Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola

Um-Milhao-de-Maneiras-de-Pegar-na-PistolaCrítica – Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola

Filme novo do Seth MacFarlane, o mesmo de Ted!

Depois de fugir de um tiroteio, um homem medroso perde sua namorada. Nesse momento, uma bela e misteriosa mulher chega à cidade e o ajuda a retomar sua coragem, e os dois acabam se apaixonando. Só que ele não sabe que o marido dela é um notório fora da lei.

Quem viu Ted, ou quem conhece Family Guy, conhece o estilo de MacFarlane: muito humor grosseiro e politicamente incorreto. Não sou muito fã da parte grosseira, mas sei apreciar uma incorreção política (nem sei se essa expressão existe), principalmente nos dias de hoje, cheios de chatos patrulhando.

Na minha humilde opinião, Ted acertou em cheio o tom do humor. Já Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola (A Million Ways to Die in the West, no original), escrito, dirigido e estrelado por MacFarlane, tem alguns momentos geniais, mas escorrega ao usar muitas piadas escatológicas – por exemplo, Neil Patrick Harris é um ator com excelente timing de comédia, mas vê-lo com diarreia é constrangedor e nada engraçado.

(Por outro lado, uma curta e sensacional cena com Christopher Lloyd, sozinha, já serve como uma das melhores piadas do ano! E ainda em o Jamie Foxx em outra genial referência.)

O roteiro também escorrega na sua trama principal, clichê e básica demais – sujeito rejeitado pela mulher amada, mas que consegue uma melhor ainda – e ainda ficou forçado a Charlize Theron gostar dele. Talvez este seja o principal problema de Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola: um roteiro fraco que se apoia em piadas irregulares, por isso são tantos altos e baixos. Se fosse mais curto (são 116 min) e cortasse parte da escatologia, seria uma comédia mais engraçada.

Aliás, o elenco é muito bom. Se MacFarlane como ator não é lá grandes coisas, pelo menos ele teve a boa sacada de se cercar de gente talentosa, como Charlize Theron, Liam Neeson, Amanda Seyfried, Neil Patrick Harris, Giovanni Ribisi e Sarah Silverman. A fotografia e a trilha sonora também são boas.

Por fim, mais uma vez vamos falar mal do título nacional. Se o filme se chama “um milhão de maneiras de morrer no oeste“, de onde tiraram “um milhão de maneiras de pegar na pistola“???

Anjos da Lei 2

0-Anjos da Lei 2-posterCrítica – Anjos da Lei 2

Uma comédia “bromântica”!

Continuação do Anjos da Lei de 2012. Os policiais Schmidt e Jenko têm uma nova missão: se infiltrarem em uma faculdade, mais uma vez atrás de drogas. O problema é que, em meio à investigação, Jenko conhece sua alma gêmea na equipe de atletismo, e Schmidt começa a questionar a dupla. Em meio aos inevitáveis problemas de relacionamento, eles precisam encontrar um meio de desvendar o caso.

Ok, admito que não curti muito o primeiro Anjos da Lei. É um filme divertido, mas a idade dos atores me incomodou – era um marmanjo de 29 e outro de 31 se passando por garotos de 17 anos.

Desta vez os atores são os mesmos, e ainda estão dois anos mais velhos. Mas, num ambiente universitário, às vezes temos colegas de vinte e muitos anos na mesma aula. Além disso, a idade dos dois protagonistas gera várias piadas ao longo da projeção.

E isso é o melhor de Anjos da Lei 2 (22 Jump Street, no original): o filme não se leva a sério em momento algum. O humor presente no filme é leve, bobo e um com um pé no politicamente incorreto. Algumas cenas são impagáveis, como aquela quando Channing Tatum descobre quem é a namorada de Jonah Hill e sai gritando pela sala, ou a briga final de Jonah Hill contra uma garota. Ah, assim como acontece no primeiro filme, o momento que eles tomam drogas é um dos pontos altos do filme.

