Metal Lords

Crítica – Metal Lords

Sinopse (imdb): Dois amigos se reúnem para formar uma banda de heavy metal com uma violoncelista para participar de uma competição de bandas.

Às vezes a gente tem uma decepção, como foi com o recente Águas Profundas, que tem um bom diretor e um bom casal de protagonistas, mas que apesar disso é um filme bem ruim. E outras vezes a gente tem uma grata surpresa, quando vamos ver uma comédia adolescente sem ninguém muito conhecido no elenco principal, mas que proporciona divertidas e agradáveis duas horas em frente à tela. É o caso deste Metal Lords, nova comédia da Netflix.

Metal Lords foi dirigido por Peter Sollett, e escrito por D.B. Weiss, que curiosamente foi o co-criador e showrunner de Game of Thrones – que não tem nada a ver com este filme. Mas, lembrei de um vídeo que rolou um tempo atrás que tem tudo a ver. Era uma espécie de jam session de guitarristas tocando o tema de Game of Thrones, com o próprio D.B. Weiss tocando guitarra ao lado de Ramin Djawadi (compositor do tema), Tom Morello (Rage Against The Machine), Scott Ian (Anthrax) e Nuno Bettencourt (Extreme). E ele não faz feio! Ou seja, D.B. sempre foi um cara do rock. Ah, Ramin Djawadi e Tom Morello trabalharam na trilha sonora de Metal Lords.

Ok, a gente tem que reconhecer que Metal Lords não traz nada de novo. A gente já sabe como o filme vai se desenvolver e como vai terminar. Não é um filme para figurar em listas de melhores do ano. Mas, pode entrar em listas de bons filmes com temática rock’n’roll, como Escola de Rock, Still Crazy ou Rock Star. E, principalmente, é um filme leve e agradável, que deixa a gente com vontade de rever na primeira oportunidade.

Me perguntaram se me identifiquei com a banda, afinal, comecei a tocar na época do colégio, e tive uma fase de heavy metal no currículo. Mas, na verdade, na época do colégio minha banda era mais parecida com a banda “rival”, só comecei a tocar metal anos depois. Mas, claro, vivi algumas daquelas situações presentes no filme.

Gostei muito do trio principal do elenco, tanto pelos atores quanto pelos personagens. Falei que o elenco principal era de desconhecidos, né? Mais ou menos. O protagonista Jaeden Martell estava em It e Entre Facas e Segredos, não é um rosto completamente novo. Mas aqui em Metal Lords é que ele realmente tem espaço para mostrar um bom trabalho. Seu personagem Kevin tem um bom desenvolvimento, tanto na parte musical quanto na personalidade. Adrian Greensmith faz um personagem que é meio caricato, mas, acreditem, conheci gente igual. O garoto que só pensa no metal, filho de pai rico, com problemas de relacionamento com todos em volta – inclusive o pai. A menina Isis Hainsworth também é ótima, tanto a atriz quanto a personagem, mas achei que a mudança dela ficou meio abrupta. Mas, gostei da “nova Emily”.

Esqueci de falar, vemos os garotos tocando os instrumentos. Podem até não ser grandes músicos (não dá pra saber), mas pelo menos demonstram bem na tela.

Preciso citar aqui uma cena que achei muito boa, que é quando Kevin aprende a tocar War Pigs. No início do filme a gente vê que o garoto não toca direito e tem problemas com ritmo. Durante a War Pigs, vemos a evolução do Kevin, tanto na parte técnica tocando bateria, quanto na parte de postura e de figurino. A cena ficou muito legal!

Tem um detalhe que vou implicar, mas sei que é um preciosismo. A cena final, quando eles tocam na batalha das bandas, aquela música nunca seria tocada daquele jeito sem ensaio. Nem com músicos profissionais, muito menos com músicos amadores. Já subi no palco sem ensaio, mas eram músicas mais conhecidas e com menos convenções. Certamente eles errariam a execução. Mas… É “filme de sessão da tarde”, a gente releva isso e aceita que a música saiu sem nenhum tropeço.

