Os Observadores

Crítica – Os Observadores

Sinopse (imdb): Quando Mina fica perdida em uma floresta na Irlanda ela acaba encontrando três estranhos que são perseguidos por criaturas misteriosas todas as noites.

Estreia na direção da filha do Shyamalan, Ishana Shyamalan. Podemos dizer que ela se parece com pai – no bom e no mau sentido.

Antes de tudo, preciso dizer que a expectativa estava lááá embaixo, porque Os Observadores (The Watchers, no original) não teve sessão de imprensa, e a divulgação estava muito fraca. Normalmente quando isso acontece é porque a distribuidora não acredita no potencial do filme. Aí o filme é mal lançado, fica uma semana em cartaz, em poucas salas, e já sai de cena. Fui checar agora, na segunda semana, são poucas as sessões.

Enfim, sem sessão pra imprensa, não pude ver antes. Atrasado, vamos ao meu texto.

Os Observadores tem alguns problemas comuns em filmes do Shyamalan pai. Um deles é o excesso de explicações, e pior: explicações sem embasamento. Um exemplo de um filme recente dele: em Tempo, os personagens estão em uma praia onde o tempo passa numa velocidade diferente, todos envelhecem muito mais rápido. Isso era o suficiente para o espectador: “o tempo passa mais rápido”. Mas aí resolvem colocar uma cena onde uma personagem dita números exatos sobre a passagem de tempo. Não só isso era desnecessário, como atrapalhou a trama, porque um dos personagens não seguia essa exatidão.

Aqui em Os Observadores, temos muitas explicações. Tem uma personagem que parece que só está ali pra explicar coisas sobre o lugar onde eles estão (e ninguém pergunta como ela sabe de tudo!). E parece que isso não era suficiente, porque determinado momento do filme descobrem gravações que só servem pra explicar tudo ainda mais. Vejam bem, heu não gosto de filmes herméticos onde o espectador precisa procurar textos explicativos depois pra entender o que acabou de ver. Mas, existe um equilíbrio! Não precisa explicar tudo!

E o pior é que essa história é meio sem sentido. Sério, me lembrei de Dama na Água, lembro que o Shyamalan disse na época que ele queria contar histórias de fantasia para os filhos, achei que essa era uma daquelas histórias. Só depois soube que o filme se baseia num livro que já existia, escrito por A. M. Shine – será que no livro a história flui melhor?

Outro problema comum na família Shyamalan é ter personagens que não agem de maneira natural. Assim como em Batem À Porta, último filme do Shyamalan pai, onde os personagens demoram pra verbalizar “o elefante na sala”, aqui a protagonista cai num mundo cheio de regras, mas as pessoas só falam as regras no dia seguinte! Passaram uma noite inteira juntos, e ninguém pensou em explicar a ela como funciona esse local?

A boa notícia é que se Ishana repete alguns defeitos do pai, também repete algumas virtudes. Os Observadores é bem conduzido e o filme mantém um interessante clima de tensão ao longo de quase toda a projeção. Gostei de como o filme começa a desenrolar o mistério (queria falar mais, mas é melhor não, por causa de spoilers).

Falei “quase toda a projeção”, né? Poizé. O final é bem fuén. Talvez pela desnecessária necessidade de criar uma espécie de plot twist, o filme se estica e tem um final que deixa o espectador com gosto amargo na boca ao final da sessão. Caramba, se você não tem um bom plot twist, é melhor terminar o filme antes!

No elenco, Dakota Fanning faz cara de paisagem o filme inteiro, mas, funciona pro que o filme pede. Também no elenco, Georgina Campbell, Olwen Fouéré e Oliver Finnegan. Um comentário que não tenho certeza se foi ou não proposital, mas… A protagonista se chama Mina, e sua irmã é Lucy. Duas personagens do livro Dracula, de Bram Stoker. Coincidência?

Mesmo assim, gostei da estreia da Ishana. Apesar dos problemas, Os Observadores não é um filme ruim. Só poderia ser melhor. Aguardemos seu novo projeto.

A Semente do Mal

Crítica – A Semente do Mal

Sinopse (imdb): Ao lado da namorada, Edward decide desvendar os segredos da família biológica, com quem nunca teve contato. No entanto, o que parecia ser uma jornada de descobertas pelo norte de Portugal rapidamente se transforma em um pesadelo.

Outro dia comentei sobre um terror francês. hoje é dia de um terror português!

