The Boys – Terceira Temporada

Crítica – The Boys – Terceira Temporada

Sinopse (imdb): Um grupo de vigilantes são dados o trabalho de deter super heróis que abusam da seus poderes.

Pra quem não conhece The Boys, é uma série que fala de super heróis mau caráter. Mas o que chama mais a atenção é a violência gráfica. Parece que desenharam uma linha limite do que seria aceitável, e a série vive desafiando essa linha. Algumas cenas parece que foram colocadas especificamente para chocar.

(A série é baseada numa HQ, não li, deve ser bem violenta. Mas, uma coisa é uma HQ violenta; outra coisa é um filme ou série mostrando sangue e pedaços de corpos.)

Além disso, é uma série muito bem escrita, bons personagens, bons atores, e o roteiro dá umas boas cutucadas na atual sociedade, tanto em termos comportamentais quanto na política.

O elenco é bem legal. Gosto do Karl Urban desde O Senhor dos Anéis, o cara fez Star Trek, RED, Dredd, Thor – mas, apesar do bom currículo, o melhor papel da sua carreira é o Billy Butcher de The Boys. Outro destaque é Anthony Starr, ator que heu não conhecia antes, e que é ótimo como o Homelander, um vilão sensacional e ao mesmo tempo odiável. Outro dos principais é Jack Quaid, que, pra quem não sabe, é o filho do Dennis Quaid e da Meg Ryan.

Mas, não queria falar do elenco que já estava nas outras temporadas. Queria comentar dois nomes novos, um com um papel grande; outro como uma ponta. Um deles é um dos principais nomes dessa terceira temporada, o Soldier Boy, vivido por Jensen Ackles – que foi o Dean Winchester em 15 temporadas de Supernatural (e preciso admitir que não reconheci de primeira!). A série é do Eric Kripke, também criador de Supernatural… O outro é Paul Reiser, que está sensacional como um velho ex-empresário marrento e só aparece em dois episódios (tinha acabado de vê-lo em Stranger Things, num papel burocrático; aqui ele está muito melhor!)

The Boys é uma série muito bem filmada, tecnicamente falando. E mesmo assim, ainda tiveram alguns detalhes aqui e ali que fizeram o produto ficar ainda melhor. Um exemplo é o raccord, que é quando duas cenas diferentes são conectadas por movimentos dos personagens, que acontece algumas vezes no pesadelo do Butcher.

Outra coisa que achei bem legal foram dois momentos da Kimiko ligados a músicas. Um deles é quando ela coloca Maniac, do filme Flashdance, como trilha sonora de uma briga – só não foi uma ideia melhor aproveitada porque a cena é entrecortada por outras lutas simultâneas. Mas o melhor momento da Kimiko foi quando ela acho que tinha recuperado a voz e começa a cantar, e a série vira um musical.

Outro momento completamente inesperado foi quando vemos bichinhos animados representando o que se passa dentro da cabeça do Black Noir – pelo que me disseram, isso não está nas HQs, foi criação da série.

Por fim, um comentário besta, que parece que já tinha nas outras temporadas, mas heu nunca tinha reparado: o Hughie tem várias camisas legais de tema rock’n’roll. Nesta temporada, vi camisas do Daryl Hall & John Oates, Kenny Loggins, Foreigner, Doobie Brothers – The Boys é da Amazon, devia ter um link para comprar essas camisas!

Teve gente que não gostou do fim e do gancho para a próxima temporada. Acho que foi headcanon da galera, achei o final bom. Que venha a quarta!

Reacher

Crítica – Reacher

Sinopse (imdb): Jack Reacher foi preso por assassinato e agora a polícia precisa de sua ajuda. Baseado nos livros de Lee Child.

O personagem é o mesmo dos filmes Jack Reacher de 2012 e 2016, estrelados por Tom Cruise – o primeiro é um bom filme; o segundo é maomeno. Lembro que na época criticaram a escolha de Cruise, que seria muito mais baixo que o personagem no livro (Cruise tem 1,70m; Reacher teria 1,90m). Bem, este problema foi resolvido: agora temos Alan Ritchson, que realmente tem o porte físico que o personagem pede.

Pena que ele é um ator péssimo! Mas, vamos por partes.

Reacher tem a mesma pegada de filmes de ação de segunda linha dos anos 80 e 90. São 8 episódios de aproximadamente 50 minutos cada com algumas boas cenas de “tiro porrada e bomba”, mas com dois problemas básicos. Vamulá.

