Lightyear

Crítica – Lightyear

Sinopse (imdb): A história de Buzz Lightyear e suas aventuras ao infinito e além.

A franquia Toy Story é uma das melhores coisas feitas na animação nas últimas décadas. E a gente sabe que continuações costumam enfraquecer as franquias. Quando lançaram Toy Story 3, o pensamento era “tem que parar agora, enquanto a franquia está com a qualidade lá no alto”. Mas fizeram o quarto filme, que pode não ser tão bom quanto o terceiro, mas ainda segurou a barra no alto. Valia a pena fazer um quinto filme?

A saída foi fazer um spin-off. Lightyear não fala do boneco, mas sim sobre o personagem que deu origem ao boneco. Antes do filme, tem um texto na tela explicando: em 1995, Andy foi ao cinema e depois ganhou um boneco do personagem. Este é o filme que ele foi ver.

E afinal, Lightyear é bom? Bem, não mantém a mesma qualidade dos filmes Toy Story, mas é um filme divertido e extremamente bem feito. A parte técnica enche os olhos – não que isso seja surpresa em se tratando de Pixar, mas, não custa reforçar. A animação é tecnicamente perfeita!

Dirigido por Angus Maclane (que está estreando como diretor solo, mas trabalha na Pixar desde Vida de Inseto, de 1998). Lightyear é a volta dos lançamentos nos cinemas – Dois Irmãos foi lançado na época do início da pandemia, sei que teve sessões nos cinemas, mas não lembro se chegou a passar aqui no Rio; os três seguintes, Soul, Luca e Red, foram direto para o streaming. Pelo menos para mim isso é uma boa notícia, senti falta de ver Soul num cinema.

Duas coisas me incomodaram no roteiro de Lightyear. Uma delas é uma das premissas básicas do filme, então não considero que seja spoiler. Buzz está numa grande nave, com centenas (milhares?) de pessoas, e eles ficam presos num planeta desabitado. Em um ano, bolam um plano para sair. O plano dá errado, e mesmo assim eles insistem no plano ao longo de décadas! Caramba, ninguém pensou num plano B? Será que anos depois ninguém ia pensar em outra forma de sair do planeta?

A outra coisa que me incomodou é spoiler. Mas, posso dizer que não gostei das motivações do vilão. O vilão é o Zurg, aparece em Toy Story, mas aqui a gente conhece a história dele, e achei essa história bem ruim.

Sobre os novos personagens, preciso dizer que a princípio achei que o gatinho era uma ideia ruim, mas preciso admitir que ao fim do filme, já tinha virado fã do gatinho. Já o resto dos personagens, não tem nenhum memorável. Uma boa piada aqui, outra ali, mas nada que fique na memória.

Uma informação importante sobre a dublagem. O boneco Buzz Lightyear foi dublado por Guilherme Briggs, um dos melhores dubladores brasileiros; e aqui foi dublado por Marcos Mion. Claro que tem um monte de gente reclamando. Mas… Em primeiro lugar, a troca do dublador é algo coerente, porque este Buzz não é o mesmo de Toy Story, aqui é o personagem do filme, lá é o boneco – a mudança de dublador aconteceu também no original, o boneco é dublado por Tim Allen e este é dublado por Chris Evans. E agora, sobre o Marcos Mion: tirando um “paulistês” meio forte, não atrapalhou em nada. Marcos Mion está aprovado.

Está rolando uma polêmica sobre um beijo gay. Sim, acontece um beijo entre duas mulheres, personagens novas, não é o Buzz, ninguém vai poder espernear “arruinaram a minha infância!” Queria dar um recado pra quem se incomodou com o fato de duas personagens, fictícias, desenhadas, que demonstram carinho entre elas. O mundo tem tanto problema real, e você se incomoda com isso? Seriously?

Por fim, são 3 cenas pós créditos. As duas tradicionais, uma ao fim dos créditos principais outra lá no fim. Mas, depois de tudo ainda tem mais uma! Não saia do cinema antes do filme realmente acaba!

Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo

Crítica – Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

Sinopse (imdb): Uma idosa imigrante chinesa se envolve em uma aventura louca, onde só ela pode salvar o mundo explorando outros universos que se conectam com as vidas que ela poderia ter levado.

Este ano tivemos um bom filme com o subtítulo “Multiverso da Loucura”. Quem diria que pouco mais de um mês depois teríamos outro bom filme usando multiversos, e ainda mais louco que o primeiro filme?