A estrutura de Anjos da Lei 2 segue as comédias românticas, mas em vez de ter um casal, são dois amigos – por isso usei o neologismo “bromântico” lá de cima. Aliás, o roteiro é feliz quando usa os clichês de brigas de casal entre os amigos.

A boa química entre o “casal” de atores principais garante bons momentos ao filme, que também conta com Ice Cube, Peter Stormare, Amber Stevens e Wyatt Russell, e pontas de Queen Latifah, Dave Franco e Rob Riggle. Seth Rogen faz uma participação especial em uma rápida cena, justamente a melhor piada do filme, na minha humilde opinião. (Li no imdb que Anna Faris também participa da sequência, mas confesso que não reparei nela).

A direção é dos mesmos Phil Lord e Christopher Miller, dupla que dirigiu o primeiro filme, e que este ano fez o divertido Uma Aventura Lego. O roteiro de Anjos da Lei 2 não é tão maluco quanto o de Lego (escrito pela dupla). Já a cena dos créditos – de longe a melhor parte do filme – foi escrita por Lord e Miller. Não saia do cinema assim que acabar o filme: rola uma sequência com várias piadas sobre possíveis continuações e outros modos de explorar a franquia, como jogos, videogames e desenhos animados.

Ah, último aviso: além da “cena dos créditos”, tem cena “após” os créditos…

Monty Python Live (Mostly)

0-Monty Python Live Mostly-posterCrítica – Monty Python Live (Mostly)

Finalmente consegui ver (no cinema) o último show do Monty Python, realizado em julho deste ano!

O que passou nos cinemas foi exatamente o show que aconteceu em Londres, na Arena O2, com suas duas horas e quarenta de esquetes ao vivo, números musicais e trechos de filmes antigos passados no telão. Uma grande homenagem a um dos melhores grupos de humor da história.

O parágrafo acima pode ter duas interpretações. Vamos a elas?

Monty Python Live (Mostly) é um delicioso presente para os fãs do grupo inglês.

ou

Monty Python Live (Mostly), além de longo demais, é um prato requentado.

Sou muito fã do Monty Python. Vi todos os filmes – algumas vezes cada um – tenho tudo em dvd / blu-ray, mais as temporadas completas do Flying Circus, mais alguns documentários e um monte de filmes “solo” (The Rutles, Um Peixe Chamado Wanda, Erik o Viking, O Homem que Perdeu a Hora, Serviços Íntimos, The Secret Policeman’s Ball, além de toda a carreira do Terry Gilliam como diretor). E se fiquei feliz quando soube da existência de Not The Messiah, musical do Eric Idle com participações do Terry Gilliam, do Michael Palin e do Terry Jones, claro que ia ficar feliz com os cinco reunidos pela primeira vez desde O Sentido da Vida!

Como fã, adorei o filme. Ri muito, me diverti à beça. É um sonho realizado ver de novo, lado a lado, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Michael Palin e Terry Jones! (Carol Cleveland, que trabalhava com eles, também está de volta, e o show teve participações especiais de Mike Myers e Eddie Izzard).

Mas, analisando friamente, Monty Python Live (Mostly) é um produto só para fãs radicais. O público que não conhece ou não gosta de Monty Python vai achar o filme um saco.

Em primeiro lugar, são duas horas e quarenta minutos de filme. E dá pra cortar quase 20 minutos sem fazer esforço. O início do filme é uma tela parada enquanto ouvimos a Lumberjack Song; e no meio do filme tem um intervalo de 15 minutos. Sim, no teatro, isso faz sentido. Mas a gente viu isso no cinema, uma contagem regressiva de 15 minutos na tela. Claro que todos na sala do cinema estavam rindo, isso virou uma piada extra – quem mais colocaria um intervalo de 15 minutos no meio de um filme, sem avisar? Mas, admito, foi over.

