOILERS!

A série, claro, não tem fim. Gancho pra próxima continuação. Que espero que seja mais parecida com a primeira metade do que com a parte final.

Stop Making Sense

Crítica – Stop Making Sense

Sinopse (imdb): Considerado pela crítica como o maior filme-concerto de todos os tempos, a performance foi gravada ao longo de três noites no Pantages Theatre de Hollywood, em dezembro de 1983, e apresenta as canções mais memoráveis do Talking Heads.

Um amigo me convidou pra uma sessão especial de Stop Making Sense, versão remasterizada, comemorando 40 anos do lançamento, no Estação Botafogo. Já tinha visto, mas achei que seria um bom programa. Vou comentar o filme, depois comento a sessão.

Antes de começar o filme, temos um recado do próprio David Byrne comentando essa nova versão. Detalhe: ele gravou o recado para o público brasileiro!

A direção é de Jonathan Demme, que fez uns filmes simpáticos nos anos 80 (De Caso com a Máfia, Totalmente Selvagem) e em 1991 conseguiu um feito poucas vezes visto no cinema: dirigiu um filme que ganhou os cinco principais Oscar (filme, diretor, roteiro, ator e atriz): O Silêncio dos Inocentes.

Mas não vejo muito do estilo do diretor aqui. Stop Making Sense é o registro do show do Talking Heads, e a genialidade aqui está na concepção do show. Demme apenas teve que posicionar suas câmeras e registrar o que acontecia no palco.

O show começa com um palco vazio. Apenas um microfone num pedestal. David Byrne entra no palco, sozinho com um violão, e toca e canta uma música. Depois a baixista Tina Weymouth entra no palco e tocam a segunda música. Perto do fim, uma bateria é colocada no palco e a terceira música já tem Chris Frantz na bateria. Jerry Harrison, o outro guitarrista, entra na quarta música. Depois entram um percussionista e duas backing vocal. Depois um tecladista e um outro guitarrista. Depois que já temos nove músicos no palco, começam a colocar painéis e iluminação. Ao fim do show, o palco está completo.

Mesmo com toda essa movimentação, o show flui perfeitamente. E a gente ainda tem que se lembrar que era início dos anos 80, quase tudo no palco tem que ser cabeado (tem um momento que quase que uma das backing vocals tropeça no cabo do baixo da Tina Weymouth).

Jonathan Demme filmou 3 noites seguidas do show. As câmeras foram bem posicionadas, porque vemos vários closes e vários takes abertos, e não reparei em nenhum câmera! Segundo o imdb, em cada noite ele posicionava os câmeras em posições estratégicas, assim nenhum “vazava”,

Ah, Demme queria filmar alguns takes extras em estúdio, simulando o palco do teatro, mas a banda se recusou, dizendo que a resposta do público era algo essencial para a energia do palco. E que energia! David Byrne não pára em nenhum momento do show! O cara canta, toca, dança, pula, corre, é impressionante!

Pros mais novos que devem estar se perguntando “mas afinal o que é esse tal de Talking Heads?”, tem pelo menos duas coisas que acho que estão fortes na cultura pop até hoje. Uma é a música Psycho KIller, que não foi feita para o filme, mas é a música que abre o show. A outra é o terno gigante usado pelo David Byrne no fim do show, que é citado de vez em quando por aí (como no filme O Homem dos Sonhos, com Nicolas Cage).

Sobre a sessão no Estação: quando me convidaram, achei, ok, vamos lá, já vi o filme, tenho dvd, mas pode ser um programa diferente ver na tela grande. E para minha surpresa, uma boa notícia: o Estação estava lotado! Nenhuma poltrona vazia! Impressionante, um filme velho, que todo mundo já viu, numa quarta à noite, com lotação esgotada! Algumas pessoas se empolgaram e levantaram das suas cadeiras para dançar. E ao fim do filme, na última música, várias pessoas foram dançar debaixo da tela. O cinema vive!

