Wicked

Crítica – Wicked

Sinopse (imdb): Elphaba, uma jovem incompreendida por causa da pele verde, e Glinda, uma jovem popular, se tornam amigas na Universidade de Shiz, na Terra de Oz. Após um encontro com o Maravilhoso Mágico de Oz, a amizade delas chega a uma encruzilhada.

Sim, estou atrasado. A sessão de imprensa de Wicked foi num dia complicado pra mim, então abri mão. E pra falar a verdade, não estava empolgado, vi o trailer e parecia ser meio trash. Mas vários amigos viram e elogiaram, então resolvi ver no circuito.

Mas, preciso dizer que não gostei. Reconheço algumas coisas boas, mas no geral achei um filme excessivamente longo e cansativo.

Antes de tudo, preciso falar que nunca vi a versão teatral do musical. Até gosto de musicais, gosto de A Pequena Loja dos Horrores, Hairspray, Rent, La La Land, O Rei do Show, Hair, gosto de vários. Ou seja, meus comentários negativos não são pelo usual preconceito que pessoas têm com musicais.

Comecemos pelos pontos positivos. Achei que o visual seria trash, mas, ledo engano, o visual aqui é elaboradíssimo. Wicked é muito colorido e tem várias cenas exuberantes. Alguns dos números musicais também são muito bons, gostei do número na biblioteca – mas achei que aquela parte que roda podia ser mais explorada. Também gostei do número quando as duas chegam na cidade das esmeraldas.

É difícil comentar sobre o elenco, porque uma das principais, Ariana Grande, faz uma personagem insuportável. Mas não sei o quanto era do roteiro, pra gente odiar a personagem, ou o quanto é da atriz que não fez um bom papel. Volto a falar dela daqui a pouco. A protagonista é interpretada por Cynthia Erivo, e está bem apesar do papel clichê. Pelo menos as duas cantam bem. Também no elenco, Michelle Yeoh, Jeff Goldblum e Peter Dinklage como a voz do bode professor. Tem ainda uma participação especial da Idina Menzel e da Kristin Chenoweth, que fizeram Elphaba e Glinda no teatro.

Agora, vamos aos problemas? Em primeiro lugar, acho uma grande falta de respeito vender ingresso pra “Wicked” e quando começa o filme a gente ver que é “Wicked parte 1”. Por que diabos não avisam que a história estará incompleta? Fiz a mesma crítica com o primeiro Duna. Essas informações precisam estar na divulgação do filme!

E aí vamos para o principal problema de Wicked: são duas horas e quarenta! E só a primeira parte! (Quando passava no teatro, era quanto tempo? Mais de 5 horas?) O filme é cansativo. Tipo, ok, chega. Se tivesse uma hora a menos, seria muito melhor. A Pequena Loja dos Horrores, o meu musical favorito, tem uma hora e trinta e cinco. Fica a dica!

Duas horas e quarenta aturando uma personagem chata. G(a)linda é uma patricinha rica e mimada, sua personagem é insuportável. Ok, acredito que seja proposital, afinal o filme propõe inverter o que a gente viu no Magico de Oz, quem era do mal virou do bem e vice versa. Mas, isso precisa ser dosado. Focar meio filme numa personagem ruim enfraquece o resultado final.

Outra coisa que me incomodou foi a forçação de barra pras pessoas odiarem quem é verde. Ok, entendi o simbolismo, mas, num mundo onde tem um monte de coisas bem diferentes – como um bode professor universitário – uma pessoa de cor diferente não deveria ser algo tão estranho assim.

Enfim, acho que a produção partiu de uma boa ideia, mas se perdeu. Galera fã do musical deve curtir essa “versão estendida”, mas o público “normal” vai se cansar. E ainda vai ter uma segunda parte. Socorro!

Robô Selvagem

Crítica – Robô Selvagem

Sinopse (imdb): Após um naufrágio, um robô inteligente chamado Roz fica preso em uma ilha desabitada. Para sobreviver ao ambiente hostil, Roz se une aos animais da ilha e cuida de um ganso bebê órfão.

