Borat: Fita de Cinema Seguinte

Crítica – Borat: Fita de Cinema Seguinte

Sinopse (imdb): Continuação da comédia de 2006 centrada nas aventuras da vida real de um jornalista de televisão cazaque fictício chamado Borat.

Borat era o melhor personagem do programa de TV Da Ali G Show (além do Borat, tinha o rapper Ali G e o repórter de moda austríaco gay Bruno, todos interpretados por Sacha Baron Cohen). Tanto que o personagem ganhou um engraçadíssimo longa metragem em 2006.

O primeiro Borat foi genial. Um mockumentary (documentário falso) com um ingênuo repórter do Cazaquistão, e que satirizava o american way of life usando humor politicamente incorreto e muitas vezes grosseiro (uma cena com o Borat e seu assistente, nus, correndo por um hotel, é um dos momentos mais engraçados e ao mesmo tempo mais grotescos que heu já vi). Aquele tipo de cena que a gente ri, mas tem vergonha de admitir que riu.

Nos últimos 14 anos, o mundo mudou, o humor também mudou. Não sei se um filme daquele formato seria aceito hoje. E ainda tinha outra coisa: na época o Borat era pouco conhecido, era mais fácil andar pelas ruas abordando pessoas – hoje muita gente conhece o personagem, fica mais difícil de “enganar” os entrevistados.

Assim, Borat: Fita de Cinema Seguinte (Borat Subsequent Moviefilm: Delivery of Prodigious Bribe to American Regime for Make Benefit Once Glorious Nation of Kazakhstan, no original) foi adaptado. Em vez de atacar o american way of life, quase todo o foco do filme é político; e, para driblar a fama do personagem título, temos um Borat fantasiado, ao lado de sua filha, Tutar (Maria Bakalova).

Analisando pelo lado político, Borat: Fita de Cinema Seguinte foi lançado no momento certo, enquanto o mundo vive tensões de extremistas (sobrou até pro Bolsonaro). Sacha Baron Cohen aproveita para cutucar essa galera.

Não vou entrar em detalhes, mas uma das cenas é bem impactante. Rudolph Giuliani, ex prefeito de Nova York, e que trabalha na campanha do Trump, caiu numa armadilha. Não fui procurar a repercussão, mas provavelmente ele deve ter sido “cancelado” por uma galera.

Na inevitável comparação com o primeiro filme, esta continuação perde um pouco na minha humilde opinião. Prefiro o humor em cima dos costumes sociais em vez do humor político; e gosto da ideia de um repórter ingênuo entrevistando desavisados, ideia que não dá mais pra fazer. Mas mesmo assim, Borat: Fita de Cinema Seguinte ainda é bem engraçado, e vale pros fãs deste estilo de comédia.

Alice Através do Espelho

Alice - posterCrítica – Alice Através do Espelho

Ao atravessar um espelho, Alice volta ao País das Maravilhas, onde encontra o Chapeleiro Maluco doente. Para salvá-lo, ela precisa viajar no tempo e alterar o passado.

Em primeiro lugar, um esclarecimento: Alice Através do Espelho (Alice Through the Looking Glass, no original) parece, mas não é um filme do Tim Burton, que aqui está só como produtor. A direção é de James Bobin, o mesmo dos dois recentes longas dos Muppets. Mas o visual continua chamando a atenção.

O visual é o que Alice Através do Espelho tem de melhor. Bobin conseguiu manter a identidade visual que Tim Burton criou para o primeiro filme, Alice no País das Maravilhas, de 2010. Vemos aqui vários cenários e figurinos bem elaborados – e por mais que a gente saiba que boa parte é cgi, isso não atrapalha.

Por outro lado, a história é fraca. Nunca li o “Através do Espelho” original, não sei o quanto do que vemos na tela está no livro (li por aí que o livro é completamente diferente, e tem lógica, acho difícil um livro antigo ter uma personagem feminina tão forte). Mas essa história da Alice viajando no tempo ficou bem sem graça.

O elenco é ótimo. Todos que estavam no primeiro filme voltaram: Mia Wasikowska, Johnny Depp, Anne Hathaway, Helena Bonham Carter e as vozes de Alan Rickman, Timothy Spall e Stephen Fry. A única novidade é Sacha Baron Cohen, que está bem como o Tempo. Ah, este foi o último filme de Rickman, homenageado nos créditos.