(Anos atrás, comentei sobre Coisa Ruim, outro terror português, mas faz tanto tempo que nem me lembro de nada desse outro filme…)

Escrito e dirigido por Gabriel Abrantes, A Semente do Mal (ou Amelia’s Children, título internacional) traz a historia da bruxa Amélia, que não sei se é uma lenda portuguesa ou se foi algo criado para o filme. Mas gostei de como a história foi apresentada. Não digo mais por causa de spoilers!

Um homem, nos EUA, que não sabe quem são seus pais, descobre que tem 99,9% de chance de ser irmão gêmeo de um português, e vai até Portugal conhecer sua família de sangue. E, claro, essa família portuguesa tem seus mistérios.

A mansão portuguesa é um bom cenário e cria um clima interessante. O filme tem vários flashes assustadores, mas achei alguns meio fora de propósito, parece que o diretor só queria colocar algumas cenas aleatórias pra aumentar o ar de suspense e mistério. E preciso dizer que achei a maquiagem da velha Amélia muito exagerada.

O filme é português e tem diálogos em português. Mas, ideia esperta da produção para vender o filme para o mercado internacional: os dois protagonistas são americanos, então a maior parte dos diálogos é em inglês. Foi uma boa saída pra ter um filme falado em inglês sem precisar dublar.

Teve um detalhe na atuação do ator principal, Carloto Cotta, que achei bem legal. Ele interpreta dois irmãos gêmeos, um que foi criado em Portugal, outro nos EUA. Eles conversam em inglês, o segundo não sabe falar português. Mas o ator consegue fazer duas pronúncias de inglês, uma com sotaque e outra sem. Um detalhe, mas valorizo isso.

Agora, um problema que achei no elenco – e que não sei se foi proposital – foi usar atrizes parecidas. A protagonista é muito parecida com a versão nova da velha Amélia! Me questiono se a produção quis fazer algo assim para nos confundir… Ah, sim, não conhecia ninguém do elenco.

A Semente do Mal não é “o melhor terror do ano”. Mas valorizo por ser diferente. Por mais filmes de terror de países “não óbvios”!

Divertida Mente 2

Crítica – Divertida Mente 2

Sinopse (imdb): Acompanhe Riley, em sua adolescência, encontrando novas emoções.

Divertida Mente, de 2015, é um dos melhores longas da Pixar. É uma ideia simples e genial: como nossas emoções funcionam dentro da nossa cabeça. O filme era tecnicamente exuberante, e fazia o espectador rir e chorar.

Nove anos depois, uma continuação. Como continuar um filme desses sem perder qualidade? E uma coisa me acendeu o sinal de alerta: mudaram o diretor – o primeiro é dirigido por Pete Docter, responsável por alguns dos melhores Pixar até hoje (ele dirigiu Monstros S.A. Up e Soul, além de ser um dos roteiristas de Wall-E)

Bem, dirigido por Kelsey Mann, Divertida Mente 2 (Inside Out 2, no original) pode não ser tão bom quanto o primeiro, mas não vai decepcionar ninguém.

O filme se passa dois anos depois do primeiro, e agora Riley está entrando na adolescência, e por isso surgem novas emoções. Conhecemos a Ansiedade (a grande protagonista do filme), a Inveja, o Tédio e o Vergonha.

O fato de termos muitos personagens dificulta o equilíbrio. Ansiedade rouba o protagonismo que era da Alegria, e é um personagem ótimo. Tédio aparece pouco, mas são participações pontuais e geniais, todas são muito boas. Algo parecido acontece com Vergonha, aparece menos mas são boas aparições. Por outro lado, Inveja não é um bom personagem. Parece apenas uma “escada” para Ansiedade.

“Ah, Helvecio, por que você acha este segundo filme inferior ao primeiro?” Bem, são dois motivos. O primeiro é que repetem a fórmula. Alguma coisa acontece que tira as emoções do centro de controle, e elas precisam descobrir como voltar, enquanto problemas vão acontecendo na sua ausência, Exatamente o mesmo plot. É ruim? Não. Mas precisamos reconhecer que é uma trama reciclada.

O outro motivo é que parece que a Pixar está segurando a mão nas emoções (olha a ironia!). O primeiro filme tinha momentos fortes que faziam todos chorarem, como a morte do Bing Bong (spoiler de nove anos atrás!), e conseguia equilibrar bem os momentos muito engraçados com esses momentos “para fazer o espectador chorar”. Este novo é muito engraçado, mas não me lembro de nenhum momento que causaria choro…

Mas, o fato de ser um degrau abaixo de um dos melhores filmes da Pixar não faz de Divertida Mente 2 um filme ruim! É um filme bem escrito, bem conduzido e muito divertido. Achei o melhor Pixar desde Soul, na minha humilde opinião é melhor que Luca, Red, Lightyear e Elementos.