Um pouco atrasado, vamos comentar Robô Selvagem (The Wild Robot, no original), novo longa de animação da Dreamworks.

Escrito e dirigido por Chris Sanders (Lilo & Stitch, Como Treinar seu Dragão, Os Croods), Robô Selvagem é adaptação do livro homônimo escrito por Peter Brown, informação que só soube depois de ver o filme, e que, na minha humilde opinião, enfraquece o resultado final, porque seria um filme excelente se a história terminasse aqui. Mais tarde comento mais, na área de spoilers.

A ideia é muito boa: um robô programado pra ajudar humanos cai acidentalmente numa ilha onde não tem nenhum humano. O robô passa um bom tempo estudando toda a natureza que a cerca, e acaba mudando sua programação para ajudar os animais. Literalmente uma inteligência artificial aprendendo a se adaptar a um mundo completamente diferente do que consta em sua programação. No meio do processo, causa um acidente e vira mãe adotiva de um ovo de ganso. Ou seja, temos um início meio Wall-E, pra depois virar uma emocionante história de um robô que aprende a maternidade.

Lendo o parágrafo anterior, a gente pode pensar que Robô Selvagem pode ser um filme mais sério. Nada disso! O longa traz vários personagens carismáticos e bem divertidos, e traz várias cenas muito engraçadas. E ainda tem umas piadas de humor negro no início do filme, quando vemos bichos maiores comendo bichos menores.

(Comentário sobre os nomes em português. A robô se chama “Rozzum 7134”. Na dublagem, heu só ouvia “Roz 171″…)

Comentei aqui outro dia sobre a quebra de paradigma criada por Homem Aranha no Aranhaverso, onde, em vez da busca pela imagem perfeita, as animações passaram a focar nas pequenas imperfeições. Robô Selvagem tem isso. Os cenários não são perfeitos, parecem pinturas feitas em tinta guache, ou aquarela (não entendo de pintura, desculpa), o cenário fica meio borrado. Mais uma vez, a Dreamworks explora o “diferente” em vez do “perfeito”. Preciso dizer que deu muito certo: o resultado final é lindo!

Aliás, uma informação que peguei no imdb: o processador que os robôs usam se chama Alpha – 113. Quem acompanha easter eggs em animação da Pixar, sabe que sempre tem um “A113” escondido, que é uma referência à sala de aula de animação do Instituto de Artes da Califórnia (CalArts) onde vários animadores hoje consagrados estudaram. O grande lance é que é a primeira vez que este easter egg é usado num filme da Dreamworks!

O final do filme é bom, mas poderia ser melhor. Vou comentar isso, mas antes, os avisos de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

No fim do filme, a robô se separa do ganso, e o filme ruma para um final triste. Triste, mas bonito. Mas, é Dreamworks, então inventaram um vilão e uma saída mágica (a robô que tinha sido apagada, ganha vida “através do amor”). Ok, filme pra criançada, vai vender mais se tiver um vilão e um final “mágico”. Mas, na minha humilde opinião, essa parte final enfraqueceu o filme. Seria um filme melhor se continuasse sem vilão e sem saídas mágicas.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com o final “menos bom”, Robô Selvagem ainda é um programa belíssimo. Não me espantará se estiver entre os cinco do Oscar ano que vem.

O Conde de Monte Cristo

Crítica – O Conde de Monte Cristo

Sinopse (imdb): Alvo de uma armadilha, Edmond Dantès é preso no dia do casamento por um crime que não cometeu. Após quatorze anos na prisão, ele consegue fugir. Agora rico, ele assume a identidade do Conde de Monte Cristo e se vinga de seus traidores.

Nunca li o livro O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas (o mesmo de Os Três Mosqueteiros), lançado originalmente como folhetim entre agosto de 1844 e janeiro de 1846. Vi duas das versões cinematográficas, a de 1975, estrelada por Richard Chamberlain; e a de 2002, estrelada por Jim Caviezel e Guy Pierce. Também teve uma minissérie em 1998, estrelada por Gérard Depardieu e Ornella Muti, e acabei de ver no imdb que mês que vem estreia uma nova série, com Sam Claflin – não vi nenhuma dessas duas versões.

