Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo

Crítica – Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo

Sinopse (imdb): Uma jovem sai em busca de guerreiros de outros planetas para enfrentar um exército de invasores que aterrorizam a pacífica colônia onde vive.

Estou atrasado. Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo (Rebel Moon – Part One: A Child of Fire, no original) foi lançado no fim de dezembro, na época que heu estava montando minhas listas. Mas, depois de ver o filme, fiquei pensando se a estratégia foi exatamente essa, acho que lançaram numa época onde boa parte dos críticos estaria fazendo listas…

Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo é uma tentativa do Zack Snyder de fazer um filme de Star Wars. Segundo o imdb, Snyder teria apresentado o roteiro pra Lucasfilm em 2012, mas o projeto acabou cancelado. Anos depois, Snyder levou pra Netflix e conseguiu sinal verde.

Mas, diferente da maioria, não vou falar muito mal de Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo. Não, não é um bom filme, mas também não é esse lixo todo que estão falando. Como comentei aqui semana passada, as expectativas podem influenciar positiva ou negativamente, e as minhas expectativas para esse filme eram zero, heu já sabia que ia ver um filme genérico. E Rebel Moon é exatamente isso, um Star Wars genérico – e cheio de câmera lenta.

Na verdade, o roteiro de Rebel Moon parece um fan film escrito por um adolescente que acabou de ver, pela primeira vez, Guerra nas Estrelas e Mercenários das Galáxias. Porque tudo no filme lembra Guerra nas Estrelas (tem até uma espada luminosa pra ser o sabre de luz!), e o desenrolar da história é o mesmo de Mercenários das Galáxias (que é a mesma história de Os Sete Samurais – uma vila pobre é atormentada por cruéis vilões, e uma pessoa da vila sai atrás de ajuda de samurais de outros lugares).

Em defesa de Rebel Moon, o visual do filme é muito bonito. A protagonista mora numa lua de um planeta com anéis, é muito legal em vez de ter uma lua no céu, ter um planeta enorme. É um filme vazio, mas pelo menos é bonito. Snyder deveria desistir de roteiro e focar só na direção de fotografia. Fica a dica!

Ah, sim, tem câmera lenta. Muitas vezes. Exageradamente. Mas, é uma das características do diretor. Reclamar de câmera lenta em filme do Zack Snyder é a mesma coisa que reclamar de lens flare em filme do JJ Abrams, ou de closes nos pés das atrizes em filme do Tarantino, ou de tudo estar simétrico em filme do Wes Anderson. Faz parte do pacote.

O elenco é ok. Sofia Boutella faz a protagonista, gosto dela, torço pra que ela consiga filmes melhores. Anthony Hopkins faz a voz do robô que aparece no início. Jena Malone faz a aranha gigante, está difícil de reconhecer. Uma curiosidade: é a primeira que Ed Skrein e Michiel Huisman trabalham juntos, desde que o segundo substituiu o primeiro como o Daario Naharis em Game Of Thrones. Também no elenco, Djimon Hounsou, Doona Bae, Ray Fisher, Charlie Hunnam, Cary Elwes e Cleopatra Coleman.

Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo tem um problema bem comum hoje em dia, que é ter uma história sem fim. Parece que o filme inteiro é sobre o recrutamento dos “sete samurais”, e a história em si só deve começar no próximo filme. Acho ruim, mas é uma tendência cada vez mais recorrente. E o pior é que rolam boatos de que serão vários filmes e seriados nesse unviverso.

Agora, um problema que não é recorrente é essa mania de se fazer “versão do diretor”. Snyder já anunciou que em breve lançará outra versão. Caramba, se ele tinha luz verde da Netflix, por que não fazer uma única e definitiva versão???

Maestro

Critica – Maestro

Sinopse (imdb): O amor complexo de Leonard Bernstein e Felicia Montealegre, desde o momento em que se conheceram em 1946 em uma festa e continuando por dois noivados, um casamento de 25 anos e três filhos.

É complicado falar de Maestro, novo filme escrito, produzido, dirigido e estrelado por Bradley Cooper. Porque é um projeto com muitos méritos, mas ao mesmo tempo nem tudo funciona. Vamulá.

As atuações e caracterizações, assim como a reconstituição de época, estão fantásticas. Não conheço muita coisa sobre Leonard Bernstein, mas já vi vários filmes com Bradley Cooper, e é nítido que ele está bem diferente. Encontrei um vídeo no youtube do Bernstein original regendo uma orquestra, e uma cena que aparece perto do fim do filme aparentemente mostra a mesma ocasião, Cooper está impressionante! E nunca tinha ouvido falar da Felicia Montealegre, mas me disseram que Carey Mulligan está perfeita.

