A Balada de Buster Scruggs

Crítica – A Balada de Buster Scruggs

Sinopse (imdb): Um filme de antologia que compreende seis histórias, cada uma tratando de um aspecto diferente da vida no Velho Oeste.

De repente, descubro que tem um irmãos Coen novo sendo lançado direto pelo Netflix. Opa, o fim do ano passado foi muito melhor que todo o primeiro semestre. Depois de Roma e Bird Box, vamos de A Balada de Buster Scruggs (The Ballad of Buster Scruggs, no original), um “legítimo irmãos Coen”: personagens estranhos, humor negro e situações com moral duvidosa.

São seis histórias curtas, todas passadas no velho oeste. E aí reside o problema comum de quase todo filme em episódios: a irregularidade. Na minha humilde opinião, os dois primeiros são excelentes, os dois seguintes são bons, e os dois últimos são os mais fracos.

Adorei a primeira história, com o pistoleiro cantor. Tim Blake Nelson está ótimo, a violência e o humor negro são muito bem colocados, e as músicas são tão boas que fiquei cantarolando dias depois. A segunda história, com o James Franco ladrão de bancos, também é boa, mas não tem um bom final.

A terceira, com Liam Neeson, é mais dark; a quarta traz Tom Waits nos ensinando como se acha um veio de ouro. A quinta tem bons momentos, mas achei longa demais; a sexta tem tanto falatório que cansa.

Como o filme tem duas horas e treze, acho que podiam ter cortado as duas últimas, e mudado a ordem. A Balada de Buster Scruggs seria melhor se fosse 1, 3, 4 e 2. Mas esse seria o “Helvecio’s cut”. Vou mandar um zap pros Coen e sugerir isso…

O Artista do Desastre

Artista do DesastreCrítica – O Artista do Desastre

Sinopse (catálogo do Festival do Rio): A verdadeira história por trás da produção de The Room, um clássico cult chamado de “o Cidadão Kane dos filmes ruins”. Desde seu lançamento em 2003, o filme vem cativando o público no circuito midnight com sua história desconjuntada, atuações dissonantes e diálogos inexplicáveis. Cada faceta do filme impressiona, assim como a misteriosa e magnética performance de seu criador e protagonista, Tommy Wiseau. Este filme reconta a produção a partir das lembranças de Greg Sestero, amigo de Wiseau e co-estrela relutante do longa.

Já escrevi aqui sobre The Room, um filme ruim, muito ruim, tão ruim que chega a ser uma experiência dolorosa. Mal sabia heu que um outro filme me traria vontade de rever aquele filme ruim muito ruim.

O Artista do Desastre (The Disaster Artist, no original) conta os bastidores das filmagens de The Room, e expõe as excentricidades de seu autor, o bizarro Tommy Wiseau. Wiseau é um cara tão estranho, e a história deste filme é tão inacreditável, que parece que tudo foi inventado. Nada disso, o cara existe e a história aconteceu!

Pra quem nunca ouviu falar de The Room: um cara sem talento nenhum resolveu bancar a produção de um filme que ele mesmo escreveu, dirigiu e protagonizou. Claro que o filme é uma grande porcaria – mal escrito, mal dirigido e mal interpretado. Mas ganhou status de cult como um dos piores filmes da história.

E agora ganha um filme-tributo. E este filme-tributo é muito bom!

O Artista do Desastre é a adaptação do livro “The Disaster Artist: My Life Inside The Room, the Greatest Bad Movie Ever Made”, escrito por Greg Sestero, que era o melhor amigo de Wiseau na época do filme. Vemos como começou a amizade entre os dois, e vemos vários episódios bizarros da excêntrica vida de Wiseau.

James Franco foi o “Wiseau” aqui: dirigiu e protagonizou. A diferença é que Franco tem talento. E sua caracterização como Wiseau está excelente! Segundo o imdb, ele não saía do personagem nos intervalos, e continuava falando com o estranho sotaque do Wiseau.