Mas, preciso confessar que me lembrava de pouca coisa. O que não foi ruim, entrei no cinema para ver uma “nova história”.

Escrito e dirigido por Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière (mesmos roteiristas dos dois recentes filmes d’Os Três Mosqueteiros), O Conde de Monte Cristo (Le Comte de Monte-Cristo, no original) é o filme mais caro feito na França em 2024 (custou 42,9 milhões de euros). E a gente vê isso na tela: O Conde de Monte Cristo é uma superprodução que não deixa nada a dever para o milionário cinema hollywoodiano.

(O filme francês mais caro da história é Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, de Luc Besson, com um custo de produção de 197,47 milhões de euros. Mas, diferente de O Conde de Monte Cristo, é um filme com “cara de Hollywood”.)

O Conde de Monte Cristo é um “filmão”. Acompanhamos a saga de Edmond Dantès, preso injustamente, e que quando consegue sair da prisão tem um elaborado plano de vingança. Tudo isso em uma reconstituição de época impecável, com figurinos e cenários que enchem os olhos. A fotografia ainda usa várias vezes takes aéreos (provavelmente usando drones) e consegue captar imagens belíssimas!

O Conde de Monte Cristo é longo, são quase três horas de projeção. Mas a história é envolvente e bem contada, em nenhum momento o filme é cansativo. A trilha sonora épica de Jérôme Rebotier também é muito boa. E não posso deixar de mencionar a perfeita maquiagem usada pra envelhecer os personagens, afinal, passam-se 20 anos ao longo do filme.

Se tem uma coisa que não gostei muito foram as máscaras usadas pelo protagonista. Ele não pode ser reconhecido, então usa algumas máscaras para interagir com as pessoas. Mas, numa história que se passa no início do século 19, fiquei me questionando se aquelas máscaras seriam tão perfeitas, ou se em algum momento alguém ia desconfiar de alguma falha na sua maquiagem. Felizmente nada que atrapalhe o filme.

O elenco é bom, mas preciso reconhecer que não conhecia quase ninguém, só reconheci Anamaria Vartolomei, de O Império. Pierre Niney manda bem como Edmond Dantès, um papel complexo, tanto na parte física (ele emagrece muito na época da prisão) quanto na parte de interpretação (quando ele usa máscaras e desenvolve outras personalidades).

Por fim, uma coisa que achei curiosa: o filme quase todo é em francês, mas me parece que alguns dos diálogos entre Edmond e Haydée são em outra língua. Não sei se era outra língua, porque a personagem vem de outro país, ou se é algum sotaque forte, porque a atriz nasceu na Romênia.

Filmão.

O Clube das Mulheres de Negócios

Crítica – O Clube das Mulheres de Negócios

Sinopse (Filme B): Jongo, um fotógrafo renomado, e Candinho, um jovem e inexperiente jornalista, chegam em um clube de campo decadente da alta sociedade de São Paulo comandado por mulheres de negócios envolvidas com a Justiça.

Escrito e dirigido por Anna Muylaert, O Clube das Mulheres de Negócios claramente quer mostrar uma inversão de papéis numa crítica ao patriarcado. O filme mostra uma sociedade distópica onde todas as mulheres são ricas e poderosas, e todos os homens são objetificados e diminuídos. Ok, essa ideia pode gerar um bom filme. Mas… Aqui tudo é superficial. Quase todos os personagens são caricatos, quase todas as situações apresentadas soam forçadas. Algumas das mulheres estão tão exageradas que algumas cenas chegam a ficar toscas.

Podemos fazer uma comparação com A Substância, filme que aborda o tema de maneira inteligente. Por exemplo, o personagem do Dennis Quaid é o estereótipo do “macho escroto”. Ele é caricato, mas a gente consegue ver um cara desses num cargo de executivo de uma grande empresa. Agora vamos ao O Clube das Mulheres de Negócios. A personagem da Katiuscia Canoro, que passa o filme todo gritando e falando palavrão, é só tosca. Pode existir alguém assim? Certamente. Mas seria uma caricatura.