Alice Através do Espelho não vai desagradar os fãs do filme anterior. Mas é bom não esperar muito.

Tudo Por Um Furo

0-Tudo-por-um-furoCrítica – Tudo Por Um Furo

1979. Demitido do programa que o deixou famoso, Ron Burgundy volta para Nova York para trabalhar no primeiro canal de notícias 24 horas.

Antes de tudo, preciso confessar que nunca vi o primeiro filme, O Âncora: A Lenda de Ron Burgundy (Anchorman, no original), lançado em 2004. Mas podemos dizer que isso não é pré-requisito, dá pra entender tudo da continuação.

Dirigido pelo mesmo Adam McKay do primeiro filme, Tudo Por Um Furo (Anchorman 2, no original), é co-escrito e estrelado por Will Ferrell. Isso já indica o ponto fraco do filme: é um “filme do Will Ferrell”. São muitas piadas bobas e sem graça, baseadas apenas no suposto carisma do comediante. Isso não funciona – a não ser que você seja fã do cara.

Mas quem entra na sala de cinema já sabe disso. E a sorte é que Ferrell não está sozinho. Se as suas piadas são bobas (o trecho onde ele perde a visão é insuportavelmente chato), todas as cenas com o Steve Carell são engraçadíssimas. Brick, seu personagem, é imprevisível e gera situações completamente nonsense! E seu relacionamento com a Chani (Kristen Wiig) criou um dos casais mais engraçados dos últimos anos.

Tem mais: perto do fim rola uma cena de batalha campal, cheia de cameos, que é simplesmente sen-sa-cio-nal! Não vou dar spoilers aqui e estragar a cena. Mas te digo que, se o filme estiver chato, não vá embora. Saia da sala, dê uma volta, compre uma pipoca, e volte para ver o fim do filme!

Aliás, falando de elenco, Tudo Por Um Furo tem um elenco excelente. Além de Ferrell, Carell e Wiig, o filme conta com Paul Rudd, Christina Applegate, David Koechner, James Marsden, Dylan Baker, Meagan Good e Greg Kinnear, além de uma ponta de Harrison Ford logo no começo.

A ambientação de época também é muito boa, e a trilha sonora, repleta de sucessos do fim dos anos 70, também é excelente. Pena que o ego do Will Ferrell deve ser grande demais, e ele aparece tanto que cansa. A versão que veio para o Brasil tem 119 minutos, e diz a lenda que existe uma versão ainda mais longa, com mais cenas com Ferrell. Pena, deveria ter meia hora a menos. E mais do casal Carell / Wiig…

Ah, fiquem até o fim, tem uma cena depois dos créditos!

Os Miseráveis

Crítica – Os Miseráveis

Na França do século 19, Jean Valjean, ex prisioneiro, perseguido pelo policial Javert depois que quebrou a condicional, concorda em cuidar de Cosette, filha de sua funcionária Fantine. Esta decisão mudará sua vida para sempre.

Filme novo de Tom Hooper, elevado ao primeiro escalão pelos Oscars de O Discurso do Rei – bom filme, mas supervalorizado, não merecia as estatuetas de melhor filme e melhor diretor. Agora Hooper encarou o desafio de fazer mais uma versão do livro de Victor Hugo – são inúmeras versões por aí, acho que a mais recente para o cinema foi em 1998, dirigida por Billie August e com Liam Neeson, Geoffrey Rush, Uma Thurman e Claire Danes no elenco. Só que Hooper trouxe para os cinemas a versão musical, que funciona bem na Broadway, mas não necessariamente vai funcionar no cinema.

Este Os Miseráveis tem um problema básico: é um filme chato. São duas horas e trinta e oito minutos de música quase ininterrupta, fica cansativo demais. A parte musical aqui é diferente dos musicais convencionais, onde canções são cantadas ao longo de cenas onde acontecem diálogos. Aqui é quase tudo cantado, até quando não precisa, o ator emposta a voz e estica as sílabas, deixaaando tuuudo assiiim. Sei lá, na minha humilde opinião, acho que seria melhor ficarmos só com as canções e deixar estes diálogos falados.

