O Portal Secreto

Crítica – O Portal Secreto

Sinopse (imdb): Um homem consegue um estágio em uma misteriosa empresa londrina com funcionários não convencionais, incluindo o carismático CEO que está incorporando estratégias corporativas modernas a antigas práticas mágicas.

A comparação com Harry Potter é inevitável. Novo filme de fantasia, baseado numa série de livros, usando a magia escondida no mundo contemporâneo como fundo. Escrito por Tom Holt, “The Portable Door” é o primeiro livro da série J.W. Wells & Co. São sete livros, lançados entre 2003 e 2011.

Mas, logo o primeiro filme já foi meio fuén. Será que tem fôlego para uma franquia?

A direção é de Jeffrey Walker, com longa carreira na TV, mas ainda inexpressivo no cinema. Não sei se foi por isso, mas achei o diretor meio tímido. Em alguns momentos o visual lembra filmes do Terry Gilliam, em outros momentos os personagens lembram filmes do Tim Burton, mas só lembram de longe. Na minha humilde opinião, o diretor podia ter aproveitado o tema da magia e ter pirado um pouco.

Os efeitos especiais são ok. Nada salta aos olhos nem negativamente nem positivamente. Na parte final temos goblins, feitos por efeitos de maquiagem – o que era de se esperar quando vemos que o filme foi produzido pela Jim Henson Company (Jim Henson foi o criador do Muppets e teve uma carreira ligada a bonecos no cinema).

Comentários sobre o elenco. O protagonista, Patrick Gibson, é um nome desconhecido, e serve pro que o papel pede: um cara novo e meio abobalhado. Sophie Wilde, sua parceira em tela, também é desconhecida. Agora, temos três grandes nomes no elenco. Christoph Walz é sempre bom, mas aqui ele parece estar no modo “pagar boletos”. Miranda Otto aparece pouco. Sam Neill é que tem um papel menos óbvio, ele é super mal humorado e seu personagem ainda tem um plot twist. Agora, pra mim, a melhor personagem é a recepcionista, vivida por Jessica De Gouw. Ela é ótima! E não devo ser o único a achar, afinal a atriz é desconhecida, a personagem é secundária, e mesmo assim ela está no poster do filme.

O Portal Secreto não é ruim, vai agradar a molecada. Mas não espere muita coisa.

Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seya: O Começo

Crítica – Os Cavaleiros do Zodíaco – Saint Seya: O Começo

Sinopse (imdb): O jovem Seiya luta por dinheiro enquanto procura por sua irmã sequestrada. Quando uma de suas lutas explora poderes que nunca soube que tinha, Seiya se vê lançado em um mundo de guerreiros e uma deusa reencarnada que precisa de proteção.

Nunca fui ligado em Cavaleiros do Zodíaco. O desenho estreou aqui no Brasil em 1994, nessa época heu estava no cinema vendo Pulp Fiction, Um Sonho de Liberdade e Entrevista com o Vampiro. Aí quando lançaram este filme, sem sessão de imprensa, e com vários boatos de que era muito ruim, nem me animei. Mas agora surgiu a oportunidade e resolvi ver logo de uma vez.

E confirmei: sim, é ruim.

Como falei, nunca vi o desenho, então meus comentários serão somente sobre o que está na tela, ok?

Parece que a tentativa era de criar uma nova franquia, afinal, o título do filme já diz “o começo”. Mas o roteiro é tão ruim que preferi fazer um top 10 de coisas sem sentido em vez da crítica convencional.

(Claro, spoilers liberados a partir de agora!)

Vamulá?

– Seya aparentemente ganha a vida em lutas underground. O estilo dele é evitar golpes do adversário (Muhammad Ali fazia isso!). Mas uma hora, Cassios, o dono do ringue, fica com raiva, interrompe a luta que ele mesmo estava organizando, só pra bater no Seya.

– Ainda o Cassios: ele resolve entrar pro time dos vilões, só pra matar o Seya. Oferecem dinheiro, ele diz que não precisa, só quer matar o ex funcionário.

