Lobos

Crítica – Lobos

Sinopse (imbd): Dois solucionadores rivais se cruzam quando ambos são chamados para encobrir o erro de uma importante figura pública de Nova York. Durante uma noite conturbada, eles terão que deixar de lado suas diferenças e egos para concluir o serviço.

Pulp Fiction é um filme genial em vários aspectos. Um dos vários méritos do filme é sua rica galeria de personagens. Harvey Keitel faz um papel pequeno: o mr. Wolf, uma pessoa para chamada para “resolver problemas”.

Agora, 30 anos depois, aparece um filme onde os dois personagens principais têm a mesma profissão do personagem de Pulp Fiction. E se alguém tiver dúvida se foi coincidência ou não, é só ver as placas dos carros, o carro do Harvey Keitel tem a placa 3ABM581; o do George Clooney, 3ABM582.

A melhor coisa de Lobos (Wolfs, no original) é a química entre seus dois protagonistas, Brad Pitt e George Clooney, que além de amigos na vida real, já trabalharam juntos em cinco outros filmes (a trilogia Onze Homens e um Segredo, Queime Depois de Ler, e uma breve aparição de Pitt em Confissões de uma Mente Perigosa, dirigido por Clooney). Tanto Pitt quanto Clooney estão ótimos individualmente, como um está perfeito ao lado do outro. Comentei recentemente sobre Operação Natal, um filme onde a dupla principal, Dwayne Johnson e Chris Evans, não está bem; aqui em Lobos é o oposto. A gente sente a química em cada troca de olhares entre os dois protagonistas

O roteiro e a direção são de Jon Watts, mais famoso por ter dirigido os três filmes recentes do Homem Aranha, De Volta ao Lar, Longe de Casa e Sem Volta para Casa (expulso de casa, fique em casa, etc). Gostei de como Watts conduz seu filme, vou procurar filmes anteriores dele. Alguns detalhes são muito bem sacados, como por exemplo a cena onde os dois protagonistas descobrem ao mesmo tempo que precisam de óculos pra ler o menu. E tem uma cena de atropelamento que é genial, uma cena que poderia constar em listas de melhores cenas do ano! Além disso, gostei da trilha sonora.

Depois de publicar meu texto sobre Anora, li algumas críticas comparando com Depois de Horas. Discordo. Na verdade, achei que Lobos lembra mais Depois de Horas: o filme todo se passa em uma noite, e os personagens vão se metendo em uma escalada de problemas que vai ficando pior a cada novo passo.

No elenco, claro que o destaque é da dupla principal. Mas Austin Abrams, o terceiro nome do elenco, também está bem. Ah, a voz ao telefone é de Frances McDormand, que também estava em Queime Depois de Ler com os dois protagonistas.

Talvez tenha gente reclamando que Lobos tem muitos clichês. Verdade, tem sim. Mas achei todos muito bem utilizados. Achei o filme divertidíssimo!

Operação Natal

Crítica – Operação Natal

Sinopse (imdb): Após um sequestro chocante no Polo Norte, o Comandante da Força-Tarefa E.L.F. faz uma parceria com o caçador de recompensas mais infame do mundo para salvar o Natal.

Às vezes penso em fazer uma seção de “críticas curtas”. Este Operação Natal funcionaria neste formato: “Filme genérico de Natal estrelado por Dwayne Johnson e Chris Evans. Era melhor ter ido direto pro streaming”.

Só isso. Porque não tem muito mais o que falar sobre Operação Natal (Red One, no original). Mas, vamos tentar nos aprofundar.

Dirigido por Jake Kasdan, filho de Lawrence Kasdan (roteirista de O Império Contra Ataca e Caçadores da Arca Perdida) e diretor dos dois Jumanji recentes, Operação Natal traz uma história natalina genérica, bobinha e cheia de clichês. Não se transformará num novo “clássico natalino”, tampouco ganhará haters. Apenas mais um filme descartável.

Operação Natal se baseia no carisma das suas estrelas. O problema é que nenhum parece inspirado. Assim como em outros filmes recentes, igualmente esquecíveis, como Alerta Vermelho (Johnson) e Agente Oculto (Evans) – coincidência ou não filmes para o streaming – a dupla de astros aqui só cumpre tabela. J.K. Simmons está bem como um Papai Noel fortão, mas aparece pouco. Completam o elenco principal Lucy Liu e Kiernan Shipka.