Mas o que mais gostei no filme não foram as caracterizações, e sim a câmera do Bradley Cooper. Em várias cenas ele move a câmera e a deixa posicionada em movimentos e ângulos fora do convencional. Não sei se a gente poderia chamar de planos sequência, porque normalmente o plano sequência é uma coreografia que envolve todo o elenco e equipe enquanto a câmera se move, e o que acontece aqui é um pouco diferente – por exemplo, num diálogo, a câmera fica fixa num ator mesmo quando ele não está falando, captando suas expressões e reações. Outra coisa que também gostei é quando passa algo na frente da câmera em movimento, e o que está atrás mudou, dando a impressão de ser um plano sem cortes.

Agora, por outro lado, achei que o filme falhou em contar a história do Leonard Bernstein. A gente vê o filme e continua sem saber de muitas coisas sobre a vida dele. Por exemplo, em um determinado momento falam que ele fez a trilha sonora de West Side Story / Amor Sublime Amor. Vi o original muito tempo atrás, vi a refilmagem do Spielberg poucos anos atrás, e fiquei tentando me lembrar quais eram as canções famosas deste musical – porque o filme não mostra as canções de West Side Story! Por que não aproveitar e incluir um trecho de America ou Maria, canções famosas daquele filme?

Vou fazer uma comparação com um filme bem inferior a Maestro. No fraco A Era de Ouro, a gente termina o filme conhecendo a obra de Neil Bogart (que é um nome muito menos relevante do que Leonard Bernstein na história da música). E aqui a gente termina o filme sem conhecer a obra de Bernstein. O filme foca mais no relacionamento entre Leonard e Felicia e menos no maestro e compositor.

Outra coisa ficou estranha. O filme mostra que Leonard tinha relacionamentos com outros homens, apesar de ser casado com Felicia, e pelo filme a gente entende que isso acontecia naturalmente. Se a história se passasse nos dias de hoje, seria mais fácil de aceitar. Mas, décadas atrás, a sociedade era muito mais preconceituosa, acho que ele não seria tão livre como o filme quer mostrar.

Tem um outro detalhes técnico que confesso que não entendi. O filme começa em preto e branco, e depois vira colorido. Ok, deve ser pra mostrar a passagem de tempo. Mas, o filme é todo no formato 4:3, formato comum na época da TV de tubo. Por que alguém usaria 4:3 hoje em dia?

Por fim, um pouco de cultura inútil. Martin Scorsese e Steven Spielberg foram cogitados para dirigir, antes de Bradley Cooper apresentar Nasce Uma Estrela, a partir daí Cooper ganhou o cargo de diretor, e Spielberg e Scorsese ficaram como produtores. Spielberg e Scorsese são amigos de longa data, mas este é o primeiro filme que tem os dois dividindo os créditos. E uma curiosidade: inicialmente, Spielberg dirigiria Cabo do Medo e Scorsese, A Lista de Schindler, e os dois acabaram trocando de lugar.

A Maldição do Queen Mary

Crítica – A Maldição do Queen Mary

Sinopse (imdb): Quando Anne, seu marido e o filho Lukas embarcam no icônico Queen Mary, uma série de eventos aterrorizantes entrelaçam a família com o passado sombrio do navio.

Tem tanta coisa errada com esse A Maldição do Queen Mary que nem sei por onde começar. Acho que posso começar dizendo que esta é uma história de um navio real, e que só descobri isso quando fui pesquisar sobre o filme, depois de ter assistido.

A Maldição do Queen Mary conta duas histórias, em duas linhas temporais. Um delas é no passado, sobre uma família, onde um cara surta e sai matando todo mundo. Não sei se existe algum motivo pro cara surtar, me parece que foi algo aleatório, se foi explicado, heu não captei. A outra história se passa nos dias atuais, onde uma mulher quer criar um tour virtual para conhecer o navio, e quando ela visita a embarcação o filho dela some. O problema de ter duas linhas temporais se alternando é que você fica imaginando quando elas vão se conectar – e não, as histórias não se conectam em momento nenhum. Se existe alguma conexão é outra falha da narrativa porque heu também não pesquei isso.

