De Olhos Bem Fechados

De Olhos Bem FechadosCrítica – De Olhos Bem Fechados

Para o podcast sobre Tom Cruise, revi De Olhos Bem Fechados, filme que heu só tinha visto uma única vez, na época do lançamento.

Um médico novaiorquino, casado com uma curadora de arte, se vê em uma perigosa odisseia noturna de descobertas morais e sexuais depois que sua esposa admite que quase o traiu.

De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, no original) foi o último filme de Stanley Kubrick – segundo o que foi noticiado na época, Kubrick morreu quatro dias depois de entregar o filme pronto. Mas a recepção, tanto do público, quanto da crítica, não foi boa, e muita gente se questiona se a versão oficial é realmente o filme que Kubrick pretendia fazer.

A produção de De Olhos Bem Fechados foi bem conturbada. Boatos na época diziam que Harvey Keitel e Jennifer Jason Leigh teriam papeis importantes na trama. Mas por causa dos atrasos (o filme demorou mais de dois anos pra ficar pronto), Keitel brigou com Kubrick e se desligou do projeto. Kubrik então resolveu reescrever e refilmar tudo, para não usar nenhuma imagem com Keitel. Aí foi a vez de Jennifer se pronunciar: ela tinha contrato para filmar eXistenZ com David Cronenberg e não tinha tempo pra refazer tudo. Resultado? Os papeis foram reduzidos e entregues a Sydney Pollack e Marie Richardson.

Outro problema foi que a divulgação na época dizia que o filme teria tórridas cenas de sexo entre o casal “namoradinho da América”, Tom Cruise e Nicole Kidman, que eram casados na época mas se separaram pouco depois. Nada, o filme até mostra bastante nudez e sexo, mas pouca coisa entre Tom e Nicole.

(Diferente de Jennifer e Keitel, Tom e Nicole assinaram contratos onde garantiam que esperariam o tempo que fosse necessário até Kubrick liberar o casal. De Olhos Bem Fechados está no Guiness como o recorde de maior tempo de filmagem, 400 dias. Tom Cruise não lançou nenhum filme em 97 e 98…)

Cinematograficamente falando, o resultado final de De Olhos Bem Fechados ficou impecável (afinal, Kubrick gastou tanto tempo porque era perfeccionista). Quase todas as cenas têm muitas luzes dentro dos cenários, criando um visual incomum e onírico, e a trilha sonora com poucas notas no piano ajuda a criar o clima tenso – e toda a sequência do baile de máscaras é muito boa. Mas, por outro lado, o desenvolvimento da história não agradou a quase ninguém na época do lançamento – houve muitas críticas vindas de todos os lados, me lembro que saí do cinema (em 1999) perplexo, sem entender nada, e com muita raiva de ter esperado tanto tempo por aquilo.

Revi agora sob outra ótica, que ajuda um pouco a compreensão. Precisa de aviso de spoilers para um filme de dezesseis anos atrás?

SPOILERS!

SPOILERS!

SPOILERS!

Imaginem que o dr. Bill é um sujeito muito certinho, e um dia, ouve sua esposa falando de uma possível traição (ela não chega a admitir que traiu). Bill pira com isso, e resolve sair à procura de uma transgressão. Mas ele é tão certinho que não consegue – ele mesmo sabota as próprias transgressões (a prostituta, a filha do lojista, a orgia). Ou seja, tudo a partir daquele papo com a esposa seria uma viagem na cabeça de Bill.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo revendo sob este ponto de vista, o fim do filme continua ruim, na minha humilde opinião.

De Olhos Bem Fechados, assim como acontece com toda a carreira de Kubrick, é repleto de simbolismos. Mas não vou entrar nesse aspecto do filme, quem tiver interesse é só dar uma googlada…

O Iluminado

Crítica – O Iluminado

Hora de rever o clássico de Stanley Kubrick!

O escritor Jack Torrance é contratado como zelador de um grande hotel que fica fechado durante o inverno. Porém, o contínuo isolamento começa a lhe causar problemas e ele vai se tornado cada vez mais agressivo e perigoso.