Magnatas do Crime (2019)

Crítica – Magnatas do Crime (2019)

Sinopse (google): Um talentoso estadunidense graduado em Oxford, usando suas habilidades únicas, audácia e propensão à violência, cria um império da maconha usando as propriedades dos aristocratas ingleses empobrecidos. No entanto, quando ele tenta vender seu negócio a um colega bilionário, uma cadeia de eventos se desenrola, envolvendo chantagem, decepção, caos e assassinato entre bandidos de rua, oligarcas russos, gângsteres e jornalistas.

Definitivamente a pandemia bagunçou com a vida da gente. Outro dia abri a Netflix e vi uma série do Guy Ritchie, “Magnatas do Crime / The Gentlemen”. Ué, o Guy Ritchie não tinha feito um filme com esse exato nome? Pra piorar, no meio de 2020 tive uns problemas pessoais, e passei um tempo sem postar aqui no heuvi. De 2008 até agora, foi a única época que deixei de fazer os meus textos. E Magnatas do Crime veio nessa época. Ou seja, não teve crítica aqui. Teve apenas um parágrafo, no top 10 de 2020:

Gostei de ter visto Guy Ritchie de volta ao submundo do crime cool e moderninho (os dois últimos dele foram Aladdin e Rei Arthur). Violência estilizada, personagens exóticos, bons diálogos, boa edição. Além de ter um elenco ótimo, Matthew McConaughey, Hugh Grant, Charlie Hunnam, Colin Farrell, Jeremy Strong, etc

Sinceramente, lembrava muito pouco do filme. Comecei a ver a série, e me lembrei de alguns detalhes, então, depois de ver o primeiro episódio, decidi que era melhor rever o filme antes de continuar a série.

Vamos ao filme então? Repetindo o que escrevi ali em cima: Magnatas do Crime (The Gentleman, no original) traz Guy Ritchie de volta ao submundo do crime cool. Magnatas do Crime lembra muito o estilo dos seus dois primeiros filmes: Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch, filmes com tramas rocambolescas, vários personagens esquisitos, trilha sonora moderninha e edição ágil. Por causa desses dois primeiros filmes Ritchie foi comparado com Tarantino, e aqui volta ao”estilo tarantinesco”.

A história dá um monte de voltas, é daquele tipo que apresenta um quebra cabeças com vários personagens e várias situações peculiares, e tudo se junta de maneira satisfatória no fim. E Ritchie consegue fazer um bom equilíbrio entre o humor e a violência (outra semelhança com Tarantino).

A comparação com Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch, é inevitável, mas este Magnatas do Crime tem uma diferença: tudo aqui parece mais estiloso. Todos estão muito bem vestidos, tudo é muito elegante. Continuamos com personagens criminosos, mas aqui todos são muito mais elegantes. Inclusive, segundo o imdb, Guy Ritchie levou Charlie Hunnam para comprar roupas para o seu personagem.

O elenco está muito bem. Na minha humilde opinião, o maior destaque é Hugh Grant, malandro que quer dar a volta em todos, e que é justamente o narrador da história – ele passa boa parte do filme contando sua versão dos fatos para o personagem do Charlie Hunnam, e, detalhe importante, nem sempre sua versão é o que realmente aconteceu (o filme faz piada com isso). Outro destaque é Colin Farrell, com um sotaque tão forte que fica difícil de entender o que ele fala. Também no elenco, Matthew McConaughey, Jeremy Strong, Michelle Dockery, Eddie Marsan e Henry Golding.

(Uma curiosidade sobre o elenco. Sting, o cantor, estava em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes. Sua filha, Eliot Sumner, é Laura, a drogada resgatada pela equipe do Charlie Hunnam.)

Por fim, tem dois “momentos jabá” do próprio diretor. No inicio do filme, o chope servido para o Matthew McConaughey é da “Gritchie Brewery”, cervejaria do diretor. E no fim do filme, quando Hugh Grant está no escritório de um produtor de cinema, vemos o cartaz de O Agente da UNCLE.

Agora, a pergunta que muita gente está se fazendo: qual é a conexão entre o filme e a série? Bem, só vi um episódio, mas, já consigo responder isso. O protagonista aqui, interpretado pelo Matthew McConaughey, tem plantações subterrâneas de maconha espalhadas pela Inglaterra. No filme, conhecemos uma dessas plantações; no primeiro episódio da série, conhecemos outra. Só não sei se terá outra conexão entre filme e série,porque ainda não vi o resto.