Aliás, o elenco é muito bom. Dave Franco pela primeira vez divide a tela de um longa com seu irmão, interpretando Greg Sestero. Também no (grande) elenco, Zoey Deutch, Alison Brie, Josh Hutcherson, Zac Efron, Megan Mullally, Sharon Stone, Melanie Griffith, Christopher Mintz-Plasse e e Bryan Cranston, e participações de Kristen Bell, Lizzy Caplan, Adam Scott, Zach Braff e J.J. Abrams. Acho que o ponto negativo do elenco é Seth Rogen, interpretando o Seth Rogen de sempre, e que parece que quer aparecer mais do que o filme pede, achei que seu personagem forçou um pouco a barra.

Uma coisa que ficou bem legal foi que recriaram algumas das cenas do filme original, e no fim do filme vemos a tela dividida, com a versão original de um lado, e a refilmagem do outro. Impressionante como aquilo era ruim; impressionante como ficou igual!

O único problema de O Artista do Desastre é que a gente sai do cinema com vontade de ver (ou rever) The Room. E isso é um desserviço à história do cinema. Caí nesta falha, e revi. Só pra constatar que não vale a pena… Fique com as cenas dos créditos, vale mais a pena.

Segundo o filmeB, O Artista do Desastre estreia nos cinemas brasileiros só em janeiro de 2018. É, vamos ter que esperar…

Esta é a Sua Morte

Esta e a sua morteCrítica – Esta é a Sua Morte

Um olhar inquietante sobre os reality shows onde um programa perturbador tem seus concorrentes terminando suas vidas pelo prazer do público.

De um tempo pra cá, tenho evitado ver trailers. Muitas vezes eles trazem spoilers; muitas vezes eles passam a impressão errada sobre o filme. Aqui é um exemplo do segundo caso. O trailer vende um filme que seria uma mistura de O Sobrevivente com Jogos Mortais. E Esta é a Sua Morte (This Is Your Death, no original) é um drama, que não tem nada a ver com isso.

A premissa do filme dirigido pelo ator Giancarlo Esposito é boa: um reality show que explora suicidas e o sensacionalismo da mídia em cima disso. E a história até começa bem. Mas o roteiro pega caminhos errados e o filme escorrega, principalmente na parte final.

Leve spoiler abaixo!

SPOILERS!

SPOILERS!

SPOILERS!

Entendo que Esposito, sendo o diretor, quisesse dar uma importância maior ao seu personagem. Mas não funcionou. Não só o desenvolvimento foi fraco, como transformá-lo em herói foi uma ideia ruim – o que ele tinha de diferente dos outros participantes do programa?

FIM DOS SPOILERS!

Mas este não é o único problema. Os personagens são mal construídos e não cativam ninguém, e assim o filme começa a ficar cansativo. Na minha humilde opinião, o filme tinha que ter uma pegada mais sensacionalista. Menos foco nos dramas pessoais, mais foco em como a mídia consome as mortes.

O elenco até é bom (Josh Duhamel, Famke Janssen, Sarah Wayne Callies, Giancarlo Esposito, Caitlin FitzGerald e uma ponta de James Franco), mas como o roteiro não ajuda, o resultado final fica devendo.

Alien: Covenant

alien covenantCrítica – Alien: Covenant

Os tripulantes da nave colonizadora Covenant encontram um planeta remoto. O que antes parecia ser um paraíso inexplorado, torna-se uma ameaça além da imaginação.

Depois do decepcionante* Prometheus, mais uma vez Ridley Scott volta ao universo dos xenomorfos e face huggers.

Recapitulando: os dois primeiros (Alien, o Oitavo Passageiro, dirigido por Scott em 1979, e Aliens O Resgate, James Cameron, 86) são clássicos absolutos da ficção científica. O terceiro e o quarto filmes (David Fincher, 92; Jean Pierre Jeunet, 97) têm seus méritos, mas são bem inferiores aos dois primeiros. Na década de 00, tivemos dois Alien vs Predador, uma ideia que no papel parecia boa, mas que gerou dois filmes horríveis. Scott voltou à franquia em 2012 com Prometheus, e disse na época que seria uma trilogia prequel. Alien: Covenant (idem, no original) é o segundo filme desta trilogia.