O primeiro problema é que o roteiro é bem fraco. Os personagens são rasos e unidimensionais (personagem de desenho animado com a mesma roupa), e as situações por onde eles passam são forçadas e são caricatas. Hoje, em 2022, fica difícil de aceitar cenas tipo aquela onde os vilões sequestram e prendem crianças numa fábrica, no meio de funcionários. Acredito que o cinema de ação evoluiu, esse tipo de cena ficou ultrapassada.

O outro problema é o ator Alan Ritchson. Sim, ele tem o “physique du rôle” que o papel pede. Mas ele parece que frequentou a “escola de atuação Cigano Igor”, o cara não consegue ter expressões faciais diferentes! A mesma cara para “meu irmão morreu”, “estou com fome” ou “vamos fazer sexo”. Me lembrou o Schwarzenegger, mas quando o Schwarza interpreta o Exterminador: um robô duro e sem emoções.

O resto do elenco, cheio de nomes desconhecidos, também é ruim, mas nada tão ruim quanto o protagonista.

Se você conseguir se desligar desses dois “detalhes”, pode até curtir a série. Como falei antes, a série tem a pegada de filmes de ação dos anos 80 e 90, mais pancadaria do que lógica. E o protagonista é bom nessas cenas, além de ser uma espécie de Sherlock Holmes quando investiga.

Parece que anunciaram uma segunda temporada. Será que dá pra trocar de ator?

Round 6

Crítica – Round 6

Sinopse (imdb): Centenas de apostadores com dinheiro em caixa aceitam um convite bizarro para competir em jogos infantis. Por dentro, um prêmio tentador espera com um jogo de sobrevivência de alto risco que tem um prêmio de 40 milhões de dólares em jogo.

(Alguém errou no português ao traduzir a sinopse. Não são “apostadores com dinheiro em caixa” – os jogadores não têm dinheiro!)

Depois dos Oscars de Parasita, agora é a vez da Coréia do Sul tirar onda no streaming. Round 6, ou Squid Game, é um sucesso absoluto. Hoje, é a série de maior audiência da Netflix no mundo inteiro.

(Aliás, curioso, o nome no mundo inteiro é “Squid Game”, ou “Jogo da Lula”, o jogo que abre e encerra a série, e que é meio que o símbolo do jogo inteiro (repararam que está no prendedor de cabelo da boneca?). Vi no imdb, Round 6 é o título alternativo na Coreia do Sul, e apenas dois países usam esse título: Canadá e Brasil. Ok, entendo que, hoje, em 2021, chamar uma série de “Jogo do Lula” talvez abrisse margem pra outras interpretações, mas, se vai ter um título diferente do resto do mundo, por que ser em inglês? Por que não “Rodada Seis”?)

Este formato de “jogo onde o competidor pode morrer” não é exatamente novidade no cinema. A gente pode se lembrar de vários outros filmes que usam um formato parecido, como O Sobrevivente, Battle Royale, Jogos Vorazes, Jogos Mortais, A Caçada… Mas não me lembro de nenhum onde os jogadores são voluntários.

Na minha opinião, Round 6 é um sucesso por dois fatores. Um é a a violência gráfica, claro. Mas o outro é um pouco mais subjetivo: a análise social de até onde uma pessoa vai por dinheiro. Os jogadores têm a chance de sair do jogo, e realmente saem. Mas voltam por vontade própria. Ou seja, eles sabem que podem morrer, mas acham que esse risco vale, se a recompensa financeira for realmente boa. E o mais assustador é a gente constatar que se fosse um jogo real, teria muita gente que aceitaria a mesma coisa.

Além do lado de análise socioeconômica, outro fator importante é que é uma produção muito bem feita. Todos os cenários do ambiente dos jogos são fantásticos, desde o dormitório até as arenas de jogos. E aquela escada colorida que lembra Escher é muito legal.

O elenco é bom, mas preciso confessar que não curto muito o estilo de atuação oriental, tudo é muito intenso, muito gritado. Mas reconheço que são bons atores, principalmente o protagonista Lee Jung-jae e a principal personagem feminina Jung Hoyeon.

Tem uma coisa que me intrigou, mas não sei se posso dizer que é uma falha do filme: quem banca esse jogo? Os jogos precisam de lugares amplos e, alguns deles, de estruturas complexas. Além disso, são muitos funcionários – que, como agem ao largo da lei, precisariam de bons salários. Em determinado momento da série, somos apresentados a algumas pessoas que estariam financiando, mas achei que algo desse porte precisasse de mais. Se tivesse algum meio de transmissão para espectadores espalhados pelo planeta seria mais fácil de comprar essa ideia.

Pena que nem tudo funciona. São 9 episódios, um tem meia hora, os outros têm uma hora cada. E nem sempre tem história pra tudo isso. São vários momentos arrastados.