Façam um exercício de imaginação: pensem neste filme, exatamente como ele é, mas com os gêneros trocados. Os homens ricos e poderosos e as mulheres frágeis e objetificadas. E pense neste filme hoje, em 2024. Alguém levaria este filme a sério?

(Provavelmente vai ter alguém pensando que “fiquei incomodado porque sou homem branco hétero”. Nada a ver. Não tenho nada contra críticas sociais, desde que bem feitas. Fiquei incomodado por ser uma ideia rasa mal desenvolvida.)

O roteiro ainda traz alguns outros problemas que não tem nada a ver com isso. São muitos personagens, e alguns são muito mal desenvolvidos – fiquei imaginando pra que ter o André Abujamra num papel onde acho que ele só tem um diálogo (provavelmente ele só estava lá porque é o autor da trilha sonora). Além disso, alguns pontos são levantados e esquecidos depois, tipo uma cena onde mostra umas pessoas saindo de onde ficam as onças. A gente não precisa saber se alguém soltou as onças ou por que alguém soltou as onças. Mas se o filme mostra pessoas por lá, não seria melhor desenvolver quem são essas pessoas e quais os seus objetivos?

(E isso porque não estou falando de cenas que se estendem demais e ficam chatas, como aquele momento musical pouco antes da dupla principal visitar o “onçário”.)

Ainda preciso falar dos efeitos especiais de computador que mostram as onças. Mas aqui vou enxergar um “copo meio cheio”. Sim, as onças ficaram muito artificiais. Filmes hollywoodianos de 20 anos atrás apresentam efeitos melhores. Mas, a gente lembra que é Brasil, e que aqui não existe essa tradição de cgi pra criar animais, então aceito as onças, apesar de reconhecer que não ficaram muito boas.

O filme já não estava bem, mas a cena final é péssima. É a diretora dizendo que seu público é burro. Preciso comentar isso, então vamos aos avisos de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Todo mundo entendeu a inversão de papéis. Os dois homens principais, um usa saia, o outro usa uma blusa curta pra deixar o umbigo de fora. O filme é bem explícito com relação a isso. Mas a diretora deve achar que seu público é burro, então resolveu trocar os atores por atrizes na cena final. No fim, três homens conseguem fugir, de bicicleta. Mas aí rola um movimento de câmera onde trocam os três atores por três atrizes, com as mesmas características físicas. Se já estava ruim antes, conseguiu piorar com essa cena final.

FIM DOS SPOILERS!

Enfim, infelizmente O Clube das Mulheres de Negócios falha como comédia e também falha como crítica social. A ideia era boa, mas precisava de um desenvolvimento melhor.

Moana 2

Crítica – Moana 2

Sinopse (imdb): Após receber um chamado de seus ancestrais, Moana parte em uma jornada nos mares distantes da Oceania, desbravando águas perigosas, rumo a uma aventura diferente de todas as que já viveu.

Pelo menos pra mim foi uma surpresa saber que estava para estrear um segundo Moana em desenho animado, porque recentemente têm circulado imagens dos bastidores do live action, com o Dwayne Johnson repetindo o papel que ele dublou na animação. Não entendo de marketing de grandes estúdios, mas diria que não foi a melhor época pra se lançar Moana 2. Principalmente porque o filme é fraco.

Antes de tudo, farei o elogio óbvio: a parte técnica enche os olhos. A gente vê os poros das peles dos personagens, a gente vê os grãos de areia na praia. É tudo muito perfeito. Mas… Perfeição era o mínimo que se esperava de um estúdio do porte da Disney. Acho que ninguém vai se espantar ao ver uma animação onde a parte técnica é perfeita.

(Um breve parênteses pra falar da evolução da qualidade das animações. Os grandes estúdios chegaram a um estágio de excelência onde fica difícil de imaginar para onde poderia evoluir. Até que veio Homem Aranha no Aranhaverso e mudou o paradigma: agora o legal não é mais buscar a perfeição, e sim as pequenas imperfeições. A graça era explorar supostas falhas. Isso funcionou tão bem que criou uma nova tendência, seguida por títulos como Tartarugas Ninja, Gato de Botas 2 e Robô Selvagem. Mas a Disney se manteve no tradicional.)