Ter Scott na direção deveria ser garantia de qualidade, afinal, foi ele quem começou com isso tudo. Mas, mais uma vez, Scott fica devendo.

Alien: Covenant é melhor que Prometheus, mas ainda está bem abaixo dos dois primeiros filmes. Algumas falhas de roteiro presentes no filme anterior se repetem aqui – como é que astronautas entram num planeta desconhecido sem capacete, só porque tem oxigênio e nitrogênio na atmosfera? Ninguém pensou em vírus??? Além disso, a história tem uns papos cabeça desnecessários (pra que aquele prólogo?), e resolve responder perguntas que ninguém perguntou sobre os xenomorfos.

(Dois amigos críticos falaram muito mal, dizendo que Scott queria apagar o Aliens de James Cameron. Não entendi por esse lado.)

No fim, temos mais do mesmo. Li em algum lugar uma comparação com Sexta Feira 13 – vira um filme onde o monstro caça um por um. Ok, divertido, mas a gente já viu isso antes muitas vezes, né?

Se algo merece elogios, é a atuação de Michael Fassbender. O cara interpreta dois androides, e a gente consegue ver direitinho as diferenças entre os personagens. Em compensação, o resto do elenco fica devendo. Katherine Waterstone (Animais Fantásticos e Onde Habitam) falha na tentativa de entregar uma protagonista feminina forte (como Sigourney Weaver na quadrilogia ou Noomi Rapace em Prometheus). E gosto do Billy Crudup pelo Quase Famosos, mas ele tá péssimo aqui. Também no elenco, Danny McBride, Demián Bichir, Carmen Ejogo e Callie Hernandez, além de pontas de James Franco e Guy Pearce.

No fim, temos um filme que nem é ruim, vai agradar os menos exigentes. Mas heu gostei mais do Vida, mesmo sabendo que é quase um plágio do primeiro Alien…

* Revi Prometheus antes de ver Covenant, realmente é um filme com mais defeitos do que méritos. Mas preciso admitir que quando escrevi minha crítica logo depois de sair da sessão, falei bem do filme…

Festa da Salsicha

Festa da SalsichaCrítica – A Festa da Salsicha 

Num supermercado, alimentos esperam a sua vez de serem escolhidos pelos “deuses” (os humanos) – sem saber que seu destino é virar comida.

Não se deixe enganar pelo pôster fofinho. Dirigido por Conrad Vernon (Monstros vs Alienígenas, Madagascar 3, Shrek 2), Festa da Salsicha (Sausage Party, no original) é filme pra adulto. Humor grosseiro, politicamente incorreto, cheio de piadas ligadas a sexo, drogas e religião.

A história foi escrita por Seth Rogen, Evan Goldberg e Jonah Hill. Não custa lembrar que Rogen e Goldberg antes fizeram Segurando as Pontas, É o Fim e A Entrevista – por esses três filmes a gente consegue ter uma ideia do estilo de humor que a dupla curte.

Festa da Salsicha segue esse caminho. Pelo menos tenho que admitir que algumas piadas são muito boas. O chiclete Stephen Hawking foi genial, e ri alto na citação a Exterminador do Futuro.

Mas é pouco. O material daria um excelente curta, mas a ideia perde o fôlego e o filme fica cansativo. E parece que não sabiam como terminar, achei a solução final bem ruim. Além disso, certas coisas não fazem sentido – se o chuveiro tem vida, por que o revólver é um objeto inanimado?

Rogen tem muitos amigos, e com isso o elenco original é excelente: Rogen, Jonah Hill, James Franco, Kristen Wiig, Bill Hader, Paul Rudd, Edward Norton, Salma Hayek, Michael Cera, etc. Pena que a sessão de imprensa foi dublada. Mas desta vez podemos afirmar que houve coerência com a proposta do filme: a dublagem ficou a cargo do coletivo Porta dos Fundos, que não suavizou em nada as piadas. Acho que nunca ouvi tantos palavrões num desenho animado…

No final, o resultado fica devendo, mas vale por ser diferente. Mas prepare-se para o desconforto. Não acredito que alguém consiga assistir a esse filme sem se sentir ofendido pelo menos uma vez.