Pra piorar, nenhuma das duas histórias é boa. São histórias chatas, que se arrastam. Comentei aqui outro dia sobre Isolamento Mortal, que coloquei na TV pra ver a cara do filme, e a trama me pegou de maneira que heu não quis pausar o filme. Aqui, rola o efeito oposto…

Nada faz sentido. Por exemplo, tem um número musical de sapateado, que não só não tem nada a ver com o resto do filme, como não agrega nada à história. Ou uma cena onde quebram uma parede e parece que o capitão do navio sente como se estivesse sendo atacado. Ou uma criança deficiente de 8 anos de idade que sai sozinha tirando fotos no navio. Ou uma mãe cujo filho desapareceu, por que ela iria querer passar uma noite no navio? A lista é grande…

Mas, pior do que não fazer sentido, é ser um filme chato e confuso com mais de duas horas. Chegar ao fim de A Maldição do Queen Mary é uma tarefa difícil!

Pra não dizer que achei tudo ruim, gostei da cena cena do cara surtado atacando com o machado. Também gostei da parte final com a personagem andando pelos corredores e a luz alternando pra gente saber que a linha temporal mudou, foi uma boa sacada. Mas, a essa altura, A Maldição do Queen Mary já tinha perdido o espectador.

Desnecessário.

Aquaman 2: O Reino Perdido

Crítica – Aquaman 2: O Reino Perdido

Sinopse (imdb): Arthur precisa contar com a ajuda de seu meio-irmão Orm para proteger Atlantis contra Black Manta, que liberou uma arma devastadora em sua busca obsessiva para vingar a morte de seu pai.

Este Aquaman 2: O Reino Perdido é o décimo quinto filme do DCEU – e também o último. A partir do ano que vem, a DC já avisou que vai recomeçar seu universo expandido.

Se Aquaman 2: O Reino Perdido fosse “apenas mais um filme de super heróis, seria algo mais aceitável. Mas existe todo um legado por trás, e é o filme que vai encerrar um universo cinematográfico, e justamente por isso é complicado de analisar o filme isoladamente.

E qual é o resultado? A gente tem um filme bagunçado nas telas. Não é um filme ruim, mas está bem longe de ser bom. Vamulá.

Mais uma vez dirigido por James Wan (achei um desperdício, este é um “filme de produtor”, Wan, volte pro terror!), Aquaman 2: O Reino Perdido (Aquaman and the Lost Kingdom, no original) tem alguns erros básicos. Um deles é que existe um “reino perdido” no título do filme, mas esse tal reino é quase irrelevante pra trama. A ideia de existir um reino perdido não é ruim, mas se está no título do filme, acredito que deveria ser algo mais presente na trama.

Mas acho que ainda pior é trazer um antagonista que estava no primeiro filme e que tinha uma rivalidade real contra o Aquaman, mas esse cara é “possuído” por um vilãozão meio sobrenatural, e meio que tanto faz as motivações anteriores do personagem. Caramba, se é pra ter alguém possuído, podia ser qualquer um! Jogaram fora as reais motivações do antagonista…

Outra coisa que ficou estranha é a colagem de cenas que parecem extraídas de outros filmes. O antagonista usa um óculos que solta um raio vermelho igual ao Cíclope em X-Men. O vilãozão é quase igual ao Sauron de O Senhor dos Anéis, só que em vez de usar o Um Anel ele usa um tridente. Tem uma cena que é uma mistura de Cantina de Mos Eisley em Guerra nas Estrelas com palácio do Jabba no Retorno do Jedi – incluindo um personagem igual ao Jabba! E por aí vai…

O filme tem muitas piadinhas, mas isso nunca me incomodou. Agora, o que incomoda são sequências inteiras que não fazem o menor sentido, como uma cena numa floresta com insetos gigantes. Gente, se existem animais gigantes na ilha, por que só naquele trecho? Ou uma sequência no meio do deserto, onde falam “está no meio do deserto pro povo da água não ir”, e na cena seguinte a gente vê um polvo rolando na areia. E isso porque não vou falar no assistente do vilão, que literalmente o traiu, mas continua tendo o cargo de maior importância!

Preciso comentar os efeitos especiais das cenas de batalhas sub aquáticas quando vemos os personagens nadando rápido. Ok, funcionam, mas acho que vão perder a validade cedo.

Tem uma coisa que heu não entendi. A gente sabe que a Amber Heard está “cancelada” por causa da polêmica com o Johnny Depp, e disseram que este filme teria a participação dela reduzida. Mas, não só ela está presente em quase todo o filme, como ainda salva o Aquaman em uma ou duas soluções deus ex machina. Ou seja, não só a personagem está presente, como ela é necessária para a sobrevivência do protagonista! Que tipo de cancelamento foi esse?