Escrito e dirigido pela dupla “Daniels” (Dan Kwan e Daniel Scheinert), Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (Everything Everywhere All at Once no original) usa o conceito de multiverso de maneira insana. Algumas sequências têm poucos segundos e conseguem mostrar diversos cenários e figurinos misturados. Parece aquela sequência do gerador de imprevisibilidade de O Guia do Mochileiro das Galáxias, mas que dura muito mais tempo. É tudo muito intenso, pisque o olho e perdeu partes da viagem.

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo tem várias sequências geniais. Para ativar a viagem entre os multiversos, a pessoa precisa fazer algo inesperado. Se a primeira coisa inesperada é comer um batom, essa “inesperabilidade” vai escalando até coisas completamente malucas conforme o filme avança. E como tudo é possível, vemos por exemplo uma batalha entre a vilã e alguns guardas onde cada guarda é derrotado de maneira mais criativa possível.

Não sei se podemos chamar Tudo em todo lugar ao mesmo tempo de comédia, mas tem cenas engraçadíssimas. Tem uma luta na parte final onde a protagonista enfrenta um adversário sem calças, e com algo enfiado naquela parte famosa da anatomia da Anitta. Tem uma divertidíssima citação ao Ratatouille. E o universo com as pessoas com salsichas no lugar dos dedos das mãos é hilário!

Acho que o que mais chama a atenção é a edição. Fiquei imaginando, deve ter dado um trabalho hercúleo organizar todas aquelas imagens misturadas de forma que ainda fizessem algum sentido. E ainda tem inúmeras mudanças de formato de tela (aspect ratio), o que confunde ainda mais.

Mas, também preciso falar da protagonista Michelle Yeoh. Já falei dela outras vezes, mas aqui acho que foi sua melhor atuação. Ela consegue transparecer todos os conflitos de todas as versões de sua personagem – e ainda mostra nas cenas de luta a habilidade que a gente já conhece desde O Tigre e o Dragão – sem uma atriz que luta artes marciais o filme não seria o mesmo. Não será surpresa vê-la concorrendo ao Oscar ano que vem.

Ainda no elenco, preciso falar de dois nomes. Primeiro, a agradável surpresa que foi rever Ke Huy Quan, que foi o Short Round em Indiana Jones e o Templo da Perdição e o Data em Goonies, e não lembro de nenhum outro filme dele desde 1985 (vi no imdb, ele fez pouca coisa de lá pra cá, e nada relevante). Além dele, vemos Jamie Lee Curtis num papel diferente de tudo o que ela já fez. Também no elenco, Stephanie Hsu e James Hong.

Os efeitos especiais são simples e eficientes. Tem um efeito recorrente onde a protagonista parece ser puxada em alta velocidade, que não requer malabarismos em cgi e tem um efeito excelente na tela.

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo é longo, duas horas e dezenove minutos, e não mantém o pique até o final. Achei a segunda metade bem inferior à primeira. Ok, talvez o filme ficasse louco demais se fosse o tempo todo no mesmo ritmo insano, mas sei lá podiam ter reduzido a segunda metade.

Mas mesmo com o final longo demais, Tudo em todo lugar ao mesmo tempo é um filme altamente recomendado. Afinal, não é todo dia que vemos algo realmente diferente no cinema.

Tico e Teco e os Defensores da Lei

Crítica – Tico e Teco e os Defensores da Lei

Sinopse (imdb): Adaptação live action do clássico “Tico e Teco e os Defensores da Lei”.

Quando vi que tinha um filme novo do Tico e Teco, nem dei bola. O desenho Tico e Teco e os Defensores da Lei estreou aqui no Brasil em 1993, nessa época heu já estava na faculdade, nem me lembro se cheguei a ver algum episódio.

Mas, vi que alguns dos youtubers que acompanho estavam falando do filme. Aí depois me recomendaram, no mesmo dia, no grupo de apoiadores do Podcrastinadores e num grupo de amigos. Pensei, “é, esse filme deve ter algo diferente”.

E foi uma agradabilíssima surpresa! Tico e Teco e os Defensores da Lei é um forte candidato a melhor animação do ano!

Dirigido por Akiva Schaffer, que tem um grande currículo no Saturday Night Live, Tico e Teco e os Defensores da Lei segue a linha de Uma Cilada Para Roger Rabbit: mistura filme live action com personagens animados, e usa muitos personagens de outros lugares.

