Ainda Estou Aqui

Crítica – Ainda Estou Aqui

Sinopse (imdb): Baseado no livro de memórias best-seller de Marcelo Rubens Paiva, no qual sua mãe é forçada a se tornar ativista quando seu marido é capturado pelo regime militar no Brasil, em 1971.

E vamos para as reais chances de Oscar para o Brasil!

Ainda Estou Aqui é o novo filme de Walter Salles (Central do Brasil), que não lançava um longa desde 2012. O filme é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, e conta a história real de uma família no Rio de Janeiro do início dos anos 70. Marcelo vive com seus pais e suas 4 irmãs em uma boa casa, na Vieira Souto, na praia de Ipanema. Até que seu pai, Rubens Paiva, é levado por agentes do regime militar. E nunca mais volta.

Ainda Estou Aqui está badalado para o Oscar, e realmente está um degrau acima da média da produção nacional. Começo pela parte técnica: nunca vi no cinema nacional um cgi de reconstituição de época tão perfeito. A começar pela casa onde mora a família – não existem casas residenciais na Vieira Souto! Provavelmente filmaram em uma casa em outro endereço e colocaram a casa lá. E não é só isso, vemos várias cenas nas ruas, onde vemos carros, pessoas e prédios dos anos 70. E tudo, absolutamente tudo está perfeito. Mostrar uma praia não é uma tarefa tão difícil, mas quando vemos o morro Dois Irmãos sem a favela do Vidigal, a gente leva um susto. Sério, o cgi aqui não deve nada pra super produções gringas.

Mas, mais importante que isso, precisamos falar das atuações. Queria rapidamente citar que Selton Mello não está com “cara de Selton Mello” – gosto do ator, mas ele meio que criou um personagem e repete esse mesmo personagem em diversos filmes (vários atores são assim, Christoph Waltz ganhou dois Oscars por papéis quase iguais). Mas, o nome a ser citado é Fernanda Torres, que está simplesmente sensacional. Caros leitores, anotem isso, estou falando em outubro: Fernanda Torres tem uma chance grande de ser indicada ao Oscar ano que vem, 26 anos depois da sua mãe Fernanda Montenegro (coincidência ou não, também dirigida por Walter Salles). Ah, Fernanda Montenegro aparece no final do filme, em uma cena onde ela interpreta a personagem da filha num futuro onde ela está bem mais velha.

Quase o filme todo se passa nos anos 70. No fim tem um trecho em 1996 e uma cena final em 2004. Na minha humilde opinião, o filme perde a força nesses dois “epílogos”. Não chega a estragar o resultado final, mas acho que Ainda Estou Aqui seria ainda melhor se acabasse no momento que a família deixa a casa, o resto da história podia ser uma cartela com um texto antes dos créditos.

Por fim, e o Oscar? Bem, até onde sei, cada país pode mandar um filme para a categoria “filme internacional” (que era “filme em língua estrangeira” até poucos anos atrás). Escolhem uma pré lista com 9 filmes, que depois é reduzida à lista oficial de 5 candidatos. Mas, a gente sabe que a qualidade do filme não é tudo quando se fala em Oscar. O lobby é algo muito importante. E aparentemente esta vez estão com um lobby forte pra tentar indicar o filme brasileiro. Um boato que ouvi entre amigos críticos é que querem tentar indicar Ainda Estou Aqui para o Oscar principal – nos últimos dois anos, o vencedor do prêmio de filme estrangeiro também estava indicado ao Oscar de melhor filme (Zona de Interesse em 2024, Nada de Novo no Front em 2023). Também é ventilada uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Fernanda Torres, o que já estão falando como se fosse uma “reparação ao erro de não ter dado o Oscar para Fernanda Montenegro” (o que talvez seja um exagero, mas tem um fundo de verdade).

Enfim, aguardemos. Mas estou na torcida!

Federal

Federal

Um filme policial nacional, com Carlos Alberto Riccelli, Eduardo Dussek e Michael Madsen no elenco? Opa! Tô dentro!

(Na verdade, o filme também é estrelado por Selton Mello. Mas, diferente dos três citados aí em cima, Selton não é novidade nenhuma no cinema nacional. Ele é o cara, e tá em todas, né?)

Dani (Selton Mello) e Vital (Carlos Alberto Riccelli) lideram um grupo de elite do Comando de Operações Táticas da Polícia Federal de Brasília, para caçarem o playboy e traficante Beque Batista (Eduardo Dussek).

Dirigido por Eryk de Castro, Federal tem seus méritos, mas também tem seus defeitos. Dá pra ver que se trata de uma produção modesta, as cenas internas são mal iluminadas, a câmera às vezes treme um pouco…

Mas, na minha humilde opinião, os méritos são maiores que os defeitos!

Os atores estão muito bem. Selton Mello apresenta a eficiência de sempre, e Carlos Alberto Riccelli, cinquentão, está em ótima forma. Roberto Cano e Christovam Netto, os outros dois policiais que acopanham Selton e Riccelli, também mandam bem. Michael Madsen aparece pouco, e é o que se espera. Aliás, na cena do avião, ele solta uma frase muito boa e politicamente incorreta sobre as mulheres brasileiras.