A Entrevista

A EntrevistaCrítica – A Entrevista

Vamos de filme polêmico?

Quando o apresentador e o produtor de um programa de tv sensacionalista descobrem que o ditador norte-coreano Kim Jong-un é fã do programa, eles são recrutados pela CIA para transformar sua viagem até Pyongyang em uma missão de assassinato.

No fim do ano passado a Sony foi atacada por hackers ligados à Coreia do Norte, por causa de um filme que satirizava Kim Jong-un. A liberdade de expressão mais uma vez foi questionada, porque a Sony cedeu e adiou o lançamento do filme, e isso gerou uma grande polêmica.

Claro, a polêmica ajudou a divulgação do filme. E arrisco a dizer que foi muito benéfica, pelo lado do marketing – os produtores do filme ganharam uma enorme propaganda com o caso. Porque o filme, por si só, é fraaaco…

Sempre defendo a incorreção política no humor, assim como sempre ataco as piadas ruins. Pra mim, o humor pode ser ofensivo, mas não pode ser sem graça. A Entrevista (The Interview, no original) é ofensivo – e sem graça.

Escrito e dirigido por Seth Rogen e Evan Goldberg, A Entrevista é mais uma comédia de piadas de gosto duvidoso – como acontece infelizmente muito na carreira de Rogen (pena, simpatizo com ele). Muitas piadas de baixo calão envolvendo órgãos sexuais, além de muitas referências ao “bromance” (será que isso é tendência nos EUA?). Na boa, uma piada sobre enfiar uma cápsula no ânus não é engraçada da primeira vez, repetir a piada não melhora a situação.

O elenco não ajuda. Seth Rogen faz o mesmo “papel de Seth Rogen” de sempre, e James Franco, parece que só está na farra com o amigo em vez de interpretar um papel – Franco e Rogen já trabalharam juntos diversas vezes, como na série Freaks and Geeks e nos filmes Segurando as Pontas e É o Fim – entre outros. Ainda no elenco, Lizzy Caplan, Randall Park e Diana Bang, e participações especiais de Rob Lowe, Eminem e Joseph Gordon Levitt, queimando os próprios filmes interpretando eles mesmos em situações embaraçosas.

Assim, temos um filme bobo, repleto de piadas sem graça. Acho que a única parte interessante é a breve crítica ao sensacionalismo da tv norte-americana. Mas a parte principal – sobre o ditador coreano – é dispensável.

Resumindo: se você quiser humor politicamente incorreto satirizando um ditador norte-coreano, prefira Team America

Dívida de Sangue / Good People

good peopleCrítica – Dívida de Sangue / Good People

Um casal americano, morando na Inglaterra e com dificuldades financeiras, encontra uma mala cheia de dinheiro, que pertencia a um inquilino, encontrado morto por uma overdose. Só que os donos do dinheiro não tardam a aparecer.

Estreia hollywoodiana do dinamarquês Henrik Ruben Genz, Dívida de Sangue / Good People tem alguns problemas básicos. Em primeiro lugar, a trama é batida, a gente já viu este tipo de filme antes (quem mais se lembrou do Cova Rasa?). Mas o ritmo do início do filme é bom, e a gente até esquece esse detalhe – afinal, tem muito filme bom que parte de ideias recicladas.

Mas, do meio pro fim, o filme toma vários rumos que fogem de qualquer lógica. Várias situações que a gente pensa “isso nunca aconteceria na vida real” – tipo quando eles fogem para “se esconder” no motel mas todo mundo sabe onde eles estão. Além disso, tudo fica previsível demais, conseguimos antecipar cada passo do filme. E quando vemos o momento “armadilhas do Esqueceram de Mim“, o filme já perdeu qualquer credibilidade que ainda podia lhe restar.