Duas coisas chamam a atenção logo de cara. Uma delas é a quantidade de referências e easter eggs espalhados pelo filme. A outra coisa é a qualidade da animação, que mistura várias técnicas diferentes.

Sobre os easter eggs: são tantos que nem dá pra contar. Como aconteceu em Jogador Nº1, vai ter gente pausado o filme e ampliando a imagem, porque a quantidade é realmente absurda! E sobre as técnicas de animação, achei uma ideia muito boa misturar os estilos. Um dos personagens é em stop motion! Outro personagem tem aquela animação usada em Expresso Polar, onde os olhos ficaram mal feitos (e o filme faz piada em cima disso)! Tem uma cena com uma personagem naquela animação 3D onde a imagem fica borrada meio vermelha meio azul!

A certa altura, me perguntei se o filme teria graça sem essas referências. Mas aí a gente vê que o filme fala de pirataria, e lembra daqueles dvds vendidos nas Lojas Americanas da Vídeo Brinquedos, com títulos como Os Carrinhos, Ratatoing, Ursinho da Pesada e Voando em Busca de Aventuras – parece até que o filme foi feito pensando nesses dvds!

Além disso, o filme ainda propõe uma reflexão sobre o passar do tempo. Temos um personagem que faz uma “cirurgia computadorizada” para se atualizar; temos outro personagem que tem problemas para conseguir novos trabalhos porque ficou adulto.

Sobre o elenco, acho que a única personagem que aparece em forma humana é a policial interpretada por Kiki Layne (tem uma ponta do Paul Rudd, mas só ponta). Mas o elenco animado está cheio de nomes conhecidos, como Andy Samberg, Will Arnett, Eric Bana, Seth Rogen, J.K. Simmons, Dennis Haysbert e Keegan-Michael Key.

Tico e Teco e os Defensores da Lei é divertidíssimo! Certamente estará no meu top 10 de melhores filmes de 2022!

Jurassic World Domínio

Crítica – Jurassic World Domínio

Sinopse (imdb): Quatro anos após a destruição da Ilha Nublar, os dinossauros coexistem com os humanos. Esse equilíbrio determinará se os humanos continuarão sendo os predadores dominantes em um mundo com as criaturas mais temíveis de todos os tempos.

Preciso confessar que não me lembro de muita coisa do filme Jurassic World: Reino Ameaçado, de 4 anos atrás, junho de 2018. Pra minha sorte, na época escrevi aqui no heuvi, então vou copiar um trecho:

Jurassic World: Reino Ameaçado tem seus momentos, mas o resultado final deixa a desejar.
A parte técnica é impressionante. Se o primeiro Jurassic Park já tinha dinossauros convincentes, hoje, quando o cgi é ainda mais evoluído, a produção não economizou. Mais uma vez, temos vários dinossauros, todos muito bem feitos.
Por outro lado, o roteiro exagera nas forçações de barra. (…) Pra piorar, tudo é muito previsível. Isso porque não tô falando de ideias repetidas dos outros filmes – de novo um dinossauro aprimorado geneticamente.
Claro que teremos mais uma continuação se este filme tiver retorno. E claro que a gente vai ver. E se não tiverem novas ideias, claro que vão repetir tudo. De novo.”

Dirigido pelo mesmo Colin Trevorrow do primeiro Jurassic World, este novo filme, Jurassic World Domínio (Jurassic World Dominion, no original) é isso aí. Tem até esses dinossauros modificados geneticamente.

E preciso confessar que foi uma grande decepção. Não só para mim, mas também para as pessoas que estavam por perto na sessão de imprensa onde vi.

Muita gente se decepcionou porque o final do filme anterior apontava para uma continuação com dinossauros espalhados por áreas urbanas. Realmente, ia ser um filme bem legal – como sobreviver num planeta onde pode aparecer um dinossauro a qualquer momento perto de você?

Mas, Jurassic World Domínio não é esse filme. E não acho certo reclamar de um filme que apenas não foi o que estava na nossa cabeça, isso é um head canon. Vou reclamar de outra coisa. O que me mais incomodou foram as falhas grotescas no roteiro.

Antes preciso falar que aceito conveniências de roteiro, tipo uma cena onde um carro capota e cai ao lado de onde estavam os outros personagens. Qual é a chance disso acontecer? Bem pequena, mas faz parte! É um filme de ficção, pô!