Tem outro problema, pelo menos pra quem não conhece a história: tudo acontece meio sem explicação. Jean Valjean está foragido, sem dinheiro e sem documentos, e na cena seguinte, depois de um intertítulo “8 anos depois”, não só ele já é um próspero empresário, como também é o prefeito da cidade! Outro exemplo: Cosette e Marius se encontram uma única vez, por alguns minutos, mas é uma paixão tão avassaladora que os dois viram apaixonados para sempre. Bem, até aí, tudo bem, a gente já viu exageros semelhantes em outras histórias. A diferença aqui é que a paixão é tão hardcore que o pai da menina entra na guerra para proteger o garoto – sem contar pra ele quem é sua filha!

A parte musical tem outra peculiaridade, mas esta foi uma ideia interessante. Normalmente, as músicas são gravadas antes, e os atores dublam na hora de filmar. Aqui, os atores usavam pontos nos ouvidos, e a voz foi captada na hora. Se por um lado temos algumas pequenas imperfeições nas músicas, por outro lado isso ajudou a interpretação.

Apesar dos pontos negativos, Os Miseráveis tem seus bons momentos, como a cena onde Jean Valjean e Cosette fogem, e vemos quase todo o elenco cantando juntos, mas em lugares diferentes. E o “momento solo” de Fantine é belíssimo, se a Anne Hathaway ganhar o Oscar de melhor atriz coadjuvante no próximo domingo, podemos dizer que está cena ajudou muito.

O elenco está muito bem. Além de Hathaway, Hugh Jackman também concorre ao Oscar (mas não deve ganhar, dificilmente alguém tira a estatueta de Daniel Day-Lewis e seu perfeito Abraham Lincoln). Li críticas negativas relativas ao Russell Crowe, mas não achei ele ruim. Não gostei da voz de Amanda Seyfried, achei aguda demais; gostei da voz da desconhecida Samantha Barks (a Eponine adulta). E Sacha Baron Cohen e Helena Bonham-Carter estão mais uma vez juntos num musical fora dos padrões convencionais (eles fizeram Sweeney Todd), desta vez como o alívio cômico.

Enfim, mesmo com suas qualidades, ainda acho que Os Miseráveis não é pra qualquer público. Muitos vão achar cansativo. E alguns vão dormir…

O Ditador

Crítica – O Ditador

Oba! Outro filme politicamente incorreto do Sacha Baron Cohen!

O Ditador conta a heroica história do ditador Aladeen, que arrisca a própria vida para garantir que a democracia nunca chegue a Wadiya, país que ele governa com mão de ferro e muito amor.

Sacha Baron Cohen é um cara que faz muito bem ao humor dos tempos atuais onde a correção política impera. Ele é corajoso ao cutucar onde muitos têm medo. Mas ele está certo, afinal o humor deveria ser livre de censuras. A única piada ruim é a piada sem graça, piadas ofensivas sempre tiveram espaço no humor.

Me lembro do programa de tv Da Ali G Show, onde Sacha Baron Cohen interpretava três personagens: o rapper Ali G, o repórter do Cazaquistão Borat e a bicha especialista em moda Bruno. O programa era um mockumentary cheio de situações constrangedoras, sempre puxando pro lado politicamente incorreto. Cada um dos três personagens interagia com pessoas que não sabiam que era um ator por trás, e as situações desconfortáveis eram constantes e inevitáveis.

Em 2006, veio o filme Borat, com seu humor grosseiro e ofensivo questionando o american way of life. Três anos depois ele lançou Brüno, mas esse era mais fraco, bem inferior a Borat. Agora, em 2012, O Ditador recupera o bom nível do humor, ao mesmo tempo que mantém o espírito grosseiro e ofensivo.

Mais uma vez dirigido por Larry Charles (diretor dos outros dois filmes), O Ditador tem uma diferença estrutural para os outros dois: o mockumentary foi deixado de lado, o personagem é ficcional e ninguém está sendo “enganado” como nos outros filmes. Por um lado, isso pode tirar um pouco da espontaneidade que rolava nos outros filmes (que traziam algumas cenas impagáveis por conta de pessoas que não sabiam que aquilo era fake). Mas por outro lado, isso abriu espaço para um tipo ousado de piada – Megan Fox e Edward Norton aparecem no filme interpretando eles mesmos sendo sacaneados!