Tem uma outra cena que achei genial, mas não sei se é spoiler, então vou colocar os avisos.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Tem uma cena onde Kevin “ouve vozes na sua cabeça”. Aí aparecem Scott Ian (Anthrax), Tom Morello (Rage Against the Machine), Kirk Hammett (Metallica) e Rob Halford (Judas Priest) para conversar com ele. Achei genial! Mas acho uma boa citar aqui quem são, porque o filme não explica quem é quem. Só quem realmente conhece as bandas de metal é que vai reconhecer.

FIM DOS SPOILERS!

Nem sei se era pra falar tanta coisa de um filme tão despretensioso, mas é que curti e terminei a sessão empolgado. Recomendo pra todos os que gostam de música!

Águas Profundas

Crítica – Águas Profundas

Sinopse (imdb): Um marido abastado que permite que a sua esposa tenha casos para evitar o divórcio torna-se um suspeito principal no desaparecimento dos seus amantes.

Vejo muitos filmes. Consequentemente vejo muitos filmes ruins, não dá pra gente ver só só os bons. Mas alguns filmes vão um pouco além. É o caso deste Águas Profundas (Deep Water, no original).

Primeiro filme do Adrian Lyne (Flashdance, Atração Fatal, Alucinações do Passado, Proposta Indecente) em 20 anos, com Ben Affleck e Ana de Armas, contando uma história que misturava erotismo e assassinatos. Ok, parecia bom. Estava até na minha lista de expectativas para 2022.

Mas, preciso dizer: que decepção! O filme é bem fraco, e o final é horroroso!

Águas Profundas até começa bem conhecemos o casal Vic e Melinda, e vemos que eles têm uma dinâmica incomum. Eles se tratam mal, ela trai ele na frente de todos, mas quando há o diálogo “você quer o divórcio?” eles mudam de assunto. Ou seja, a gente sabe que existe alguma história por trás disso tudo.

Águas Profundas é bem filmado. Adrian Lyne sabe filmar, a gente precisa admitir isso – um bom exemplo é 9 1/2 Semanas, que é um filme meio raso, mas com imagens belíssimas do casal Kim Basinger e Mickey Rourke. Visualmente, Águas Profundas não chama tanto a atenção, mas é um filme tecnicamente bem feito.

No elenco, o casal principal serve para o proposto. Ben Affleck não é um ator versátil, mas sabe escolher os filmes que se encaixam no seu perfil. Ana de Armas é ótima, linda, simpática, carismática, e está bem ao lado de Affleck. No resto, ninguém conhecido.

Falei que o filme começa bem, né? Mas quando falta mais ou menos meia hora pra acabar tudo começa a sair do eixo. Desde cenas que não fazem sentido – tipo o escritor que aparece no rio no exato momento que o Ben Affleck vai para lá; até mudanças de comportamento de personagens (a Melinda da cena final é incompatível com a Melinda que queria acusar o marido de assassinato).

E o pior de tudo: aquela intrigante relação incomum entre o casal não chega a conclusão nenhuma, e o espectador fica a ver navios. E o fim do filme é confuso e estraga todo o clima construído na primeira metade. Muito frustrante.

Cidade Perdida

Crítica – Cidade Perdida

Sinopse (imdb): Uma romancista solitária em uma turnê de livros com seu modelo de capa é apanhada em uma tentativa de sequestro que os leva a ambos em uma aventura feroz na selva.

Você pode ver Cidade Perdida (Lost City, no original) sob dois pontos de vista. Você pode ver que é um filme previsível e cheio de clichês, ou você pode ver um filme que apesar de previsível, usa muito bem os clichês.

Vamulá. O filme dirigido pelos irmãos Aaron e Adam Nee é completamente previsível, a gente consegue adivinhar tudo o que vai acontecer. Mas é um filme leve e divertido, que não se leva a sério em momento algum. Digo mais: os clichês são usados sempre de maneira inteligente. Um exemplo é o Brad Pitt. se você viu o trailer, sabe exatamente qual é o perfil do seu personagem. E mesmo sem nada de novidade, a gente acaba o filme querendo ver um spin off com o personagem dele.

Aliás, o elenco está muito bem. Channing Tatum veste bem o personagem de “quase galã”, e ele tem um timing muito bom para o estilo de humor presente no filme. E o melhor de tudo: a química dele com a Sandra Bullock é muito boa, algo essencial para a proposta do filme. Brad Pitt, como falei, aparece pouco mas está sensacional; e Daniel Radcliffe mostra que é bem mais do que um Harry Potter adulto.