E preciso dizer que não gostei do final. Tem um plot twist forçado, e tem gancho péssimo pra segunda temporada.

Não vou entrar em mais detalhes aqui por causa de spoilers, mas gravei um Podcrastinadores onde analisamos todos os episódios, deve ir ao ar em duas semanas, fiquem de olho em podcrastinadores.com.br!

Dom

Crítica – Dom

E vamos para mais uma série nacional: Dom!

Sinopse (prime video): Um pai que vive para combater as drogas. Um filho que vive se entregando a elas. Dois lados da mesma moeda. Victor é um policial que lutou contra o tráfico de cocaína durante toda sua vida. Seu filho é um dependente químico que se tornou um dos mais procurados assaltantes do Rio de Janeiro, o Pedro Dom. Será o amor de um pai suficiente para salvar a vida do filho?

Inspirado numa história real, Dom tem duas linhas temporais. Em 1970, um jovem mergulhador acaba virando um agente infiltrado no morro Santa Marta, para acompanhar a chegada da cocaína no Rio de Janeiro. E em 1999, o mesmo personagem, adulto, convive com um filho viciado em cocaína.

Dom foi baseado em uma história real. Existiu um Pedro Dom, líder de uma quadrilha que roubava apartamentos de luxo, que era viciado em cocaína e morava na Zona Sul. Como não me lembro de detalhes sobre o caso, não sei quanto do que está na série realmente aconteceu e o quanto é ficção. Enfim, aqui vou falar só sobre a série.

A série é baseada em dois livros, “Dom”, de Tony Belotto; e “O Beijo da Bruxa”, de Luiz Victor Lomba. A produção ficou com a cargo da Conspiração, e a direção é de Breno Silveira (Dois Filhos de Francisco, Gonzaga de Pai pra Filho, Entre Irmãs).

Primeira série produzida pela Amazon aqui no Brasil, Dom chama a atenção pela qualidade técnica, que não deixa nada a dever pra produções gringas. Por mais que 1999 seja “ontem”, não deixa de ser uma produção de época. Aliás, falando neste aspecto, a parte contada em 1970 não tem só roupas e penteados coerentes com a época – a gente vê calçadas com orelhões e dezenas de carros de época espalhados.

Mas não é só a reconstituição de época. Com muitos takes externos, em várias paisagens cariocas, a fotografia de Dom em nada lembra produções televisivas. Dom tem cara de cinema.

Li uma crítica que tem uma certa lógica. A história que se passa em 1970 não tem nenhuma conexão com a de 1999. Ou seja, para uma série chamada “Dom”, metade da história não tem nenhuma relação com o personagem título. Verdade. Mas isso não me incomodou, porque a história de 1970 com o Victor jovem é muito boa e muito bem contada. Mas entendo quem reclame deste detalhe.

As atuações são ótimas. Não conhecia o protagonista Gabriel Leone, li em algum lugar que ele estava irreconhecível (ele tem carreira na TV, mas confesso que nunca tinha visto nada dele) – e realmente ele está bem diferente das fotos de divulgação por aí. Aliás, preciso admitir que não conhecia quase ninguém do elenco, mas afirmo que todos estão bem. Flavio Tolezani e Filipe Bragança interpretam Victor nas duas linhas temporais. Também no elenco, Raquel Villar, Isabella Santoni, Digão Ribeiro e Ramon Francisco. E pra não dizer que não conhecia ninguém do elenco, tem dois nomes, que estavam em Cidade Invisível: Julia Konrad e Fábio Lago. Aliás, preciso dizer que, assim como em Cidade Invisível, Fábio Lago também está muito bem aqui.

Preciso falar que não gostei do fim. O último capítulo não tem muita coisa pra contar, a história meio que se arrasta, podia ter sido só com sete capítulos. E a cena final, logo a última, não gostei, porque mostra um personagem diferente daquele que a gente viu durante toda a série. É complicado falar sem spoilers, mas as atitudes do personagem naquela cena final não combinam com o que foi apresentado até lá. Fui pesquisar, aquilo realmente aconteceu com o Pedro Dom da vida real, provavelmente filmaram a cena por isso. Mas, na série, ficou over. A não ser que isso seja um gancho para uma segunda temporada, que desenvolveria o personagem e mostraria como ele chegou naquele ponto. Mas, do jeito que foi mostrado, não gostei. Não chega a estragar a série, mas por mim o final seria sem aquela cena.

Dom tem 8 capítulos de aproximadamente uma hora cada, e está disponível na Amazon Prime Video.