Falemos da parte técnica. Hoje, 2024, não espero menos do que perfeição nos gráficos de um novo longa da Pixar. Os grandes estúdios de animação alcançaram uma excelência onde fica até difícil comentar, porque é tudo muito perfeito. Mas, tem dois detalhes aqui que merecem ser ressaltados. Um deles já acontecia no filme anterior: a textura das emoções é impressionante, porque não são exatamente figuras sólidas. Além disso, gostei da mistura de estilos de animação em uma determinada cena em particular. Ficou bem legal.

Momento “velho rabugento”: legal vermos novas emoções e como elas interagem com as anteriores. Mas isso traz um problema ao primeiro filme. Nove anos atrás os adultos não tinham ansiedade, tédio, inveja e vergonha? (Segundo o imdb, rascunhos iniciais do roteiro ainda traziam outras emoções, como liberdade, amor, paixão e força).

Queria falar sobre o elenco, mas a sessão foi dublada. Maya Hawke, a filha da Uma Thurman com o Ethan Hawke (e que estava em Stranger Things) faz a Ansiedade no som original, queria ver (ouvir?) como ficou. Bem, pelo menos reconheço que a dublagem da Tatá Werneck fucnionou bem na personagem.

Por fim, fiquem até o final. Tem uma cena pós créditos que amarra uma ponta solta que tinha sido deixada no meio do filme.

Biônicos

Crítica – Biônicos

Sinopse (imdb): Em um futuro distópico em que as próteses robóticas dominam os esportes, duas irmãs competem no salto em distância. Só que essa rivalidade leva a um caminho sinistro.

Opa, ficção científica feita no Brasil!

Biônicos é o novo filme de Afonso Poyart. Poyart é um cara que merece o meu respeito, em 2012 ele fez 2 Coelhos, um dos melhores filmes nacionais que heu já vi. Três anos depois ele dirigiu Anthony Hopkins e Colin Farrell em Presságios de um Crime, e lembro de ter ido numa sessão no Roxy com presença do próprio Poyart. No ano seguinte, 2016, Poyart dirigiu Mais Forte Que o Mundo, contando a história do lutador José Aldo, outro filmão. Só por esses três títulos, Poyart já merece espaço no hall de melhores diretores brasileiros.

De lá pra cá, Poyart deu uma sumida. Vi no imdb que ele fez coisas pra TV. Até que estreou este Biônicos no streaming, anunciado como “o filme nacional mais caro da Netflix”. E apareceram alguns canais de youtube falando mal do filme. Realmente, Biônicos chama a atenção por ser extremamente bem feito. Mas por outro lado, o roteiro deixa a desejar. Vamulá.

O filme se passa num futuro próximo onde atletas amputados usam próteses biônicas que os deixam melhores que os atletas “normais”, a ponto de ter atletas que querem se amputar como uma espécie de “doping tecnológico”. Mas algumas coisas não fazem muito sentido, tipo um amputado tem direito a próteses, mas é acusado criminalmente se for responsável pela própria amputação. E isso acaba gerando uma das coisas mais forçadas do filme: a protagonista quer uma perna biônica, então ela força um acidente onde ela está de moto e um carro bate violentamente nela. Caramba! Como é que alguém vai conseguir controlar um acidente desses pra ser só um ferimento na perna? Ela podia ter morrido!

Agora, pra mim, o pior do roteiro é a personagem Maria, justamente a protagonista. Ela é antipática e invejosa. Sua irmã mais nova era uma atleta pcd, e sempre chegava em segundo lugar quando as duas competiam – por motivos óbvios. Quando surgiram as próteses biônicas, a irmã mais nova passou a chegar em primeiro lugar, e a protagonista nunca aceitou isso. E, pra piorar, a irmã mais nova é simpática e está sempre tratando bem a irmã. Acho que escolheram a protagonista errada.

O roteiro ainda tem mais alguns problemas aqui e ali, tipo um vilão caricato que tem atitudes sem sentido (além de um envolvimento romântico muito forçado com a protagonista), ou provas paralímpicas que mais parecem um videogame. Mas são problemas comuns de filmes desse  estilo, nada muito grave.