Os quatro principais nomes estão bem, mas tenho críticas ao elenco de apoio. Da’Vine Joy Randolph, que faz a editora, tem um papel caricato; Patti Harrison faz a especialista em mídias sociais, um personagem bem ruim, que era melhor não ter. E o resto é tão secundário que nem vale ser citado, tipo aquele piloto de avião vergonha alheia.

O roteiro é previsível (e a premissa lembra Tudo por uma Esmeralda). Mas como heu estava me divertindo relevei. Agora, alguns furos incomodaram. Exemplo: os protagonistas estão fugindo dos vilões. A única saída é escalar a montanha. Como os vilões não viram?

Ouvi críticas com relação aos efeitos especiais, que algumas cenas teriam sido filmadas em tela verde e mal renderizadas depois. Mas não reparei em nada tão grave. Pra mim os efeitos são ok.

Mesmo com todos esses problemas, achei o filme bem divertido. Uma comédia / aventura leve e descompromissada, que vai agradar a quase todos que forem ao cinema ver. Estreia nos cinemas quinta feira da semana que vem!

A Hora do Desespero

Crítica – A Hora do Desespero

Sinopse (imdb): Uma mãe corre desesperadamente contra o tempo para salvar seu filho enquanto as autoridades fecham sua pequena cidade.

Pouco tempo atrás falei de um filme minimalista, O Culpado, com Jake Gyllenhal. Este A Hora do Desespero tem um formato bem parecido. Basicamente uma única atriz e um único cenário, e quase toda a interação da personagem é através do telefone.

Dirigido por Phillip Noyce, que fez alguns bons thrillers nos anos 90 (Invasão de Privacidade, Jogos Patrióticos, Perigo Real e Imediato, O Colecionador de Ossos), mas que não dirige nada digno de nota há anos, A Hora do Desespero tem seus bons momentos, mas me parece que a premissa não dava pra fazer um longa metragem. O filme tem menos de uma hora e meia, mas mesmo assim parece esticado.

A trama começa bem, com a mãe isolada, só ao celular. E teve uma coisa que achei boa: a dúvida sobre se o filho era vítima ou não. Mas, mais pro fim, começam a ter uma situações bem forçadas – tipo ela conseguir falar com quem nunca a atenderia. Isso enfraqueceu o resultado final.

Teve outra coisa que me incomodou, mas talvez seja implicância minha. É que a floresta onde ela corria pareceu grande demais. Vejam bem: ela sai pra sua corrida matinal, não era pra ser num local muito distante de casa. E de repente ela está perdida, tendo que atravessar um rio enorme, pra chegar numa rua e pegar um Uber. Como ela se afastou tanto? Lembrei de quando li O Senhor dos Anéis e precisava ficar vendo o mapa da Terra Média pra entender onde eles estavam. Faltou um mapa no filme!

A Hora do Desespero estreia nos cinemas esta semana. Sei não, para um filme desses, acho que funcionaria melhor num streaming…

Sonic 2 – O Filme

Crítica – Sonic 2: O Filme

Sinopse (imdb): Quando o maníaco Dr. Robotnik retorna à Terra com um novo aliado, Knuckles, Sonic e seu novo amigo Tails são tudo o que se interpõe em seu caminho.

Adaptações de videogame têm um histórico complicado. Quase sempre dá errado. Não sei exatamente por que, afinal muitos dizem “este videogame é um filme completo” – mas, quando chega nas telas, não funciona. Acho que até hoje só acertaram duas vezes: o primeiro Resident Evil e o primeiro Silent Hill.

E em alguns casos, a adaptação é mais complicada. Alguns videogames têm personagens humanos e se passam em ambientes reais – como os recentes Uncharted (fraco) e Resident Evil (ruim) – ou seja, é só filmar a história do game. Mas outros casos como este Sonic são bem mais complicados, afinal o protagonista não faz sentido (no mundo real): é um ouriço azul que corre rápido dando cambalhotas e colecionando anéis. Como trazer isso para um filme com personagens humanos?