Outro problema são os números musicais, que provavelmente estavam lá para as trocas de roupas dos atores. São muitos números musicais, e nenhum deles é engraçado. Música faz parte do universo pythoniano, precisamos do Lumberjack Song, do Every Sperm is Sacred, do Always Look at the Bright Side of Life. Mas, por exemplo, Silly Walk não precisava ter virado número musical.

(Entendo que, com 74 anos, John Cleese não tenha mais a elasticidade de outrora para fazer o seu Silly Walk. Mas achei capenga o modo como fizeram.)

Por fim, é muito engraçado rever esquetes velhas, todo mundo riu (mais uma vez) com os 100 metros rasos para pessoas sem senso de direção ou o futebol dos filósofos. São quadros geniais! Mas, vamos combinar que todo mundo já viu isso, né? O “And Now For Something Completely Different” (“E agora, algo completamente diferente”, título do primeiro filme deles) ficou para trás. O subtítulo poderia ser “And Now For Something Completely Repeated”…

Claro que, ao vivo, lá na Arena O2, tinha sentido você ter um show neste formato, mesmo com as piadas repetidas. Mas, no cinema, foi um programa exclusivo para fãs.

Pena, porque a gente tem que reconhecer alguns lances geniais. Quando os cinco estão no palco, mesmo as piadas velhas se tornam momentos memoráveis!

É sensacional ver a velha piada do papagaio morto com John Cleese e Michael Palin esquecendo as linhas, ou o bigode do Eric Idle caindo enquanto ele fala “Say no more!” no quadro Nudge Nudge. Outras esquetes são velhas mas continuam engraçadas, como o Michelangelo conversando com o Papa ou o homem que compra uma discussão. Eles também fazem piadas com eles mesmos, como o divórcio de John Cleese e o programa de turismo de Michael Palin. E isso porque não falei das piadas de humor negro sobre a morte de Graham Chapman, o único Python já falecido, que aparece algumas vezes no telão.

Talvez exista uma solução para quando Monty Python Live (Mostly) for lançado no mercado de home vídeo: duas versões – esta “versão estendida” e uma outra com pelo menos uma hora a menos.

Agora aparentemente acabou. Segundo os créditos finais, o Monty Python “morreu” em 2014. Bem, os caras estão velhos, de repente tá mesmo na hora da aposentadoria. Pelo menos os fãs ganharam um presentão de despedida…

Sex Tape

0-SexTapeCrítica – Sex Tape

Um casal resolve fazer um filme pornô caseiro para apimentar a sua vida sexual. Ela pede para apagar o filme, mas ele acidentalmente sincroniza o vídeo para vários iPads que o casal tinha dado ao longo do tempo. Agora eles querem tentar trazer todos os iPads de volta, levando a uma série de encontros estranhos na busca.

Sex Tape – Perdido na Nuvem (Sex Tape, no original) é a nova parceria entre o diretor Jake Kasdan e os atores Cameron Diaz e Jason Segel, os mesmos que três anos antes fizeram Professora Sem Classe, filme com boas ideias, mas com resultado meia bomba.

Sex Tape também tem uma premissa mais interessante do que o resultado final, mas pelo menos é mais engraçado que o filme anterior. Alguns momentos são hilários, como toda a sequência na casa do personagem do Rob Lowe, que, apesar de absurda (aquilo tudo nunca aconteceria na vida real), é muito bem orquestrada.

Pena que nem tudo funciona. O humor segue uma linha delicada, que beira a grosseria. A princípio pensamos em uma comédia romântica, pelo elenco, mas tem muitas piadas de baixo calão…

No elenco, Cameron Diaz e Jason Segel fazem o de sempre, e funcionam dentro do esperado. A surpresa está em Rob Lowe, num papel engraçadíssimo. Ainda no elenco, Ellie Kemper, Rob Corddry, e uma ponta de Jack Black.