– Os vilões têm uns capangas que usam armaduras especiais que são muito resistentes. Ok. Uma cena o Mylock se depara com 4 capangas. Aí ele saca uma arma, atira, e – surpresa! A arma consegue perfurar a armadura! Mylock explica que aquela arma é diferente. Mas… Logo depois ele atira de novo, e a arma não funciona mais.

– Ainda o Mylock nessa luta: se as armaduras são tão fortes, como é que ele consegue quebrar com um bastão?

– A personagem da Marin. Tudo o que envolve ela não faz o menor sentido. Por que ela precisa ficar isolada? Por que ela não ajuda quando o bicho pega? Por que ela não tira a máscara?

– O cenário onde a Marin vive tem um monte de coisas que não respeitam a gravidade. Até aí, aceito. O que não aceito é o Seya chegar lá e achar tudo isso normal.

– Alman Kido solta uma bomba e morre. A única explicação pra isso é: “precisamos reforçar o meme de que o Sean Bean sempre morre nos filmes!”

– Ainda a bomba: explode tudo, todas as construções, tudo vira pó. Mas, Seya e Mylock continuam lá, sem nenhum ferimento.

– Seya, de camiseta, está lutando contra o Cassios ciborgue, com braços e punhos feitos daquele material super duro. Só um soco daquele punho já seria o suficiente pra quebrar todos os ossos de Seya.

– Guraad quase consegue o seu objetivo, que era matar Saori. Mas, quando está quase lá, resolve mudar de ideia.

O Crime É Meu

Crítica – O Crime é Meu

Sinopse (imdb): Madeleine Verdier, uma atriz sem dinheiro, é acusada do assassinato de um famoso produtor. Com a ajuda de sua melhor amiga ela prova isso, é absolvida por legítima defesa.

Reconheço que estou desatualizado com o cinema francês. Fui ver o novo filme do François Ozon, O Crime e Meu (Mon Crime, no original), aí fui checar no imdb, o último Ozon que vi foi O Amante Duplo, de 2017. Ou seja, preciso comentar o novo filme sem me basear na obra do diretor.

O Crime e Meu é baseado na peça homônima, escrita em 1934. Já foram feitas duas adaptações em Hollywood: Confissão de Mulher (1937) e A Mentirosa (1946). Não vi nenhum, não sei o quanto a história é parecida.

O roteiro de O Crime e Meu é bem construído. Rolam alguns plot twists que deixam a trama completamente imprevisível – teve um momento que pensei “e agora, pra onde o filme vai?”. Mas mesmo assim tenho duas críticas ao roteiro. Uma delas é que em determinado momento existe um plano que envolve muitas variáveis e uma delas é um personagem investir um milhão e meio de francos em um negócio. Achei um valor meio alto, e foi uma negociação muito fácil. Ok, a gente vê isso direto em outros filmes, mas mesmo assim cabe a crítica: achei que o cara topou muito rápido.

O outro problema é que em algumas cenas a gente entende que a Pauline gosta da Madeleine. O roteiro levanta esse interesse, mas não desenvolve. Pra que mostrar um conflito que não será desenvolvido? Se vão ignorar a relação entre as duas, acho que seria melhor nem levantar esse assunto.

O elenco é bom. As duas protagonistas, Nadia Tereszkiewicz e Rebecca Marder, estão bem. Do resto do elenco, heu só conhecia Isabelle Huppert e Fabrice Luchini. Todos estão ok.

Por fim, uma crítica à legendagem das cópias que vão para os cinemas brasileiros. Durante os créditos finais, aparecem manchetes de jornais explicando o que aconteceu com cada personagem. E essas manchetes estão sem legendas. Ou seja, o público que não sabe francês acaba perdendo algumas piadas.

Missão: Impossível – Acerto de Contas – parte 1

Crítica – Missão: Impossível – Acerto de Contas – parte 1

Sinopse (imdb): Ethan Hunt e sua equipe do IMF devem rastrear uma arma perigosa antes que ela caia em mãos erradas.