Mas, adaptaram e fizeram o primeiro Sonic dois anos atrás – e preciso dizer que nem achei tão ruim. Claro, longe de ser bom, mas era uma boa sessão da tarde.

Agora temos a continuação. E se antes a gente tinha um personagem que não faz sentido, agora temos mais dois: Knuckles, um équidna vermelho muito forte; e Tails, uma raposa amarela com duas caudas que viram hélices de helicóptero. E tudo é coerente com a trama: nada faz sentido.

Antes que me chamem de velho rabugento: nem a proposta do filme é seguida. Determinado momento, Sonic fala que ele é rápido e o Knuckles é forte. Mas quando eles correm, eles têm a mesma velocidade, e todas as vezes que Sonic e Knuckles se batem, fica empatado. Nem o filme segue a lógica inventada pelo próprio filme!

Os efeitos são apenas ok. Nas cenas onde temos interação com humanos, às vezes fica estranho, tem cara de cgi que vai vencer em breve.

No elenco, Jim Carrey está careteiro como em quase toda a sua carreira, mas funciona no papel. Ouvi elogios sobre a dublagem de Idris Elba para o Knuckles, mas vi o filme dublado, então não posso palpitar. De resto no elenco, apenas James Marsden voltando ao papel do primeiro filme.

Estou aqui reclamando, mas a sessão que fui estava cheia de crianças, e aparentemente todas gostaram. Ou seja, Sonic 2: O Filme funciona para o seu propósito. Mas recomendo baixar as expectativas.

Warriors Os Selvagens da Noite

Crítica – Warriors Os Selvagens da Noite

Sinopse (imdb): No futuro próximo, um líder carismático chama as gangues de rua de Nova York com a intenção de assumir o controle. Quando ele é morto, os Warriors / Guerreiros são falsamente acusados e devem lutar para voltar para casa.

Walter Hill viria a se tornar um nome importante no cinema de ação nos anos 80, com os dois 48 Horas, Ruas de Fogo, Inferno Vermelho e A Encruzilhada. Warriors Os Selvagens da Noite é o seu terceiro filme.

A trama é simples: o líder da maior gangue de Nova York convocou representantes de todas as gangues da cidade para uma reunião no Central Park, onde ele ia propor que as gangues tomassem conta da cidade, porque eram mais membros de gangue do que policiais. Cada gangue levaria 9 representantes, e sem armas. Mas este líder é assassinado, e os Warriors são erradamente acusados como autores do crime, e passam a ser perseguidos.

A estrutura lembra as fases de um videogame. O grupo precisa percorrer o caminho entre o Central Park e Coney Island. Não entendo de geografia de Nova York, então fui ao google: são 24 km, que dá pra fazer em aproximadamente uma hora de trem. E eles enfrentam vários desafios ao longo disso. Cada gangue poderia ser uma nova fase do videogame. Existiu um videogame inspirado no filme, mas não sei se era assim… Ah, as diferentes fases usam uma narração de uma DJ nos intervalos. Só vemos a boca da DJ, uma solução simples e esteticamente ótima.

A ambientação do filme é bem legal. O diretor de fotografia Andrew Laszlo conseguiu incluir uma cena no início do filme onde chove, o que molhou as ruas e calçadas por todo o resto do filme. E ruas e calçadas molhadas dão um visual muito melhor na tela do que ruas secas. A trilha sonora tem um pé no eletrônico, e me lembrou Fuga de Nova York. E as emendas entre as sequências são feitas usando páginas de quadrinhos, uma boa sacada.

As gangues são caricatas. Mas, o conceito visual, com cada gangue usando um uniforme, ficou bem legal. E aquela gangue do Baseball poderia gerar um spin off de terror!

No elenco, vários nomes que eram desconhecidos na época – e até hoje continuam ligados a apenas este filme, nenhum deles teve uma boa carreira depois, diferente de filmes como Vidas Sem Rumo ou Picardias Estudantis, que tinham elencos de jovens desconhecidos, mas tinham nomes como Tom Cruise, Sean Penn, Jennifer Jason Leigh, Forest Whitaker, Rob Lowe, Patrick Swayze, Matt Dillon, Ralph Macchio e Eric Stoltz. Acho que a única exceção é Mercedes Ruehl, que faz um papel pequeno como a policial isca, e que depois faria filmes como O Pescador de Ilusões, De Caso com a Máfia e Quero ser Grande. Curiosidade: este é seu segundo filme, Mercedes fez um filme antes desse: Dona Flor e Seus Dois Maridos.