Agora, o visual é digno de ser um marco do cinema nacional. Não só toda a ambientação em um futuro meio cyberpunk, com figurinos e props que parecem coerentes com a proposta do filme (ficção científica nacional a gente pensa em figurinos com cara de Castelo Rá Tim Bum), como o cgi das próteses biônicas é muito bom! Essa parte ficou realmente muito bem feita!

(Só reclamo do cgi de um personagem que aparece na cena final, que parece uma cópia tosca do Ciborgue da Liga da Justiça. Aquele ficou com cara de novela do SBT.)

Além disso, tem algumas cenas muito boas. Lembro pouco de 2 Coelhos (não sei onde posso revê-lo, e não tenho o dvd!), mas lembro que tinha uma câmera lenta muito bem executada. Em tempos de Rebel Moon com câmera lenta mal aproveitada, Poyart mostra que ainda sabe usar o efeito. Tem uma cena onde chutam uma mesa que é daquelas pra guardar a cena e rever de vez em quando!

Tive um problema com o final. Como é na conclusão do filme, vou colocar avisos de spoilers.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Na parte final aparece o grande vilão, interpretado por Miguel Falabella. Aí, na cena final, pelo que heu entendi, os irmãos se unem ao vilão. Péra, no fim do filme eles viram “do mal”? Heu entendi direito???

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com os problemas, gostei de ver uma ficção científica brasileira tecnicamente bem feita. Só espero que em uma próxima vez caprichem um pouco mais no roteiro.

Infestação

Crítica – Infestação

Sinopse (imdb): Moradores de um prédio de apartamentos francês em ruínas lutam contra um exército de aranhas mortais que se reproduzem rapidamente.

Um terror francês sobre aranhas. O fato de ser um filme off Hollywood tem vantagens e desvantagens. Vamulá.

Gosto de ver coisas diferentes, então um filme europeu é sempre bem vindo. Longa de estreia do diretor Sébastien Vanicek, Infestação (Vermines, no original) consegue colocar um paralelo subliminar pra fazer uma crítica social: as indesejadas aranhas são invasoras estrangeiras. E as aranhas atacam imigrantes africanos que também podem ser chamados de invasores estrangeiros.

Mas por outro lado, Infestação sofre com personagens antipáticos. O protagonista Kaleb brigou com a irmã, com o amigo, com todo mundo, se der mole ele briga até com o espectador. Caramba, estamos vendo um filme onde pessoas precisam enfrentar aranhas pra sobreviver, heu preciso me importar com essa pessoa. Do jeito que aparece no filme, dane-se o Kaleb, morra.

Tem outro problema, mas é um problema que também acontece sempre em Hollywood. As aranhas preferem o escuro, ok. Se você jogar uma luz forte, elas vão fugir, ok. Mas uma luzinha de celular não deveria fazer elas fugirem daquele jeito! Entendo que o filme precisava dar aos personagens um meio de combater as aranhas, mas achei meio tosco.

Mesmo assim, ainda achei positivo ver um terror com um ritmo diferente dos “Blumhouse” padrão. Agora, tem um problema no fim, mas como é no fim, vou mandar um aviso de spoiler.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

No fim, o imóvel está tomado pelas aranhas, e eles resolvem implodir o prédio. Caramba! Iam sobrar aranhas e ovos de aranhas nos escombros! Eles deveriam ter colocado fogo no prédio!

FIM DOS SPOILERS!

Por fim, uma curiosidade: aquele prédio redondo onde o filme se passa realmente existe. São as “Arenas de Picasso”, em Noisy-le-Grand, perto de Paris, projetadas pelo arquiteto Manuel Núñez Yanowsky nos anos 80.

Assassino Por Acaso

Crítica – Assassino por Acaso

Sinopse (imdb): Gary Johnson trabalha para a polícia e finge ser um assassino de aluguel para prender aqueles que o contratam. Um dia ele quebra o protocolo para salvar uma mulher desesperada que tenta fugir de um namorado abusivo.

Richard Linklater tem vários bons filmes baseados em personagens e diálogos bem construídos. Não são filmes com muitas “pirotecnias” técnicas, mas são filmes gostosos e agradáveis de se acompanhar. Assassino por Acaso (Hit Man, no original) é um desses casos.