Friends Reunion

Crítica – Friends Reunion

Finalmente, 17 anos depois, temos algo inédito de Friends!

Vou aproveitar e contar a minha história com Friends. A série começou em 1994. Heu não vi desde o início, comecei a acompanhar durante a terceira ou quarta temporada, alguém me indicou e a série passou a fazer parte da minha rotina.

Vamos contextualizar pra quem não viveu a época. Friends passava na TV a cabo, pela Sony. Os episódios da temporada corrente passavam nas terças, no horário nobre – acho que era entre 21h e 21h30. Mas, de segunda a sexta, meia hora antes, tinha um Friends de temporadas anteriores sendo reprisado às 20h30. Ou seja, se por um lado era complicado porque a gente não sabia qual episódio ia ser exibido naquele dia e por isso muitas vezes a gente via episódios repetidos, por outro lado era fácil ver tudo das temporadas anteriores.

(E se vocês acham que ver séries assim era ruim, um dia conto como era ver séries na época da TV aberta. Era beeem pior.)

A partir da quarta temporada, heu já acompanhava os novos episódios nos dias que eram lançados aqui. Lá em casa a gente tinha a “terça feira feliz”, que era dia de pedir pizza e assistir Friends. Vou além: heu gravava os episódios em fitas VHS, cheguei a ter todas as temporadas em várias fitas – se heu soubesse que no futuro lançariam um box em dvd…

Vi Friends até o fim. As últimas temporadas tiveram alguns momentos meio fracos, mas me lembro que a série terminou bem. Teve um spin off do Joey, que era bem mais fraco e durou uma ou duas temporadas, mas ninguém viu, o que ficou na memória de milhares de fãs pelo mundo foram os bons momentos de uma das maiores sitcoms da história da TV.

E desde então começaram a surgir boatos sobre uma volta. Uma nova temporada, ou um filme, quem sabe? Afinal, existiam milhares de fãs órfãos, e nenhum dos atores teve muito sucesso depois que a série acabou – talvez só a Jennifer Aniston, não sei ao certo.

Dezessete anos se passaram, e finalmente temos algo novo. Mas não vimos Monica, Rachel, Phoebe, Joey, Chandler e Joey. Quem aparece em tela são Jennifer Aniston, Courteney Cox, Lisa Kudrow, Matt LeBlanc, Matthew Perry e David Schwimmer. Friends Reunion é focado nos atores e não nos personagens.

O filme se divide em alguns ambientes. Temos os seis atores visitando um set igual ao usado nas filmagens (o apartamento e a cafeteria); temos uma entrevista feita com plateia, guiada por James Corden. Temos depoimentos de anônimos e alguns famosos (como Kit Harrington e David Beckham) sobre como Friends marcou suas vidas (curioso notar que depoimentos de anônimos são muito mais interessantes que os dos famosos). Temos entrevistas com os criadores da série, David Crane, Marta Kauffman e Kevin S. Bright; temos um momento onde os seis estão sentados a uma mesa, lendo trechos do roteiro, entremeados dos trechos originais da série (talvez este seja o melhor momento deste especial). Também temos uma participação desnecessária de Cindy Crawford, Cara Delevigne e Justin Bieber – mas, por outro lado, a participação da Lady Gaga foi sensacional. Tem participações de alguns atores recorrentes da série, mas é spoiler então não vou dizer quem aparece.

Na introdução, comentam que desde que a série terminou, os seis só estiveram juntos em uma ocasião, ou seja, por mais que isso desagrade os fãs mais xiitas, eles não são amigos de verdade, são apenas atores. Não achei um exagero, me lembrei que já tive diversos trabalhos com música onde perdi o contato depois com meus ex companheiros de banda. Claro, sei que nunca tive um trabalho tão relevante e de tanto sucesso assim, reconheço que é uma comparação bem distante. Mas, por exemplo, tive uma banda de heavy metal nos anos 90, gravamos cd, tivemos vários shows em outros estados – e não conseguimos reunir a banda toda nem no único show de revival que a gente fez depois de anos – um dos guitarristas estava morando em outro país e não participou. Mas, isso pouco importa para o espectador. Se eles eram amigos ou não, não importa, o que importa é que eles funcionavam bem atuando juntos.

Li uma crítica que fala que Friends Reunion é “chapa branca”, porque não menciona os podres, não fala dos problemas de drogas, não fala do fracasso do spin off, etc. Mas, sério que vc quer comemorar um reencontro e ficar revirando podres? Não é melhor celebrar os muitos bons momentos?