Incontestavelmente, Stanley Kubrick foi um dos maiores diretores da história do cinema. No fim de sua vida, seu ritmo de filmar era lento. Depois de Barry Lyndon, de 1975, Kubrick só fez três filmes: este O Iluminado, de 1980, Nascido Para Matar, de 1987, e De Olhos Bem Fechados, que estava sendo finalizado quando Kubrick morreu, em 1999. Se a quantidade era pequena, pelo menos a qualidade não caiu. Diferente de alguns colegas de profissão, seus últimos filmes mantiveram a qualidade de sempre (só tenho um pé atrás com De Olhos Bem Fechados, um dia hei de rever e ter uma segunda opinião).

Aqui Kubrick mostra porque é um dos gigantes na sua área. O ritmo do filme é diferente do que estamos acostumados, mais lento, com muitos planos longos e muita câmera parada. O ritmo lento é acentuado pela edição, que traz várias sequências longas com poucos cortes.

Tem mais: rolam vários movimentos de câmera bem planejados, como os travellings seguindo o velocípede pelos corredores do hotel, ou andando pelo labirinto. Isso é aliado a grandiosos cenários e a uma trilha sonora muito bem escolhida (acho que boa parte das músicas já existia, não foram compostas para o filme). O resultado final é um filme tenso como poucas vezes visto na história do cinema.

Kubrick era um perfeccionista, famoso por refilmar as cenas incontáveis vezes, até que ficasse satisfeito com o resultado. A cena onde Halloran conversa com Danny foi filmada 148 vezes – o recorde mundial! E a cena do sangue escorrendo pelo elevador só foi filmada três vezes, mas a preparação para ela durou quase um ano. Esses atrasos na produção acabaram atrasando outros filmes que precisavam do mesmo estúdio em Londres, como O Império Contra-Ataca e Os Caçadores da Arca Perdida.

O Iluminado foi baseado em um livro de Stephen King. Li por aí que o livro teria monstros (não li o livro, então não tenho certeza da informação), e que a adaptação de Kubrick não foi muito fiel neste aspecto. Mas gostei desta mudança, o filme ficou mais sério, mais assustador.

Um dos grandes responsáveis por O Iluminado ser um filme tão assustador foi a magnífica interpretação de Jack Nicholson, uma das mais impressionantes de sua premiada carreira. Nicholson faz uma cara de louco que dá medo! Outros atores foram cogitados para o papel, como Robert de Niro, Robin Williams e até Harrison Ford, mas vendo Nicholson na tela, fica difícil de imaginar Jack Torrance vivido por outro ator. Outro destaque é o garoto Danny Lloyd, que curiosamente só fez mais um filme. Ainda no elenco, Shelley Duvall com sua “beleza exótica” e Scatman Crothers.

Curiosidade: nem todos concordam que O Iluminado é um grande filme. Na época do lançamento, concorreu a duas Framboesas de Ouro, de pior diretor e pior atriz (para Shelley Duvall). Claro que não ganhou…

Enfim, filmaço. Recomendadíssimo!

Laranja Mecânica

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Laranja Mecânica

Numa Londres futurista e decadente, gangues de jovens vivem num meio de sexo, drogas e violência. Alex DeLarge, líder de uma das gangues, é preso, e depois se submete ao “tratamento Ludovico” para ser reintegrado à sociedade.

O que podemos falar sobre Laranja Mecânica? Primeiro: um filme feito há mais de 30 anos atrás, e que não envelheceu… Isso é algo difícil… Claro que certas coisas estão com cara de anos 60. Mas o visual futurista é um dos vários pontos altos do filme.

Falando em pontos altos, é difícil desassociar a imagem de Malcom McDowell do jovem delinquente Alex. Em uma das interpretações mais marcantes de sua carreira, McDowell nos mostra os altos e baixos de Alex, que, de líder de gangue, passa pelo humilhante tratamento Ludovico (não dá pra descrever aqui, tem que ver o filme), pra depois voltar ao violento mundo como um indefeso cordeirinho.

Não podemos nos esquecer também que este é um filme de Stanley Kubrick, um dos mais geniais diretores da história do cinema. Só pra dar um exemplo, o seu filme anterior é 2001, Uma Odisséia no Espaço; e depois ele ainda faria obras primas como O Iluminado e Nascido Para Matar.

A trilha sonora do então Walter Carlos (que mais tarde viraria Wendy Carlos), com música erudita tocada em sintetizadores monofônicos – os primeiros Moogs! – também é sensacional!

Programa imperdível. Mas, mesmo sendo um filme velho, tirem as crianças da sala antes de começar a sessão…