O roteiro, escrito pelo próprio Cohen em parceria com Alec Berg, David Mande e Jeff Schaffer, traz algumas piadas muito boas, misturadas a algumas tão grosseiras que beiram o limite do bom senso. Mas no geral, achei o filme muito engraçado. E o discurso que Aladeen faz no final é genial, uma crítica aos EUA, usando uma ironia pouco comum de se ver por aí

No elenco, o destaque – claro – é Sacha Baron Cohen, que mais uma vez mostra que é um bom ator fora do mockumentary (ele já tinha feito um bom trabalho em A Invenção de Hugo Cabret). E, por ser um filme de ficção, Cohen tem alguns bons atores ao seu lado, como Ben Kingsley, Anna Faris e John C. Reilly, além do pouco conhecido Jason Mantzoukas (na verdade, o principal coadjuvante).

Claro que o humor de O Ditador não é pra qualquer um – além de ser um humor propositalmente ofensivo, algumas são de gosto duvidoso. Mas, quem tem a cabeça aberta e concorda comigo que o politicamente correto é algo ruim, vai curtir O Ditador.

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Madagascar 3

Crítica – Madagascar 3

Mais um Madagascar

O leão Alex, a zebra Marty, a girafa Melman e a hipopótama Gloria querem sair da África e voltar pra Nova York. Eles vão para Monte Carlo atrás dos pinguins e acabam se juntando a um circo.

Só vi o primeiro Madagascar uma vez, na época do lançamento, e não vi o segundo. Não tenho condições de comparar, então os comentários aqui são só sobre o terceiro filme.

Li em algum lugar que Madagascar seria uma série de desenhos lisérgicos. Gostei do exemplo, realmente o desenho tem traços que lembram uma viagem de ácido, com ritmo acelerado, personagens histéricos e muitas cores. O ritmo frenético ainda serve para agradar a criançada com dificuldade de fixar a atenção em um filme por mais de uma hora, e de quebra serve para encaixar algumas boas piadas para os pais que as acompanharão nos cinemas.

O espetáculo visual é muito bem feito, como era de se esperar em uma produção Dreamworks. O problema é que hoje em dia estamos mal acostumados, e esperamos sempre um degrau acima (a Pixar nos deixou assim) e Madagascar 3 é “apenas” bem feito. Mesmo assim, algumas sequências, são muito boas, como todo o trecho em Monte Carlo.

Algumas piadas são realmente boas – gostei de quase todas as cenas com o rei Julien e os lêmures. Mas o filme é irregular, nem todas as piadas funcionam. Pelo menos a trilha sonora com músicas pop conhecidas ajuda o ritmo do filme.

Madagascar 3 tem alguns problemas com a tal suspensão de descrença. Ok, a gente acredita que um tigre siberiano adulto consegue passar através de um anel. Mas… Como eles saíram da África e chegaram em Monte Carlo? Será que não dava pra chegar direto em Nova York? 😉

Ainda teve uma coisa que me deixou encucado, não sei se rola o mesmo nos outros dois filmes: há interação entre humanos e os animais. Normalmente, em desenhos animados, animais não interagem com humanos, só entre si. Achei isso estranho… E teve outra coisa que achei sem sentido. Sei que sou minoria, mas gosto de animais no circo (não sei como está no resto do Brasil, mas aqui no Rio existe uma lei que proíbe circos com bichos) – acredito que apenas uma pequena parte dos animais de circo sejam maltratada. O leão Alex faz um discurso em defesa dos animais no circo, cutucando “um certo circo canadense” – referência clara ao Cirque du Soleil, que não tem animais. Mas quando eles montam o espetáculo, os bichos se portam como humanos. O discurso ficou sem sentido…

Vi a versão dublada, que está muito boa – a dublagem brasileira alcançou um nível excelente. Só deu pena de não ouvir as vozes do elenco gringo: Ben Stiller, Chris Rock, David Schwimmer e Jada Pinkett Smith fazem o quarteto principal, e o filme ainda tem as vozes de Jessica Chastain, Frances Mcdormand, Martin Short e Cedric The Entertainer. E se o rei Julien já é engraçado na versão brasileira, fiquei imaginando na versão original, com a voz de Sacha Baron Cohen.

