Sleeping Beauty

Crítica – Sleeping Beauty

No primeiro dia do Festival do Rio, fui até o Estação Botafogo pra ver este Sleeping Beauty. Não sei por qual motivo, a sessão tinha sido cancelada. Ok, deixei pra lá. Mas, olha só, apareceu o filme pra download… Baixei, vi e constatei que dei sorte – o filme é fraco…

Lucy (Emily Browning) é uma estudante universitária que trabalha em várias coisas ao mesmo tempo. Respondendo a um anúncio de jornal, ela aceita um trabalho para servir jantares vestindo apenas lingerie. Pouco depois, lhe oferecem o emprego de “bela adormecida”, em que ela deve ser sedada para servir às fantasias eróticas de homens mais velhos.

O problema do filme escrito e dirigido pela estreante Julia Leigh é que falta história, enquanto sobra pretensão. Acompanhamos Lucy por uma hora e meia, e a única coisa interessante que vemos é a Emily Browning tirando a roupa. Pelo menos isso acontece com frequência!

O filme podia se aprofundar em várias coisas – como aquela bizarra sociedade que usa mulheres nuas como garçonetes. Mas, nada. Aliás, pior ainda, o filme nem explica coisas necessárias – caramba, Lucy tinha um emprego formal, além de ser garota de programa, e ainda fazia tarefas estranhas para ter um extra financeiro. Como é que ela não tinha dinheiro pro aluguel?

Sleeping Beauty só serve para os fãs de Emily Browning. A protagonista de Sucker Punch mostra maturidade como atriz – com e sem roupa – não vou estranhar se ela for indicada a algum prêmio. Fora isso, o filme é dispensável.

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p.s.: Aqui encerro meus comentários sobre o Festival do Rio 2011. Ano que vem tem mais!

Os 3

Crítica – Os 3

Camila (Juliana Schalch), Cazé (Gabriel Godoy) e Rafael (Victor Mendes), estudantes recém chegados em São Paulo, vão morar juntos e viram amigos inseparáveis. Com o fim da faculdade e a iminente separação do trio, surge uma proposta para transformar a vida deles em uma espécie de mistura de reality show com site de vendas on line.

Os 3 foi dirigido por Nando Olival, que antes fez Domésticas ao lado de Fernando Meirelles. O melhor aqui é a química entre o trio principal. Apesar de usar atores desconhecidos, o elenco foi muito bem escolhido. Os atores viraram amigos na vida real, e isso transparece na tela.

O roteiro não é perfeito, algumas situações soaram forçadas, me pareceu que não tinham muita história pra contar. E ainda achei desnecessária a inclusão da outra menina no “reality show”. O que salva é realmente o trio principal.

Mas tem uma coisa que me incomodou um pouco. Spoilers leves abaixo!

SPOILERS!

SPOILERS!

SPOILERS!

Se Rafael gostava tanto de Camila a ponto de se afastar, na minha humilde opinião, não teria muito sentido ele querer de volta a companhia de Cazé…

FIM DOS SPOILERS!

Felzmente, isso não atrapalha o resultado final. Leve e despretensioso, Os 3 consegue ser uma boa diversão.

Alien Lésbica Solteira Procura

Crítica – Alien Lésbica Solteira Procura

Um filme com o nome Alien Lésbica Solteira Procura precisa ser visto porque… Ora, porque se chama Alien Lésbica Solteira Procura!

O planeta Zots está com problemas na camada de ozônio, e descobre que isso é causado por emoções intensas vividas por seus habitantes. Então, resolve mandar alienígenas lésbicas para a Terra para sofrerem decepções amorosas e terem o coração partido.

Desde que li a programação do Festival, fiquei com vontade de ver Alien Lésbica Solteira Procura. Claro que a expectativa era baixa, dificilmente o filme ia ser melhor que o título (como aconteceu com Matadores de Vampiras Lésbicas). Mas… Não é que o filme é divertido?

Parece uma mistura de Go Fish (filme lésbico dos anos 90) e O Balconista (ambos filmes independentes em preto e branco), com uma pitada de humor televisivo a la Saturday Night Live e 3rd Rock From The Sun. O humor do filme às vezes é bobo, mas tem uma boa piada aqui e outra acolá.

A parte técnica é bem amadora. A nave alienígena parece feita com duas quentinhas! Lembrou o estilo de Plan 9, do Ed Wood. Mas, como não é pra levar a sério, não atrapalha.