O que reclamo são coisas que não fazem lógica. Tipo alguém cortar a energia elétrica e um trem parar do nada – o trem era rota de fuga, teria um gerador separado para o caso de dar problema.

Vamulá. Existe uma sequência em Malta que é toda errada. Pra começar, é uma sequência que é desnecessária, tire essa sequência e a história do filme não perde nada. E, dentro da sequência, são vários os momentos sem lógica. Exemplo: qual é a  velocidade de um raptor? Uma pessoa a pé consegue fugir, mas logo depois o mesmo raptor está mais rápido que uma moto que está alcançando um avião que vai decolar! Outro exemplo: os raptors são modificados pra seguirem uma pessoa que alguém marcou com um laser. Oi? Como você vai mirar o laser antes de marcar a pessoa? E aquela cena naquele submundo onde existe rinha de dinossauros não faz o menor sentido. Um dinossauro vem e come o vilão, mas todos em volta estão tranquilos por que? Por fim, aquela pilota NUNCA ia oferecer aquela carona.

Mas, vamos em frente. Tem uma cena mais pro fim onde tem duas coisas ilógicas juntas, é quando a Laura Dern e a Bryce Dallas Howard vão desligar a energia elétrica. Ora, se elas não sabiam como fazer, e quem sabia não estava machucado, por que elas foram? E tem outro erro ainda pior: são dezenas de gafanhotos mortos no chão. Quando a energia volta, eles “acordam” e começam a atacar. Quando a energia é derrubada de novo, eles “morrem” de novo. Vem cá, são gafanhotos elétricos?

Mas o pior erro não foi esse. Tem um erro de continuidade que é o erro mais grosseiro que vi em muito tempo. O personagem Ramsey discute com o vilão, e sai da sala dele. E na cena seguinte ele está junto com os mocinhos – que estavam a quilômetros de distância!

Heu podia continuar, mas já deve ter dado pra ver que o roteiro é um lixo. Então vou parar. Mas tem mais, ah, tem.

De ponto positivo: os dinossauros são perfeitos. Os efeitos especiais são perfeitos. Ok, nenhuma surpresa, Jurassic Park sempre teve efeitos bons (o primeiro filme tem quase 30 anos que foi lançado e ainda é impressionante). Mas, é sempre legal ver dinossauros bem feitos.

Sobre o elenco, a série Jurassic Park teve um reboot em 2015 com elenco novo, estrelado por Chris Pratt e Bryce Dallas Howard. Este é o terceiro filme desde o reboot, e este filme trouxe de volta os três principais do primeiro filme, lá de 1993: Sam Neill, Laura Dern e Jeff Goldblum. Foi legal ver todos juntos, mas acabou que são muitos personagens “principais” (porque ainda tem alguns novos). Mas, ok, isso ficou bom. Também no elenco, Isabella Sermon, DeWanda Wise, Mamoudou Athie, Campbell Scott, BD Wong e Omar Sy.

Mas no fim fica a decepção. Disseram que este seria o último filme da saga. Se for só pra focar em efeitos especiais e deixar o roteiro pra lá, tomara que seja o último mesmo.

 

Assassino Sem Rastro

Crítica – Assassino Sem Rastro / Memory

Sinopse (imdb): Um assassino profissional descobre que se tornou um alvo após se recusar a concluir um trabalho para uma organização criminosa perigosa.

Filme novo do Liam Neeson, o que no passado era indício de filme de qualidade, mas hoje é alerta pra ficar com o pé atrás.

Mas, o início de Assassino Sem Rastro (Memory, no original) dá indícios de que teremos um filme diferente do óbvio pela frente. Logo na cena inicial, vemos que Neeson é um assassino, ou seja, desta vez ele não é o mocinho do filme. Digo mais: o final desta sequência aponta para uma confusão mental do personagem, relativa ao Alzheimer. Isso podia deixar o filme menos linear, e poderíamos ter um resultado bem diferente do óbvio (lembrei de Meu Pai, que deu o Oscar ao Anthony Hopkins, onde a confusão mental do protagonista é compartilhada com o espectador). Mas, não só o filme “esquece” de desenvolver este plot, como deixam isso de lado – acho que a confusão mental só aparece mais uma vez. Pra piorar, o Alzheimer não é importante no resto da trama.