O roteiro não é ruim, mas tem umas forçadas. Por exemplo, depois de Aruba, não existe nenhuma justificativa pra manter Chris Evans no rolê. E alguns efeitos especiais têm cara de que vão perder a validade logo logo.

Em defesa do filme, gostei do universo criado, misturando mágica com tecnologia, e abrindo espaço pra uma franquia usando seres mitológicos. Mas é pouco. Não sei se quero ver outro filme se for tão genérico quanto este.

Por fim, uma coisa que achei curiosa e não entendi o motivo. Por duas vezes, em cenas na oficina do Papai Noel, a gente ouve vozes ao fundo em português. Uma frase é nítida, o resto tem que prestar atenção. E isso na versão original, não vi a versão dublada. (Na sequência em Aruba também parece outra língua nas vozes ao fundo, mas não consegui identificar.) O que acho que aconteceu? De repente alguém da equipe técnica pegou alguns diálogos em uma “língua exótica”, algo que a maior parte do mundo não conseguiria identificar. Será que foi isso?

Anora

Crítica – Anora

Sinopse (imdb): Anora, uma jovem trabalhadora sexual do Brooklyn, conhece e impulsivamente se casa com o filho de um oligarca russo. Quando a notícia chega à Rússia, seu conto de fadas é ameaçado quando os pais dele partem para Nova York para anular o casamento.

Fiquei na dúvida se valia falar sobre Anora agora. Teve uma sessão de imprensa, e no dia da sessão avisaram que a distribuidora adiou o lançamento pra janeiro do ano que vem, visando a temporada de prêmios. Ou seja, quase não tem nenhuma crítica do filme, porque quase ninguém viu, e vai demorar pra galera conseguir assistir.

Pensei em só comentar depois, mas aí me toquei que vou acabar me esquecendo de detalhes do filme. Então vamos nessa!

Escrito e dirigido por Sean Baker, Anora chega com uma grande credencial: foi o vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Mas aí a gente lembra que o último vencedor foi Anatomia de uma Queda. E antes, foi Triângulo da Tristeza. E antes, Titane. E antes, Parasita. E, preciso dizer isso: achei Anora beeem inferior a esses todos.

(Talvez Titane esteja um degrau abaixo dos outros quatro, mas pelo menos é um filme diferentão, o que conta pontos em uma premiação como Cannes.)

Dito isso, vou falar algo polêmico. Não achei Anora grandes coisas. Pra mim, parece um American Pie melhorado.

Ok, talvez seja um exagero. American Pie é uma comédia besteirol cheia de piadas de cunho sexual, e Anora tem muito sexo, mas só o meio do filme que tem uma pegada de humor mais escrachado. Inclusive, o final do filme mira no drama.

Mas, repito, não consegui ver as qualidades que a galera está vendo. Ani é uma dançarina erótica e garota de programa que se envolve com um jovem russo, herdeiro de uma família milionária. A primeira parte mostra a relação dos dois, a segunda desenvolve problemas com capangas da família russa, e a parte final é a conclusão triste da história da jovem Ani. É ruim? Não, a trama é envolvente e a parte comédia no meio do filme tem algumas situações bem engraçadas. Mas, se a gente pensar que esse filme foi considerado o melhor de Cannes este ano, ou a competição estava bem fraca, ou tem alguma coisa errada aí. Sendo que A Substância estava concorrendo, voto na segunda opção.

Um dos problemas de Anora é que é difícil ter alguma empatia pelo casal protagonista. Ele é um milionário mimado que compra todos em sua volta; ela só está com ele por causa do dinheiro. Em momento algum o filme mostra algo mais afetivo na relação dos dois. Vejam bem: não tenho absolutamente nada contra ela ser uma trabalhadora do sexo, alguém na sua profissão pode ter um parceiro e ter uma vida em família. Mas esta realidade não é mostrada aqui.

Sobre o elenco, Mikey Madison (Pânico 5, Era Uma Vez em Hollywood) está bem em sua nova versão de Uma Linda Mulher. Pena que é uma personagem meio vazia – o filme foca nas festas, no luxo, no sexo e nas drogas e esquece de desenvolver o lado humano da personagem. Já o Ivan de Mark Eydelshteyn podia ser interpretado por qualquer um, ele passa o filme todo jogando videogame, fazendo sexo ou fugindo.