Agora, se o visual é bem cuidado, o mesmo não podemos dizer sobre o roteiro. Só pra dar um exemplo: são muitos personagens secundários inúteis. A Moana sai numa jornada onde poderia estar acompanhada apenas do frango, do porco e de um coquinho pirata (todos estavam no primeiro filme). Mas resolveram criar uma “entourage” e colocaram mais três pessoas no barco. Resultado? Piadas repetidas e personagens que ninguém se importa.

Mas teve outra coisa que me incomodou ainda mais. Existe uma personagem, aparentemente uma vilã, aquela dos morcegos, que sequestra o Maui, que parecia ser uma boa personagem, daquelas que não sabemos exatamente se é do bem ou do mal. E no meio do filme a personagem some! A princípio achei que era uma falha gigante no roteiro, mas Moana 2 tem uma cena pós créditos onde ela volta. Ou seja, plantaram uma personagem, deixaram sua história incompleta, só pra criar um gancho pra um terceiro filme. Achei isso péssimo!

Existe outro problema, que é sobre as músicas. O primeiro Moana tem músicas muito boas, pelo menos duas delas podem constar em qualquer coletânea de melhores músicas da Disney. Este segundo é bem mais fraco neste aspecto. Gostei da música da vilã dos morcegos, mas já tinha esquecido da música ao fim do filme.

No fim, Moana 2 nem é tão ruim. Mas é tão inferior ao primeiro que fica a sensação de que deveria ter ido direto pro Disney+. Ou, ainda, pro Disney Channel.

Não se Mexa

Crítica – Não se Mexa

Sinopse (imdb): Uma mulher em luto é injetada com uma substância paralisante. Agora, ela precisará escapar de um assassino impiedoso antes de perder completamente os movimentos.

Existem filmes bons, daqueles que dão vontade de recomendar a todos. Existem filmes ruins, que dão vontade de avisar a todos que evitem. E existem algumas categorias no meio do caminho. Não se Mexa (Don’t Move, no original) é um filme apenas “competente”.

Dirigido pela dupla Brian Netto e Adam Schindler, Não se Mexa é um suspense com uma trama básica: uma mulher é sequestrada e drogada por um assassino serial. Sim, previsível e cheio de conveniências de roteiro, mas, quem estiver com expectativa baixa vai se divertir.

(Sam Raimi está na produção, mas deve ser daquele tipo de contrato onde ele recebeu um trocado pra ceder o nome pra ajudar a vender o filme.)

Com poucos personagens, poucas locações, Não se Mexa é um filme curtinho e tem um bom ritmo. Reconheço que comecei a ver com pretensão de pausar e terminar no dia seguinte, mas estava curtindo e fui até o fim.

Agora, a gente precisa meio que deixar o cérebro de lado e não pensar muito, porque tem algumas coisas bem forçadas. Um exemplo simples: a droga paralisa a protagonista. Então tem um momento onde a droga está começando o efeito, então ela está parcialmente paralisada, e, mais pro fim do filme, outro momento onde está perdendo o efeito, e ela começa a recuperar os movimentos. Na primeira vez, ela cai num rio, e mesmo sem conseguir nadar, flutua tranquilamente através de corredeiras. Já na segunda vez, num lago com água parada, ela afunda. Ué, por que ela agora não flutuou?

(Isso porque não vou falar da cena do policial, que parece querer o cargo de policial mais incompetente da história do cinema.)

No elenco, quase o filme todos é em cima dos pouco conhecidos Kelsey Asbille e Finn Wittrock, que servem para o que o filme precisa.

Não se Mexa está em cartaz na Netflix. Veja sem pensar muito.

La Mesita del Comedor / The Coffee Table

Crítica – La Mesita del Comedor

Sinopse (imdb): Jesus e Maria, um casal em dificuldades, tornam-se pais e decidem comprar uma mesa de centro, alterando suas vidas.