Ah, é bom avisar: Sex Tape tem uma pegadinha para os fãs de Cameron Diaz. É que ela deu entrevistas falando de cenas de nudez, onde ela e Jason Segel estariam completamente nus. Verdade, eles estão nus em algumas cenas, mas ela quase não mostra nada.

Uma Noite de Aventuras (1987)

Uma noite de aventurasCrítica – Uma Noite de Aventuras (1987)

Para o podcast de comédias dos anos 80, alguém sugeriu este Uma Noite de Aventuras. (Adventures in Babysitting, no original). Como não via desde a época do lançamento no cinema, no fim dos anos 80, fui rever.

Chris, uma jovem de 17 anos fica de babá tomando conta de três crianças, até que uma amiga liga e pede para ser resgatada na rodoviária. Chris sai de casa com os três no carro para buscar a amiga, mas vários problemas aparecem no meio do caminho.

O formato segue um estilo bastante comum na época: coisas vão dando errado sucessivamente (as “muitas confusões” que sempre eram citadas nos comerciais da sessão da tarde), até um fim onde os mocinhos conseguem se safar na boa. Fórmula simples e eficiente, apesar de previsível.

Claro que este formato de comédia às vezes força a barra. Mas quando o roteiro é bem escrito, mesmo uma forçação de barra funciona. Um exemplo: os bandidos nunca seriam parados daquele jeito dentro do clube de blues – mas a cena “ninguém sai daqui sem cantar um blues” ficou divertida.

Uma Noite de Aventuras é o filme de estreia de Chris Columbus na cadeira de diretor – ele já era um roteirista conhecido, já tinha escrito Vidas Sem Rumo, Gremlins, Goonies e O Enigma da Pirâmide. Pra quem não se ligou no nome, depois ele dirigiria Esqueceram de Mim, Rent, Percy Jackson e o Ladrão de Raios e os dois primeiros Harry Potter, entre outros.

No elenco, o único nome de destaque é Elisabeth Shue, em seu primeiro papel de destaque, e que logo depois faria Cocktail e De Volta Para o Futuro 2 e 3 e viraria uma atriz conhecida até hoje. Os dois irmãos são interpretados por Maia Brewton e Keith Coogan, que sumiram. Agora, tive três surpresas com o resto do elenco. Brenda, a amiga a ser salva na rodoviária, é Penelope Ann Miller (O Pagamento Final). O mecânico, aquele cara magro de cabelos louros que só aparece em uma cena, é Vincent D’Onofrio. E Daryl, o moleque vizinho, é Anthony Rapp, que voltaria a trabalhar com Chris Columbus em um dos papeis principais do musical Rent – o garoto cresceu e aprendeu a cantar. Ah, li o nome de Lolita Davidovich nos créditos, mas confesso que não achei onde ela estava.

Por fim: olhem o poster. Por que Chris está de vestido, se ela não usa este vestido no filme? É que o poster foi feito antes das filmagens…

Enfim, um bom e despretensioso “filme de sessão da tarde”.

Picardias Estudantis (1982)

0-Picardias EstudantisCrítica – Picardias Estudantis

Posso falar de um filme que todo mundo viu?

Picardias Estudantis acompanha um grupo de jovens que frequentam a escola Ridgemont High, seus relacionamentos e suas primeiras experiências com a vida adulta.

Os mais novos devem achar Picardias Estudantis (Fast Times at Ridgemont High, no original) um filme bobo de sessão da tarde. Mas, para quem viveu os anos 80, o filme mostra um irresistível painel do que foi a década.

A trama é simples, mas flui bem, com diálogos bem costurados entre os diferentes personagens, todos bem construídos. Ok, temos que admitir que rolam clichês, mas isso faz parte do processo de se fazer um filme neste estilo. A trilha sonora também é muito boa.

Picardias Estudantis tem pedigree: o roteiro é de Cameron Crowe (baseado no livro escrito por ele mesmo), que anos depois dirigiria Quase Famosos, Vanilla Sky e Jerry Maguire; a direção é de Amy Heckerling, que depois faria os primeiros Olhe Quem Está Falando e As Patricinhas de Beverly Hills.