E vamos a mais um filme sem fim! Só este ano já é o quarto (depois de Os Três Mosqueteiros, Velozes e Furiosos 10 e Aranhaverso 3). Pelo menos neste aqui fizeram da maneira correta. Depois volto a esse assunto e explico.

Mais uma vez dirigido por Christopher McQuarrie (mesmo diretor dos dois anteriores, Nação Secreta e Efeito Fallout), este novo Missão: Impossível traz o agente Ethan Hunt envolvido com outra trama rocambolesca que envolve sequências alucinantes. Resumindo: um filmão, já candidato a lista de melhores de 2023.

Todo fã de cinema tem que agradecer que existem pessoas como Tom Cruise. Em tempos de streamings trazendo boas opções dentro do conforto de casa, muitas vezes o espectador se pergunta se vale pagar o ingresso caro para ver um filme. Assim como o Top Gun Maverick do ano passado, Missão: Impossível – Acerto de Contas – parte 1 é outro daqueles filmes que pedem para serem vistos num cinema, de preferência com a maior tela possível!

Missão: Impossível – Acerto de Contas – parte 1 tem algumas sequências muito bem filmadas. Tem uma perseguição de carros em Roma que é muito boa (curiosamente, na mesma escadaria onde tem uma cena parecida em Velozes e Furiosos 10). E toda a longa sequência do trem é sensacional – e nem estou falando da impressionante cena do pulo de moto no abismo. A parte final da sequência é ainda melhor.

(Um breve parênteses sobre o momento mais emocionante ser na parte final do filme. Comentei no texto sobre Resgate 2 que foi frustrante ver a melhor sequência na primeira metade do filme. Aqui, guardaram a melhor parte pro final.)

“Ah, mas tem muita mentira!” Caramba, TODOS os filmes da saga são assim! Está até no titulo da franquia: missão “impossível”. Claro que vai ter momentos inacreditáveis. O negócio aqui é como esses momentos são apresentados ao espectador.

A trilha sonora é muito boa. O tema clássico composto por Lalo Schifrin é em 5/4 (vou fazer um short comentando esse compasso composto), e em alguns momentos deste filme a trilha segue no mesmo compasso.

Sobre o elenco, Tom Cruise continua sendo “o cara”. Agora sessentão, continua em forma e dispensando dublês, e continua com charme e carisma suficientes pra segurar uma franquia deste porte. Também estão de volta Simon Pegg, Ving Rhames e Rebecca Ferguson. Não gostei muito do novo vilão, interpretado por Esai Morales, achei que ele tem poder demais, mas não chega a atrapalhar.

Queria comentar duas novidades no elenco. Hayley Atwell está muito bem como uma exímia ladra que não sabemos se merece ou não a nossa confiança. Mas, na minha humilde opinião, a melhor adição ao elenco foi Pom Klemetieff. Muita gente não vai reconhecer apesar de já ter visto outros filmes com ela – ela fez a Mantis em Guardiões da Galáxia. Pom está ótima, parece uma versão da Arlequina, meio louca. Ainda no elenco, Vanessa Kirby, Shea Whigham, Cary Elwes, Henry Czerny e Indira Varma.

Por fim, queria comentar sobre a “parte 1”. Reclamei de Velozes e Furiosos e Aranhaverso, primeiro porque não avisam que não tem fim; depois porque interrompem a trama no meio de forma abrupta. Aqui em Missão: Impossível – Acerto de Contas – parte 1 fizeram essa divisão da maneira correta. Por um lado, está no título do filme; por outro, a trama não é interrompida. Acaba a missão que eles estavam, mas a história deixa pontas soltas, que vão ser concluídas no próximo filme.

Filmão. Tomara que o próximo mantenha o nível!

Ruby Marinho, Monstro Adolescente

Crítica – Ruby Marinho, Monstro Adolescente

Sinopse (imdb): A doce e desajeitada Ruby Marinho, de 16 anos, descobre que é descendente direta das rainhas guerreiras Kraken e precisará se esforçar para proteger aqueles que ela mais ama contra sereias vaidosas e famintas por poder.