E ainda tem um detalhe que piora. O outro ator principal é Guy Pearce. A tem momentos no filme onde o Liam Neeson escreve coisas no braço, pra não esquecer. Aí a gente pensa “péra, qual outro filme que a gente viu que tinha alguém com problemas de memória e que escrevia coisas no corpo? Ah, é Amnésia, estrelado pelo Guy Pearce!” Era melhor outro ator…

Assassino Sem Rastro é refilmagem do filme belga Alzheimer Case, que por sua vez é adaptação do livro “De Zaak Alzheimer”. Não vi o filme original nem li o livro, não sei se lá o Alzheimer é melhor desenvolvido. A direção é de Martin Campbell, falei dele aqui pouco tempo atrás, quando falei de A Profissional. Campbell tem altos e baixos na carreira. Ele é lembrado por dois 007s de gerações diferentes, Goldeneye (1995) e Cassino Royale (2006). Mas, também é lembrado por Lanterna Verde, aquele com o Ryan Reynolds. Ou seja, tem alguns bons títulos no currículo, mas não dá pra confiar.

No elenco, Neeson está no piloto automático. Guy Pearce está estranho, não sei se é maquiagem ou se ele envelheceu mal. O outro nome grande do elenco é Monica Bellucci, que está péssima.

O filme vai num ritmo morno até chegar num dos piores finais que heu vi nos últimos tempos. Sério, queria comentar aqui mas não vou dar spoilers. Mas o que me parece é que a história terminaria com a vitória do vilão, e resolveram inventar um meio de justiça do bem. Mas ficou completamente inverossímil.

Obi-Wan Kenobi

Crítica – Obi Wan Kenobi (episódios 1 e 2)

Sinopse (imdb): Spin-off da saga Guerra das Estrelas, centrada em Obi-Wan Kenobi.

Diferente de Mandalorian e Boba Fett, que tinham como protagonistas personagens novos ou secundários, Obi Wan Kenobi traz alguns dos personagens centrais da saga: é o momento entre os episódios 3 e 4, onde Obi Wan vai para Tatooine para proteger Luke Skywalker criança (pra quem não se lembra de detalhes dos filmes, tem um resumo antes do primeiro episódio). E um dos trunfos da série é a volta de Ewan McGregor ao papel de Obi Wan (ok, a gente já sabe que também vai ter Hayden Christensen, mas esse nunca teve outro filme ou papel marcante além de Star Wars, enquanto McGregor tem uma carreira cheia de filmes marcantes).

Um ponto positivo aqui é que todos os seis episódios têm a mesma diretora, Deborah Chow. Sei que ela dirigiu dois episódios de Mandalorian, mas não conheço o trabalho dela. Mas acho positivo toda a série ser dirigida por apenas uma pessoa.

Como fã de Star Wars, uma coisa que acho muito legal (e que também tinha em Mandalorian e Boba Fett) é ver rotinas que aconteciam muito tempo atrás em uma galáxia muito muito distante. Vemos Obi Wan trabalhando numa espécie de açougue, vemos que existe um comércio clandestino de drogas, vemos um ex clone trooper que virou mendigo (interpretado pelo mesmo Temuera Morrison, afinal, eram clones!).

A primeira cena do primeiro episódio mostra jovens jedis sendo atacados pela Ordem 66, numa sequência bem emocionante. E logo depois temos uma cena que lembra Bastardos Inglórios, onde um inquisidor à procura de um jedi fugitivo interroga um comerciante. A série começa excelente!

Quero comentar sobre o meio e sobre o fim, mas vamos aos avisos de spoilers:

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Pela sinopse e pelo trailer, a gente achava que a série seria sobre o Obi Wan protegendo o pequeno Luke Skywalker. Luke até aparece, mas de longe, numa cena muito rápida, que até está no trailer. Mas, surpresa! Temos a pequena Leia Organa! Somos apresentados a uma Leia de dez anos de idade, uma menina esperta, inteligente e desafiadora. A personagem é ótima, e a atriz Vivien Lyra Blair está muito bem!

Gostei do personagem Haja Estree, do Kumail Nanjiani – Star Wars sempre teve muito maniqueísmo, o bem é 100% bem e o mal é 100% mal, gosto quando vemos personagens de moral duvidosa.

A princípio não gostei da Third Sister, achei que ela, com aquela insubordinação, seria punida pelo Inquisidor. Mas no fim descobrimos que existe algo por trás, que liga ela ao Darth Vader, então passei a aceitar a sua postura.

