Arcadian / Depois do Apocalipse

Crítica – Arcadian / Depois do Apocalipse

Sinopse (imdb): Um pai e seus filhos gêmeos adolescentes lutam para sobreviver em uma casa de fazenda remota no fim do mundo.

Filme pós apocalíptico, de monstro, e estrelado pelo Nicolas Cage. Claro que entra no meu radar!

Parece uma versão de Um Lugar Silencioso, mas com monstros sensíveis à luz em vez do som. Não tenho nada contra ideias recicladas, mas o filme precisa ser bom, e Arcadian tem algumas ideias boas, outras nem tanto.

Dirigido pelo pouco conhecido Benjamin Brewer, Arcadian explica pouca coisa. O filme começa com o Nicolas Cage fugindo, e ouvimos ao fundo gritos e sons de tiros, mas não vemos nada. Passam-se alguns anos e agora nosso protagonista vive num lugar isolado, acompanhado pelos seus dois filhos. E sabemos que, quando a noite cai, algo espreita a casa, mas não sabemos o que.

A primeira cena onde vemos algo do monstro é sensacional, quando vemos a “mão” da criatura tentando entrar por um buraco na porta. Mesmo assim, continuamos sem saber como é o tal monstro! Gosto desse conceito, de se manter o mistério sobre o que é a criatura, defendo isso desde o primeiro Alien, de 1979. É muito mais assustador quando não sabemos o que está atacando!

Quando o monstro finalmente aparece, tem uma coisa que gostei, outra nem tanto. Gostei da velocidade das mandíbulas quando eles atacam, aquilo ficou realmente assustador. Por outro lado, não entendi o lance deles se juntarem e virarem uma grande roda. É o mesmo tipo de criatura ou tem outra espécie capaz de fazer aquilo?

Os efeitos especiais são apenas ok. Muitas cenas escuras, provavelmente pra esconder falhas no cgi. E em algumas cenas, o cgi dos monstros fica muito aparente. Além disso, a câmera é tremida o tempo todo. Às vezes dá nervoso.

Agora, Arcadian tem um problema na segunda metade. Acontece uma coisa com o personagem do Nicolas Cage e ele passa a ser um coadjuvante. Coincidência ou não, o ritmo do filme cai bastante depois que muda o protagonismo.

No elenco Jaeden Martell e Maxwell Jenkins fazem os filhos do Nicolas Cage, os atores não são ruins, mas os personagens são fuen. Sadie Soverall faz o único outro papel relevante.

Arcadian não é ruim, mas é uma ideia reciclada que fica alguns degraus abaixo da ideia original. Vamos ver se vai ter continuação pra gente saber um pouco mais sobre esses monstros.

Acolyte – primeiras impressões

Acolyte – primeiras impressões

Hoje é quarta, Acolyte acabou ontem, heu deveria fazer um texto analisando a série. Mas preciso rever tudo, são 8 episódios, e vou viajar amanhã, os filhos estão de férias e vou passar 4 dias offline com eles. E o texto seria mais um pra falar mal, porque é um consenso de que Acolyte é a pior coisa já feita dentro do universo de Star Wars. Então, em vez de um texto “chutando cachorro morto”, vou preparar pra semana que vem um texto semelhante ao que fiz com a série Obi Wan, citando “6 tosqueiras toscas em Obi Wan”.

Em primeiro lugar, a série é feita por quem não gosta de Star Wars. A showrunner (e também roteirista e diretora) Leslye Headland resolveu criar polêmicas como quando disse que “R2D2 é uma lésbica”. Vem cá, em algum momento dos nove filmes onde o R2D2 aparece, tem alguma única cena ligada à sexualidade dele? É um robô! Não estou nem entrando no mérito sobre heterossexualidade vs homossexualidade, a parada aqui é mais básica: É UM ROBÔ! NÃO TEM SEXO! Uma pessoa que dá uma declaração dessas, na verdade, não quer provar uma teoria, o que ela quer é agredir todo um fandom. Pra que levantar uma bandeira onde não existe espaço pra isso? Agora, ela pode dizer que quem não gosta da série é homofóbico. Dona, não tem nada a ver. Não force a barra.