Talvez seja um problema você colocar no pôster do filme os dizeres “da DreamWorks, que criou Shrek e Como Treinar seu Dragão“. Porque isso vai elevar as expectativas, e às vezes o novo filme é bem bobinho. Como é o caso aqui de Ruby Marinho, Monstro Adolescente.

Dirigido por Kirk DeMicco e Faryn Pearl, Ruby Marinho, Monstro Adolescente (Ruby Gillman, Teenage Kraken, no original) traz uma história que já foi contada um monte de vezes, com uma adolescente vivendo mudanças no seu corpo e com problemas de relacionamento com a mãe, ao mesmo tempo que tem os problemas de sempre na escola, como o medo de convidar seu crush para a festa de fim de ano. Parece uma receita de bolo, tem até os momentos musicais quando ela está nadando no fundo do mar.

Ok, a gente sabe que a Dreamworks tem um histórico de copiar a Disney (Monstros S.A. / Shrek, Vida de Inseto / Formiguinhaz, Procurando Nemo / O Espanta Tubarões). Achei que isso tinha ficado no passado mas Ruby Marinho parece uma cópia de Luca (monstro marinho adolescente que vive entre humanos), com toques de Red (menina adolescente que precisa controlar mudanças no corpo).

(Em Luca o monstro marinho fica igual a um humano. Aqui os krakens são azuis e não têm ossos. Mesmo assim, vivem entre os humanos, e dizem que são diferentes porque são canadenses. Ok, entendi a piada, mas achei forçada.)

Ainda falando em plágios, aqui tem uma sereia que é IGUAL à Ariel. Mas, nesse ponto em particular, achei divertido você colocar uma Ariel como a antagonista. Foi uma boa sacada.

A sessão de imprensa foi dublada. A dublagem brasileira é muito boa, não tenho queixas quanto a isso. Mas, dá pena de ver que perdemos as vozes de Toni Collette como a mãe e Jane Fonda como a avó.

Como falei, Ruby Marinho, Monstro Adolescente não é ruim, mas é tão bobinho que decepciona – assim como aconteceu com o recente Elementos da Pixar, lançado duas semanas atrás. Nessa briga entre Dreamworks e Pixar, quem está se dando bem em 2023 é a Illumination com o seu Super Mario Bros.*

*Não esqueci do Aranhaverso 2, é que considero ele feito para outro público alvo

Sede Assassina

Crítica – Sede Assassina

Sinopse (imdb): Baltimore. Véspera de Ano Novo. Uma policial talentosa, mas problemática, é recrutada pelo investigador-chefe do FBI para ajudar a traçar o perfil e rastrear um indivíduo perturbado que está aterrorizando a cidade.

Em certos casos, não entendo qual é o critério para se decidir se um filme vai ser lançado no circuito ou se vai direto para o streaming. Porque de vez em quando aparece um filme “com cara de cinema” que é lançado direto no streaming. E o contrário também acontece, como é o caso deste Sede Assassina (To Catch a Killer, no original). Sede Assassina não é ruim, mas é tão genérico que às vezes parece que estamos vendo um episódio de série de TV tipo CSI.

A direção é do argentino Damián Szifron, autor do excelente Relatos Selvagens, de 2014. Infelizmente Sede Assassina está muito abaixo do seu filme mais famoso. Me lembrei de uma entrevista de um diretor brasileiro (não me lembro quem) que comentou sobre dificuldades quando filmou em Hollywood, ele disse que queria ensaiar com a atriz, mas ela só aparecia na hora exata das filmagens. Pensei que talvez Damián tenha tido problema semelhante.

Como falei, Sede Assassina não é ruim. A primeira parte, quando vemos os assassinatos acontecendo durante a queima de fogos, é muito boa. E tem uma sequência no meio do filme, quando o assassino mata um monte de gente num shopping, que é muito bem filmada – a gente acompanha a ação até quando ia começar o tiroteio, depois corta para a investigação policial e a partir daí vemos fragmentos do que aconteceu em flashbacks. Mas, fora isso, tudo é convencional demais. Já vimos isso um monte de vezes.