Sobre a cena final do segundo episódio, conversando com amigos, ouvi duas interpretações. A Third Sister fala para Obi Wan que Anakin ainda está vivo. Amigos meus acharam que Obi Wan se surpreendeu ao saber que Anakin virara Vader, mas, se não me engano, ele já sabia disso desde o ep. 3. A minha interpretação foi outra: Obi Wan já sabia que Anakin era Vader, sua surpresa foi por saber que ele ainda estava vivo – a última vez que ele tinha visto Anakin foi em Mustafar, quando Anakin estava queimado, à beira da morte.

Por fim, sei que está rolando uma discussão sobre o Inquisidor, porque o personagem aparece em Rebels, e vemos sua morte neste episódio. Mas, como não lembro de Rebels, não sei se é o mesmo personagem ou um parecido – e não podemos esquecer que em Star Wars, alguns personagens morrem e voltam depois.

FIM DOS SPOILERS!

Alguns comentários sobre o elenco. Ewan McGregor está excelente, talvez esta seja uma de suas melhores interpretações. Me surpreendi com Vivien Lyra Blair, ela estava em Pequenos Grandes Heróis, num papel importante, mas numa interpretação fuén. Também gostei do já citado Kumail Nanjiani, tomara que seu papel tenha mais importância. Hayden Christensen vai voltar, mas ainda não podemos julgar sua participação. Outro que volta é Jimmy Smits, que estava na trilogia prequel como Bail Organa. Achei curioso ver que os inquisidores são atores relativamente conhecidos, tem o Rupert Friend (o Assassino 47), o Sung Kang (o Han de Velozes e Furiosos) e Rya Kihlstedt (que já vi em alguns filmes mas sempre em papeis secundários). Joel Edgerton está bem como o tio Owen, não sabemos se ele terá uma participação maior. Não gostei de Moses Ingram, que faz a vilã Reva, achei caricata demais, mas pode melhorar com o decorrer da série. E achei uma surpresa divertida ver Flea, do Red Hot Chili Peppers, como o sequestrador.

Serão seis episódios, quarta que vem tem mais um, já estou ansioso!

Top Gun Maverick

Crítica – Top Gun Maverick

Sinopse (imdb): Após mais de trinta anos de serviço como um dos melhores aviadores da Marinha, Pete Mitchell está onde pertence, ultrapassando os limites como um piloto de teste intrépido e evitando a promoção de posto que o manteria em terra.

36 anos depois, tem um novo Top Gun nos cinemas!

No texto sobre Pânico 5 falei sobre o conceito de “requel”, mistura de reboot com sequel, que é quando temos um novo filme, com espaço para uma nova franquia, mas com elementos do original, e com um forte apelo à nostalgia (Pânico, Halloween, Caça Fantasmas, Star Wars, Cobra Kai). Dirigido por Joseph Kosinski (Oblivion), este novo Top Gun pode se enquadrar nesta categoria.

O início do filme é igual ao filme de 1986. Igual em dois aspectos diferentes. Em primeiro lugar, a sequência inicial é idêntica. Vemos várias imagens de um porta aviões, com aviões pousando e aterrissando, e as pessoas que trabalham nessa rotina, tudo isso ao som de Danger Zone, do Kenny Loggins – EXATAMENTE IGUAL ao filme anterior, nem sei se filmaram algo novo ou se pegaram os takes do filme original e repetiram. E também é igual na estrutura da primeira parte do roteiro: Maverick desafia seu superior e faz algo ousado, o que ele fez dá certo, e quando ele acha que vai ser repreendido, é mandado para o Top Gun. E depois, em um bar, calouros têm contato com uma pessoa “de fora”, que na cena seguinte descobrem que é seu novo instrutor.

Acredito que isso foi colocado desta forma pra trazer um quentinho para o coração dos fãs. O novo filme é cheio de momentos que dialogam com o filme anterior. Tem até uma cena com o pessoal jogando um esporte na praia (só trocaram o esporte, não é mais vôlei).

Mas, e quem não viu o filme de 86? Digo mais: e quem não gostou do filme de 86?

Independente de se gostar do filme original, é preciso reconhecer que as sequências de ação aérea são fantásticas. Segundo o que foi informado, não existe cgi nem tela verde nas sequências aéreas, eram aviões reais fazendo aquilo tudo. Será que podemos acreditar nisso?