Não sei se Friends Reunion vai agradar a todos os fãs. Muita gente vai achar que faltou algo, muita gente vai querer mais. Mas heu gostei. Sobre a pergunta por que eles nunca fizeram um filme. a Lisa Kudrow fala que a série terminou com finais felizes para todos os seis, e que para voltarem em uma nova temporada ou em um filme, esses finais felizes teriam que ser bagunçados, e ela disse que preferia que deixasse assim.

Para o fã é algo difícil de aceitar, porque o fã quer mais. Mas heu concordo. Prefiro algo que termine bem do que algo que estique e perca a magia. Por isso, adorei o Friends Reunion, e que seja um evento único.

Cidade Invisível

Crítica – Cidade Invisível

Oba! Folclore nacional!

Sinopse da Netflix: Após uma tragédia familiar, um homem descobre criaturas folclóricas vivendo entre os humanos e logo se dá conta de que elas são a resposta para o seu passado misterioso.

Sempre fui fã do folclore nacional. E sempre defendi que isso geraria boas histórias fantásticas pro cinema. Pra provar que falo isso há tempos, vou deixar aqui o link de um curta de metragem de terror que fiz com o Boitatá. O curta não é muito bom não, fiz coisa melhor depois, mas, vale o registro!

(Ainda dentro do tema, recomendo o filme Fábulas Negras, organizado pelo Rodrigo Aragão. São 5 curtas, dirigidos pelo próprio Aragão, além de Zé do Caixão, Joel Caetano e Peter Baiestorf, e mostrando Monstro do Esgoto, Loira do Banheiro, Iara, Saci e Lobisomem. Dá pra fazer uma sessão com o meu curta e depois esse filme! 🙂 )

Vamos à série. Produção Netflix, Cidade Invisível é uma criação do Carlos Saldanha. Pra quem não ligou o nome à pessoa, Carlos Saldanha é um dos brasileiros mais bem sucedidos em Hollywood. Ele dirigiu os três primeiros A Era do Gelo, Touro Ferdinando e os dois Rio – todos, longas de animação da Blue Sky. Ele foi indicado duas vezes ao Oscar, por Touro Ferdinando e por um curta do esquilinho Scratch. E agora ele estampa o nome na abertura de Cidade Invisível – não sei o quanto ele esteve envolvido na produção. São sete episódios, dirigidos por Luis Carone e Julia Jordão. A série é baseada na história desenvolvida pelos roteiristas e autores de best-sellers Raphael Draccon e Carolina Munhóz.

E, olha, como é legal ver uma produção bem feita, usando as nossas lendas!
Várias gerações de brasileiros cresceram lendo livros e vendo adaptações na TV do Sítio do Pica Pau Amarelo. Ok, sei que existe uma polêmica hoje em dia envolvendo o Monteiro Lobato, mas não quero falar do homem, e sim da sua obra. Se hoje a gente fala sobre Saci, Cuca, Boitatá, Caipora e afins, muito se deve ao Monteiro Lobato e aos livros do Sítio. E heu sempre achei que essas lendas poderiam gerar histórias fantásticas pra adultos (tanto que fiz o curta do Boitatá e tinha um projeto pra fazer da Iara). E fiquei muito satisfeito com o resultado de Cidade Invisível. O clima é sério, é uma série de investigação policial, e os efeitos especiais são discretos e funcionam bem (um problema que Fábulas Negras teve foi a caracterização do Saci, ficou tão tosco que provocava risadas em vez de dar medo).

A trama foi adaptada pra se passar nos dias de hoje, em uma cidade grande – no caso, o Rio de Janeiro. Decisão arriscada, mas gostei – o mais fácil seria se passar no interior, em um tempo indeterminado, sempre que alguém fala em Saci ou Iara a gente logo pensa em fazendas e florestas. Colocar essas entidades na Lapa foi uma ótima sacada! Quem frequenta a Lapa sabe que, se tem gente estranha e diferente no Rio, é lá que eles vão se encontrar!

(Causos curiosos: lembro de ter encontrado o Jimmy London, o Tutu, em um show do Canastra, na Lapa. Me senti em casa vendo a série.)

Ouvi críticas com relação a isso, que Cidade Invisível deveria se passar no interior, que o boto é uma lenda da região Norte e não deveria ser encontrado em uma praia no Rio, etc. Ok, entendo as críticas, realmente folclore tem mais cara de interior rústico do que cidade grande cosmopolita. Mas, por outro lado, acho que os realizadores quiseram aproveitar o potencial turístico pra fazer um produto mais fácil de vender. Vamulá, a gente sabe que o Rio é uma das coisas mais famosas do Brasil. Deve ficar mais fácil vender um produto brasileiro se tiver paisagens conhecidas mundialmente, não? E, disse antes, repito: achei a adaptação muito boa.