Mas, esse não é o pior problema de Acolyte. Tem algo pior: não respeita o canon de Star Wars. Se você vai escrever uma história que se passa dentro de um universo onde existem vários filmes, séries, desenhos, livros e videogames, você precisa estudar esse universo, pra poder encaixar a sua historia sem entrar em conflito com outras coisas que já existem lá. E Acolyte não fez o dever de casa, como, por exemplo, quando coloca o Ki-Adi-Mundi, personagem que estava em Star Wars Ep 1 – e que não tinha idade para estar vivo na época em que se passa a série. Isso dentre várias outras coisas…

Mas, na verdade, esse também não é o pior problema de Acolyte. Uma história no estilo “What If”, num universo paralelo, fora do canon, pode ser boa. O pior problema é que é uma série ruim. A história é ruim, mal contada. Tecnicamente tem vários erros, é uma série mal dirigida e mal editada. É mal escrita, várias coisas no roteiro não fazem sentido. E o pior de tudo: é uma história chata. São episódios de pouco mais de meia hora, que cansam, com personagens sem carisma carregando uma história sem graça. Se não fosse Star Wars, heu teria parado no segundo episódio.

Enfim, semana que vem providencio o texto com tosqueiras da série. E fico na torcida pra não ter uma segunda temporada.

Um Tira da Pesada 4: Axel Foley

Critica – Um Tira da Pesada 4: Axel Foley

Sinopse (imdb): O detetive Axel Foley se vê novamente envolvido nos ambientes sofisticados de Beverly Hills para investigar a morte prematura de um conhecido de longa data.

Quando anunciaram Um Tira da Pesada 4, pensei em não fazer crítica, porque lembro pouco do primeiro filme (de 1984), não lembro de absolutamente nada do segundo (87) e não lembro nem se vi o terceiro (94) – devo ter visto, em 94 tinham menos filmes sendo feitos, era mais fácil acompanhar todos os lançamentos. Mas tá todo mundo falando, então resolvi encarar.

Vou repetir um comentário que fiz outro dia no texto sobre Meu Malvado Favorito 4. Alguns filmes escolhem o caminho seguro e repetem uma fórmula que já deu certo antes. É o caso aqui. Um Tira da Pesada 4: Axel Foley (Beverly Hills Cop: Axel F, no original – devem ter gostado da ideia de colocar o nome do personagem no título, como Top Gun Maverick) é exatamente igual ao primeiro filme, com tudo de positivo e de negativo que isso traz.

Por um lado, é ruim. A gente já viu tudo isso. Meio que tanto faz assistir este quarto filme ou rever o primeiro. Mas, por outro lado, quem vai ver um quarto filme do Axel Foley acho que não está procurando novidades. É, pensando por esse lado, a produção acertou. Porque acredito que o filme vai agradar a todos os fãs da franquia.

Preciso reconhecer uma coisa: Eddie Murphy está muito bem. Tanto na parte física – ele está com 63 anos, e continua com a mesma cara! Só pra um efeito de comparação: Judge Reinhold é quatro anos mais velho, e está muito mais acabado! Mas, além de estar bem fisicamente, Murphy ainda é muito carismático e carrega facilmente o filme nas costas. Agora, algumas piadas ficaram datadas. Se quarenta anos atrás a gente ria com afeminado Serge interpretado por Bronson Pinchot, hoje em dia isso não tem mais nenhuma graça.

A direção é do estreante Mark Molloy, o que é curioso porque as outras duas continuações traziam nomes consagrados (Tony Scott e John Landis). Acredito que deve ser estratégia pra ser um filme com “cara de produtor”.

(Aliás, descobri que o terceiro filme é odiado por quase todos, inclusive pelo próprio Eddie Murphy. O roteiro brinca com isso. Quando Joseph Gordon-Levitt analisa os outros três casos de Axel em Beverly Hills, ele menciona que o terceiro “não foi seu melhor momento”, uma clara referência ao Tira da Pesada 3.)