O fim deixa espaço para a franquia continuar. Mas, sinceramente, acho que já deu o que tinha que dar…

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A Invenção de Hugo Cabret

Crítica – A Invenção de Hugo Cabret

Tinha uma coisa me encucando desde que vi o primeiro trailer deste filme. Como assim, uma fábula infanto-juvenil em 3D, dirigida pelo Martin Scorsese? Scorsese nunca fez um filme infantil, até onde sei… Enfim, fui ao cinema ver, incentivado também pelos 11 Oscars que está concorrendo (a  premiação é amanhã!). E posso dizer: A Invenção de Hugo Cabret é um filmaço!

Paris, anos 30. Hugo é um órfão que vive escondido pelos engrenagens dos relógios da estação de trem. Seu pai lhe deixou um autômato, que ele tenta consertar – até descobrir que o autômato pertencia a George Méliès, diretor de cinema, o grande precursor do cinema de ficção.

A primeira dúvida que heu tive era como seria o estilo do Scorsese em um filme direcionado aos pequenos. O cara é o autor de vários fimes excelentes, mas sempre com temas adultos, e muitas vezes violentos –  como Taxi Driver, Os Bons Companheiros, Cabo do Medo, Gangues de Nova York e Ilha do Medo. Neste aspecto, A Invenção de Hugo Cabret difere de sua filmografia, e pode ser classificado como um novo clássico infanto-juvenil.

Mas que ninguém pense que A Invenção de Hugo Cabret é só para os pequenos. Adultos também vão apreciar o filme, principalmente aqueles que são fãs de cinema. Poucas vezes a magia do cinema esteve tão bem representada nas telas. E em alguns momentos, parece que estamos vendo making offs dos filmes de George Méliès!

Outra coisa que chama a a tenção aqui é o 3D. Quem me lê sempre, sabe que não sou um fã dessa “febre 3D”. Um filme não precisa de 3D para ser bom, a não ser que seja um filme do estilo “circense”, tipo Dia dos Namorados Macabro, Fúria Sobre Rodas ou Piranha, onde o 3D faz parte da diversão (e você tem que se abaixar pra desviar das coisas atiradas na direção da câmera). E ainda é pior quando um filme é feito usando os meios convencionais e posteriormente convertido para 3D, aí a gente vê como o efeito é artificial e desnecessário. Pois bem, o 3D de Hugo Cabret é um dos melhores já feitos até hoje. Em algumas cenas, a gente realmente sente a profundidade, como nos flocos de neve, ou na cena do aquário usado por Méliès (quando ele filma através do aquário). E Scorsese mostra que está em plena forma, quase aos 70 anos (que ele completa em novembro deste ano) – alguns travellings em 3D pela estação são belíssimos!

O elenco é outro destaque. O pouco conhecido Asa Butterfield interpreta o personagem título; Sacha Baron Cohen (o Borat!) está excelente como o inspetor da estação; Chloë Grace Moretz, minha atriz mirim contemporânea favorita, também está ótima, como sempre (como em Kick-Ass e Deixe-me Entrar). Ainda no elenco, Ben Kingsley, Christopher Lee, Jude Law, Ray Winstone, Emily Mortimer e Michael Stuhlbarg.

A Invenção de Hugo Cabret é o grande favorito para o Oscar amanhã, está concorrendo a 11 estatuetas, incluindo melhor filme e melhor diretor (Scorsese já foi indicado sete vezes para melhor diretor e duas vezes para melhor roteirista, mas só ganhou uma vez, como diretor, por Os Infiltrados). A concorrência este ano está boa, se Hugo Cabret ganhar, será legal; mas se perder para O Artista, não será injusto.

Por fim, preciso falar mais uma vez do título nacional. O filme foi baseado no livro homônimo, escrito por Brian Selznick , então o erro desta vez não é do tradutor brasileiro. E parece que o livro originalmente se chama “The Invention of Hugo Cabret”, ou seja, o erro vem de mais longe ainda. Mas, será que alguém pode me explicar que “invenção” é essa? Hugo Cabret não inventou nada, a invenção é de George Méliès… O nome original do filme é mais correto: “Hugo“.