(Heu mesmo, nos meus curtas, já usei paisagens turísticas. Pô, se moro aqui, por que não usar os cenários que estão disponíveis na minha cidade?)

Agora, gostei da adaptação, mas também tenho um mimimi, cabe aqui? Achei que a Iara tinha que ser uma índia! Adorei a personagem adorei a atriz, mas, pra mim, Iara tinha que ser índia. E queria ver a Cuca em versão “jacaré”!

Aproveitando que falei da Iara, preciso dizer: que cena maravilhosa aquela onde a gente descobre quem ela é, e como ela hipnotiza com seu canto e leva para a água! A cena ficou fantástica!

Aliás, não só a Iara. Uma coisa legal de Cidade Invisível é esse jogo de tentar entender quem é cada entidade. Não sei se gostei de ver a origem de cada uma (prefiro uma entidade que sempre foi aquilo, em vez de uma pessoa que virou entidade), mas isso não chega a atrapalhar.

Já que falei das entidades, vou me aprofundar um pouco. Queria ter visto a Cuca “jacaré”, mas, mesmo assim, achei que todas estão muito bem representadas na tela. Adorei o Curupira! Quero ver um spin-off com esse Curupira! E o Saci ter uma perna mecânica foi uma sacada de gênio!

Vamos aproveitar pra falar do elenco. Acho que heu só conhecia a Alessandra Negrini (e o Jimmy London como músico, nem sabia que ele atuava). Não conhecia o resto, gostei de todos, mas não vou entrar em detalhes aqui, porque não quero falar quem faz cada entidade. Mas, se fosse escolher um pra ganhar o prêmio de melhor atuação, com certeza seria o que faz o Curupira. Vamos aos nomes, sem especificar quem é quem: Marco Pigossi, Alessandra Negrini, Áurea Maranhão, Fábio Lago, Jéssica Córes, Wesley Guimarães, José Dumont, Jimmy London e Victor Sparapane.

A história fecha no fim do último episódio, mas deixa um gancho para continuar. Que venha a segunda temporada!

Death Valley

?????? ??????? ?????? ????????? / Death ValleyCrítica – Death Valley

Antes da minha última viagem, procurei recomendações de uma série curta para colocar no celular. Me falaram de uma série da MTV que só teve 12 episódios de 21 minutos cada, e que tinha uma premissa genial – uma cidade que sofria com ataques simultâneos de zumbis, de vampiros e de lobisomens! Perfeita!

Trata- se um “mockumentário” (documentário fake) de humor negro, seguindo policiais da UTF – Undead Task Force – uma unidade específica para tratar de casos de natureza sobrenatural.

Gostei muito do estilo de humor absurdo usado na série: uma cidade – Los Angeles! – que continua a vida normal, convivendo tranquilamente com zumbis, vampiros e lobisomens. O humor absurdo também está presente em alguns diálogos – o capitão Dashell solta umas frases sensacionais, completamente nonsense.

O ritmo da série é muito bom. O humor negro é bem dosado, e a série sabe ser séria quando é pra ser séria. Os personagens são bem construídos e os atores têm boa química.

A série não é perfeita, algumas coisas me incomodaram, tipo o sol não matar os vampiros. Queima, machuca (nada de vampiros purpurina), mas não mata. Mas posso afirmar que tem muito mais coisas boas do que ruins, o saldo é positivo.

No elenco, ninguém conhecido, só reconheci Tania Raymonde, que teve um papel secundário em Lost – Caity Lotz está na série Arrow, mas como nunca vi esta série, não conhecia a atriz. Também no elenco, Texas Battle, Bryce Johnson, Charlie Sanders e Bryan Callen.

Death Valley só teve uma temporada, em 2011 – o último episódio termina com um interessante gancho para uma possível segunda, que nunca foi confirmada. Pena, heu veria mais.

 

Star Wars Holiday Special

0-Star-Wars-Holiday-SpecialCrítica – Star Wars Holiday Special

Em comemoração ao “Star Wars Day” (por causa do trocadilho “may the four” be with you), tomei coragem e revi o famoso Star Wars Holiday Special. Pena que é famoso pelo motivo errado.

A trama: depois dos acontecimentos de Guerra nas Estrelas (na época não tinha esse papo de “episódio”), Chewbacca está voltando para casa em Kashyyyk, onde vai encontrar sua família para celebrar o “dia da vida”, uma espécie de dia de ação de graças wookie.