E vamos ao provável filme mais desconfortável do ano.

No halloween, rolou um especial do canal Super 8, onde quatro youtubers que acompanho falavam sobre os melhores filmes de terror do ano. Otavio Ugá, Nerd Rabugento, Getro e Lucas Maia comentaram durante 4 horas sobre 19 filmes de terror. Já tinha visto 13. Ok, vamos procurar os outros 6.

O primeiro da minha lista era o espanhol La Mesita del Comedor (ou The Coffee Table, em inglês), dirigido por Caye Casas. Um filme que vejo seus méritos, mas ao mesmo tempo me deixou tão desconfortável que quase desisti de comentar aqui. Reconheço a qualidade do filme, mas não tenho coragem de recomendá-lo pra ninguém.

Jesus e Maria são um casal onde ambos já têm uma certa idade, mas que só tiveram um filho agora. E acontece uma coisa – que não vou falar o que é – que abala totalmente a estrutura emocional de Jesus. O desconforto ainda piora pelas circunstâncias: a visita de seu irmão e a namorada muito mais nova, e uma vizinha adolescente obcecada por ele. A interpretação do ator David Pareja é impressionante!

(Os nomes “Jesus” e “Maria” me fizeram achar que teria algo ligado à Bíblia, mas não interpretei nada religioso na história.)

A cena inicial, quando o casal está comprando a tal mesinha de centro que dá título ao filme, dá a entender que veremos uma comédia. Mas não se deixe enganar: La Mesita del Comedor traz uma história pesada e traumatizante. Acho difícil alguém rir num filme desses.

A cena final é tão desconfortável que é daquelas que gruda na memória por dias depois do filme. Lembrei de Speak no Evil, outro filme que deixa uma sensação igualmente desconfortável. Speak no Evil teve uma refilmagem hollywoodiana com final mais palatável, será que um dia existirá uma versão deste com um final melhor?

La Mesita del Comedor ganhou prêmios de melhor roteiro e melhor ator no Fantaspoa do ano passado. Mais uma vez, reconheço os méritos. Mas não recomendo. Veja por sua conta e risco!

Lobos

Crítica – Lobos

Sinopse (imbd): Dois solucionadores rivais se cruzam quando ambos são chamados para encobrir o erro de uma importante figura pública de Nova York. Durante uma noite conturbada, eles terão que deixar de lado suas diferenças e egos para concluir o serviço.

Pulp Fiction é um filme genial em vários aspectos. Um dos vários méritos do filme é sua rica galeria de personagens. Harvey Keitel faz um papel pequeno: o mr. Wolf, uma pessoa para chamada para “resolver problemas”.

Agora, 30 anos depois, aparece um filme onde os dois personagens principais têm a mesma profissão do personagem de Pulp Fiction. E se alguém tiver dúvida se foi coincidência ou não, é só ver as placas dos carros, o carro do Harvey Keitel tem a placa 3ABM581; o do George Clooney, 3ABM582.

A melhor coisa de Lobos (Wolfs, no original) é a química entre seus dois protagonistas, Brad Pitt e George Clooney, que além de amigos na vida real, já trabalharam juntos em cinco outros filmes (a trilogia Onze Homens e um Segredo, Queime Depois de Ler, e uma breve aparição de Pitt em Confissões de uma Mente Perigosa, dirigido por Clooney). Tanto Pitt quanto Clooney estão ótimos individualmente, como um está perfeito ao lado do outro. Comentei recentemente sobre Operação Natal, um filme onde a dupla principal, Dwayne Johnson e Chris Evans, não está bem; aqui em Lobos é o oposto. A gente sente a química em cada troca de olhares entre os dois protagonistas

O roteiro e a direção são de Jon Watts, mais famoso por ter dirigido os três filmes recentes do Homem Aranha, De Volta ao Lar, Longe de Casa e Sem Volta para Casa (expulso de casa, fique em casa, etc). Gostei de como Watts conduz seu filme, vou procurar filmes anteriores dele. Alguns detalhes são muito bem sacados, como por exemplo a cena onde os dois protagonistas descobrem ao mesmo tempo que precisam de óculos pra ler o menu. E tem uma cena de atropelamento que é genial, uma cena que poderia constar em listas de melhores cenas do ano! Além disso, gostei da trilha sonora.