O elenco é ok. Os dois atores principais, Shailene Woodley e Ben Mendelsohn, estão bem. Jovan Adepo (Babilônia) é o terceiro nome do elenco, mas tem um tempo de tela bem menor; Ralph Ineson (A Bruxa, A Lenda do Cavaleiro Verde) tem um papel importante mas aparece pouco.

Pouco, mas pode agradar os que tiverem baixas expectativas.

Indiana Jones e a Relíquia do Destino

Crítica – Indiana Jones e a Relíquia do Destino

Sinopse (imdb): O famoso arqueólogo e professor Jones regressa com novos desafios, perigos e aventuras, mas desta vez ele tem o sangue de uma nova geração para o ajudar nas suas descobertas e na sua luta contra um novo vilão.

O que mais tem na Hollywood contemporânea são continuações, remakes e reboots. É mais fácil vender uma ideia reciclada do que algo novo. É por isso que, 15 anos depois, temos mais um Indiana Jones – lembrando que a franquia já teve um “filho temporão” com o quarto filme, Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, lançado 19 anos depois do terceiro filme.

Não sei por que, mas Steven Spielberg não dirigiu este filme, o que é uma pena. A direção ficou com James Mangold, que tem um currículo bem irregular – ele dirigiu o fraco Wolverine Imortal, e quatro anos depois, o ótimo Logan. Não sei se a culpa foi a troca de diretor, mas, em alguns momentos, Indiana Jones e a Relíquia do Destino (Indiana Jones and the Dial of Destiny, no original) infelizmente acabou ficando com cara de genérico (apesar de manter várias coisas icônicas, como o Harrison Ford e a trilha do John Williams).

Já tem anos que não revejo o quarto filme, na época lembro que curti, mas acho que minha avaliação vai diminuir quando o filme for revisitado. Por isso não vou comparar. Mas, mantenho o que já disse antes: os melhores são o primeiro e o terceiro. Este quinto pode brigar no ranking com o quarto e com o segundo, que é incensado pela maioria, mas é de longe o pior da trilogia original.

Vamos ao filme? Logo que começa, tenho um mimimi que talvez seja head canon. Mas, caramba, nos outros quatro filmes do Indy vemos a vinheta da Paramount virar alguma coisa na tela. E aqui nada acontece.

Pelo menos logo depois temos uma excelente (e longa) sequência de ação com o Harrison Ford rejuvenescido digitalmente. Talvez a gente reveja essa cena daqui a alguns anos e ache o cgi mal feito, mas, por agora, podemos afirmar que é um dos melhores já apresentados no cinema. E, independente do cgi, a sequência é muito boa e traz tudo o que um fã de Indiana Jones gostaria de ver.

Agora, o roteiro tem um monte de inconsistências. Ok, entendo que os outros filmes também têm falhas de roteiro aqui e ali, mas não é por isso que vou ignorar o que acontece aqui. Teve uma coisa que me incomodou bastante, que é quando os mocinhos dão uma dica de lugar para o vilão, mas conseguem fugir, e só depois que se afastam mudam de rumo – e o vilão consegue adivinhar o destino só por causa daquela leve mudança de rumo. Ou quando tem umas vinte pessoas atirando no Indy e ele se abaixa para desviar dos tiros, mas logo depois ele se levanta e ninguém mais quer atirar nele. Isso porque não estou falando de furos graves como a ponte dentro da caverna, que arrebentou mas depois aparece intacta.

Sobre o elenco: Harrison Ford é o Indiana Jones. Mesmo velho, ele é a cara do personagem, e continua ótimo no papel. E um dos pontos positivos de Indiana Jones e a Relíquia do Destino é o excelente vilão interpretado por Mads Mikkelsen. Por outro lado, a afilhada do arqueólogo, interpretada por Phoebe Waller-Bridge, é uma personagem arrogante, egoísta e antipática. Acho que muita gente vai reclamar da personagem.