Aproveito pra falar do elenco. Jason Momoa é um Aquaman ótimo, um cara grande, forte, carismático e que faz piadinhas o tempo todo. Patrick Wilson também está bem como o irmão, e está presente quase todo o filme. Já Yahya Abdul-Mateen II faz o vilão ruim e não está bem. Também no elenco, Nicole Kidman, Dolph Lundgren e Temuera Morrison. Willem Dafoe não pôde participar por conflito de agenda. E Ben Affleck está creditado como Batman, mas não aparece no filme, seja lá qual foi sua participação, foi cortada.

Agora, Aquaman 2: O Reino Perdido é bagunçado mas pelo menos é divertido. Tem cena que beiram a falta de lógica, mas não tem nenhum momento chato. E não canso de repetir: o carisma de Jason Momoa vale o ingresso, ele parece estar se divertindo muito.

(Tem uma coisa que achei curiosa, uma capanga do vilão é vivida pela atriz portuguesa Jani Zhao. Por duas vezes no filme ela grita ordens em português!)

Por fim, a sessão de imprensa foi em 3D. Completamente desnecessário, não tem nenhuma cena que justifique o efeito.

Ah, tem uma cena no meio dos créditos com uma piadinha, e lá no fim não tem nada. Como acabou o DCEU, não tem gancho pra continuação.

Feriado Sangrento

Crítica – Feriado Sangrento

Sinopse (imdb): Depois que um tumulto em uma liquidação acaba em tragédia, um assassino misterioso fantasiado de peregrino aterroriza a cidade de Plymouth em Massachusetts, cidade berço do feriado americano de Ação de Graças.

Antes de falar sobre o filme, aquele comentário que infelizmente tem sido mais recorrente do que deveria ser. A crítica está atrasada porque Feriado Sangrento não teve sessão de imprensa. Cheguei a entrar em contato com a assessoria, disseram que ia ser exibido na CCXP, ou seja, quem não foi pra CCXP não viu antes da estreia…

Enfim, vamos ao filme. Feriado Sangrento, ou Thanksgiving, no original, na verdade era um trailer fake do projeto Grindhouse. Pra quem não se lembra, em 2007 Quentin Tarantino e Robert Rodriguez criaram um projeto que emularia sessões de cinemas vagabundos dos anos 70. Tarantino fez À Prova de Morte; Rodriguez, Planeta Terror, e a ideia era exibir uma sessão dupla com alguns trailers de filmes que não existem.

A ideia não deu certo, quase nenhum cinema exibiu a sessão dupla, e os dois filmes acabaram sendo lançados individualmente. Mas os trailers estão por aí, inclusive o trailer de Thanksgiving está no youtube.

(Outros dois trailers fakes também viraram longas metragens, Machete e Hobo With a Shotgun.)

Anos se passaram, e agora Eli Roth, que tinha feito aquele trailer, agora finalmente apresenta o longa!

Algumas das cenas do trailer estão no longa, mas a proposta é um pouco diferente. No trailer tudo tinha cara de anos 70, e Feriado Sangrento não só se passa nos dias de hoje, como lives de redes sociais são parte intrínseca da trama.

Feriado Sangrento não é um grande filme, é apenas um slasher eficiente. Mas, em tempos de lançamentos ruins no circuito como O Jogo da Invocação e A Maldição do Queen Mary, ser “apenas um slasher eficiente” num cenário desses é uma boa notícia. Temos boas mortes, um clima tenso até o fim do filme, e um whodunit que funciona.

Talvez Eli Roth seja mais conhecido por ter sido um dos atores principais de Bastardos Inglórios, mas a gente não pode esquecer que um dos seus primeiros filmes como diretor foi O Albergue. Ou seja, o cara manja dos paranauês de filmar um bom gore. E isso tem aqui em uma quantidade razoável: são algumas mortes bem criativas – apesar de algumas delas estarem no trailer fake.

E preciso falar do whodunit. Assim como Pânico, este é um slasher com whodunit – a gente tem alguns personagens suspeitos, precisamos descobrir qual deles é o assassino e qual foi o motivo. E, admito: não pesquei quem era.

No elenco, pouca gente conhecida. Patrick Dempsey tem um papel importante, mas secundário; Gina Gershon faz quase uma ponta. A final girl da vez é Nell Verlaque, não conhecia, ela funciona pro que o filme pede.