Sobram muitas cenas de nudez e sexo, e uma parte comédia que vai arrancar gargalhadas da plateia. Ou seja, nem está tão longe assim de American Pie…

Golpe de Sorte em Paris

Crítica – Golpe de Sorte em Paris

Sinopse (imdb): O vínculo de dois jovens leva à infidelidade conjugal e, por fim, ao crime.

Outro dia, quando falava de Tipos de Gentileza, lançado menos de um ano depois de Pobres Criaturas, que parece ter tido uma produção bem complexa (cenários, figurinos, efeitos, etc), lembrei que teve uma época que Woody Allen lançava um filme por ano. Pelo menos olhando de fora, filmes do Woody Allen me parecem ser produções mais simples, então era mais fácil fazer um por ano. Mas mesmo assim, não são filmes ruins, Allen manja dos paranauês e quase sempre entregava filmes acima da média. Como já comentei aqui no heuvi, “um Woody Allen mediano é melhor que muito filme por aí”.

Quando de repente entrou em cartaz o novo filme escrito e dirigido por Allen, Golpe de Sorte em Paris (Coup de chance, no original), seu quinquagésimo filme!

(Falei “de repente” porque não teve sessão de imprensa, teve uma pré estreia e heu nem soube…)

Golpe de Sorte em Paris é semelhante a boa parte da filmografia de Allen: uma boa história, bem filmada, com bons atores e belos cenários, desta vez em Paris. Sim, já vimos tudo isso antes, mas, caramba, o cara tá com quase 89 anos e já fez 50 filmes. Um especialista na sua obra vai dizer “ele está se repetindo”, mas o espectador comum vai entrar no cinema e se divertir.

O roteiro é bem estruturado. Inicialmente vemos uma jovem mulher, casada com um cara muito rico que a usa de “esposa troféu”, e que encontra um antigo flerte da época do colégio. O triângulo amoroso é construído, ela fica entre o rico e o sonhador. Até que um plot twist lá pelo meio do filme muda completamente o rumo da história, e mais não digo porque não vou dar spoilers.

Vou além: já comentei aqui algumas vezes, um bom final melhora um filme médio. Isso acontece aqui. A parte final tem uma sacada que achei genial, e posso afirmar que nunca imaginei que o roteiro iria por aquele caminho. E, pelo menos na sessão onde assisti, numa sala quase lotada, a reação do público foi positiva, rolou uma grande gargalhada generalizada, a maior de todo o filme.

O elenco, liderado por Lou de Laâge, Niels Schneider e Melvil Poupaud, é todo francês. Aliás, foi a primeira vez que Allen dirigiu um filme onde a língua principal não é o inglês. Fiquei na dúvida se ele sabe o suficiente pra acompanhar os diálogos, ou se tinha alguém pra esta função enquanto ele cuidava do resto – uma coisa que Allen faz muito e que acontece aqui são planos longos com diálogos e a câmera passeando entre os atores.

Entrei no cinema sem esperar nada e saí com um sorriso no rosto. Não é um grande filme, mas, repito, “é melhor que muito filme por aí”.

O Balconista (1994)

Critica – O Balconista (1994)

Sinopse (imdb): Um dia na vida de dois funcionários de lojas de conveniência chamados Dante e Randal enquanto eles irritam os clientes, falam sobre filmes e jogam hóquei no telhado da loja.

(Sinopse errada! Randal trabalha na videolocadora!)

Outubro tocarei num evento no Rio Centro, e a atração principal é Kevin Smith. Hora de rever seus filmes!

O Balconista (Clerks, no original) é um perfeito exemplo de como o roteiro é importante para um filme. É um filme preto e branco, com atores desconhecidos, quase todo filmado em um único cenário. Tudo meio tosco, muitas vezes parece um filme amador. Mas o filme é repleto de diálogos geniais!

O roteirista e diretor Kevin Smith trabalhava naquela mesma loja de conveniência que serviu de cenário. Segundo o imdb, ele trabalhava de 6 da manhã até 11 da noite, e depois filmava até 4 da madrugada, enquanto a loja estava fechada. Como desculpa pra ter uma iluminação ruim, ele colocou no roteiro que os cadeados da loja estavam ruins e por isso ele não conseguiu abrir as portas.

O Balconista às vezes é meio tosco, certos momentos parece que estamos vendo um filme caseiro feito por amigos. A opção de filmar em preto e branco é porque a pós produção em cores ia ser mais cara, porque usaram diferentes tipos de iluminação. E ainda aproveitaram pra jogar o caô dizendo que era pra simular o preto e branco das câmeras de segurança.