O filme é curto, uma hora e quinze minutos, mas mesmo assim rola encheção de linguiça – aquela trama paralela dos agentes do governo é desnecessária. Mas, como heu não esperava nada demais, foi até uma agradável sessão de cinema.

A Última Sessão

Crítica – A Última Sessão

Ver filmes em festivais traz um grande risco. Como muitas vezes o filme ainda não foi lançado, existem boas chances deste filme ser ruim. Infelizmente é o caso aqui, com este suposto terror francês.

A Última Sessão mostra Sylvain, o único funcionário de um cinema decadente de uma cidade do interior, que acumula as funções de gerente, programador, caixa e projecionista. Solitário, ele vive no porão do local e saúda os mesmos frequentadores de sempre do cinema. E, todas as noites, após as sessões, ele sai às ruas para matar mulheres – e roubar orelhas.

O problema é que o filme, escrito e dirigido por Laurent Achard, é leeento… Muito pouca coisa acontece, e sempre devagar quase parando. Muitas cenas contemplativas, com câmera parada. E olha que era pra ser um filme de terror.

A trama também não traz nada de novo. Maluquinho vai lá, mata e traz a orelha. Dia seguinte normal no cinema, à noite vai lá de novo, mata de novo e traz outra orelha. Chaaato. E a falta de carisma do protagonista Pascal Cervo é outro fator que atrapalha.

Enfim, dispensável. Nem precisa ser lançado por aqui.

Amor Debaixo D’Água

Crítica – Amor Debaixo D’Água

Tem uns filmes por aí que exemplificam perfeitamente o espírito da mostra Midnight Movies. O japonês Amor Debaixo D’Água (Onna no kappa, no original) é um desses.

Saca só a sinopse: Asuka encontra um kappa, ser mitológico japonês. Aí descobre que ele é Aoki, um colega que morreu afogado aos 17 anos.  Como se não bastasse, o filme é um musical erótico!

O tal kappa é um ator com uma máscara em formato de bico e um casco de tartaruga nas costas. Mas é uma máscara mal feita, e um casco colado na camisa. E ainda tem um chapeuzinho estranho. Tosco, tosco, tosco…

As músicas são bizarras, parecem tocadas por um teclado arranjador de churrascaria, com aquela bateriazinha eletrônica tosca. As coreografias são coerentes com a tosqueira – sensação de vergonha alheia.

E as cenas de sexo? O sexo entre humanos é até normal. Mas o kappa também faz sexo. Olha, é impossível não rir quando o kappa mostra suas “partes íntimas”…

O filme é tão esquisito que fica difícil de dizer se é bom ou ruim. É estranho demais pra ser bom; é bizarro demais pra ser ruim. Pelo menos é engraçado, algumas partes são hilárias!

Lembrei de As Bonecas Safadas de Dasepo, outro filme oriental bizarro que vi num Festival e depois nunca mais ouvi falar. Taí, Amor Debaixo D’Água faria uma boa sessão dupla com Dasepo

Finisterrae

Crítica – Finisterrae

A sinopse deste filme era curiosa: dois fantasmas russos percorrendo o caminho de Santiago de Compostela. Será que vale o risco?

Não, não vale…

Nada no filme faz sentido. Trata-se de uma coleção de imagens bizarras sem nexo. O filme de estreia do diretor / roteirista / compositor / diretor de arte Sergio Caballero não tem a menor lógica.

A primeira lembrança que vem à memória é O Estranho Caminho de Santiago, filme dirigido por Luis Buñuel em 1969 – um filme surrealista feito no mesmo cenário. A diferença é que Buñuel usava elementos surreais, mas seus filmes seguiam uma linha narrativa. Já o filme de Caballero não segue linha nenhuma!

Deve ter um monte de simbolismos espalhados – por exemplo: às vezes, um dos fantasmas está a pé; às vezes, de cadeira de rodas; às vezes, a cavalo; às vezes, num cavalo de brinquedo. Será que era pra ter algum sentido? Sei lá. Só sei que não tenho mais paciência para filmes assim tão herméticos. Não tenho mais saco pra ver uma longa cena com um cavalo de madeira pegando fogo numa fogueira na praia, por mais de um minuto, com a câmera parada…

Se algo se aproveita, o filme traz belas imagens. E é curto. Mas ainda assim é dispensável…

Amanhã Nunca Mais

Crítica – Amanhã Nunca Mais

Walter (Lázaro Ramos) é um cara pacato, aquele tipo de cara que não sabe dizer não, e por isso, é usado de capacho pelas pessoas próximas. No dia da festa de aniversário de sua filha, ele tem que pegar o bolo, mas muitos imprevistos estarão no seu caminho.