Como falei antes, Feriado Sangrento não é um grande filme, mas é bem feito, divertido, e serve ao seu propósito: um bom slasher que vai agradar o público que for ao cinema.

Agora, dos cinco trailers fakes do Grindhouse, faltam dois. Será que veremos os longas Don’t, do Edgar Wright, ou Werewolf Women of the S.S., do Rob Zombie?

O Mundo Depois de Nós

Crítica – O Mundo Depois de Nós

Sinopse (imdb): As férias de uma família numa casa luxuosa sofrem uma reviravolta quando um ciberataque afeta todos os dispositivos e duas pessoas estranhas batem à porta.

Filme novo da Netflix, todo mundo está vendo e comentando, fiquei curioso quando vi que alguns canais de cinema que acompanho falavam do final, fui ver o filme pra saber por que o final está envolto em polêmicas.

Simples: PORQUE O FILME NÃO TEM FINAL! Simplesmente sobem os créditos e acabou.

¬¬

O pior é que heu estava gostando muito do filme. Mas um “final” desses me tirou do sério. Então, vou comentar o filme, depois comento sobre o encerramento.

Escrito e dirigido por Sam Esmail, adaptação do livro homônimo escrito por Rumaan Alan (que também colaborou no roteiro), O Mundo Depois de Nós (Leave the World Behind, no original) mostra uma família que tirou uns dias de férias em uma casa alugada, quando algo acontece no mundo e eles ficam isolados. Os supostos reais donos da casa aparecem e isso só serve pra aumentar a desconfiança geral sobre o que está acontecendo.

O ritmo do filme é muito bom. O espectador é envolvido num clima crescente de tensão, não sabemos o que está acontecendo. A trama te prende, é daquele tipo de filme que é difícil pausar, são pouco mais de duas horas que passam rapidinho.

Gostei muito da câmera do Sam Esmail – sei que ele é um dos nomes por trás da série Mr Robot, mas nunca vi a série, nunca tinha visto nada dele. Em vários momentos a câmera sai do eixo, roda, sobe, mostra muitos ângulos fora do convencional. Um exemplo: tem uma cena numa cabana onde a câmera roda, sobe e sai por uma fresta no telhado, pra mostrar o que está acontecendo fora da cabana.

Algumas sequências são muito bem filmadas, como a sequência do Tesla. Ok, provavelmente é um plano sequência fake, cheio de cgi, mas mesmo assim ficou bem legal.

Ah, e pra quem gosta de mensagens subliminares, reparem que o quadro abstrato na sala muda ao longo do filme. O mesmo acontece com a pintura atrás da cama de casal. E tem uma cena onde tem um quadro atrás da Julia Roberts mostrando uma imagem parecida com o que o Ethan Hawke tinha passado há pouco.

O elenco também manda bem. Julia Roberts, Mahershala Ali e Ethan Hawke estão muito bem nos seus papeis, assim como os outros três mais novos e mais desconhecidos, Charlie Evans, Farrah Mackenzie e Myha’la. E já tinha visto dezenas de filmes com Ethan Hawke e com Kevin Bacon e nunca tinha reparado como são parecidos!

Dá pra ver que heu estava gostando, né? Pois bem, hora de falar do “não final”.

Não tenho problemas com filmes com finais abertos. Usando como exemplo aquele que todos se lembram, Inception, no fim o pião está rodando, e a gente não sabe se aquilo é real ou sonho. A mesma coisa com O Vingador do Futuro do Verhoeven, ao fim do filme a gente não sabe se aquilo aconteceu ou se foi uma memória implantada. A gente nunca soube o que tinha na mala do Marsellus Wallace em Pulp Fiction. E a lista é infinita. O espectador não precisa de tudo mastigado.

Agora, se um filme se propõe a contar uma história, é bom que tenha algum tipo de conclusão. Reclamei aqui no heuvi este ano de dois filmes que terminaram abruptamente para serem concluídos em continuações, Aranhaverso 2 e Velozes e Furiosos 10. Se é pra deixar gancho, tem que fazer como Missão Impossível 7, que fecha a missão que o personagem está fazendo, e deixa pontas soltas a serem resolvidas na continuação. O modo usado em Aranhaverso 2 e Velozes e Furiosos 10 foi péssimo, a narrativa foi muito mal construída.