O Balconista é daqueles filmes que tem vários “recortes” que ficaram famosos, como o cara testando os ovos, ou o diálogo sobre “snowball”. E o diálogo sobre a Estrela da Morte em construção continua genial. Aliás, Kevin Smith deve ser um grande fã de Star Wars, todos os seus filmes têm citações.

Outro dia, gravando um podcrastinadores, o Fernando Caruso falou uma coisa que me marcou: você nunca entra no mesmo rio duas vezes, porque a água que está lá não é a mesma, e você também não é o mesmo. Lembrei disso ao rever O Balconista 30 anos depois. O Helvecio de 23 anos gostou de todas as piadas; já o Helvecio de 53 ficou um pouco incomodado com a quantidade de piadas envolvendo temas sexuais. Não tem nenhuma extremamente ofensiva, mas achei um certo exagero. Mesmo assim, reconheço que a maior parte das piadas continua muito boa. E admito: a cena do diálogo sobre o cara que morreu tentando fazer sexo oral nele mesmo é genial.

No elenco, na época não tinha ninguém conhecido (dos 50 atores listados no elenco, foi o primeiro filme de 48 deles), mas depois revimos alguns desses atores fazendo os mesmos personagens em outros filmes do diretor. Kevin Smith criou um “view askewniverse” (View Askew é a produtora dele), foram seis filmes entre 94 e 2006 (O Balconista, Barrados no Shopping, Procura-se Amy, Dogma, O Império do Besteirol Contra-Ataca e O Balconista 2), mais dois filmes “temporões”, O Império do Besteirol Contra-Ataca2 (2019) e O Balconista 3 (2022). Nesses filmes, alguns personagens se repetem, algumas situações de um filme são citadas em outro, e sempre temos a presença da dupla Jay e Silent Bob (interpretado pelo próprio Smith). Aliás, o Silent Bob não é 100% silencioso, tem algumas falas aqui e ali, segundo o imdb a inspiração é Charles Chaplin, que permanecia em silêncio durante a maioria de seus filmes falados, mas muitas vezes tinha um monólogo importante e comovente perto do final.

Claro que continuei acompanhando a carreira de Kevin Smith como diretor, vi Pagando Bem Que Mal Tem, Tiras em Apuros, Red State, Tusk, Yoga Hosers… Mas, infelizmente preciso dizer que prefiro essa fase “view askewniverse”. Alguns filmes são até bons, mas não são geniais quanto os seus primeiros.

Agora tô na dúvida se revejo Dogma ou sigo a ordem cronológica e vejo Barrados no Shopping

Um Tira da Pesada 4: Axel Foley

Critica – Um Tira da Pesada 4: Axel Foley

Sinopse (imdb): O detetive Axel Foley se vê novamente envolvido nos ambientes sofisticados de Beverly Hills para investigar a morte prematura de um conhecido de longa data.

Quando anunciaram Um Tira da Pesada 4, pensei em não fazer crítica, porque lembro pouco do primeiro filme (de 1984), não lembro de absolutamente nada do segundo (87) e não lembro nem se vi o terceiro (94) – devo ter visto, em 94 tinham menos filmes sendo feitos, era mais fácil acompanhar todos os lançamentos. Mas tá todo mundo falando, então resolvi encarar.

Vou repetir um comentário que fiz outro dia no texto sobre Meu Malvado Favorito 4. Alguns filmes escolhem o caminho seguro e repetem uma fórmula que já deu certo antes. É o caso aqui. Um Tira da Pesada 4: Axel Foley (Beverly Hills Cop: Axel F, no original – devem ter gostado da ideia de colocar o nome do personagem no título, como Top Gun Maverick) é exatamente igual ao primeiro filme, com tudo de positivo e de negativo que isso traz.

Por um lado, é ruim. A gente já viu tudo isso. Meio que tanto faz assistir este quarto filme ou rever o primeiro. Mas, por outro lado, quem vai ver um quarto filme do Axel Foley acho que não está procurando novidades. É, pensando por esse lado, a produção acertou. Porque acredito que o filme vai agradar a todos os fãs da franquia.

Preciso reconhecer uma coisa: Eddie Murphy está muito bem. Tanto na parte física – ele está com 63 anos, e continua com a mesma cara! Só pra um efeito de comparação: Judge Reinhold é quatro anos mais velho, e está muito mais acabado! Mas, além de estar bem fisicamente, Murphy ainda é muito carismático e carrega facilmente o filme nas costas. Agora, algumas piadas ficaram datadas. Se quarenta anos atrás a gente ria com afeminado Serge interpretado por Bronson Pinchot, hoje em dia isso não tem mais nenhuma graça.