Amanhã Nunca Mais segue a linha de Depois de Horas, de Scorsese, onde o destino prega inacreditáveis peças consecutivas com o personagem de Griffin Dunne. A pessoa errada no lugar errado, várias vezes seguidas Nas mãos certas, isso pode gerar uma boa comédia. Felizmente, podemos constatar que isso acontece com o filme do diretor estreante Tadeu Jungle.

Vindo da publicidade, Jungle imprime um estilo ágil aos desencontros sofridos por Walter. O roteiro e a edição ajudam. Amanhã Nunca Mais é um filme curtinho, outra coisa boa, não precisa encher linguiça.

Antes de começar a sessão, Jungle falou para o plateia do cine Odeon que desde o início do projeto o nome de Lázaro Ramos foi pensado para o papel principal. Realmente, um inspirado e carismático Lázaro faz um bom trabalho com seu inseguro Walter. Também gostei de Maria Luiza Mendonça e Milhem Cortaz, ambos exagerados, mas nunca acima do tom; e de Fernanda Machado, contida na dose certa.

Boa diversão despretensiosa, deve estrear no circuito em breve.

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Se você gostou de Amanhã Nunca Mais, o Blog do Heu recomenda:
Uma Noite Fora de Série
Meu Tio Matou Um Cara
O Homem do Futuro

Operação Invasão / Batida Policial / The Raid Redemption / Serbuan Maut

Crítica – Batida Policial / Operação Invasão / The Raid Redemption / Serbuan Maut

A primeira coisa que chama a atenção aqui é que é um filme de ação feito na Indonésia. Mas não se trata apenas de um filme vindo de um país exótico – Batida Policial é um dos melhores filmes de ação dos últimos tempos!

A trama é simples: uma equipe do FBI entra num prédio para tentar capturar um chefão do crime. Mas a equipe acaba presa em uma emboscada. E dá-lhe tiros, explosões e pancadarias…

Escrito e dirigido pelo galês Gareth Evans, Batida Policial tem ação ininterrupta. Sabe a expressão “de tirar o fôlego”? É por aí. Tiroteios, explosões, brigas com armas brancas, pancadaria com as mãos nuas, tem tudo isso, em quantidade abundante, e com boa qualidade – os personagens lutam silat, uma arte marcial comum na Indonésia. Por um lado, foi muito legal ver isso na tela grande; por outro lado, se fosse em dvd, heu voltaria algumas cenas pra rever.

O filme não tem frescuras. Os únicos cenários são dentro do prédio velho, com seus corredores e apartamentos. Efeitos especiais, só nas explosões e tiroteios. Personagem feminino, só na cena inicial. Também não tem um alívio cômico. O filme inteiro é na adrenalina, na testosterona.

Outra coisa: a câmera não é tremida como nos Transformers da vida. Vemos tudo claramente, as coreografias das lutas devem ter dado um trabalhão pra fazer. Tem uma cena onde um cara sozinho sai pelo corredor, sem nenhuma arma nas mãos, e, sozinho, briga com literalmente dezenas de adversários!

Na saída do cinema, ouvi umas pessoas falando de um certo “filme anterior”. Descobri que existe um filme indonésio de 2009 chamado Merantau, também escrito e dirigido por Gareth Evans, e também estrelado por Iko Uwais, o protagonista de Batida Policial. Vou procurar esse filme…

Agora é esperar que Batida Policial seja lançado por aqui. Se for lançado, recomendo para quem curte um bom filme de ação!

p.s.: Quando passou no Festival do Rio de 2011, este filme foi chamado de “Batida Policial”. Depois, quando foi lançado comercialmente, o nome mudou para “Operação Invasão”.

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Se você gostou de Batida Policial, o Blog do Heu recomenda:
Attack The Block
Os Mercenários
Tropa de Elite 2
300

Entrevista – Dario Argento

Entrevista – Dario Argento

Vou inaugurar uma nova fase no Blog do Heu. A partir de agora, tentarei fazer entrevistas, sempre que tiver a oportunidade – o que aconteceu no último fim de semana por causa do Festival do Rio, que trouxe para a nossa cidade Dario Argento, grande cineasta italiano e um dos maiores nomes na história do cinema de horror.

Sábado passado a assessoria de imprensa cedeu espaço ao Blog do Heu, e lá fui heu bater um papo rápido com o mestre Argento. Ele falou da grande influência que Hitchcock tem no seu trabalho; falou de seu novo projeto, Dracula 3D, com Thomas Kretschmann e Rutger Hauer; falou sobre a dificuldade de se escrever o roteiro de um videogame; sobre seu contato com George Romero no projeto Dois Olhos Satânicos; dentre outras coisas.