Visto hoje, Warriors é muito datado. Ok, mais de 40 anos se passaram, isso é até algo normal. Mas, o filme envelheceu mal. Ainda tem muitos fãs, mas acredito que seja pela nostalgia. Não se a garotada “pós sessão da tarde” iria curtir.

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas

Crítica – A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas

Sinopse (imdb): Katie Mitchell é aceita na escola de cinema dos seus sonhos. Sua família inteira leva Katie para a escola quando seus planos são interrompidos por um levante tecnológico. Os Mitchells terão que trabalhar juntos para salvar o mundo.

Perdi o lançamento deste A Família Mitchel e a Revolta das Máquinas. Pra minha sorte, o filme foi indicado ao Oscar, e alguns amigos recomendaram. Sorte minha, quase perdi!

Escrito e dirigido por Mike Rianda e Jeff Rowe (Gravity Falls), A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é a nova produção da Sony Pictures Animation – o que não é exatamente uma certeza de qualidade, é só a gente lembrar que os dois filmes anteriores do estúdio foram o excelente Homem Aranha no Aranhaverso e o fraco Angry Birds 2. Mas… a produção tem dois nomes que me chamaram a atenção: Phil Lord e Christopher Miller, criadores de Uma Aventura Lego e que ganharam o Oscar por Aranhaverso. Opa, antes vocês tinham a minha curiosidade, agora vocês têm a minha atenção!

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas é uma divertida e amalucada aventura familiar. O filme tem o meu estilo de humor. Passei o filme inteiro rindo como há muito tempo não ria.

E não é só isso. A história tem um ótimo ritmo e os personagens são muito bem construídos. A gente sente a amizade entre os irmãos, assim como a gente o distanciamento entre a Katie e o pai. E os robôs que “entram na família” também são ótimos. E o cachorro é o alívio cômico perfeito!

(Sim, deixei a mãe de fora, de propósito. Mais tarde falo dela, na parte que vou falar mal do filme).

A qualidade da animação é bem legal. Hoje as animações top (Pixar, Disney, Dreamworks, Blue Sky, Illumination) têm uma qualidade absurda de imagem, um espetáculo visual, muitas vezes parece que estamos vendo algo filmado e não desenhado. A Sony, esperta, em vez de querer barrar essa qualidade, pegou um caminho paralelo. Aranhaverso, por exemplo, não tinha nada de realismo – as imagens lembravam a textura de páginas de HQ impressas. Mais: personagens de estilos diferentes usavam técnicas de animação diferentes. Ideia genial: se você não consegue superar a qualidade da imagem, pegue outro caminho. Aqui em A Família Mitchell, a criatividade apontou pra outro caminho. A qualidade dos gráficos é normal, nada aqui parece real. Mas… Ao longo de todo o filme pipocam na tela vários elementos gráficos, desenhos, textos, colagens, o que deu uma dinâmica especial ao filme. Como falei, gostei muito do humor do filme, e esses elementos gráficos foram um toque extra genial!

A boa trilha sonora de Mark Mothersbaugh ajuda nesse ritmo amalucado. Hoje Mothersbaugh é mais lembrado por trilhas sonoras de Thor Ragnarok e Anjos da Lei, além de várias animações. Mas não vou me esquecer que ele era do Devo!

Agora, preciso falar mal de uma coisa. O filme tem uma ideia absurda de que os robôs vão pegar TODOS os humanos e levá-los para outro planeta. É uma ideia absurda, porque o planeta é muito grande e tem muita gente. Se não me engano, eram sete naves, então cada uma delas deveria ter um bilhão de pessoas. Achei forçado, era melhor não dizer números. “Robôs estão capturando humanos”, ponto. Pode ser local, pode ser global, essa informação não é importante para o filme.