Mas nada não é tão ruim que não possa piorar. O Mundo Depois de Nós consegue ser ainda mais tosco, porque interrompe o filme do nada. E não li nada sobre uma continuação pra fechar a história. Me parece que os realizadores quiseram trollar o público. “Sabe a personagem frustrada porque não viu o final de Friends? Poizé, agora o espectador vai ficar igualmente frustrado por não ver o final do filme!”

Pena. Heu estava realmente gostando do filme. Mas esse “não final” foi uma ducha de água fria.

O Malvado: Horror no Natal

Crítica – O Malvado: Horror no Natal

Sinopse (imdb): Em uma pacata cidade montanhosa, Cindy tem seus pais assassinados e seu Natal roubado por uma figura verde sedenta de sangue em um traje de Papai Noel. Mas quando a criatura começa a aterrorizar a cidade, Cindy procura matar o monstro.

E se o Grinch fosse uma história de terror?

Dirigido pelo desconhecido Steven LaMorte, O Malvado: Horror no Natal (The Mean One, no original) tem um pé fortemente fincado no trash. Muita coisa não tem muita lógica – como por exemplo a cidade passar 20 anos sem nenhuma visita de forasteiros com espírito natalino. Mas, no clima certo, o espectador pode se divertir.

A proposta aqui é: num flashback, Cindy, a menina da história original, encontra e abraça o Grinch. Sua mãe, assustada, o ataca, mas acaba tropeçando e morrendo na queda. Cindy fica traumatizada e se muda da cidade. Anos depois ela volta decidida e dar um encerramento para essa história e seguir em frente, mas acaba reencontrando o monstro. E, claro, ninguém na cidade dá ouvidos a ela.

Falei que tem um pé no trash porque todo o clima do filme é na galhofa. Nenhuma aparição do Grinch vai causar medo, e as mortes geram mais gargalhadas do que repulsa. É terror, mas vai gerar mais risadas do que assustar.

O Malvado: Horror no Natal mostra muitas mortes, e a maior parte usa efeitos de maquiagem e props. Mas, em pelo menos três momentos, temos sangue em cgi (duas vezes por causa de tiros, uma vez quando uma pessoa é triturada num moedor de carne). Ficou muito claro que um efeito prático tosco funciona muito melhor que um cgi tosco! Ainda nesse assunto, a maquiagem do Grinch é bem feita.

Pra quem não sabe, o Grinch é um personagem criado pelo Dr. Seuss. Ao longo do filme rolam algumas referências, como um cartaz escrito “Horton” ou um personagem que se chama “Zeus”, mas fala que chamam ele de “Doctor”. Outra coisa legal é ter uma narração em off em rimas, como acontece na história original.

O Malvado: Horror no Natal não é bom. Mas, como falei, pode agradar se você estiver com amigos que entrarem no espírito da galhofa.

O Silêncio da Vingança

Crítica – O Silêncio da Vingança

Sinopse (imdb): Um pai enlutado realiza sua tão esperada vingança contra uma gangue implacável na véspera de Natal.

Filme novo do John Woo!

Lembro de quando estava procurando possíveis títulos para a minha lista de expectativas não óbvias pra 2023, mencionei este O Silêncio da Vingança (Silent Night, no original) mesmo sem ter a certeza se ele ia estrear. Foi uma boa surpresa ver que entrou em cartaz no circuito (apesar da outra surpresa, negativa, de não ter tido sessão de imprensa).

A proposta era ousada: um longa metragem de ação sem diálogos. Não é um filme mudo, tem efeitos sonoros, trilha sonora, uma frase dita aqui e outra ali, mas, zero diálogos.

A princípio a gente acha que vai ser o formato clichê de sempre: o cara sofre uma perda, passa por uma fase de treinamento e vai enfrentar os adversários. Mas o roteiro espertamente coloca falhas no plano do protagonista. Ele treinou meses para o confronto, mas está enfrentando oponentes que estão nessa vida há muito mais tempo. Ou seja, nem tudo funciona e ele descobre que é bem mais difícil do que esperava. Prefiro assim do que filmes onde o protagonista quase ganha super poderes.

A proposta de não ter diálogos trouxe um problema: algumas partes ficaram meio lentas. A parte do meio, quando acontece o treinamento, é arrastada e dura tempo demais. Por outro lado, as cenas de ação são excelentes. Woo ainda manja dos paranauês quando o assunto é filmar cenas de ação. Tiroteios, perseguições de carro, uso de armas brancas, o repertório é farto.

(Aliás, tem uma cena numa escada, “plano sequência fake”, que fiquei imaginando onde estava o cameraman.)