Ainda no elenco. Antonio Banderas tem um papel menor, que fiquei me perguntando pra que chamar um ator deste porte para algo tão pequeno. John Rhys-Davies reaparece rapidamente como Sallah, admito que queria ver mais cenas com ele. Tem outro nome, é o segundo nome na lista do imdb, mas não sei se é spoiler, então não vou falar, mas posso dizer que no fim aparece uma participação especial que vai tocar o coração do fã. Também no elenco, Boyd Holbrook e Toby Jones.

(Cabe uma crítica ao cgi de rejuvenescimento? Harrison Ford é vinte e três anos mais velho que Mads Mikelsen. Quando o filme está em 1969, Ford realmente parece bem mais velho que Mikkelsen. Mas, no trecho inicial, que se passa durante a guerra, os dois aparentam a mesma idade. Ficou mal feito.)

Preciso falar da trilha sonora, mais uma vez nas mãos de John Williams. Por um lado, a trilha é muito boa porque é pontuada com os temas clássicos ao longo de todo o filme, e isso é arrepiante. Mas, por outro lado, não existe nada de novo aqui. A trilha parece uma colagem dos temas que a gente já conhece há quarenta anos.

Indiana Jones e a Relíquia do Destino é um pouco longo demais, duas horas e trinta e quatro minutos, chega a cansar (os anteriores estão entre 1h55 e 2h07). Não precisava ser tão longo.

O final do filme é emocionante, vai ter muito nerd velho chorando na parte final. E aparentemente, agora acabou de verdade. Acho difícil Harrison Ford (que fez 80 anos ano passado) voltar ao papel. Existem boatos sobre uma série com a personagem da Phoebe Waller-Bridge, mas acho que isso só será definido pela bilheteria. Aguardemos.

Resgate 2

Critica – Resgate 2

Sinopse (imdb): Depois de escapar da morte por um triz, o mercenário Tyler Rake encara mais uma missão perigosa: resgatar a família de um criminoso implacável.

Novo lançamento da Netflix, Resgate 2 parecia ser apenas mais um filme de ação genérico desses que aparecem de vez em quando no streaming, como o recente Ghosted. Mas existe um plano sequência de 21 minutos que coloca Resgate 2 em um patamar um pouco acima da média.

Resgate 2, claro, é continuação de Resgate, de 2020, ambos dirigidos por Sam Hargrave e estrelados por Chris Hemsworth. Vi o primeiro filme no meio da pandemia, tempos meio confusos, heu tinha dado um tempo das críticas aqui no heuvi (acho que foi a única época que fiquei sem escrever em quase 15 anos de site). Mas não esqueci do filme no top 10 de 2020. E digo mais: ele entrou no top 10 por causa de um bom plano sequência de tiro porrada e bomba durante vários minutos.

E sabe aquela coisa que falam sobre continuações em Hollywood? A continuação tem que ser maior, mais intensa? Então, aqui tem um plano sequência absurdo! São 21 minutos que começam com uma perseguição nos corredores de uma prisão, briga mano a mano, briga generalizada (com dezenas, talvez centenas de extras), tiros, explosões, fogo, depois perseguição de carro, depois fuga num trem sendo perseguido por helicópteros – tudo isso sem cortes!

Ok, a gente sabe que teve cortes. Vários. Toda vez que a câmera faz um pan, ou um close, ou passa alguma coisa na frente, pode cortar. Mesmo assim, o plano seguinte tem que seguir o mesmo ritmo do anterior, ou seja, a concepção da parada tem que ser uma coisa só. Respeito alguém que concebeu algo deste porte – segundo o imdb, demoraram de 4 a 5 meses ensaiando, e 29 dias filmando a sequência!

(Se tenho uma crítica a esse plano sequência é que começa no fim da madrugada, ainda escuro, e começa a amanhecer. E amanhece muito rápido.)

Quando acabou essa sequência, fiquei com pena de não estar vendo isso num cinema, numa tela grande, apreciando uma cena dessas como deveria ser apreciada. Mas depois fiquei feliz por estar no streaming, porque pude voltar e rever… 🙂

Agora, o problema de ter uma sequência dessas na primeira metade do filme é que depois o filme fica sem graça. O plano sequência começa em 26:17 e termina em 47:24, e os créditos começam em 1:51:05. Ou seja, ainda tem mais de uma hora de filme onde vemos sequências genéricas de ação. E a comparação fica na cabeça. E não estamos falando de comparar com outros grande filmes de ação como John Wick, The Raid ou Atômica; estamos comparando com a primeira metade do filme!