Real ou não, as sequências são muito boas. Uma delas, ainda na primeira parte do filme, onde vemos Maverick tirando onda perante os mais novos, é quase um novo videoclipe de Won’t Get Fooled Again, do The Who. E a parte final é de tirar o fôlego. (Mas preciso falar que achei forçado o jeito como eles escaparam…)

Falando em trilha sonora, tem pelo menos três momentos emocionantes, todos os três ligados ao filme original. Primeiro, claro, o tema principal, Top Gun Anthem, do Harold Faltermeyer, que toca na introdução e em momentos chave do filme. Depois, o já citado Danger Zone. E também temos uma nova versão da cena do Goose cantando Great Balls of Fire ao piano (cena que traz um flashback auto explicativo com Anthony Edwards e Meg Ryan).

Sobre o elenco, esse é um “filme do Tom Cruise”. Cruise é o cara, aos sessenta anos de idade ele tem um porte invejável, tem presença e carisma, e ainda faz as cenas sem dublê – a gente vê o cara pilotando os caças, tem uma câmera dentro do cockpit do avião!

No resto do elenco, preciso falar de três nomes. Jennifer Connelly, que está com 51 anos, está linda linda linda. E faz uma “mocinha” coerente com os padrões atuais: independente e dona do seu caminho (Ah, a personagem já existia no primeiro filme, mas não aparece). Miles Teller também está ótimo como o filho do Goose, a gente entende os problemas pessoais do personagem. E por fim, Val Kilmer, que está muito doente, tratando de um câncer na garganta, mas que aparece em uma cena emocionante. Também no elenco, Jon Hamm, Ed Harris, Glen Powell e Monica Barbaro.

(Ainda nas homenagens emocionantes, quando acaba o filme vemos uma dedicatória ao Tony Scott, diretor do primeiro filme, que estava desenvolvendo uma continuação antes do seu falecimento em 2012.)

Por fim, queria falar que não entendi os comentários que inundaram a internet na última semana, acusando este Top Gun Maverick de masculinidade tóxica. Sério isso?

Fresh

Crtítica – Fresh

Sinopse (imdb): Os horrores dos encontros modernos, vistos através da batalha desafiante de uma jovem mulher para sobreviver aos apetites do seu novo namorado.

Apareceu um tempo atrás no Star+ um filme meio terror, meio cult, que acho que foi muito mal lançado por aqui. O filme fala sobre consumo de carne humana – espero que isso não seja spoiler!

Fresh é o longa de estreia da diretora Mimi Cave. Achei curioso porque o último filme que vi sobre canibalismo também tinha sido filme de estreia de outra diretora mulher, Raw, da Julia Ducournau.

Fresh começa como uma comédia romântica. Mas, aos 33 minutos de projeção, entram os créditos “iniciais” e temos uma radical mudança de rumo da trama.

Apesar do tema canibalismo, Fresh não tem muito gore. Mesmo assim, algumas cenas são bastante desconfortáveis – não é qualquer filme que tem uma pessoa abrindo a geladeira e tirando um pedaço de carne – com uma tatuagem.

Os dois atores principais estão muito bem. Sebastian Stan e Daisy Edgar-Jones são bons atores, têm boa química juntos e a dinâmica entre os personagens funciona muito bem. Pena que não podemos dizer o mesmo sobre o resto do elenco. Senti uma falha no desenvolvimento dos personagens secundários. Um exemplo claro é a esposa do Steve. O filme dá indícios de que ela é uma vítima, mas também a coloca como vilã. Outro caso é o amigo da Mollie, um personagem meio inútil na trama.

Fresh não é um filmaço, mesmo assim curti. Deveria ter uma distribuição melhor.

A Médium

Crítica – A Médium

Sinopse (imdb): Uma história assustadora sobre a herança de um xamã na região de Isan, na Tailândia. O que pode estar a possuir um membro da família pode não ser a Deusa que eles dizem ser.

O tailandês Banjong Pisanthanakun é o mesmo diretor de Espíritos: A Morte Está ao seu Lado, um filme de 2004 que surpreendeu positivamente boa parte dos espectadores brasileiros – lembro de ter visto no cinema e ter levado sustos de jump scares, coisa que normalmente não acontece comigo.

Guardei o nome do cara, mas ele faz poucos filmes – pelo imdb, o último filme dele foi um drama/ romance de 2016. Claro que um novo filme de terror dele é algo aguardado.

E finalmente, temos A Médium (The Medium, no original), filme que tem pontos positivos e negativos. Vamulá.