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Bruno

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Bruno

O novo filme de Sacha Baron Cohen é bem parecido com o anterior, o genial e hilário Borat. Mas, infelizmente, está semelhança acaba sendo também o seu ponto fraco.

Bruno é o apresentador de um programa de tv sobre moda na Áustria. Quando é demitido, resolve ir para Los Angeles para tentar virar uma celebridade.

E aí vem a comparação com o citado Borat. Em ambos os filmes, Sacha Baron Cohen faz um documentário fake sobre um personagem estrangeiro e sua peculiar visão sobre o american way of life. E, pra piorar, não só Bruno vem depois de Borat, como, na minha humilde opinião, Borat – “o segundo melhor repórter do Casaquistão” – é um personagem muito melhor que Bruno, que é apenas uma bicha fashion afetadíssima. Ou seja, Borat ainda tem mais justificativa para fazer tal documentário…

Assim, algumas situações apresentadas pelo filme parecem forçadas. Nesse aspecto, Borat é muito superior – e bem mais engraçado…

(Aliás, para quem não sabe, ambos os personagens são cria do programa de tv Da Ali G Show, onde Cohen interpretava ainda o rapper Ali G. O filme copia o estilo das esquetes apresentados no programa – que teve algumas temporadas exibidas aqui pelo canal de tv a cabo Sony.)

Mas Bruno não é ruim, longe disso. O humor ácido e politicamente incorreto de Cohen está afiado como sempre. Algumas das situações criadas são realmente muito boas!

O humor não é para qualquer um, algumas das cenas beiram a grosseria, enquanto outras causam desconforto por tocarem em assuntos delicados.

Quem gostou de Borat, vai se divertir!

Sweeney Todd

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Sweeney Todd

Numa Londres dos tempos vitorianos, um barbeiro condenado e exilado por um crime que não cometeu volta 15 anos depois com sede de vingança. E, num clima doentio, assassina clientes de sua barbearia, enquanto a loja de tortas de carne do andar abaixo usa a carne dos cadáveres em suas tortas.

Por mais que seja uma história de terror, o novo filme de Tim Burton é baseado no musical de Stephen Sondheim, original da Broadway. Ou seja, estamos diante de um musical – de terror!

Tim Burton é o nome perfeito para um filme desses. Hoje em dia, Tim Burton é um dos únicos diretores hollywoodianos que mantém um estilo próprio. Você vê o filme e logo reconhece o seu autor. Principalmente quando lembramos as suas parcerias com Johnny Depp: esse é o sexto filme da dupla, antes vieram Edward Mãos de Tesoura, Ed Wood, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, A Fantástica Fábrica de Chocolates e A Noiva Cadáver (sim, é animação, mas as vozes do casal principal são as mesmas deste Sweeney Todd).

Uma prova de que Tim Burton é “o cara” é que Stephen Sondheim estava relutante para liberar o musical para uma versão cinematográfica, mas depois de uma conversa entre os dois, Burton explicou a sua visão sobre Sweeney Todd, e então Sondheim liberou as músicas, com a condição que aprovasse os atores cantores. Claro que Burton queria Depp para o papel principal, mas Sondheim achava que ele seria muito “rock’n’roll” pro papel. Mas Depp não teve problemas com isso, e se submeteu aos testes de voz. Helena Bonham Carter, apesar de esposa do diretor, também teve que fazer os testes. Sondheim aprovou ambos.

O elenco, aliás, é curioso. Diferente de produções como Rent – que trouxe para as telas vários nomes da Broadway, ou Hairspray – que usa atores famosos por terem intimidade com papéis cantados; Sweeney Todd tem atores que não são lembrados por serem cantores. Além de Depp e Carter, temos Alan Rickman (o Snape de Harry Potter), Timothy Spall (também de Harry Potter, além de um monte de papéis pequenos em filmes diversos) e Sacha Baron Cohen – sim, o Borat! – que está sensacional, aliás. Além desses, ainda temos alguns bons e importantes papéis na mão de atores até agora desconhecidos, como Laura Michelle Kelly, Jayne Wisener e Jamie Campbell Bower.

Apesar de seu clima sombrio e seu anti-herói, Burton e Depp conseguiram fazer um filmaço. Johnny Depp levou o Globo de Ouro de melhor ator pelo papel, mas perdeu o Oscar pro Daniel Day Lewis…