Agora, se tenho um grande elogio é à trilha sonora. Não estou falando da ideia óbvia de usar músicas do primeiro filme – assim como Top Gun Maverick abre com a mesma música do primeiro Top Gun, este quarto filme abre com The Heat is On, do primeiro. Na verdade estou falando do icônico tema instrumental do Harold Faltermeyer (que toda uma geração conhece como “Crazy Frog”), que aqui aparece adaptado em várias versões. O trabalho feito em cima do conhecido tema ficou muito bom.

No elenco, vários atores que já estiveram nos outros filmes, como os já citados Judge Reinhold e Bronson Pinchot, e também John Ashton e Paul Reiser (que estavam nos dois primeiros filmes). De novidade, Taylour Paige, Joseph Gordon-Levitt e Kevin Bacon, além de pontas de Luis Guzmán e Christopher McDonald.

Resumindo: mais do mesmo. O que pode ser bom dependendo de quem for ver o filme.

Hora do Massacre

Crítica – Hora do Massacre

Sinopse (imdb): Na tentativa de chamar atenção para a crise ambiental, jovens ativistas decidem invadir e vandalizar uma loja de móveis. No entanto, o protesto se transforma em um massacre quando se veem presos com um segurança obsessivo por caça.

Hora do Massacre (Wake Up, no original) parte de uma proposta interessante: um grupo de ativistas entra à noite numa loja tipo a Tok & Stok pra vandalizar tudo, em protesto porque supostamente a loja apoia o desmatamento da Amazônia. Um guarda noturno acaba morrendo acidentalmente. O outro guarda noturno, que é um psicopata completamente desequilibrado, sai então à caça dos ativistas.

(O título original é “Wake Up’, que é o que os ativistas picham nas paredes e nos móveis. Mas gostei do título brasileiro, que lembra a época da “espantomania”, uma onda de filmes de terror que começavam com “A Hora”: A Hora do Espanto, A Hora do Pesadelo, A Hora do Lobisomem, A Hora da Zona Morta e A Hora dos Mortos Vivos).

Hora do Massacre é curtinho, tem uma hora e vinte e três minutos, e vai direto ao assunto. Somos logo apresentados aos dois guardas noturnos, cada um com seus problemas pessoais, e também ao grupo de ativistas, e logo a ação começa. Só um cenário, só 8 atores, tudo se passa em uma única noite. Um filme “pequeno”, com uma ideia simples e eficiente.

Hora do Massacre é o novo projeto do trio de diretores canadenses François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell, também conhecidos por RKSS (Roadkill Superstars). Ainda não tinha visto nenhum filme deles, agora quero procurar Verão de 84, de 2018.

Uma coisa legal aqui é que não tem nenhum “mocinho”. Muitas vezes vemos um filme nesse formato, e nos identificamos com um dos lados, mas aqui os dois estão errados. Por outro lado, o roteiro tem algumas conveniências, tipo um personagem levar uma facada profunda na altura do coração e continuar andando e correndo como se estivesse sem nenhum machucado. Nada grave, felizmente. E é filme de terror, acontecem mortes. Temos alguma violência gráfica, mas, pensando na proposta, na minha humilde opinião Hora do Massacre podia ter um pouco mais de gore.

Por fim, uma coisa que não li em nenhum lugar, mas fiquei pensando. O guarda que faz as armadilhas se chama Kevin. Será uma homenagem a Esqueceram de Mim?

Bom filme pra quem curte o gênero.

Twisters

Crítica – Twisters

Sinopse (imdb): Uma atualização do filme “Twister” de 1996, centrado em uma dupla de caçadores de tempestades que arriscam suas vidas em uma tentativa de testar um sistema experimental de alerta meteorológico.

Hollywood gosta de franquias. É mais fácil vender um filme ligado a uma franquia do que um filme “solo”. Sendo assim, agora, 28 anos depois do primeiro Twister, temos um novo filme. Mas o curioso aqui é que este Twisters não é uma continuação, nem um reboot, nem um remake. É apenas mais um filme usando a mesma premissa. A vantagem pra quem tem memória ruim que nem heu é que não precisa rever o original, porque este novo não tem nenhuma conexão com aquele (sorte minha, porque não lembro de nada do original).