Duas coisas me atrapalharam muito: o fato de ser mais um found footage, e o fato da sessão de imprensa online ser com a cópia dublada. Não curto found footage. Acho que é um formato que já deu o que tinha que dar. Gostei de REC, gostei de Caçador de Trolls, mas chega – acho que nem vi todos os Atividade Paranormal. Tudo soa artificial demais. Em vários momentos do filme, o câmera largaria a câmera – ou pra ajudar, ou pra sair correndo. Se o objetivo do found footage era pra parecer algo mais próximo da realidade, no meu caso o efeito foi o oposto. E, ok, entendo o apelo para se dublar um filme falado numa língua exótica, mas, para mim, isso tornou a experiência ainda mais artificial.

Pena, porque algumas das ideias do filme são bem legais.

Uma coisa bacana da gente ver um filme fora do eixo hollywoodiano é que a gente vê coisas fora do óbvio. A Médium tem possessão, mas não tem um padre numa cama ao lado de uma jovem com cara de Regan d’O Exorcista. A Médium tem uma protagonista que não vai até o fim do filme. Além disso, a gente tem contato com religiões bem diferentes das que a gente vê no cinema normalmente.

Aliás, é bom avisar: talvez pelo fato do filme ser tailandês e lá ter gente que come cachorro (ou talvez seja só pra chocar), mas tem uma cena envolvendo um cachorro que dá vontade de parar o filme nesse momento. Se você for um amante dos animais, é a hora de ir ao banheiro.

O filme é longo, duas horas e dez minutos, e achei que teve vários momentos dispensáveis. Agora, a meia hora final é de arrepiar. O ritmo é alucinante, muitas coisas acontecem, e a gente quase esquece o início lento.

No elenco, ninguém conhecido por aqui. Mas preciso dizer que gostei muito da Narilya Gulmongkolpech, que fica realmente assustadora quando é possuída – muito mais assustadora do que as Regans genéricas de Hollywood. Pelo imdb esse é seu único filme até agora (além de duas séries). Tomara que ela faça mais filmes!

No final, ficou aquele gosto ruim na boca. A Médium tinha várias boas ideias, mas um found footage dublado me tirou do filme. Mesmo assim, a experiência foi positiva. Que venham mais filmes de terror de países exóticos!

 

Jungle Run

Crítica – Jungle Run

Sinopse (imdb): Os irmãos aventureiros são atacados por animais da selva enquanto procuram por seu pai desaparecido. À medida que lutam contra o ataque implacável, logo começam a perceber que algo muito mais sinistro está acontecendo.

Quando fiz o top 5 plágios de Guerra nas Estrelas, mencionei as picaretagens da Asylum, produtora que faz filmes vagabundos que pegam carona no marketing dos blockbusters. Desta vez a “vítima” foi Jungle Cruise.

Qual é o modus operandi da Asylum? Eles aproveitam um grande lançamento, aí pegam o nome, a sinopse e às vezes o pôster, e filmam rapidinho qualquer coisa pra lançar logo no mercado de home vídeo. Ou seja, são filmes destinados a pegar espectadores distraídos…

Outra característica é apoiar parte do marketing em um ator subcelebridade. Não sei se nos EUA tem algum reality show como A Fazenda, então os subs precisam trabalhar pra pagar as contas, né? Aqui em Jungle Run o nome “grande” é Richard Grieco, que teve um papel secundário na série Anjos da Lei e estrelou Espião Por Engano, de 1991. Aqui, Grieco quase não interage com o resto do elenco. Quase todas as suas cenas são com ele sozinho. Deve ter tido uma ou duas diárias de filmagens.

O resto do elenco é de atores ruins e desconhecidos, pra combinar com o roteiro ruim e os efeitos especiais toscos. Neste filme, nós brasileiros ainda temos uma diversão: alguns dos diálogos são em português. E aparentemente não chamaram nenhum brasileiro pra revisar o roteiro.

Aliás, o roteiro fala do Curupira. Taí, heu queria ver um bom filme com o Curupira. Porque aqui não rolou.

Mas, na minha humilde opinião, o pior dos filmes da Asylum é que são produções preguiçosas. Um exemplo: nesta cena os personagens estão numa parte isolada da floresta amazônica. Claro que eles podem filmar em outro local, ninguém espera que eles tenham que ir até o Amazonas para filmar. Mas, aparecem prédios ao fundo, um porto ao fundo, uma praia com gente ao fundo! – por que não filmar um segundo take?

Jungle Run segue assim do início ao fim. O filme inteiro é feito de qualquer maneira, sem nenhum cuidado.

Lixo.