Assassino por Acaso supostamente se baseia numa pessoa real (que heu nunca tinha ouvido falar), um professor universitário que tinha um segundo emprego numa equipe da polícia que prendia pessoas interessadas em contratar assassinos de aluguel. Ele cria personagens pra se aproximar dos suspeitos, e isso é a melhor coisa do filme.

Glen Powell é o nome a ser citado. Não só ele é co-roteirista e produtor, como tem um papel onde pode mostrar muita versatilidade. O cara é bonito e muito engraçado. Seu personagem cria várias situações muito divertidas. Assassino por Acaso não tem o perfil de “filme de Oscar”, mas heu não acharia exagero se ele aparecesse com alguma indicação (se bem que acho que o filme foi lançado lá fora no ano passado, então já era). Enfim, Glen Powell é o cara: bom ator, bom personagem.

Adria Arjona (Andor), que faz o principal papel feminino, também está bem e mostra uma boa química com Glen Powell. Sim, em algumas partes, Assassino por Acaso parece uma comédia romântica. Não conhecia mais ninguém no elenco, mas vou te falar que sempre que aparecia o personagem Jasper, heu me lembrava do Ethan Hawke, que já trabalhou em sete filmes do diretor Linklater: Boyhood, Newton Boys, Waking Life, Nação Fast Food, e a trilogia “Before” – Antes do Amanhecer, Antes do Por do Sol e Antes da Meia Noite (isso porque não estou citando Blaze, dirigido por Ethan Hawke e com Linklater no elenco).

Boa parte do conflito apresentado pelos personagens é porque Gary conheceu Maddison quando estava em um dos personagens que criava para o seu trabalho, então ele precisa continuar esse personagem durante a relação. E isso gera algumas cenas muito boas!

Sem entrar em spoilers, mas o fim tem uma moral meio cinzenta. Quando foi chegando naquela conclusão, fiquei na dúvida de como terminaria. Heu gostei da conclusão, mas entendo quem reclame da “moral da história”.

Leve e divertido, Assassino por Acaso vai agradar a maioria dos espectadores. Só não sei quanto tempo vai ficar em cartaz, porque já está no catálogo da Netflix gringa, não sei quanto tempo até chegar aqui.

Bad Boys: Até o Fim

Crítica – Bad Boys: Até o Fim

Sinopse (imdb): Os Bad Boys favoritos do mundo estão de volta, mas desta vez com uma reviravolta: os melhores de Miami são agora os mais procurados.

Vou copiar um parágrafo que escrevi 4 anos atrás, na época do filme anterior: “O primeiro Bad Boys, de 1995, foi um grande sucesso. Foi o primeiro longa metragem dirigido por Michael Bay, que nos anos seguintes se firmaria como um dos maiores nomes do “blockbuster com mais explosões que roteiro”. E foi o primeiro sucesso cinematográfico de Will Smith, que emplacaria outros sucessos nos dois verões seguintes (Indepedence Day em 96 e MIB em 97). Não era nada demais, apenas um filme divertido e cheio de cenas de ação bem filmadas. Mas um filme que soube fazer a fórmula direitinho.” Quando resolveram retomar a franquia, em 2020, com Bad Boys Para Sempre, mantiveram o mesmo estilo. Nada demais, mas um filme divertido e competente.

Agora, Adil e Bilall, a mesma dupla que dirigiu o filme de 2020 está de volta com o quarto filme da saga, Bad Boys: Até o Fim (Bad Boys: Ride or Die, no original). Fui ao cinema com zero expectativa, e posso dizer que curti o que vi.

Assim como os antecessores, Bad Boys: Até o Fim não é um grande filme, não vai entrar em listas de melhores do ano. Mas, vou repetir a máxima do Luis Severiano Ribeiro: “cinema é a maior diversão”. E Bad Boys: Até o Fim é divertidíssimo! São várias cenas de ação muito bem filmadas, e sabe equilibrar o humor. O filme não é comédia, mas tem cenas engraçadíssimas.

Queria falar da dupla de diretores Adil e Bilall. Gostei da câmera deles, o filme inteiro fica com a câmera em movimento e mostrando ângulos fora do óbvio. E tem algumas cenas daquelas tão bem filmadas que dá vontade de rever. Tem uma briga num elevador que achei bem legal, é um elevador panorâmico com paredes de vidro, a câmera fica rodando em volta e não vemos quando passa por uma laje, foi uma cena “inventiva”. Outra sequência criativa é quando estamos vendo através de uma câmera de segurança, e o que vemos na tela fica alternando entre a câmera de segurança e a casa “real”. E na parte final tem um “momento videogame”, um tiroteio com a câmera no ponto de vista do atirador – incluindo armas trocando de mãos!