O elenco traz várias curiosidades. Alguns protagonistas viraram grandes estrelas, outros sumiram. E alguns coadjuvantes também entraram para o primeiro escalão de Hollywood.

O primeiro nome nos créditos é Sean Penn, hoje um grande astro, na época um jovem magrelo – e que já mostrava talento. Seus dois companheiros na tela são Eric Stoltz (Pulp Fiction, Parceiros do Crime), e aquele que quase não fala é Anthony Edwards, que depois fez A Vingança dos Nerds e foi o coadjuvante de Tom Cruise em Top Gun. Judge Reinhold anda meio sumido, mas ainda fez sucesso nos anos 80 com os dois Um Tira da Pesada. Por outro lado, o jogador de futebol americano, personagem secundário, é ninguém menos que Forest Whitaker, ganhador do Oscar de melhor ator em 2007 por O Último Rei da Escócia. E, prestem atenção: um cara de boné que está algumas vezes ao lado de Reinhold, mas não tem nenhum diálogo, é um tal de Nicolas Cage, aqui ainda era creditado como Nicolas Coppola. Robert Romanus e Brian Backer tinham papeis importantes aqui, mas sumiram depois do fim dos anos 80. Ainda no elenco, Vincent Schiavelli e Ray Walston como professores.

Entre as meninas, os papeis principais são de Jennifer Jason Leigh e Phoebe Cates. A primeira se tornou uma atriz conhecida e tem grandes performances até hoje; a segunda se aposentou…

Ah, uma última curiosidade no elenco: sabe a loura que ri de Reihhold quando ele está dirigindo fantasiado de pirata? É Nancy Wilson, vocalista do grupo Heart. Anos depois, Nancy se casaria com Cameron Crowe, o roteirista. Mas não sei se este filme teve algo a ver com isso…

Sou de uma geração que se identifica com a década de 80, então gosto muito do filme. Mas reconheço que talvez a juventude atual ache o filme datado demais. Verdade, talvez seja até o caso de filme que pede uma refilmagem atualizada. Enfim, para alguns, Picardias Estudantis pode ser apenas um “filme bobo de sessão da tarde”. Mas, para este que vos escreve, é um “filme de cabeceira”!

p.s.: Em determinada cena, logo no início, um cambista oferece um ingresso para ver um show do Van Halen, em um local próximo ao palco. O preço cobrado pelo cambista é 20 dólares, porque o ingresso original custava 12,50 dólares. Ah, heu queria estar nos EUA e ter idade para ver shows em 1982!

p.s.2: Olha o oportunismo desta capa de dvd, aqui embaixo. “Também estrelando Nicholas Cage e Anthony Edwards” – acho que a maior parte do público termina o filme sem reparar nos dois…

0-Picardias Estudantis2

Uma Cilada Para Roger Rabbit (1988)

roger rabbitCrítica – Uma Cilada Para Roger Rabbit

Hora de rever o genial Roger Rabbit!

Um detetive alcoólatra que odeia desenhos é a única esperança de um coelho quando este é acusado de assassinato.

Lançado em 1988, Uma Cilada Para Roger Rabbit (Who Framed Roger Rabbit, no original) foi um filme revolucionário. Misturar atores “live action” com desenhos animados não era novidade, mas isso sempre acontecia com a câmera parada, e o desenho em apenas duas dimensões – era um ator e uma “folha de papel”. Aqui, os desenhos tinham volume, e a câmera não era estática. Pela primeira vez tínhamos desenhos “sólidos” contracenando com atores! E precisamos nos lembrar que não existia cgi – foi tudo desenhado na mão!