Mas as melhores frases de efeito politicamente incorretas estão com Eduardo Dussek. Tem uma cena onde ele fala coisas como “no Brasil, as leis servem para ajudar os bandidos” e “aqui tem carnaval o ano todo (pra gente vender as drogas)”. Genial! Parabéns aos roteiristas pelos excelentes diálogos!

A parte técnica – defeito comum em boa parte da produção nacional – também não decepciona. Ok, o filme tem orçamento pequeno. Mas temos várias tomadas aéreas pela cidade e todos os tiroteios são convincentes.

Para os fãs de rock nacional 80: Philippe Seabra, ex Plebe Rude, trabalha na trilha sonora. E rola uma “cena homenagem”, onde dois policiais estão num carro, ao som de “A Ida”, da Plebe, e um fala para o outro “sangue e porrada na madrugada” (de “Vida Bandida”, do Lobão), enquanto o outro responde “polícia para quem precisa” (de “Polícia”, dos Titãs).

Enfim, boa opção na programação do Festival, e, esperamos, em breve no circuito!

A Mulher Invisível

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A Mulher Invisível

Oba! Mais um filme no estilo “comédia romântica brasileira”!

Pedro (Selton Mello), um apaixonado e devotado marido, é abandonado pela esposa, que está grávida de um amante alemão. Depois de um tempo em profunda depressão, ele conhece a mulher ideal, Amanda (Luana Piovani): linda, apaixonada por ele, com os mesmos gostos… Só que Amanda tem um defeito: ela só existe na imaginação de Pedro!

O filme, dirigido por Claudio Torres, é leve, ágil e despretensioso. O que o torna um bom programa. Quem me acompanha por aqui sabe que gosto quando o cinema nacional segue por esse caminho!

O filme é cheio de situações hilariantes. Claro que o talento de Selton Mello ajuda aqui: muitas vezes ele tem que contracenar fingindo que existe alguém do seu lado. E isso ele faz sem parecer caricato!

Um parágrafo para tecer um comentário sobre o ator Selton Mello. Ele tem um defeito: quase todos os seus personagens são semelhantes. Parece que vemos sempre o mesmo personagem! Mas aqui não há queixas, porque o “personagem Selton Mello” é a cara do filme, e funciona perfeitamente!

O bom roteiro, co-escrito por Claudio Torres e Adriana Falcão, ainda traz algumas reviravoltas interessantes, como a outra mulher invisível. E no elenco, contamos ainda com os importantes coadjuvantes Vladimir Brichta, Maria Manoella e Fernanda Torres (irmã do diretor).

E assim, despretensiosamente, espero que A Mulher Invisível consiga trilhar o mesmo rumo que Se Eu Fosse Você 2, um dos maiores sucessos nacionais recentes. E que os cineastas brasileiros se lembrem que “cinema é a maior diversão”!

Meu nome não é Johnny

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Meu nome não é Johnny

Meio que por engano, um jovem da zona sul passa de consumidor a traficante. E vira um dos maiores traficantes do Rio nos anos 90.

Esse é o resumo básico de Meu nome não é Johnny, filme de Mauro Lima baseado no livro de Guilherme Fiúza, e estrelado por Selton Mello.

Selton Mello é “o cara”. É o nome do cinema nacional hoje em dia. E nos leva a simpatizar com um personagem de moral duvidosa – afinal, o mocinho é um traficante!

Selton Mello interpreta João Estrella, um personagem que realmente existiu. Primeiro, comprava drogas e consumia com os amigos, em festas intermináveis. Daí, passou pro tráfico mais graúdo, e posteriormente, intercontinental.

O filme relata o início, ascenção e queda de João Estrella. Que, na verdade, nunca foi um cara “mau”, apesar de estar do outro lado da lei. Ou, pelo menos, esta é a visão que o filme passa…

Tecnicamente, o filme é perfeito. Boas recriações da época (desde os anos 70 até os 90), locações na Europa, boa trilha sonora, boas atuações do elenco – além de Selton Mello, Cleo Pires, Julia Lemmertz, Cassia Kiss e André di Biasi. E o filme é sério quando tem que ser, mas sem deixar de ser leve.

Boa recomendação pra aqueles que têm preconceito com cinema nacional!

Os Desafinados

Os Desafinados

Mais um simpático filme nacional, desta vez usando a bossa nova como tema. Os Desafinados é o nome de um quarteto de bossa nova que resolve tentar a sorte em Nova York, durante os anos 60 – justo na época que os militares tomam o poder no Brasil.

O filme conta com bons atores. Rodrigo Santoro faz Joaquim, o pianista do grupo, e que acaba se envolvendo com a personagem de Claudia Abreu, uma cantora e flautista brasileira que eles conhecem em Nova York. Selton Mello faz um cineasta que acompanha o grupo, e até funciona, mas algo que está virando clichê é o modo caricato como Selton interpreta seus personagens, todos iguais… Selton é um bom ator, talvez devesse tomar cuidado com essas armadilhas…

O filme, dirigido por Walter Lima Jr, é divertido, mas peca em uma coisa: são quase duas horas e meia de filme. Algumas situações poderiam ser enxugadas, e o filme ficaria mais leve.

Mesmo assim, o filme vale, inclusive para aqueles que, como heu, não são exatamente fãs de bossa nova…