E, claro, tem o humor. O Marcus ter restrições alimentares traz algumas boas piadas. E a participação do Khaby Lame foi sensacional! Além disso, gostei do roteiro explorar uma fraqueza do Mike.

No elenco, Will Smith e Martin Lawrence têm uma boa química e carregam o filme com tranquilidade. Eles estão muito à vontade, parecem que estão se divertindo – e isso passa uma sensação boa para o público. Também no elenco, Vanessa Hudgens, Alexander Ludwig, Paola Núñez, Eric Dane, Ioan Gruffudd, Jacob Scipio e Joe Pantoliano.

Como falei no início, Bad Boys: Até o Fim não vai mudar a vida de ninguém. Mas quem for ao cinema não vai sair decepcionado. Cinema é a maior diversão!

Garotas em Fuga

Crítica – Garotas em Fuga

Sinopse (imdb): Em busca de um recomeço, Jamie, que lamenta o término com mais uma namorada, e sua amiga Marian, que precisa aprender a se soltar, embarcam em uma viagem improvisada para Tallahassee, que logo sai dos trilhos.

Sou fã dos irmãos Coen desde sempre. Eles começaram a carreira em 1984, mais ou menos na mesma época que comecei a ir ao cinema, acho que vi todos os filmes da dupla, sempre perto da época do lançamento, desde seu segundo filme, Arizona Nunca Mais, de 1987. (O primeiro, Gosto de Sangue, de 84, vi em VHS).

Uma curiosidade: até o filme O Amor Custa Caro (2003), Joel era creditado como diretor e Ethan como produtor, mas diziam que os dois faziam tudo juntos. A partir do filme seguinte, Matadores de Velhinha (2004) eles passaram a dividir os créditos. Provavelmente alguém deve ter avisado que se eles ganhassem um prêmio de direção, como aconteceria em 2008 por Onde Os Fracos Não Têm Vez, seria apenas um prêmio e não dois. (Em 97, eles foram indicados a 4 Oscars por Fargo: ganharam juntos por roteiro, e foram indicados juntos por edição. Mas Ethan foi indicado sozinho como produtor e Joel, sozinho, como diretor. Foi a única indicação “solitária” de cada um, todas as outras 14 indicações ao Oscar foram compartilhadas).

Aí, depois de quase 4 décadas, sei lá por que, eles pararam de filmar juntos. Catei pelo Google mas não achei qual foi a razão. Joel Coen, sozinho, fez A Tragédia de Macbeth, com Denzel Washington, filme que achei tão chato que nem terminei de ver. Achei que a “instituição Irmãos Coen” havia acabado. Pena.

Mas, ano passado vi o trailer deste Garotas em Fuga (Drive-Away Dolls, no original), que me lembrou o clima amalucado de alguns filmes dos Coen dos anos 80, como Arizona Nunca Mais, ou ainda Crimewave, dirigido por Sam Raimi mas com roteiro dos Coen. Gostei tanto do trailer que Garotas em Fuga entrou na minha lista de expectativas para 2024.

E então? Garotas em Fuga presta?

Bem, não é um grande filme. Na verdade, parece uma cópia meio tosca de filmes dos irmãos Coen. Mas é divertidíssimo!

Garotas em Fuga é um road movie com alguns elementos que eram frequentes em filmes dos irmãos, como personagens secundários bizarros e caricatos, e humor negro misturado com violência. E gostei do filme ter apenas uma hora e vinte e quatro minutos (os créditos começam com uma hora e dezessete!), é um filme bobinho, se fosse muito longo ia ser cansativo.

É um filme de lésbicas, então boa parte das piadas é dentro deste assunto. Mas achei que faltou um cuidado maior na hora de selecionar as piadas – algumas são boas, mas outras soam forçadas, me pareceu que estão lá só pra chocar. Além disso, Garotas em Fuga tem algumas vinhetas psicodélicas meio sem sentido, não entendi o que o Ethan Coen queria dizer com aquilo

No elenco, a dupla principal é interpretada por Margaret Qualley e Geraldine Viswanathan. As duas funcionam bem juntas, é aquela dupla clichê de uma certinha que precisa se dar bem com uma maluquinha. Nos papéis secundários, temos algumas surpresas. Pedro Pascal e Matt Damon têm papéis importantes, mas quase não aparecem. E a Miley Cyrus tem um papel chave, que, se bobear, aparece menos que os dois citados.