Mas… Essa parte nem me incomodou tanto, a gente vê coisas forçadas em quase todos os filmes por aí. Agora, na parte final a gente vê a mãe ganhar super poderes. Isso ficou estranho, porque nada no filme levou a essa transformação. Ficou engraçado? Ficou. Mas, pra que? Claro que não chega a estragar o filme, mas essa parte da super mãe impede o filme de ser um “10”.

Mesmo assim, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas foi a melhor animação que vi em um bom tempo. Pena que vi atrasado, porque certamente entraria no meu top 10 do ano passado.

Morbius

Crítica – Morbius

Sinopse (imdb): O bioquímico Michael Morbius tenta curar-se de uma doença rara no sangue, mas sem perceber, ele fica infectado com uma forma de vampirismo.

Se o MCU é coeso e com mais de 20 longas e algumas séries, e que todos se passam no mesmo universo, o resto da Marvel meio bagunçado. Mas, aqui aparentemente estamos no mesmo universo do Homem Aranha, temos o jornal Clarim Diário / Daily Bugle e uma divertida citação ao Venom. Mas o importante é saber que não precisa ver ou rever nenhum outro filme antes deste Morbius.

Dirigido por Daniel Espinosa (Vida), Morbius tem um roteiro preguiçoso. Existe uma função em grandes produções chamada script doctor, cuja função é analisar inconsistências no roteiro. E era uma função necessária aqui. Vou citar alguns exemplos de como o roteiro melhoraria facilmente. Um é logo no início, na cena do navio – por que as pessoas no navio estavam com as metralhadoras na mão, se os dois cientistas não ofereciam nenhum risco? Outra é a cena do corredor, uma cena cinematograficamente bonita, mas que não faz sentido porque quando ela anda mais rápido, o timer do sensor de movimento também anda mais rápido. Por que? Mais um exemplo: o Morbius faz origamis, e deixa um numa cena de crime. Aí vem o policial e diz “sabemos que você faz origamis!”. Oi? E impressão digital? Ou, ainda mais um: se o Morbius fica tão nervoso com uma única gota de sangue, como ajudou o médico com a barriga aberta se esvaindo em sangue?

(Depois da sessão de imprensa, conversando com alguns críticos, ouvi um outro comentário negativo. O Morbius ganha seus poderes ao misturar seu dna com o dna de um morcego. Isso daria a ele características de um morcego, e não super poderes como super velocidade ou voar sem asas. Mas… Isso é filme de super herói. A gente aceita um monte de suspensões de descrença em filmes de super herói. Então, pra mim, isso é algo aceitável.)

Ouvi reclamações sobre os efeitos especiais, mas, de um modo geral, não me incomodaram. Mas, preciso fazer o comentário “menos é mais”. A caracterização do “monstro”, quando Morbius vira o morcego / vampiro, não me pareceu ser maquiagem, apenas cgi. Quando eram pequenas alterações no rosto, apenas olhos, boca ou nariz, ficava melhor do que quando era o rosto inteiro. Quando aparecia o rosto completo, parecia um cospobre de Evil Dead.

Ainda nos efeitos especiais, preciso dizer que gostei de algumas sequências de movimentação do Morbius, tudo muito rápido, aí a imagem congela no meio, e volta tudo rápido. Nada de muito inovador – inclusive a movimentação lembra o Noturno dos X-Men – mas, ficou bonito na tela. Também gostei da citação a F.W. Murnau, diretor do clássico Nosferatu de 100 anos atrás.

Sobre o elenco, tenho pena do Jared Leto. Ele não está ruim, mas ele escolhe mal os projetos – não podemos esquecer que ele fez aquele Coringa horroroso. Matt Smith abraça a canastrice, e achei engraçado ele fazer um vilão tão caricato. Mas não sei se isso é um elogio. Adria Arjona e Jared Harris estão ok, e Tyrese Gibson e Al Madrigal fazem uma dupla de policiais que até agora não entendi pra que servem no roteiro. E recomendo não ler elenco por aí por causa de spoilers.

Acredito que o Morbius era pra ser um vilão. Mas, pra quem nunca leu os quadrinhos, Morbius é um herói. E aparentemente vão usá-lo em algum filme futuro como vilão do Homem Aranha. Vão precisar mudar alguma coisa aí, porque esse cara apresentado pelo filme não tem nada de vilão.