Pena, porque o elenco nem está mal. Kate Hudson e James Franco funcionam bem juntos (e Kate ainda brinda seus fãs com uma rápida cena de nudez parcial). Também no elenco, Anna Friel, Tom Wilkinson, Omar Sy e Sam Spruel.

Dispensável. Vale mais a pena rever o citado Cova Rasa.

É o Fim

Crítica – É o Fim

Uma comédia apocalíptica com humor negro e politicamente incorreto onde atores famosos interpretam eles mesmos? Quero ver isso!

Jay Baruchel viaja até Los Angeles para visitar seu amigo Seth Rogen. Lá, eles vão a uma festa na casa de James Franco. Mas durante a festa, começa o apocalipse bíblico!

É o Fim (This is the End, no original) foi escrito e dirigido por Seth Rogen e Evan Goldberg, que também escreveram juntos Segurando as Pontas e Superbad. Eles aproveitaram os amigos e fizeram essa divertida farra.

O grande barato de É o Fim é mostrar atores se sacaneando e interpretando versões caricatas deles mesmos. Eles não poupam nem piadas sobre seus próprios defeitos e fracassos de bilheteria. Aliás, me questiono se eles pensam nas próprias imagens, porque quase todas as piadas do filme são sobre drogas ou sexo… Mas parece que eles não estão preocupados com isso, afinal o elenco é invejável: Seth Rogen, James Franco, Jay Baruchel, Danny McBride, Jonah Hill, Craig Robinson, Emma Watson, Rihanna, Michael Cera, Jason Segel, Chaning Tatum, Christopher Mintz-Plasse e Paul Rudd, entre vários outros.

Claro que o humor nem sempre “desce redondo”. Algumas piadas, além de grosseiras, são sem graça – aquela discussão envolvendo a revista pornô foi desnecessária. Mas, no geral, gostei. É bom saber que o bom e velho humor politicamente incorreto ainda está vivo!

Resumindo: quem gosta de ver gente que não se leva a sério vai gostar. Mas aqueles que preferem comédias mais convencionais devem procurar outro filme.

Ah, um comentário sobre o fim do filme, com spoilers levíssimos: Backstreet Boys não, né?

Spring Breakers – Garotas Perigosas

Crítica – Spring Breakers – Garotas Perigosas

Quando Spring Breakers – Garotas Perigosas foi divulgado, passou a impressão de ser mais uma comédia besta. Mas aí ele apareceu na programação do Festival do Rio, e ainda teve elogios de um dos críticos d’O Globo. Como diria Calvin Candie, personagem de Leonardo DiCaprio em Django Livre, “you had my curiosity, but now you have my atention”. Fui ver qualé.

Quatro amigas saem de férias no feriado Spring Break, que acontece nos EUA, mas acabam presas. Um traficante as solta e elas conhecem o efêmero glamour da vida do crime.

Spring Breakers – Garotas Perigosas visto, entendi porque está no Festival. Não é uma comédia, mas sim um filme pretensioso. E tem muito filme pretensioso pela programação…

Só depois de ver é que fui verificar quem era o diretor. Harmony Korine ganhou fama como o roteirista de Kids, aquele filme polêmico (e chato) que passou nos cinemas nos anos 90. Spring Breakers – Garotas Perigosas parece uma nova versão de Kids, segue a mesma estrutura: polêmica em cima de imagens estilosas e quase nada de roteiro.

Temos que admitir que Korine tem talento para criar imagens bonitas – provavelmente vem daí os elogios da crítica. Algumas seqüências de Spring Breakers – Garotas Perigosas são graficamente muito interessantes. Mas isso não sustenta um longa metragem. O cara deve ser bom para fazer videoclipes de três ou quatro minutos…

A polêmica de Kids era com sexo entre adolescentes; agora temos um filme com nudez e drogas estrelado por duas ex-estrelas Disney (Vanessa Hudgens e Selena Gomez) e uma atriz com longo currículo na tv (Ashley Benson). Mas, vamos com calma: são quatro atrizes principais – três delas conhecidas, mais uma que ninguém tinha ouvido falar (Rachel Korine, a esposa do diretor). Adivinha qual é a única que mostra alguma nudez?