Filme revisto, agora vou encarar a série e volto aqui depois pra comentar!

Kung Fu Panda 4

Critica – Kung Fu Panda 4

Sinopse (imdb): Após ser escolhido para se tornar o Líder Espiritual do Vale da Paz, Po precisa encontrar e treinar um novo Dragão Guerreiro, enquanto uma feiticeira perversa busca trazer todos os vilões-mestres já derrotados por Po do reino espiritual.

Heu não ia ver este quarto filme do Kung Fu Panda. Pra ser sincero, não me lembro do primeiro, e, pior, nem me lembro se vi o segundo e o terceiro. E, como comentei aqui num post ano passado, agora que meus filhos estão um pouco mais velho, tenho visto menos filmes infantis. Mas aí lembrei de Gato de Botas 2, que foi uma bela surpresa, e resolvi ir à sessão. Mas, vou fazer meus comentários aqui como um espectador leigo: não trarei nada de head canon relativo aos outros filmes!

O panda Po precisa treinar seu sucessor. Ele escolhe uma ladra e os dois saem “em grandes aventuras”. Claro, tem uma nova e perigosa vilã, mas não achei nada demais, não tem nada de memorável nela. (Li críticas sobre a história não usar os “Cinco Furiosos”, que estavam nos outros filmes. Como falei, me lembro pouco dos outros filmes, então isso não me incomodou.)

Se Gato de Botas 2 trouxe uma textura diferenciada nas imagens (influência de Aranhaverso), aqui a animação não traz muitas novidades técnicas. Algumas cenas de ação ficam com a tela dividida, o que traz um bom efeito visual, e tem uma luta num “contra luz”, onde vemos apenas as silhuetas. Ok, tecnicamente bem feito, mas alguns degraus abaixo dos outros dois filmes citados neste parágrafo.

Claro, o filme é engraçado – as vozes originais são de Jack Black e Awkwafina, ninguém vai esperar algo diferente da comédia. Mas preciso dizer que o que achei mais engraçado foram aqueles coelhinhos “do mal”. Não tem como não lembrar de Monty Python!

Sobre a trilha sonora, preciso dizer que gostei muito de uma versão instrumental de Crazy Train, do Ozzy Osbourne, num daqueles “momento videoclipe”. Se a sequência é clichê, pelo menos criaram uma nova versão da música. O resto da trilha é apenas competente.

Parece que Kung Fu Panda decepcionou os fãs da franquia. Mas, se você for ao cinema apenas atrás de uma hora e meia de uma animação divertida, pode até curtir.

Alice no País das Trevas

Crítica – Alice no País das Trevas

Sinopse (imdb): Uma adolescente recentemente enlutada vai morar com a avó em uma casa isolada na floresta, sem saber que forças sinistras se escondem lá dentro.

Quando me ofereceram a oportunidade de assistir e produzir conteúdo sobre Alice no País das Trevas (Alice in Terrorland, no original), fui catar o trailer. Parecia ser bem ruim. Mas, filme de terror ruim às vezes é divertido, então fui ver qualé.

Pena, aqui não é divertido, é só ruim.

Alice é uma adolescente que perdeu os pais num incêndio. Aí ela vai pra casa da avó, e começa a ter sonhos muito loucos.

Acho que a ideia era usar os sonhos (ou pesadelos) pra transformar em terror os personagens e situações da história clássica – ideia que até poderia funcionar, a história original da Alice tem muitos elementos loucos que podem ser interpretados como assustadores. Mas o desenvolvimento desses sonhos é péssimo! Não tem absolutamente nenhum momento assustador em todo o filme – e era pra ser um filme de terror!

As caracterizações também são péssimas. Chega ao ponto do Coelho usar uma máscara, mas todo o resto usa maquiagem. De quem foi a ideia estúpida de colocar aquela máscara tosca no Coelho?