Por fim, são duas cenas pós créditos, ambas depois dos créditos principais, nenhuma cena no fim de tudo. A primeira é até legal, traz um bom personagem de outro filme que estará numa provável continuação. Já a segunda é péssima, porque não só não acrescenta nada (é o mesmo personagem da primeira cena) como levanta vários furos de roteiro…

Red: Crescer é uma Fera

Crítica – Red: Crescer é uma Fera

Sinopse (imdb): Uma jovem vive um ano de formação na companhia de um enorme panda vermelho.

Outro dia falei do sub título nacional péssimo de Ambulância Dia de Crime. Acho que Red Crescer é uma Fera é ainda pior. Essa frase não faz sentido!

A Pixar deixou a gente mal acostumado. Assim como a Marvel mudou o paradigma do filme de super herói, a Pixar fez o mesmo e elevou para outro patamar o conceito de longa de animação filmes como Toy Story, Monstros S.A., Wall-E, Divertida Mente e Soul.

Aí vem Red e seu sub título horrível. Red Crescer é uma Fera (Turning Red, no original) não é ruim, longe disso, mas está abaixo do melhor que a Pixar pode oferecer. Mas… como falei na crítica de Luca, isso é uma espécie de head canon, o problema não é do filme, e sim da expectativa que criei. Então bora falar de Red como se não fosse Pixar.

Estruturalmente, Luca e Red têm semelhanças. Luca foi dirigido por Enrico Casarosa, que antes tinha dirigido um curta para a Pixar. E o longa traz referências à infância do diretor. Red foi dirigido por Domee Shi, que dirigiu o curta Bao, curta que passou antes de Os Incríveis 2 (e vale lembra que ela ganhou o Oscar pelo curta). Mais: a protagonista Meilin é sino canadense e a história se passa no Canadá; Domee Shi nasceu na China mas se mudou para o Canadá aos 2 anos de idade.

O panda vermelho é uma metáfora à puberdade e todas as transformações físicas e emocionais que acontecem na adolescência, principalmente com as meninas (coisa que estou falando sem muita propriedade porque não passei exatamente por isso, mas, como pai de menina, acompanhei uma adolescente de perto). Nessa parte da metáfora, o filme é perfeito. Mas… Teve uma coisa que me incomodou: nenhum adulto sabe da existência do panda gigante!

A história se passa em 2002, o que ajuda, porque, se fosse hoje, cada adolescente teria um celular na mão e o panda estaria em várias redes sociais logo no primeiro dia. Não me lembro se em 2002 já existiam smartphones, mas, se existiam, não eram usados por todos no dia a dia. Mas, mesmo assim, quando o panda vira um evento entre todas as crianças da escola, algum professor ou pai acabaria descobrindo.

A protagonista Meilin é um personagem muito bem construído. Ela é uma menina exemplar e bem comportada diante dos olhos da mãe e ao mesmo tempo é uma adolescente normal entre suas amigas, e é legal ver como ela quer assumir o panda – diferente das mulheres mais velhas da sua família que precisavam reprimir seus pandas internos. As amigas são personagens mais rasos, cada uma só tem uma característica, mas servem para o que o filme pede. As tias e a avó são boas personagens, mas pouco exploradas. Acho que o único personagem bom além da protagonista é o pai.

A parte técnica é impecável, como era de se esperar. E Red ainda traz uma pequena diferença ao padrão Pixar, que são expressões faciais exageradas dos personagens em algumas cenas, lembrando estilo de anime – tudo a ver com a proposta do filme.

Por fim, fico me perguntando quando a Pixar vai voltar aos cinemas. Assim como Soul e Luca, Red Crescer é uma Fera foi direto para o streaming. E – modo velho saudosista on – prefiro muito mais ver um filme desses numa sala de cinema do que na TV de casa.

Divertido e tecnicamente muito bem feito, Red Crescer é uma Fera não é um “novo clássico da Pixar”, mas vai divertir quem estiver na vibe certa.

Ambulância – Um Dia de Crime

Crítica – Ambulância – Um Dia de Crime

Sinopse (imdb): Dois assaltantes roubam uma ambulância depois do assalto deles ter corrido mal.