Mas, antes de falar do filme, vou contar um causo da minha infância. Quando Guerra nas Estrelas passou nos cinemas brasileiros, em 1978, heu tinha 7 anos, e meu pai disse que heu não tinha idade para ver o filme. Não existia video cassete, muito menos internet. Então, colecionei o álbum, mas não vi o filme (só consegui ver quando teve uma reprise depois do lançamento de O Império Contra Ataca).

Mas, eis que surge uma propaganda: ia passar Guerra nas Estrelas na tv! Acho que era na TVS, mas não tenho certeza. Minha família ia viajar, consegui convencê-los a adiar a viagem pra poder ver – não tinha como gravar pra ver depois!

Lembro da decepção na hora, porque não era o filme que heu achava que seria. Mas não me lembrava se era ruim ou não.

Anos se passaram, e, em uma convenção, encontrei um dvd pirata em uma banquinha com o tal Star Wars Holiday Special. Comprei, junto com outros dvds com vários extras. Naquela época, já sabia que era ruim. Um dia, resolvi ver. Mas, olha a ironia – me venderam o disco errado dentro da caixinha do dvd!

Mais alguns anos se passaram, e hoje o Star Wars Holiday Special é facilmente encontrável pela internet. Finalmente, encarei as quase duas horas de um dos filmes mais trash da minha vida!

Pra quem não sabe do que se trata: é um especial de tv do canal CBS, que foi ao ar em 17 de novembro de 1978 (não tenho ideia de quando passou aqui). Parece que George Lucas queria manter a franquia na cabeça das pessoas antes do lançamento de O Império Contra Ataca, então aprovou um roteiro e delegou pessoas para desenvolverem o projeto. Mas parece que foram as pessoas erradas…

A ideia podia funcionar. Afinal, tá todo mundo lá – o elenco conta com Mark Hammill, Harrison Ford, Carrie Fisher, Anthony Daniels, Peter Mayhew e até a voz de James Earl Jones como Darth Vader. Era só não esticar demais. Tem MUITA encheção de linguiça!

Provavelmente por razões mercadológicas, fizeram um programa de duas horas (são 97 minutos mais os intervalos). Então o filme mostra o tédio da família wookie enquanto espera pelo Chewbacca. A história é interrompida o tempo todo por números musicais nada a ver com a trama, além de um número de circo (!). E isso porque não estou falando de outras coisas inúteis, como um programa culinário apresentado por um homem vestido de mulher com quatro braços…

Não falei, mas as atuações do elenco são todas péssimas – tanto o elenco principal de atores pouco conhecidos hoje em dia (Art Carney, Bea Arthur, Harvey Korman) quanto as participações especiais dos atores do filme. Os cenários e efeitos especiais têm a qualidade (ou falta de qualidade) coerente com uma produção vagabunda de tv dos anos 70. Mas o pior de tudo, sem dúvida, é a falta de ritmo. As duas horas parecem durar muito mais, o especial é interminável!

Ah, tem o desenho, a única coisa “boa” que veio deste especial desastroso. Determinado momento, o filho do Chewbacca, preocupado com o pai, liga a tv pra ver um desenho animado – que tem o pai como um dos protagonistas. Sim, também não vi a lógica de colocar o filho vendo o pai através de um desenho animado, mas, no meio do caos que é o Star Wars Holiday Special, nem vou questionar isso. A importância deste desenho é que foi a primeira aparição do Bobba Fett, um dos personagens secundários mais cultuados da história.

Ah, o desenho é apenas médio. Ou seja, muito melhor que todo o resto do especial. 😉

Resumindo: se fosse um especial de meia hora, sem as participações off-Star Wars, talvez fosse algo relevante no cânon da franquia. Do jeito que ficou, todos os envolvidos querem esquecer este desastre.

A versão que vi é a “rifftrax”. São três pessoas fazendo comentários engraçadinhos em áudio ao longo de todas as quase duas horas – fazem piadas até em cima dos intervalos comerciais (algumas propagandas são tão ruins quanto o especial em si). Às vezes eles falam demais, heu gostaria de ter ouvido a Carrie Fisher cantando. Mas admito que alguns momentos ficaram hilários, ri alto no momento “I see a little sillouetto of a man”….

Star Wars Holiday Special nunca foi reprisado. Também não foi lançado em vhs, dvd ou blu-ray. Diz a lenda que o George Lucas, num “momento Xuxa”, tentou comprar e destruir todas as cópias. Hoje está no youtube e em outros sites de download, qualquer um pode ver.

Só precisa ter coragem. Não é para os fracos!

Bag Of Bones

Crítica – Bag of Bones

Minissérie com dois capítulos baseada em Stephen King. Ok, vamos ver qualé.