Tem uma característica que talvez incomode parte do público. O protagonista carrega uma caixinha de música que toca sempre a mesma melodia, e isso acontece em todas as cenas onde ele se lembra do filho. Isso acontece muitas vezes! Mas, se a gente analisar a carreira do diretor, vai lembrar que acontece algo semelhante em Bala na Cabeça – uma melodia insistente que permeia todo o filme. Ou seja, goste ou não, é coerente com o diretor.

Aliás, falando nas características de Woo, reclamação por um head canon meu: em um momento cabia a clássica cena dos dois oponentes um com a arma no pescoço do outro. Além disso, não tem pombas voando em câmera lenta! Woo, é você mesmo?

Um filme nesse formato precisa de um ator inspirado pra funcionar, e Joel Kinnaman (Robocop, Esquadrão Suicida) não decepciona nessa tarefa. Que bom que ele tem muito mais tempo de tela do que qualquer outro personagem, porque o vilãozão malvadão é caricato ao extremo.

Por fim, um comentário aleatório: em inglês, faz sentido ser um “filme de natal” pelo trocadilho com “Silent Night”. Em português o trocadilho se perdeu. E pro filme, tanto faz ser no Natal ou em qualquer outra época do ano.

Tiozões

Crítica – Tiozões

Sinopse (imdb): Um pai ranzinza de meia-idade e seus dois melhores amigos se sentem ultrapassados em um mundo repleto de CEOs bem mais jovens e diretoras de escola poderosas.

Vamos de comédia politicamente incorreta?

Tiozões tem uma polêmica extra filme em volta. Vou comentar isso, mas antes vamos falar do filme.

Tiozões (Old Dads, no original) foi escrito, dirigido e estrelado por Bill Burr, comediante famoso por fazer stand ups politicamente incorretos, mas que heu não conhecia ainda. Em sua estreia na direção, ele traz uma comédia que até tem suas falhas, mas que tem êxito na proposta básica de “ser uma comédia engraçada”. Porque em tempos de comédias bobas como Mafia Mamma e Meu Pai É Um Perigo, ser engraçado é um mérito!

Mas, tecnicamente falando, o filme tem suas falhas. Provavelmente Bill Burr pegou piadas de stand up e trouxe para o roteiro, mas são formatos diferentes, e existe um problema de ritmo, às vezes algumas cenas parecem deslocadas.

Os personagens são caricatos, mas acho que essa a proposta. Mesmo assim, muitas vezes ficou forçado. O personagem do Bobby Cannavale está completamente fora do tom, e a diretora da escola, Rachael Harris, parece vilã de desenho animado vagabundo dos anos 80. Acredito que a proposta deste tipo de filme não tem muito espaço para grandes atuações, mas, podia ser menos ruim.

No elenco, o trio principal é formado por Bill Burr, Bobby Cannavale e Bokeem Woodbine – só lembro de outros filmes do Bobby Cannavale, como Homem Formiga, Jolt e Blue Jasmine. Tem dois nomes “médios” em papéis secundários: C. Thomas Howell (ET, Vidas sem Rumo, A Morte Pede Carona) faz o ermitão; Bruce Dern (pai da Laura Dern, e que estava em Oito Odiados e mais dezenas de filmes desde o início dos anos 60) faz o motorista de taxi. Também no elenco, Katie Aselton, Rachael Harris, Jackie Tohn, Reign Edwards e Miles Robbins.

Sobre o humor: algumas piadas são muito boas, como uma que está até no trailer, onde um cara reclama que “dois homens brancos estão dominando a discussão”, mas quem está reclamando também é um homem branco! Ou outra piada satirizando uma mãe que não educa o seu filho da maneira correta. São várias piadas com exageros do comportamento atual de certa parte da sociedade. Ok, algumas são bobas (tipo um cara ser demitido porque canta um rap racista quando está sozinho em casa), mas outras são muito boas.

(Essa galera que foi criticada no filme aparentemente não gosta de críticas, e por isso o filme está sendo banido de certos grupos sociais, mas no estilo de “não vi e não gostei”…)

Agora vou dar a minha opinião, mesmo sabendo que talvez heu perca leitores com isso. Já comentei outras vezes, nossa sociedade tem evoluído nas últimas décadas. Ainda existe desequilíbrio, mas hoje o machismo é menor, e racismo e homofobia são crimes. Acredito em um futuro onde todos seremos iguais, todos teremos as mesmas chances e os mesmos direitos e deveres. Dito isso, acho que vivemos numa época onde os militantes são muito chatos. Alguns assuntos que deveriam ser discutidos são deixados de lado porque os militantes monopolizam o tema. Aceito pessoas que pensam diferente de mim e querem me mostrar outros ângulos de assuntos onde discordamos, mas não aceito militantes que só querem ser chatos e querem disseminar a infelicidade dentre aqueles que pensam diferente deles.