No fim, apesar de ser nitidamente um filme “menor”, fiquei feliz de ver um dos irmãos Coen voltando às origens e entregando um filme divertido. Mesmo “menor”, prefiro muito mais este Garotas em Fuga do que aquele Macbeth.

Os Estranhos – Capítulo 1

Crítica – Os Estranhos – Capítulo 1

Sinopse (imdb): Uma jovem viaja para o campo com seu namorado para começar uma nova vida. Quando seu carro quebra, o casal é forçado a passar a noite em uma isolada casa Airbnb, onde a dupla é aterrorizada até o amanhecer por três estranhos mascarados.

Heu não tenho o hábito de ler informações sobre os filmes que vou ver no cinema. Faço isso para baixar expectativas antes de entrar na sala. Por isso, achei que esse “Capítulo 1” era um prequel daquele Os Estranhos de 2008.

Naquele Os Estranhos, um jovem casal é atacado por estranhos e violentos vizinhos mascarados. que tentam invadir sua casa. Na época chamou a atenção por ser estrelado pela Liv Tyler, mas não é um grande filme. Tem algum clima de tensão bem construído, mas é uma história muito vazia, não tem muita historia pra contar, acaba que é um filme esquecível.

Ainda mais esquecível foi a continuação, Os Estranhos Caçada Noturna, lançada em 2018, que se não fosse o post aqui no heuvi, heu nem me lembrava que tinha visto!

Aí veio esse “Capítulo 1”, que achei que era um prequel, mas na verdade é uma refilmagem do primeiro filme. Exatamente a mesma história, um casal sendo atacado por três estranhos mascarados, que tentam invadir a casa.

Assim como no filme de 2008, tem muito pouca história pra contar, dava pra resumir tudo em uns 30 ou 40 minutos. O filme se estende por cenas de perseguição com zero criatividade. Saí da sessão pensando “puxa, podiam reduzir esse filme e incluir o segundo capítulo, poderia dar um bom filme de uma hora e meia”.

Ai cheguei em casa e fui ver o imdb, e descobri que é bem pior. Não serão dois filmes, e sim três! Já filmaram as duas continuações, uma deve ser lançada no fim do ano e a outra ano que vem!

Vamulá, galera. Se vocês querem ter três filmes, precisam ter um bom primeiro filme, que instigue o espectador a voltar para as continuações. Os Estranhos Capitulo 1 sofre do mesmo problema de Rebel Moon, que é uma franquia forçada, onde ninguém se importa com o que ainda não estreou. E Os Estranhos Capitulo 1 é bem fraco!

Ok, admito que queria ver mais. Queria saber quem são esses mascarados, qual é a história deles, qual é a motivação deles. Vemos algumas pistas que podem (ou não) ser exploradas, como os meninos religiosos, ou o comentário que “eles não querem se misturar com os caipiras”. Se Os Estranhos Capitulo 1 fosse mais curto, e a história se expandisse pra esse caminho, provavelmente seria um filme melhor.

Mas, a previsão não é boa. Se a ideia é fazer três filmes, provavelmente o segundo será só enrolação. Teremos que esperar até o terceiro filme pra saber qual é a desses caras – se é que vão explicar!

Ainda queria falar do diretor, Renny Harlin. Ele nunca foi um grande diretor, nunca foi um nome do primeiro time. Mas ele dirigiu alguns bons filmes nos anos 80 e 90, como Duro de Matar 2, Risco Total e A Ilha da Garganta Cortada. Fico tão triste de ver um cara desses em projetos tão ruins, lembro que alguns anos atrás ele fez um dos piores filmes que vi nos últimos anos, Os Renegados / The Misfits. E agora ele pega um filme fraco e resolve transformar numa franquia. E a chance de dar errado é imensa!

(Um breve parágrafo pra dizer que entendo o mercado. É mais fácil vender ingresso pra um filme de franquia, como Os Estranhos, do que pra um filme desconhecido, como Late Night With the Devil, que deve ser lançado no segundo semestre. O segundo é muito melhor que o primeiro, mas se bobear vai vender menos ingressos. Triste realidade mercadológica.)

Enfim, o texto está ficando grande, e Os Estranhos Capitulo 1 não merece isso. Mas só queria falar que tem uma cena no meio dos créditos que não faz o menor sentido. Se o espectador já estava com gosto ruim na boca, essa cena pós créditos ainda piorou.