Preciso citar a ajuda que tive de Oswaldo Lopes Jr, também crítico de cinema, que não só me ajudou com as perguntas, como ainda tirou as fotos que estou postando aqui. Valheu, Oz!

Blog do HeuKeith Emerson é um grande músico, mas fez pouquíssimas trilhas sonoras. Por que a escolha para fazer a trilha de A Mansão do Inferno?

Dario Argento – Eu me lembro, conheci Keith Emerson em um teatro em Londres. Nós conversamos, ele era fã dos meus filmes, e disse, “sim, eu gostaria de fazer uma trilha sonora”.

Blog do Heu O sr. é conhecido como um dos maiores nomes da história do cinema de horror. Mas o roteiro do famoso faroeste Era uma Vez no Oeste foi escrito por você, ao lado de Sergio Leone e Bernardo Bertolucci. Como é trabalhar em um estilo diferente, ao lado de grandes nomes consagrados em outros gêneros?

Dario Argento – O roteiro foi um trabalho coletivo, cada um contribuiu com um pouco. Sergio Leone me chamou. Eu era crítico, e ele gostava do meu texto, então achou que eu poderia ser um bom roteirista. Além disso, Sergio foi o primeiro e único a usar protagonistas mulheres, ele queria algo diferente dos outros roteiristas e, por essa razão, quis trabalhar com pessoas jovens.

Blog do Heu Vários diretores consagrados, como Paul Verhoeven, John Woo e Guillermo Del Toro, têm carreiras em seus países e também nos EUA. Por que o sr. nunca teve uma carreira em Hollywood?

Dario Argento – Fiz alguns filmes em Hollywood, como Trauma e Dois Olhos Satânicos. Também fiz dois filmes para a série Masters of Horror, Pelts e Jennifer, que foram filmados em Los Angeles. É bom filmar lá, mas sou europeu, gosto de voltar para Europa, gosto da atmosfera do meu país.

Blog do Heu Por causa do seu estilo único, gostaria de saber quais cineastas o influenciaram no início, não necessariamente terror, e especificamente, cineastas italianos. Fellini? De Sica?

Dario Argento – Antonioni. A atmosfera dos filmes de Antonioni. Também Fellini, mas não influenciou no meu estilo, meu estilo é muito pessoal.

Blog do Heu Os livros da série Giallo Mandadori começaram a ser editados em 1929, mas o cinema só os conheceu a partir dos seus filmes. Foi o sr. que começou a fazer filmes neste estilo ou alguém fez antes?

Dario Argento – Eu me inspirei no Giallo, mas não é a mesma coisa. Eu procurei acrescentar algo pessoal nas histórias.

Por fim, perguntei o que ele conhecia de terror brasileiro, e lhe entreguei um dvd de Mangue Negro e uma cópia de A Capital dos Mortos.

O papo rendeu momentos agradáveis, fotos memoráveis, autógrafos em dvds e a certeza de que esta será a primeira de muitas entrevistas que vocês poderão acompanhar aqui no Blog do Heu. Promessa de cinéfilo/fã!

Entre Segredos e Mentiras

Crítica – Entre Segredos e Mentiras

Um herdeiro de uma família milionária (Ryan Gosling) se apaixona e se casa com uma mulher humilde (Kirsten Dunst). Quando ela desaparece misteriosamente, ele se torna o principal suspeito. Baseado em fatos reais.

Sabe quando um filme é “correto”, mas não é bom? É o caso aqui. Entre Segredos e Mentiras (All Good Things, no original) tem um bom elenco, uma bem cuidada reconstituição de época e uma bela fotografia. Mas parece que o filme não “decola” nunca.

Não sei precisar exatamente onde está o problema do filme dirigido por Andrew Jarecki (Na Captura dos Friedmans). Talvez seja o ritmo excessivamente lento; talvez seja a história pouco interessante. O fato é: Entre Segredos e Mentiras não empolga.

Mas, como disse, o filme não é ruim. Podemos destacar um bom trabalho do elenco, principalmente o casal principal. Kirsten Dunst e Ryan Gosling (principalmente Gosling) convencem com seu casal complexo. Os coadjuvantes Frank Langella e Lily Rabe também estão bem.

Pena que isso não é suficiente. Entre Segredos e Mentiras não é ruim, mas também está longe de ser bom. Tem coisa melhor por aí.