A segunda metade do filme é inferior, mas ainda tem uma boa sequência de ação. Porém, na minha humilde opinião, Resgate 2 ia fluir melhor se o grande plano sequência fosse mais pro final do filme.

Ok, chega de plano sequência. E o resto? Bem, Resgate 2 tem um roteiro bem simples, que se baseia num problema de maniqueísmo onde o vilão é malvado, muito malvado. Podiam ter dado alguma profundidade ao antagonista, ficou caricato.

O elenco se baseia na figura de Chris Hemsworth, que é bom ator, carismático e funciona muito bem nas cenas de ação. O resto do elenco principal é de nomes desconhecidos. Olga Kurilenko tem um papel menor, como a ex esposa do protagonista; Idris Elba aparece pouco, seu personagem está apenas querendo direcionar uma nova franquia.

A história se fecha, mas abre espaço pra um terceiro filme. Será que teremos outro plano sequência de explodir cabeças?

Air: A História Por Trás do Logo

Crítica – Air: A História Por Trás do Logo

Sinopse: Segue a história do vendedor de calçados Sonny Vaccaro e como ele liderou a Nike em sua busca pelo maior atleta da história do basquete: Michael Jordan.

A história de um contrato entre uma empresa de tênis e um jogador de basquete pode gerar um bom filme?

Hoje, em 2023, a gente sabe que Michael Jordan é o maior nome da história do basquete, e sabe que a Nike é uma marca gigante, e também sabe que o tênis Air Jordan é talvez o tênis mais vendido da história. Dirigido por Ben Affleck, Air: A História Por Trás do Logo (Air, no original) volta pra 1984, época que Michael Jordan era apenas uma promessa, e que a Nike não era um grande nome no basquete. E vemos as negociações para se chegar a esse contrato que gerou o famoso tênis.

(É curioso analisar o filme com o que a gente já sabe hoje. Essa negociação podia ser um fracasso se o Michael Jordan não vingasse. Outro jogador que era promessa e foi citado no filme como uma das opções era Mel Turpin, cuja carreira nunca decolou. Imagina se a Nike investisse todos os seus esforços num jogador assim?)

Sim, é pouco. Não temos grandes plot twists, não temos grandes momentos de tensão ou de ação. Então, por que muita gente elogia esse filme? Porque, apesar de simples, é uma história bem contada.

Além de ser uma história bem contada, Air ainda traz dois grandes trunfos. Um deles é a perfeita reconstituição de época. Tudo – figurinos, penteados, props – tudo está muito bem feito. E o filme ainda usa trechos de comerciais da época e tem uma trilha sonora repleta de músicas pop que tocavam nas rádios.

O outro trunfo é o elenco. Não sei se é porque o diretor também é ator, mas não é qualquer filme que conta com Matt Damon, Jason Bateman, Viola Davis, Chris Messina e Chris Tucker – todos estão bem. Ben Affleck também está no elenco, num papel secundário (e com uma caracterização bem esquisita).

(Curiosamente, o próprio Michael Jordan não aparece direito. Está sempre de costas ou atrás de alguém, nunca vemos o seu rosto. Jordan virou muito coadjuvante no filme sobre o seu tênis. Segundo o imdb, Ben Affleck teria dito: “Michael Jordan é tão famoso que eu realmente senti que se algum dia víssemos um ator interpretando-o, seria difícil fazer o público suspender sua descrença, porque, na minha opinião, não há como convencer ninguém de que alguém que não é Michael Jordan é Michael Jordan.“)

Na minha humilde opinião, Air não é um grande filme. Mas é uma opção honesta, dificilmente alguém vai desgostar do filme. Em cartaz no Amazon Prime.

Elementos

Crítica – Elementos

Sinopse (imdb): Em uma cidade onde cidadãos de fogo, água, terra e ar vivem juntos, Faísca, uma jovem impetuosa, e Gota, um cara que segue o fluxo da vida, irão descobrir algo elementar: o quanto eles têm em comum.