Depois de publicar meu texto sobre Anora, li algumas críticas comparando com Depois de Horas. Discordo. Na verdade, achei que Lobos lembra mais Depois de Horas: o filme todo se passa em uma noite, e os personagens vão se metendo em uma escalada de problemas que vai ficando pior a cada novo passo.

No elenco, claro que o destaque é da dupla principal. Mas Austin Abrams, o terceiro nome do elenco, também está bem. Ah, a voz ao telefone é de Frances McDormand, que também estava em Queime Depois de Ler com os dois protagonistas.

Talvez tenha gente reclamando que Lobos tem muitos clichês. Verdade, tem sim. Mas achei todos muito bem utilizados. Achei o filme divertidíssimo!

Herege

Crítica – Herege

Sinopse (imdb): Duas jovens missionárias tentam converter um homem, mas a situação se revela muito mais perigosa do que elas poderiam imaginar.

Confesso que fui ver Herege (Heretic, no original) com um pé atrás. Vi o trailer, gostei, aí fui no imdb ver quem tinha feito. Herege é escrito e dirigido por Scott Beck e Bryan Woods, mesma dupla que ano passado fez 65 Ameaça Pré Histórica, filme que errou em quase tudo.

Felizmente, trago boas noticias: em Herege, a dupla de roteiristas e diretores acertou em quase tudo!

Conhecemos duas jovens missionárias mórmons que estão visitando casas para divulgar sua religião. Até que visitam o personagem de Hugh Grant, um cara simpático, carismático e muito inteligente, que primeiro as coloca numa armadilha mental, pra depois evoluir para uma armadilha real.

Herege tem dois grandes trunfos. Um deles é o clima criado pelos cenários da casa velha e pelos excelentes diálogos que questionam vários dogmas de várias religiões. É um filme com muitos diálogos (na verdade, alguns são monólogos), e todos são bem escritos e bem conduzidos. E quase todo o filme se passa dentro da casa, o que cria um ótimo clima claustrofóbico.

Mas o melhor mesmo é a atuação de Hugh Grant. Ele sempre é lembrado pelas várias comédias românticas que fez (como Quatro Casamentos e um Funeral, Um Lugar Chamado Notting Hill ou O Diário de Bridget Jones), mas de uns anos pra cá tem feito papeis diferentes. Gostei dele em Magnatas do Crime e em Wonka. Mas aqui ele está ainda melhor. É um cara simpático e sedutor, seus diálogos são cativantes e conduzem o filme de uma maneira quase hipnotizante. E isso tudo sendo o vilão do filme! Pena que pequenos filmes de terror raramente entram no radar de grandes premiações, porque este papel poderia lhe render um prêmio!

As outras duas atrizes, Sophie Thatcher e Chloe East, também estão bem, mas o destaque sem dúvidas fica para Hugh Grant. E, curiosidade, o outro mórmon que aparece pouco é Topher Grace, de That 70s Show.

Falei lá no início que Herege acerta em quase tudo. O “quase” é porque o terço final muda um pouco o rumo do filme e rola uma quebra de ritmo. Não que fique ruim, mas preferi o clima anterior.

Um comentário sem spoilers sobre o fim: interpretei de um modo, quando acabou a sessão fui conversar com alguns amigos, e ouvi outras duas suposições sobre o final. Ainda acho que a minha é a “certa”, mas foi legal ver que é um final que te faz pensar.

Herege estreia semana que vem, e já quero rever!

Megalopolis

Crítica – Megalopolis

Sinopse (imdb): A cidade de Nova Roma é palco de um conflito entre Cesar Catilina, um artista genial a favor de um futuro utópico, e o ganancioso prefeito Franklyn Cicero. Entre os dois está Julia Cicero, com a lealdade dividida entre o pai e o amado.