Pra piorar, quando ela encontra o Chapeleiro Louco, o filme apresenta um plot twist que já era óbvio desde o início do filme!

O roteiro e a direção são de Richard John Taylor. Vi no imdb que este foi seu sétimo filme como diretor em dois anos (2022 e 2023). Para um ator, é comum ver 3 ou 4 filmes em um ano (às vezes até mais), mas para um diretor, que normalmente se envolve em todas as etapas da produção, é bem mais difícil. A não ser que seja uma produção pequena e preguiçosa como esta.

Alice no País das Trevas é curtinho, uma hora e dezessete minutos (sendo que são sete minutos de créditos, pra que tanto crédito em uma produção tão caseira???). E mesmo assim parece arrastado em alguns momentos.

Pena. Ideia boa, mas muito mal desenvolvida.

O Sabor da Vida

Crítica – O Sabor da Vida

Sinopse (imdb): 1885. A cozinheira Eugenie trabalha para o gourmet Dodin há 20 anos. Com o passar do tempo, a admiração mútua gerou um relacionamento amoroso. Eugenie, no entanto, nunca quis se casar com Dodin. Ele decide, então, cozinhar para ela.

Teve um “causo” que viralizou, e como sou “rato de Estação Botafogo”, várias pessoas me encaminharam o vídeo. Funcionários do Estação Net Rio, cinema de rua, fecharam a porta do cinema enquanto ainda estava rolando a última sessão. Quando acabou o filme, os espectadores se viram presos atrás de uma grade e tiveram que chamar a polícia e os bombeiros.

O Grupo Estação, como pedido de desculpas, conseguiu entrar em contato com todos os que ficaram presos naquele dia, e, como pedido de desculpas, ofereceu um passe livre de um ano pra todo o circuito Estação, e ainda uma sessão pré estreia deste O Sabor da Vida, representante francês no Oscar 2024.

Não ganhei o passe livre do Estação, mas pelo menos participei da sessão, com direito a pipoca e várias bebidas liberadas.

Dirigido pelo vietnamita Anh Hung Tran, O Sabor da Vida (La passion de Dodin Bouffant, no original) conta a história de um casal em 1885, onde ambos são excelentes cozinheiros. Eles são namorados, mas ela se recusa a casar. Mesmo assim, são uma dupla em perfeita sintonia. O filme desenvolve bem a relação entre o casal. Mas tive a impressão de que dedica mais tempo de tela com a comida. É um filme que “dá fome”!

Agora, precisamos reconhecer que pouca coisa acontece. Estamos acostumados com outro ritmo, acredito que boa parte do público vai estranhar ver um filme onde quase o tempo todo vemos pessoas cozinhando.

Uma coisa que amplifica essa sensação de estranheza é a ausência de trilha sonora. Não posso afirmar com certeza, mas tive a impressão que só ouvimos trilha não diegética nos créditos finais.

O Sabor da Vida tem vários planos longos. Não sei se podemos chamar de plano sequência, porque são planos onde a câmera fica parada, ou se move muito pouco. Mas são cenas extremamente bem filmadas.

Por fim, uma curiosidade que não entendi na hora, mas depois li a explicação no imdb. Em uma cena, um grupo de amigos se senta à mesa, e todos cobrem a cabeça para comer. Eles estavam comendo um pequeno pássaro chamado ortolan, que, segundo a tradição, quem come precisa cobrir a cabeça com um guardanapo, se debruçar sobre o prato e enfiar o pássaro inteiro na boca de uma vez só.

No fim do filme, deu fome. E curiosidade de saber o que é um “pot au feu”, prato citado no filme.

Desespero Profundo

Crítica – Desespero Profundo

Sinopse (imdb): Personagens de diferentes origens são reunidos quando o avião em que viajavam cai no Oceano Pacífico. Segue-se uma luta de pesadelo pela sobrevivência, com o suprimento de ar se esgotando e os perigos se aproximando por todos os lados.

A sinopse lembra Sharknado. Mas a proposta aqui não tem nada a ver com o trash do SciFi. Não que seja um bom filme, mas aqui pelo menos tentaram fazer um filme sério.