Uma Cilada Para Roger Rabbit tinha outra característica incomum. Devido a uma série de acordos entre diferentes estúdios, nós temos personagens de universos diferentes interagindo. Em uma cena, Patolino e Pato Donald tocam piano; em outra, Mickey e Pernalonga pulam de paraquedas. São vários os personagens da Disney e da Warner, além de outros como Betty Boop, Droopy e Pica-Pau. Não me lembro, na história do cinema, de um “crossover” de personagens tão expressivo como este.

Tudo isso seria pouco importante se o filme fosse fraco – o que felizmente não é. Uma Cilada Para Roger Rabbit é divertidíssimo, traz uma boa homenagem aos filmes noir, no personagem Eddie Valiant, e ao mesmo tempo ao humor de desenhos animados antigos. O humor presente no filme é genial! A sequência inicial – o curta do bebê procurando os biscoitos – é de rolar de rir. E ao longo do filme vemos várias cenas com este estilo de humor absurdo, sempre com um pé no humor negro – como nos bons tempos dos desenhos do Pernalonga, do Pica Pau e do Tom & Jerry (que não estão no filme, infelizmente).

Uma Cilada Para Roger Rabbit foi produzido pela Disney e pela Amblin, produtora de Steven Spielberg. A direção ficou a cargo de Robert Zemeckis, que estava em ótima fase – Roger Rabbit foi feito entre De Volta Para o Futuro (1985) e as suas continuações (lançadas em 89 e 90). Não sei se a experiência em Roger Rabbit teve alguma influência nisso, mas anos depois Zemeckis voltaria ao universo das animações, com os longas Expresso Polar (2004), Beowulf (07) e Os Fantasmas de Scrooge (09).

No elenco, o pouco conhecido Charles Fleischer tem o destaque: é dele a voz do Roger Rabbit, e, de quebra, ele ainda faz as vozes do Benny The Cab e de duas doninhas. Mas não podemos menosprezar o trabalho de Bob Hoskins, que teve que contracenar boa parte do tempo com um personagem inexistente (diz a lenda que Fleischer teria vestido uma fantasia de coelho para ajudar Hoskins durante as filmagens). Outra voz importante é a de Kathleen Turner, no papel de Jessica Rabbit (quando ela canta, é dublada pela Amy Irving, então sra. Spielberg). Curioso notar que, nesta época, Turner e sua voz grave eram símbolos sexuais – mas poucos anos depois, ela interpretaria um travesti na série Friends. E, claro, não podemos deixar de citar Christopher Lloyd, ótimo como o vilão. Ah, de curiosidade: o próprio Mel Blanc, que fazia as vozes de todos os personagens da turma do Pernalonga nos desenhos clássicos, trabalhou na dublagem aqui, repetindo seus personagens famosos – é dele as vozes do Pernalonga, do Patolino, do Gaguinho, do Frajola e do Piu Piu.

Uma Cilada Para Roger Rabbit ganhou 4 Oscars – efeitos visuais, edição, som e efeitos sonoros. Também foi indicado para fotografia e direção de arte. Mas o que chama a atenção são os efeitos visuais – se bem que, para os nossos olhos atuais, acostumados com cgis perfeitos, alguns efeitos já não são tão impressionantes.

Entre os extras do dvd e do blu-ray, têm os três engraçadíssimos curtas que fizeram com o Roger Rabbit e o Baby Herman na época. Lembro que um deles, o da montanha russa, passou nos cinemas brasileiros na época, antes de algum filme – não me lembro qual. Os outros dois, só vi quando comprei o dvd.

Por fim, uma coisa curiosa. Tenho o dvd e o blu-ray nacionais. Como vi com meus filhos, procurei a versão dublada. E tive que ver o dvd, porque no blu-ray nacional, edição especial de 25 anos, não tem dublado em português – além do original em inglês, só tem dublado em francês e em russo…

Mulheres Perfeitas (2004)

0-mulheres-perfeitasCrítica – Mulheres Perfeitas (2004)

Quando uma alta executiva da tv é demitida e entra em depressão, seu marido a leva para a comunidade de Stepford, em Connecticut, onde todas as mulheres são perfeitas – às vezes até demais.