Filme novo do Michael Bay, a gente já sabe mais ou menos o que vai encontrar. Bay é um cara intenso. Muito close, muita câmera lenta, muita cena ao pôr do sol, muita música dramática. E ao mesmo tempo, muita correria e muita explosão.

Agora, goste ou não, a gente tem que reconhecer que o cara sabe filmar. São muitas cenas bem filmadas. Teve um detalhe de uma câmera aérea – provavelmente um drone – que sobe, desce, corre entre as pessoas, corre entre os carros, gostei bastante desses takes.

Sobre as cenas de perseguição – são muitas! – parte funciona, parte não funciona. Algumas são muito boas – teve uma em particular onde a câmera está vindo em velocidade perto do chão, um carro pula por cima dela e depois ela voa por cima de outro carro – se heu estivesse vendo em casa, certamente iria voltar pra rever. Mas às vezes as cenas parecem confusas e com falhas de continuidade.

Agora, o roteiro… Ah, o roteiro… Não só é cheio de coisas forçadas, como tem pelo menos três pontos que me deram raiva. Um deles vou falar agora, porque é uma das primeiras cenas do filme e uma das coisas que faz o filme acontecer: Will está precisando de dinheiro para uma cirurgia da sua esposa, então ele vai até Danny para pedir emprestado. Chegando lá, ele Danny está saindo para um grande e sofisticado assalto a banco, e precisa da participação de Will, porque está faltando uma pessoa no seu time. Ora, nunca assaltei um banco, mas já vi diversos filmes com o assunto, e os planos sempre são planejados cuidadosamente. Como assim o cara que chegou agora “entra aí que está faltando uma pessoa”?!?!? (Os outros dois pontos falo depois de um aviso de spoilers).

Além do roteiro forçado, o filme é longo demais. São duas horas e dezesseis minutos onde mais da metade é essa longa perseguição. O filme seria melhor se fosse mais enxuto, talvez devessem cortar uns quarenta minutos de perseguições.

Mesmo assim, achei o filme divertidíssimo. Alguns diálogos são bem divertidos, como toda a relação entre o chefe de polícia e sua assistente Dzaghig. E ainda temos citações a outros filmes do próprio Michael Bay, A Rocha e Bad Boys, além de uma referência a Coração Valente.

E teve uma cena em particular que achei o momento mais engraçado do ano no cinema até agora. É uma cena que envolve a música Sailing, do Christopher Cross. Não, a música não é engraçada. Mas a música foi usada de uma maneira tão imprevisível, tão esdrúxula, que a cena ficou tão engraçada quanto a piada do Michael Jordan no novo Space Jam.

Sobre o elenco, achei o trio principal ok. Não são personagens muito complexos, mas Jake Gyllenhaal, Yahya Abdul Mateen II e Eiza Gonzalez funcionam para o que o filme pede. E gostei da relação entre os irmãos. Também no elenco, Garret Dillahunt, Keir O’Donnell, Jackson White e Olivia Stambouliah.

Vamos aos problemas do roteiro?

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Duas cenas me incomodaram muito. Entendo que boa parte do cinema é feita de decisões burras de personagens, mas duas das cenas daqui foram além da burrice normal.
– Está rolando a perseguição. Dezenas de carros de polícia atrás da ambulância. Mas precisam realizar uma cirurgia, então a ambulância reduz a velocidade pra 30 km/h. Ué, por que os carros de polícia também reduziram? Por que não aproveitaram pra abordar?
– Will dá uma ideia que é até boa, eles pedem para parceiros roubarem outras ambulâncias, e vão para debaixo de um viaduto, para saírem várias ambulâncias iguais e distraírem os policiais. Ok, boa ideia. Mas… Eles resolvem pintar a ambulância onde eles estão, para disfarçá-la. Caramba! Por que não trocar de carro??? Pra que pintar uma ambulância e continuar nela???
Este segundo ponto é necessário para a conclusão do filme, teriam que mudar o final. Mas o primeiro era só cortar esse sub-plot da cirurgia. Fácil fácil.

FIM DOS SPOILERS!

Mesmo com esses problemas, me diverti muito na sala de cinema. E, pra mim, “cinema é a maior diversão”. Entendo quem não gostar, mas, quem entrar no clima vai ter um bom entretenimento por duas horas.