Vendo sob esse ângulo, é legal vermos uma comédia que cutuca certos assuntos “proibidos” – lembrando que a maior parte das piadas do filme satiriza os progressistas, mas também sobram piadas pros conservadores. Neste aspecto, fico feliz que Tiozões teve um grande alcance de público, e torço pra que abra espaço pra outras comédias com temas delicados. Porque pra mim, o limite do humor é ele ser engraçado. Se uma piada ofensiva for engraçada, heu apoio!

Wonka

Crítica – Wonka

Sinopse (imdb): Um jovem Willy Wonka cheio de ideias está determinado a mudar o mundo a cada deliciosa mordida de seu chocolate, uma atrás da outra, provando que as melhores coisas da vida sempre começam com um sonho.

Hollywood gosta de se repetir, então um novo Fantástica Fábrica de Chocolates era algo até previsível.

Mas antes, um breve recap. O primeiro é de 1971, dirigido por Mel Stuart e eternizado por Gene Wilder no papel principal. A minha geração conhece bem, vi e revi diversas vezes – e, curiosamente, quando era criança não reparava na psicopatia do Willy Wonka, hoje vejo como o personagem era bem desequilibrado. Em 2005 veio a refilmagem / releitura do Tim Burton, estrelada por Johnny Depp, que trazia outra abordagem para o Willy Wonka, diferente, mas também desequilibrado.

Dirigido por Paul King, Wonka (idem, no original) não é uma refilmagem. É uma história que se passa antes, conhecemos o Willy Wonka ainda jovem, ele ainda não tem a fábrica. Isso é uma boa notícia, porque enfraquece a inevitável comparação que o filme de 2005 sofreu. Podemos comparar os Willys, mas não os filmes. Além disso, não precisa (re)ver os filmes antigos.

Wonka tem seus problemas, mas é um bom “filme família para o fim de ano”. Famílias podem tranquilamente ir ao cinema, é um filme alegre e colorido, vai agradar a maioria.

Nos últimos anos a gente se acostumou com histórias mais “pé no chão”. Wonka é o oposto desta tendência: é uma história mágica, de fantasia, não dá pra entrar no cinema querendo ver coisas reais. E todo o visual do filme ajudam nesse clima lúdico: cenários, props, figurinos…

É um filme musical, o que sei que vai repelir parte do público. Mas, caramba, os outros também tinham números musicais! Tenho dois comentários sobre essa parte musical. O primeiro é que não tem nenhuma musica marcante, lembro de outros musicais recentes como La La Land, O Rei do Show ou Tick Tick Boom, onde terminei o filme empolgado com as músicas, e aqui não tem nenhuma causando este efeito (a não ser as músicas “velhas”).

O outro comentário é justamente sobre essas músicas velhas. Lembro que fiquei frustrado com a versão de 2005 quando não teve a clássica música do Oompa Loompa. Aqui tem, e também tem a igualmente clássica Pure Imagination. As músicas compostas para o filme não empolgam, mas essas duas trazem um “quentinho no coração”.

Outro problema é sobre o tema central do filme: chocolate. Os chocolates criados pelo Willy Wonka não parecem chocolates, parecem aqueles doces de açúcar colorido que enfeitam mesas de festas – e não parecem ser gostosos. Ou seja, o espectador não vai sair do cinema com vontade de comer chocolate.

Sobre o elenco: Timothée Chalamet é um bom ator, tem star power, vai trazer público, mas, head canon meu, queria ver um Willy Wonka mais psicopata. Ele é muito bonzinho, e até agora só tivemos Wonkas desequilibrados. Por outro lado, adorei o Oompa Loompa do Hugh Grant, ele ficou perfeito como o pequenininho mal humorado (apesar de saber que ele deu entrevistas falando mal do papel). Também queria citar, dentre os personagens secundários, a dupla Olivia Colman e Matt Lucas, que estão ótimos e têm uma química muito boa. Também no elenco, Sally Hawkins, Paterson Joseph, Keegan-Michael Key e Rowan Atkinson.

Apesar dos problemas, acho que Wonka vai agradar.