Frank Oz, além de ter sido o braço direito de Jim Henson nos Muppets e de ter interpretado o Yoda, também era diretor. Não é uma carreira muito extensa (12 longas, segundo o imdb), mas tem alguns filmes excelentes – sou muito fã da sua versão de A Pequena Loja dos Horrores. Oz aqui apresenta mais um bom filme.

Este Mulheres Perfeitas é uma refilmagem de Esposas em Conflito, de 1975, inspirado no livro “As Possuídas”, de Ira Levin, lançado em 1972 (todos têm o nome original “Stepford Wives”). Não vi o original, mas pelo que li, é mais sério, mais puxado para o suspense. Esta versão de 2004 não tem nada de suspense, é uma boa comédia de humor negro.

O clima de Mulheres Perfeitas é de uma deliciosa farsa. Tanto é uma farsa que ninguém trabalha naquela cidade, mas todos têm um alto padrão de vida. Os figurinos, a cenografia e a inspirada trilha sonora de David Arnold (parece Danny Elfman, não?) ajudam no clima farsesco.

Algumas características das mulheres de Stepford são inconsistentes. A cena que uma mulher vira um caixa eletrônico não é coerente com a cena final, por exemplo. Falha do roteiro, precisamos reconhecer…

O elenco é excelente. Nicole Kidman está perfeita no papel principal tanto antes, como executiva estafada, quanto depois, como “mulher perfeita”. Christopher Walken exercita sua divertida canastrice com um papel que é a sua cara. Bette Midler, exagerada como sempre, ganhou um papel exagerado que que combina com o seu estilo. Matthew Brodderick é que está um pouco apagado… Ainda no elenco, Glenn Close, Jon Lovitz, Roger Bart e Faith Hill.

Mulheres Perfeitas não é o melhor filme de Frank Oz. Mas pode divertir quem entrar no clima.

Muppets 2: Procurados e Amados

0-muppets-2-posterCrítica – Muppets 2: Procurados e Amados

Ueba! Os Muppets estão de volta!

Um empresário propõe aos Muppets uma turnê pela Europa. Mas é uma armadilha: Constantine, o sapo mais perigoso do mundo, toma o lugar de Kermit, que é levado para uma prisão na Sibéria, enquanto a trupe participa – sem saber – de assaltos a bancos.

Uma das coisas mais legais dos filmes dos Muppets é como eles usam a metalinguagem. Sempre brincam com a linguagem da tv e do cinema, e nunca levam uma trama a sério. Aqui, isso fica claro logo na primeira cena, um número musical que diz “estamos fazendo uma sequência, que não deve ficar tão boa quanto o primeiro filme” (ao longo da música, um personagem lembra que na verdade este seria o oitavo filme…). Bem, discordo da música. Muppets 2: Procurados e Amados (Muppets Most Wanted, no original) é, na minha humilde opinião, tão bom quanto o filme de 2011.

Mais uma vez dirigido por James Bobin, Muppets 2 traz tudo o que se espera de um filme dos Muppets. O humor presente aqui, nonsense, ao mesmo tempo bobo e inteligente, tem várias piadas internas e situações absurdas (eles vão de trem dos EUA até Berlim!). E alguns números musicais são ótimos (“I’ll Get You What You Want” é sensacional, tanto a música quanto a cena em si).

Li no imdb algumas pessoas criticando os personagens que brincam com clichês europeus. Discordo, é uma piada. Quem se sentiu ofendido deve ser algum chato politicamente correto.

No elenco principal, temos Caco (aqui chamado de Kermit), Miss Piggy, Fozzie, Gonzo, Animal, Walter e um incontável número de outros Muppets conhecidos. Ah, também temos alguns atores “humanos”. Ricky Gervais me pareceu um pouco forçado; já Ty Burrell, de Modern Family, e Tina Fey, de 30 Rock, estão ótimos, mesmo com papeis mais caricatos.