(Fora Rachel Korine, algumas anônimas “pagam peitinho” em cenas de festas de spring break. Ou seja, se for pela nudez, Spring Breakers – Garotas Perigosas fica devendo.)

Aliás, preciso fazer um comentário sobre os figurinos. Desde que começa a viagem das meninas, elas aparecem o tempo todo de biquíni. Todas as cenas! Será que ninguém da produção se tocou como ficou ridículo quatro meninas de biquíni na frente de um juiz?

Nada a acrescentar sobre o elenco. James Franco está caricato, mas o papel pede isso. E as quatro meninas funcionam para o que foram contratadas: ficar passeando de biquíni durante o filme quase inteiro.

No fim, o resultado é um filme com algumas belas imagens. Mas um filme vazio. E muito chato.

Oz: Mágico e Poderoso

Crítica – Oz: Mágico e Poderoso

Sou fã do Sam Raimi desde a época dos Evil Dead. Claro que não ia deixar de ver sua versão para a origem do Mágico de Oz, né?

Fugindo de uma briga, o mágico de circo Oscar Diggs acaba chegando na Terra de Oz. Lá, ele conhece as bruxas Theodora, Evanora e Glinda, e, com a ajuda de um macaco alado e de uma boneca de porcelana, precisa descobrir quem é do bem e quem é do mal.

Sim, é isso mesmo, esqueça a Dorothy, o Totó, o Espantalho, o Leão e o Homem de Lata. Trata-se de um prequel, mostrando como o Mágico chegou em Oz.

Li que a produção deste Oz: Mágico e Poderoso teve problemas com direitos autorais. O livro de L Frank Baum, de onde saiu a história, está em domínio público, mas o filme de 1939 O Mágico de Oz não está, e os donos dos direitos não liberaram. Então, tudo aqui teve que ser minuciosamente pensado. As citações ao filme original não podiam ser diretas. Um exemplo disso é o início do filme em preto e branco – as cores aparecem quando ele chega a Oz, como acontece no filme clássico.

Claro que os saudosistas vão dizer que este Oz: Mágico e Poderoso não chega aos pés do filme de 39. Mas acho que isso já era previsto: qualquer um que for “cutucar” um dos maiores clássicos da história do cinema vai encontrar uma legião de “haters”. Faz parte.

Na minha humilde opinião, o resultado ficou bem interessante, uma fantasia a la Tim Burton – diferente do último filme de Raimi, o bom terror Arraste-me Para o Inferno. Raimi consegue desenvolver bem uma nova fábula no mundo de Oz.

A produção é Disney, o que pode ser uma boa e ao mesmo tempo uma má notícia. Por um lado, a produção é de altíssimo nível – a animação dos coadjuvantes (o macaco alado e a boneca) é de uma qualidade impressionante. Por outro, Raimi está mais discreto que o habitual (é só compararmos com o resto da boa filmografia do diretor). Se Raimi estivesse mais “solto”, o resultado provavelmente seria menos comportado.

Sobre os efeitos especiais, eles ficaram meio artificiais, mas isso me pareceu proposital. Alguns cenários são muito coloridos, algumas maquiagens são muito caricatas – os cenários e caracterizações parecem uma mistura de Alice no País das Maravilhas do Tim Burton com O Grinch do Jim Carrey.

No elenco, não vi nenhum destaque. James Franco está canastrão, mas acho que o personagem pedia isso. Não gostei da atuação de Mila Kunis, ela parece artificial demais. Rachel Weisz se sai um pouco melhor com sua bruxa menos caricata. Ainda no elenco, Michelle Williams, Zach Braff, Bill Cobbs e as tradicionais pontas de Bruce Campbell e Ted Raimi.

Enfim, Oz: Mágico e Poderoso não se tornará um clássico como o filme de 39. Mas é uma boa diversão.