A direção é do estreante Mark Molloy, o que é curioso porque as outras duas continuações traziam nomes consagrados (Tony Scott e John Landis). Acredito que deve ser estratégia pra ser um filme com “cara de produtor”.

(Aliás, descobri que o terceiro filme é odiado por quase todos, inclusive pelo próprio Eddie Murphy. O roteiro brinca com isso. Quando Joseph Gordon-Levitt analisa os outros três casos de Axel em Beverly Hills, ele menciona que o terceiro “não foi seu melhor momento”, uma clara referência ao Tira da Pesada 3.)

Agora, se tenho um grande elogio é à trilha sonora. Não estou falando da ideia óbvia de usar músicas do primeiro filme – assim como Top Gun Maverick abre com a mesma música do primeiro Top Gun, este quarto filme abre com The Heat is On, do primeiro. Na verdade estou falando do icônico tema instrumental do Harold Faltermeyer (que toda uma geração conhece como “Crazy Frog”), que aqui aparece adaptado em várias versões. O trabalho feito em cima do conhecido tema ficou muito bom.

No elenco, vários atores que já estiveram nos outros filmes, como os já citados Judge Reinhold e Bronson Pinchot, e também John Ashton e Paul Reiser (que estavam nos dois primeiros filmes). De novidade, Taylour Paige, Joseph Gordon-Levitt e Kevin Bacon, além de pontas de Luis Guzmán e Christopher McDonald.

Resumindo: mais do mesmo. O que pode ser bom dependendo de quem for ver o filme.

Assassino Por Acaso

Crítica – Assassino por Acaso

Sinopse (imdb): Gary Johnson trabalha para a polícia e finge ser um assassino de aluguel para prender aqueles que o contratam. Um dia ele quebra o protocolo para salvar uma mulher desesperada que tenta fugir de um namorado abusivo.

Richard Linklater tem vários bons filmes baseados em personagens e diálogos bem construídos. Não são filmes com muitas “pirotecnias” técnicas, mas são filmes gostosos e agradáveis de se acompanhar. Assassino por Acaso (Hit Man, no original) é um desses casos.

Assassino por Acaso supostamente se baseia numa pessoa real (que heu nunca tinha ouvido falar), um professor universitário que tinha um segundo emprego numa equipe da polícia que prendia pessoas interessadas em contratar assassinos de aluguel. Ele cria personagens pra se aproximar dos suspeitos, e isso é a melhor coisa do filme.

Glen Powell é o nome a ser citado. Não só ele é co-roteirista e produtor, como tem um papel onde pode mostrar muita versatilidade. O cara é bonito e muito engraçado. Seu personagem cria várias situações muito divertidas. Assassino por Acaso não tem o perfil de “filme de Oscar”, mas heu não acharia exagero se ele aparecesse com alguma indicação (se bem que acho que o filme foi lançado lá fora no ano passado, então já era). Enfim, Glen Powell é o cara: bom ator, bom personagem.

Adria Arjona (Andor), que faz o principal papel feminino, também está bem e mostra uma boa química com Glen Powell. Sim, em algumas partes, Assassino por Acaso parece uma comédia romântica. Não conhecia mais ninguém no elenco, mas vou te falar que sempre que aparecia o personagem Jasper, heu me lembrava do Ethan Hawke, que já trabalhou em sete filmes do diretor Linklater: Boyhood, Newton Boys, Waking Life, Nação Fast Food, e a trilogia “Before” – Antes do Amanhecer, Antes do Por do Sol e Antes da Meia Noite (isso porque não estou citando Blaze, dirigido por Ethan Hawke e com Linklater no elenco).

Boa parte do conflito apresentado pelos personagens é porque Gary conheceu Maddison quando estava em um dos personagens que criava para o seu trabalho, então ele precisa continuar esse personagem durante a relação. E isso gera algumas cenas muito boas!

Sem entrar em spoilers, mas o fim tem uma moral meio cinzenta. Quando foi chegando naquela conclusão, fiquei na dúvida de como terminaria. Heu gostei da conclusão, mas entendo quem reclame da “moral da história”.