(Sharknado me irrita não por ser um filme trash, mas sim por ser um filme preguiçoso. Além de todo o contexto ilógico de tubarões que voam em vez de serem carregados pelo tornado, ainda tem um monte de cenas mal feitas. Num take, chove torrencialmente; no take seguinte, as calçadas estão secas. Num take, venta muito; no seguinte, não tem vento. Num take, eles estão dentro de uma casa, e a água invade o primeiro andar, água suficiente para ter um tubarão nadando; no take seguinte, eles saem de casa, e está tudo seco em volta)

Mas aqui até que podia funcionar, se tivesse um roteiro e um elenco melhores. Vamulá.

Desespero Profundo é um “drama de sobrevivência”: um avião cai no mar, afunda, e alguns sobreviventes ficam presos numa bolha de ar. E eles precisam descobrir como sair com vida. Filmes assim podem ser muito bons, lembro de A Queda, de dois anos atrás, onde duas amigas ficam presas no alto de uma torre – e todo o filme é isso. Mas em A Queda o roteiro joga elementos aqui e ali e consegue manter a tensão ao longo de toda a duração do filme, e o espectador fica angustiado na beira da poltrona. Já o roteiro de Desespero Profundo causa sono em vez de tensão.

Desespero Profundo é chato. O roteiro é preguiçoso e não traz quase nada de novidades pra incrementar a história. E, pra piorar, todos os personagens são ruins, e todos os atores são igualmente ruins. Tem um tubarão nadando dentro do avião? Que eles morram pelo tubarão ou afogados, ninguém se importa com personagens assim!

Nem tudo é ruim. O acidente do avião, quando uma parte da turbina explode e despressuriza o avião, é bem feito. Ok, não é tão bem feito quanto o de A Sociedade da Neve, mas não faz feio lembrando que este é um filme de baixo orçamento. Se fosse um curta metragem usando esse acidente de avião, seria um filme bem melhor.

Mas é um longa. Mal escrito, mal desenvolvido e mal atuado. Vale mais rever A Queda.

Instinto Materno

Crítica – Instinto Materno

Sinopse (imdb): A vida aparentemente perfeita das amigas Alice e Celine desmorona após um acidente envolvendo um de seus filhos. O que começa como uma tragédia inimaginável acaba transformando a amizade entre elas em um jogo de segredos e mentiras.

O trailer vendia Instinto Materno como um suspense psicológico. Mas o resultado final ficou devendo.

Estreia na direção de Benoît Delhomme, Instinto Materno (Mothers’ Instinct, no original) é a refilmagem de Duelles, filme belga de 2018. Não vi o original, não sei se lá temos algo a mais. Normalmente, os originais europeus são melhores. Mas acredito que seja melhor, ano passado um amigo que mora na Europa tinha me recomendado esse Duelles, mas não achei onde ver aqui.

Acho que são os anos 60, tem um diálogo onde falam dos presidentes americanos, pra situar o espectador sobre qual ano o filme se passa, mas como não entendo de presidentes americanos, não sei qual ano. Enfim, duas famílias, vizinhas, muito amigas. As duas mulheres são amigas, e os filhos, de idades parecidas, são inseparáveis. Mas acontece uma fatalidade e isso abala a amizade.

A gente passa o filme todo pensando quando algo vai sacudir a trama. Um plot twist, uma grande revelação, algo bombástico. Mas nada. O filme é linear, tudo o que acontece é o que aconteceria numa vida normal. Ou seja, o filme acaba sendo chato.

Ok, temos duas grandes atrizes, Anne Hathaway e Jessica Chastain, e ambas estão bem. Mas, nenhuma atuação memorável. Filme linear com atuações lineares.

Quem foi a sessão de imprensa ganhou o livro que deu origem ao filme, e avisaram que a continuação do livro está para ser lançada em breve. Ou seja, o filme deve ter continuação. Mas, boa notícia: a história fecha, não deixa nenhuma ponta solta a ser resolvida num filme que a gente nem sabe se vai existir.

No fim, Instinto Materno não é ruim, mas é decepcionante porque tem cara de telefilme.