Quando sua esposa morre num acidente de carro, um escritor de sucesso vai para um retiro em uma casa isolada à beira de um lago. Lá, ele acaba envolvido na briga sobre a custódia de uma garotinha.

Não sei exatamente por que, mas Bag of Bones simplesmente não engrena. O elenco está burocrático. Pierce Brosnan e Melissa George parecem estar no piloto automático. O mesmo acontece com a direção, a cargo de Mick Garris, que tem um currículo razoável na TV mas fez pouca coisa no cinema (ele fez Sonâmbulos, de 1992, também baseado em Stephen King).

Os efeitos especiais são fracos, mas isso era esperado num filme para tv. Mas o pior problema de Bag of Bones é a parte final, confusa e sem sentido. A primeira metade só é fraca; a segunda metade é ruim mesmo.

Dispensável.

Spartacus: Blood and Sand – Series Finale

Crítica – Spartacus: Blood and Sand – Series Finale

Chega ao fim, em grande estilo, a série Spartacus: Blood and Sand, depois de quatro curtas temporadas (ou três curtas temporadas e mais um ainda mais curto spin-off, o prequel Gods of the Arena). E digo, sem medo de exagerar: foi uma das melhores séries que já vi!

Como falei no meu texto sobre o fim da primeira temporada, “Na trama, o soldado trácio Spartacus é capturado, transformado em escravo, e é jogado na arena para ser morto. Mas acaba mostrando seu valor e virando o campeão dos gladiadores.

Spartacus: Blood and Sand conseguiu algo raro quando falamos de seriados de tv: não há nenhum episódio ruim! Foram ao total 39 episódios ao longo de quatro anos. Sempre mantendo um pique acima da média.

A série foi toda num ótimo pique. Personagens carismáticos, sexo, nudez, sangue e violência em abundância, efeitos especiais bem colocados, visual estilizado e uma trama cheia de intrigas foram a fórmula usada. Junte a isso temporadas curtas que não deixam espaço para “barrigas” e você tem uma série quase perfeita.

A primeira temporada, Blood And Sand, foi a maior, com 13 episódios. No início parecia uma versão de 300 com Gladiador, o que chamava a atenção era o visual estilizado, com muita violência em câmera lenta. Mas com o passar do tempo, vimos uma trama inteligente, cheia de intrigas políticas.

Aí a série teve um baque grande. Andy Whitfield, logo o ator que interpretava o personagem título, foi diagnosticado com câncer ao fim da primeira temporada. Como ele precisava se retirar para tratar da doença, inventaram um prequel, Gods Of The Arena, que mostrava em apenas seis capítulos o passado de Batiatus, o dono dos escravos gladiadores. Como era antes do Spartacus, precisavam de um novo protagonista, e fomos apresentados a Gannicus, um lutador fenomenal, mas que tinha um comportamento oposto ao do sisudo Spartacus, e vivia bebendo e com mulheres.

(O imdb considera este prequel uma série diferente. Mas, caramba, são os mesmos personagens, mesmos atores, mesmos cenários… Por que não admitir que é a mesma série?)

Veio a notícia triste: a morte de Whitfield. Liam McIntyre foi contratado para o seu lugar. Heu preferia Whitfield, mas admito que McIntyre fez um bom trabalho nas duas últimas temporadas.

A terceira e a quarta temporada, cada uma com dez episódios, mostram Spartacus e os gladiadores liderando ex escravos na luta contra Roma. Na terceira, Vengeance, o inimigo é Gaius Claudius Glaber, o responsável por Spartacus ter virado um escravo e pela morte de sua esposa; na quarta, War Of The Damned, é Marcus Crassus, rico aristocrata com aspirações políticas.

Até semana passada, heu achava que o episódio da semana passada seria um “season finale”, mas sem dúvida foi um “series finale”. Por um lado, fico triste de saber que ano que vem não tem mais; por outro lado fico feliz e aliviado de saber que não vão fazer besteira e estragar a série esticando-a (coisa que infelizmente acontece muito por aí).

Este último capítulo até começou lento. Mas, durante a batalha final, me vi torcendo como se fosse num importante jogo de futebol a cada manobra dos ex-escravos contra as legiões romanas. E o fim da batalha (e da série) foi coerente e digno.

Parabéns ao elenco que nos trouxe vários personagens memoráveis (Gannicus, Oenomaus, Batiatus, Crixus, Lucrecia, Ilithya, Saxa, Gaia, Heracleo, Varro, etc.). E, principalmente, parabéns ao canal Starz e a Steven S. DeKnight, criador da série. Ficarei de olho nas suas próximas produções!