Leve e divertido, Assassino por Acaso vai agradar a maioria dos espectadores. Só não sei quanto tempo vai ficar em cartaz, porque já está no catálogo da Netflix gringa, não sei quanto tempo até chegar aqui.

Plano de Aposentadoria

Crítica – Plano de Aposentadoria

Sinopse (imdb): Quando Ashley e sua filha Sarah se envolvem em um empreendimento criminoso que coloca suas vidas em risco, ela recorre ao pai afastado Matt, atualmente vivendo a vida de um vagabundo de praia aposentado nas Ilhas Cayman.

Não costumo ver trailers, mas me enviaram o trailer deste Plano de Aposentadoria (The Retirement Plan, no original) acabei vendo e curti a ideia. Parecia ser um “novo John Wick”, com o Nicolas Cage no papel principal. Ok, vamos ver qualé.

A comparação é válida, afinal são dois super mega assassinos, aposentados, que são forçados a voltarem à ação. O problema é que John Wick pode até ter uma premissa clichê, mas a execução é bem longe disso. Já Plano de Aposentadoria tem uma execução burocrática, o que nos entrega um filme bem genérico. Escrito e dirigido por Tim Brown, Plano de Aposentadoria é extremamente óbvio. A gente consegue prever tudo o que vai acontecer.

Se tem algo aproveitável é o elenco. Porque, se a trama é previsível e cheia de clichês, pelo menos vemos na tela atores como Nicolas Cage, Ron Perlman, Jackie Earle Haley e Ernie Hudson – inclusive este último é aquele clichê do “amigo do mocinho que entra na trama só pra se ferrar”.

Falei desses quatro atores, mas o melhor personagem é sem dúvida o do Ron Perlman, assassino brutamontes e ao mesmo tempo carinhoso. Se uma coisa vale a pena em Plano de Aposentadoria, é o personagem do Ron Perlman!

As cenas de ação são ok. Não tem nenhuma coreografia de luta que chama a atenção. Mas, pelo menos, mostra sangue quando precisa mostrar.

Por fim, uma coisa curiosa: os diálogos repetem insistentemente que estão procurando um HD, mas o filme só mostra um pen drive. Se a gente vê um pen drive, por que não mudaram o texto dos diálogos?

Pode divertir os menos exigentes. Mas é daquele tipo de filme que a gente esquece na semana seguinte.

American Fiction

Crítica – American Fiction

Sinopse (imdb): Um romancista que está cansado de ver o sistema lucrar com o entretenimento “negro” usa um pseudônimo para escrever um livro que o leva ao coração da hipocrisia e da loucura que ele diz desprezar.

E vamos ao décimo filme do Oscar!

Antes de tudo, preciso falar que não sei se o nome do filme aqui no Brasil vai ser “American Fiction” ou “Ficção Americana”. O imdb fala em “Ficção Americana”, mas a wikipedia não usa nenhum nome em português. E não aparece nada no calendário de lançamentos do filmeB. Na dúvida, vou chamar de “American Fiction” mesmo.

Dirigido e co-escrito por Cord Jefferson, American Fiction traz uma crítica bem pertinente para os dias de hoje. Um escritor negro quer ser apenas um escritor, não quer ser rotulado pela cor da sua pele. Ele se sente incomodado com isso, mas não consegue ir contra o mercado – seus livros mais bem elaborados não vendem bem, enquanto livros de outros autores negros que exploram os clichês e estereótipos figuram nas listas de best sellers. Revoltado com a situação, ele resolve criar um personagem e escreve um livro usando todos os clichês e estereótipos que estava criticando – e o livro é um sucesso. Agora ele precisa lidar com a sua criação e o sucesso que ela está fazendo.

O filme traz algumas sacadas geniais desse personagem que está involuntariamente preso numa espécie de cota mas não quer ser rotulado. Além disso, tem algumas piadas muito boas.

Um dos grandes trunfos de American Fiction está no seu elenco. Jeffrey Wright, o narrador do What If da Marvel, está ótimo como o escritor rabugento e mal humorado – não, não é um cara que a gente vai gostar, ele é antipático e até meio mala. Mesmo assim é um ótimo personagem. E de quebra Sterling K. Brown também está excelente e rouba todas as cenas onde aparece. Não à toa, os dois estão concorrendo ao Oscar (ator e ator coadjuvante, respectivamente). Ainda no elenco, Tracee Ellis Ross, Issa Rae, John Ortiz e Keith David.