Às vezes, o rótulo “o novo filme da Pixar” pode atrapalhar. Porque a gente se lembra de Toy Story, Monstros S.A., Wall E, Divertida Mente, Os Incríveis, Up, Soul, e às vezes o novo filme é um filme bem bobinho, como é o caso deste Elementos (Elemental, no original).

A direção é de Peter Sohn, que fez O Bom Dinossauro, filme que IMHO é um dos piores do catálogo da Pixar. Não só é um filme besta, que parece uma versão de Procurando Nemo com sequências tiradas de O Rei Leão, como tem algumas cenas meio bizarras se a gente pensar que é um desenho pra crianças (tem um animal sendo decepado, e tem uma cena onde os personagens experimentam efeitos alucinógenos que funcionam como drogas).

Elementos não é tão ruim quanto O Bom Dinossauro. Mas ainda falta muito pra ser um grande filme. O grande problema aqui é o roteiro. Pra começar, a divulgação do filme tenta forçar uma barra pra falar dos quatro elementos, mas o filme só foca em dois (fogo e água). Aí na porta do cinema tem quatro cartazes, dois deles com os personagens principais, os outros dois com personagens bem secundários (tem um poster do Turrão (acho que e esse o nome), personagem que acho que só aparece umas três vezes, durante poucos segundos cada vez.)

Mas calma que piora. Os dois protagonistas não têm nenhum carisma. O Gota é um cara bobão, que só se envolveu com a Faísca porque a prejudicou intencionalmente. A Faísca também não é uma boa personagem, se irrita por qualquer bobagem, mas é menos ruim que o Gota. Mas o ponto é: são personagens que não cativam o espectador.

Ok, entendo que existe um paralelo sobre racismo / xenofobia. Me pareceu que o povo do Fogo era um paralelo com povos árabes, pelo som do dialeto deles e pelo visual de sua terra natal. Mas, lendo no imdb, o diretor Peter Sohn disse que se inspirou na sua família, que veio da Coreia sem saber falar inglês, se estabeleceu no Bronx e abriu um mercado com o nome da família. Até aí, ok. A gente vê que o povo do Fogo sofre preconceito – em uma cena, vemos que eles são proibidos de entrar em certos lugares. Mas… Se era pra ser um povo que sofre com o preconceito, como é que a Faísca é tão bem recebida pela família do Gota, vários seres de Água que são extremamente simpáticos com a pessoa do Fogo. Se era pra mostrar preconceito, pelo menos um dos personagens de Água deveria tratá-la mal.

Além disso, a trama é extremamente previsível. Cada coisa que aparece na tela já telegrafa para um momento futuro. Zero surpresa. E o fato da trama não ter um antagonista também é ruim. Se a gente parar pra pensar, o vilão do filme é a falta de manutenção do encanamento da cidade. Sim, o vilão é a Cedae.

Dito tudo isso, precisamos admitir que o visual do filme é fantástico. Procurando Nemo, de 2003, tinha 923 cores. Agora, vinte anos depois, Elementos tem 151 mil cores. E a gente vê isso na tela, o visual da cidade dos Elementos é de encher os olhos. Várias cenas você pode pausar e criar um quadro pra pendurar na parede. Nesta parte técnica, o filme realmente é impressionante.

(Um amigo comentou, depois da sessão, que não gostou dos personagens do Fogo, porque é um visual meio 2D em um filme onde tudo tem profundidade. Mas isso não me incomodou, já que o fogo não tem exatamente uma forma.)

Outra coisa divertida são pequenos detalhes ao longo da projeção fazendo piadinhas sobre os elementos, como por exemplo um dirigível zepelin que transporta personagens de Ar que esvazia quando os passageiros saem, mas infla novamente com os novos passageiros.

Mas é pouco. No fim, fica a sensação de um produto bonito, mas vazio.

Por fim, não cheguem atrasados na sessão. Antes do filme, tem um divertido curta com o Carl, de Up.