Ainda sobre o elenco, Muppets 2 tem um número incrível de participações especiais, várias delas aparecendo em apenas uma curta cena: Christoph Waltz, Chloë Grace Moretz, James McAvoy, Tom Hiddleston, Salma Hayek, Lady Gaga, Tony Bennet, Zach Galifianakis, Frank Langella, Toby Jones, Ray Liotta, Danny Trejo, Jemaine Clement, Rob Corddry, Miranda Richardson, Saoirse Ronan, Til Schweiger e Stanley Tucci, entre outros. E Céline Dion faz um dos números musicais – ao lado dos Muppets!

Infelizmente, os Muppets hoje em dia não têm muito espaço na mídia, talvez por serem adultos demais para as crianças, e ao mesmo tempo infantis demais para os pais. Mas, na humilde opinião deste que vos escreve, o humor dos Muppets tem a dose ideal. Pena que poucos pensam o mesmo.

p.s.: “Boa Noite, Danny Trejo” concorre fácil ao prêmio de melhor piada do ano!

Las Brujas de Zugarramurdi

zugarramurdiCrítica – Las Brujas de Zugarramurdi

Sem nenhum aviso na mídia, tem filme novo do Álex de la Iglesia na área!

Depois de um assalto que deu errado, os assaltantes (e o filho de um deles) fogem em um táxi em direção à fronteira da França, perseguidos pela mãe do garoto e por uma dupla de policiais incompetentes. Durante a fuga eles passam por uma cidade onde bruxas foram queimadas no passado, e acabam caindo nas garras de uma horda de bruxas.

Ok, sei que Álex de la Iglesia não é muito pop. Mas sou fã do cara, que fez, entre outros, Ação Mutante, O Dia da Besta, Perdita Durango e Crime Ferpeito. Não gostei muito de seu penúltimo, Balada do Amor e do Ódio, mas nada que manchasse seu bom currículo.

De la Iglesia tem um raro talento para mostrar humor negro. Seus filmes estão sempre na linha entre o engraçado e o aterrorizante, muitas vezes com um pé no grotesco. A bizarria também está presente em sua obra, mas (quase sempre) dentro do limite do bom senso.

Las Brujas de Zugarramurdi começa muito bem. A cena do assalto, protagonizada por artistas de rua com os corpos pintados tem um clima tenso e ao mesmo tempo engraçado. E a perseguição de carro que vem depois não deve nada a filmes americanos. E as bruxas andando pelas paredes são assustadoras!

Las Brujas de Zugarramurdi ainda tem uma vantagem sobre Hollywood: é mais crível um vilarejo que teve bruxas centenas de anos atrás na Europa do que nos EUA, né?

O filme tem um problema: a parte final é inferior ao resto. A música é longa demais, e o ritual cruza a linha do bizarro. Nada que estrague o filme, mas Las Brujas de Zugarramurdi seria melhor se mantivesse o clima do resto do filme.

O bom elenco, liderado por Hugo Silva, Mario Casas, Pepón Nieto e Terele Pávez, traz alguns nomes curiosos. Carolina Bang, aparentemente a atual musa do diretor, consegue ser sexy e assustadora ao mesmo tempo. Carmen Maura, antiga musa de Almodóvar, faz uma das principais bruxas (é seu terceiro filme com De La Iglesia). Macarena Gomez, de Sexykiller, faz a mãe que está na perseguição. E sabe aquele cara esquisito, magro, de braços e pernas compridas, o Javier Botet? Era o ator debaixo da maquiagem da Menina Medeiros de REC e do fantasma de Mama. Só não gostei de Santiago Segura e Carlos Areces, fazendo duas bruxas, mal aproveitados em papeis pouco desenvolvidos.

Las Brujas de Zugarramurdi não é pra qualquer um. Mas quem curte o estilo vai se divertir!