Queria comentar duas cenas, mas vou tomar cuidado pra não entrar em spoilers. Uma é o tradicional momento onde o escritor está diante do teclado, desenvolvendo uma parte do livro. Em vez da clássica cena dele digitando, temos a visão dele, e os personagens surgem em tela, desenvolvendo os diálogos. E essa cena ainda conta com Keith David, de Eles Vivem.

A outra cena é o fim do filme, justo a conclusão. A narrativa muda um pouco o estilo apresentado ao longo do filme inteiro. Li críticas com relação a isso, mas posso dizer que curti o final “diferente”.

Uma coisa que achei curiosa, mas não me lembro de ter sido mencionada no filme. O protagonista se chama Thelonious, mas todos só o chamam de Monk. Como é que ninguém no filme citou o pianista Thelonious Monk? Acredito que parte do público não conheça o pianista…

American Fiction está concorrendo a 5 Oscars: filme, roteiro adaptado, ator, ator coadjuvante e trilha sonora.

Quem Fizer Ganha

Crítica – Quem Fizer Ganha

Sinopse (imdb): Com a chegada da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, um técnico precisa de muita dedicação, sorte e empenho de seus atletas para tentar classificar o time de futebol da Samoa Americana, considerada a pior seleção do mundo.

Quem Fizer Ganha (Next Goal Wins, no original) estava na minha lista de expectativas de 2022, por ser o novo filme do Taika Waititi. O filme teve problemas na pós produção e demorou a ser lançado, e ainda por cima foi mal lançado. Um amigo disse que é ruim. Claro que minha expectativa mudou e agora estava lá embaixo.

Mas, não é que curti? Está longe de um Jojo Rabbit (que deu o Oscar de roteiro para Waititi), mas é um filme leve e divertido sobre superação através do esporte.

Um dos problemas da produção foi o personagem Alex Magnussen, que originalmente era interpretado por Armie Hammer. Hammer se envolveu em polêmicas pesadas ligadas a abuso e até canibalismo, então a produção achou melhor trocar o ator por Will Arnett, ou seja, todas as cenas que envolvem o personagem tiveram que ser refilmadas. Não sei o quanto isso atrasou a estreia, mas acho que eles deram mole em não ter lançado perto da Copa do Mundo.

A história contada em Quem Fizer Ganha é muito boa. O time da Samoa Americana entrou na história por ter levado a maior goleada da história das eliminatórias: perdeu de 31 a zero para a Austrália em 2001. E o sonho dos caras não era ganhar um campeonato, mas simplesmente marcar um único gol. Por outro lado, o técnico Thomas Rongen também passava por problemas pessoais e profissionais, quando resolveu assumir o time samoano.

Tem mais: este time tinha uma jogadora trans, Jaiyah, que como estava no meio da transição, ainda podia jogar entre os homens (isso é explicado em um diálogo, em breve ela não poderia mais fazer parte do time). Jaiyah foi a primeira atleta trans a competir em uma eliminatória de Copa do Mundo, e hoje é embaixadora da Fifa pela igualdade.

Uma história dessas merece um filme. Agora, precisamos reconhecer que Quem Fizer Ganha é previsível e usa todos os clichês de “filmes de superação no esporte”.

Todos os filmes do Taika Waititi têm um pé forte na comédia, então claro que Quem Fizer Ganha tem várias cenas engraçadas. O contraste do treinador estrangeiro com toda a calma do povo samoano gera algumas piadas muito boas. Pena que algumas não funcionam, tipo o padre interpretado pelo próprio Taika. Ele como Korg (Thor) ou como Hitler (Jojo Rabbit) funciona melhor.

Por outro lado, Michael Fassbender mais uma vez mostra que é um dos grandes atores em atividade. O seu personagem Thomas Rongen tem camadas, é um cara rabugento e mal humorado, e que aos poucos a gente conhece melhor alguns de seus problemas. Grande ator, grande personagem.

(Para mim, o que enfraqueceu Quem Fizer Ganha não teve nada a ver com o filme. Mas, é difícil a gente não se lembrar de Ted Lasso, onde um técnico “diferente” foi contratado pra treinar um time de futebol. E se Thomas Rongen é um bom personagem, Ted Lasso é ainda melhor.)

No fim do filme, vemos cenas do time real e do treinador real. E tem uma piadinha bem boba no pós créditos.

Quem Fizer Ganha não é um grande filme, mas é um filme divertido e gostoso de acompanhar.