Grande Sertão

Crítica – Grande Sertão

Sinopse (imdb): Em uma grande comunidade da periferia brasileira chamada “Grande Sertão”, onde uma luta entre policiais e bandidos assume ares de guerra, Riobaldo entra para o crime por amor a Diadorim, mas nunca tem a coragem de revelar sua paixão.

Heu sempre gosto de defender o cinema nacional. Mas às vezes isso é uma tarefa difícil.

Grande Sertão tem seus méritos, mas tem dois problemas bem complicados. O primeiro é que adaptaram o visual da história e trouxeram para os dias de hoje, mas o texto continua fiel ao original de Guimarães Rosa. Ou seja, os diálogos são rebuscados, parecendo um teatro. Pior, um teatro amador. Todos os diálogos são extremamente artificiais. Entendo a opção da produção de querer usar o texto original, mas, pelo menos pra mim, não funcionou.

(Me lembrei do Romeu + Julieta, de 1995, dirigido por Baz Luhrmann e estrelado por Leonardo DiCaprio e Claire Danes. Era um filme com visual contemporâneo mas com os diálogos em inglês shakespeariano. Mas, talvez por inglês não ser a minha língua nativa, não me lembro de ter ficado tão incomodado com aquela versão.)

E esse problema tem um agravante. Além das cenas normais, o filme tem uma narração, feita por Riobaldo, o personagem principal, mais velho (ele está de barba e cabelos grandes, com um visual diferente do resto do filme). Riobaldo faz uma narração que parece um monólogo teatral. Na minha humilde opinião, todas as cenas com a narração do Riobaldo poderiam ser cortadas do filme. Ficou artificial e arrastado, e ainda reforçou o ar de peça de teatro mal adaptada.

O outro problema é na caracterização do personagem Diadorim. Na história original, Diadorim nasceu mulher, mas se porta como homem para fazer parte do bando de Joca Ramiro (spoiler!). O problema é que Diadorim, interpretado por Luisa Arraes, se porta como mulher, se veste como mulher, tem um corte de cabelo feminino, em nenhum momento se parece com um homem. Diadorim parece um personagem da Michelle Rodriguez, ou da Ronda Rousey, ou da Gina Carano, ou da Ruby Rose, mulheres “porradeiras”, mas mesmo assim, mulheres.

Houve uma adaptação feita pela Globo em 1985 onde Bruna Lombardi interpretou Diadorim. Não vi ou não me lembro de ter visto, mas amigos críticos disseram que Bruna conseguiu criar um personagem que enganava. Aqui, Luisa Arraes não engana ninguém!

E assim como o outro problema, este também tem um “segundo degrau”. Sec XXI, 2024, fica estranho uma história que se passa nos dias de hoje com um protagonista assumidamente homofóbico. Se fosse uma história de época, dois jagunços, no meio do sertão, décadas atrás, era mais fácil de aceitar. Mas hoje, numa cidade grande? Ver uma mulher masculinizada trabalhando no meio de homens não espanta mais ninguém. Já que adaptaram o visual, trazendo do sertão pra uma favela, podiam ter adaptado o dilema moral de Diadorim.

Pena, porque tecnicamente falando, Grande Sertão é muito bem feito. A direção é de Guel Arraes, que tem um grande currículo, não só na TV (o cara estava em Armação Ilimitada e TV Pirata, nos anos 80!), como também no cinema (Arraes dirigiu O Auto da Compadecida, de 2000, um dos filmes nacionais mais populares de todos os tempos). Grande Sertão tem algumas cenas muito bem filmadas. Tem duas sequências, não sei se foram planos sequência, mas são planos longos, uma com Diadorim num corredor enfrentando vários policiais em movimentos que parecem um balé, na outra a câmera passeia entre Riobaldo, Diadorim e Zé Bebelo no meio de um grande tiroteio. Algumas das cenas de briga e de tiros também funcionam bem, o cinema nacional costuma ser deficiente nesse aspecto, e Grande Sertão não decepciona. O elenco também é bom: Caio Blat, Luisa Arraes, Rodrigo Lombardi, Luis Miranda, Eduardo Sterblitch, Luellem de Castro.

Pena, a boa parte técnica e o bom elenco não foram o suficiente, pelo menos pra mim. Porque os diálogos rebuscados e as atuações caricatas me tiravam da experiência cinematográfica, e Diadorim não engana ninguém. Grande decepção.