Poucos filmes realmente merecem o rótulo de “aguardado”. Megalopolis, novo filme de Francis Ford Coppola, é um desses. Não sei exatamente há quanto tempo, mas o projeto de Megalopolis já existe há décadas. E Coppola resolveu vender um vinhedo e bancar o custo de 120 milhões de dólares do próprio bolso!

E o resultado? Olha, não gostei do filme, mas gostei que ele foi feito. Já explico.

Vamulá. Francis Ford Coppola é um nome gigante na história do cinema. Ele dirigiu O Poderoso Chefão 1 e 2, presentes em qualquer lista de melhores filmes da história (ele também dirigiu o 3, mas este passa longe de listas de melhores). Ele arriscou tudo num projeto pessoal, Apocalypse Now, e ganhou muitos frutos com isso (incluindo dois Oscars e a Palma de Ouro em Cannes). Dois anos depois, arriscou de novo em outro projeto pessoal, O Fundo do Coração, mas desta vez foi um grande flop. Mesmo assim continuou, e nos anos 90 ainda fez o excelente Drácula de Bram Stoker, um dos melhores filmes de vampiro de todos os tempos.

Um cara talentosíssimo, com um currículo gigante, mas que me fazia pensar naquela frase do Tarantino, que disse que pretendia se aposentar depois do décimo filme. Porque os últimos Coppola que vi foram bem decepcionantes.

(Essa frase do Tarantino serve pra alguns diretores. John Carpenter, autor de vários clássicos, encerrou a carreira com Aterrorizada, um filme com cara de Supercine.)

Coppola estava no mesmo barco. Vi Tetro, com a presença do próprio, numa sessão lotada em Botafogo, mas o filme parece uma novela mexicana. Dois anos depois vi Twixt num Festival do Rio, outra decepção. Nem tive ânimo de ver Distant Vision, que ele fez em 2015 que nem sei se foi lançado no Brasil (no imdb não tem nem poster do filme!).

Pensando por este ângulo, foi uma agradável surpresa ver Megalopolis. É um filme confuso, muita coisa não funciona, mas… É um grande filme, com um grande elenco, e várias cenas memoráveis. Ou seja, se a gente for pensar em um último filme de um diretor octogenário (Coppola está com 85 anos!), Megalopolis é bem melhor que Tetro ou Twixt.

Depois dessa longa introdução, vamos ao filme? Em Nova Roma, uma cidade fictícia (segundo o que li, baseada em Nova York), rola uma briga política entre o prefeito e um arquiteto visionário que quer construir uma nova cidade baseada em um novo elemento criado por ele, o Megalon.

Tudo é contado em tom de fábula (assumido em uma frase de introdução ao filme), tudo é meio onírico, tem muitos simbolismos e muita coisa exagerada.

Mas achei o roteiro muito bagunçado. Por exemplo, a filha do prefeito se envolve com o arquiteto que é seu inimigo, e às vezes ela está com um, outras vezes com o outro, e o filme não deixa claro qual é a dela. Tem cenas que se estendem demais, como aquela cena do coliseu, tão longa que chega a cansar. Tem um narrador, vivido pelo Laurence Fishburne, que de repente some e não volta mais. Tem uma trama paralela de uma cantora que era valorizada por ser jovem e virgem, aí descobrem que ela não é jovem nem virgem, aí ela muda de estilo mas o filme esquece dela. E por aí vai…

Mas por outro lado, o elenco é repleto de grandes estrelas, e algumas sequências são belíssimas. É um filme grandioso, digno da carreira de um nome como Francis Ford Coppola.

Diferente dos últimos filmes do Coppola, Megalopolis conta com um grande elenco: Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Shia LaBeouf, Jon Voight, Laurence Fishburne, Talia Shire e Jason Schwartzman, entre outros. As atuações são exageradas, entendi que fazia parte da proposta de fábula onírica.

Quando acabou a sessão (sessão normal, não teve sessão pra imprensa), fiquei dividido. Não, não gostei do filme. Mas gostei de ver que Coppola continua grande.