Achei curioso ver que a direção é de Lee Isaac Chung, que chegou a ser indicado a dois Oscars por Minari (roteiro e direção), um filme que não tem nada a ver com o estilo de Twisters. Chung já tinha mostrado que sabe fazer filmes mais intimistas, agora prova que dominou perfeitamente o formato blockbuster. A parte técnica enche os olhos. Em momento algum os tornados parecem fake, o cgi é perfeito.

Twisters começa bem, vamos direto pra ação, Daisy Edgar-Jones lidera uma equipe de estudantes que estão caçando tornados. Mas as coisas não vão como o planejado, e ela acaba desistindo. Até que, cinco anos depois, ela acaba voltando ao “circuito de caçadores de tornados”, dominado por dois grandes grupos, de estilos e propostas diferentes.

Tem uma coisa curiosa na construção desses dois grupos rivais. Um deles, liderado pelo co-protagonista Glen Powell, é uma galera arruaceira e espalhafatosa que aparentemente só caça tornados para conseguir views no youtube. Daisy integra o outro, de cientistas que querem estudar o fenômeno meteorológico. Por um lado, o roteiro consegue subverter a importância dos dois grupos de maneira inteligente, o espectador começa o filme simpatizando com um, mas termina apoiando o outro. Mas, teve uma coisa que ficou estranha. O grupo de cientistas usa um dinheiro nada ético, de um cara que faz especulação imobiliária em cima de terrenos devastados pelos tornados. Mas, se por um lado o cara não é ético e ganha dinheiro com a miséria dos outros, por outro lado ele está investindo dinheiro na pesquisa. Ou seja, ele não é de todo mau. Pelo filme, heu entendi que ele quer resolver os problemas a longo prazo.

Mesmo com essa falha na construção de um desnecessário vilão, gostei do roteiro, que consegue fazer um “feijão com arroz” muito bem construído, tanto na parte de espalhar situações de tornados ao longo do filme (são pelo menos cinco sequências tensas e eletrizantes perseguindo tornados), quanto na construção do casal, que lembra a fórmula das comédias românticas: inicialmente eles não se gostam, mas acabam desenvolvendo um relacionamento. E preciso dizer que ambos os atores, Daisy Edgar-Jones e Glen Powell, estão ótimos – o carisma da dupla é um dos trunfos do filme.

Ainda sobre o elenco, Anthony Ramos completa o trio principal. Mas, prestem atenção no cara que está sempre ao lado dele, interpretado por David Corenswet – esse cara será o novo Superman! Também tem uma ponta da Maura Tierney. Sim, podia ser a Helen Hunt, mas, como falei, esse filme não se conecta ao original.

Queria falar mal de uma coisa do fim, mas é spoiler, então siga por sua conta e risco.

SPOILERS!
SPOILERS!
SPOILERS!

Já comentei aqui diversas vezes sobre decisões burras de personagens. Mas aqui tem uma bem complicada. Eles têm um plano para dissipar um tornado. Estão literalmente ao lado desse tornado. Mas dizem “ele está indo pra uma cidade aqui perto, vamos lá ajudar!”. Ora, se eles não fossem até a cidade e focassem no tornado, a cidade não seria destruída e não precisaria da ajuda deles!

FIM DOS SPOILERS!

Twister, de 1996, era um bom filme pipoca, mas nada demais, tanto que a gente lembra mais de outros filmes da época, como Missão Impossível, Independence Day ou Um Drink Para o Inferno. Este novo Twisters também é um entretenimento competente, galera vai se divertir, ninguém vai sair decepcionado da sala de cinema. Mas assim como o anterior, acho que vai ser esquecido em breve.

Uma Natureza Violenta / In a Violent Nature

Crítica – Uma Natureza Violenta / In a Violent Nature

Sinopse (imdb): Um monstruoso morto-vivo causa uma chacina entre um grupo de campistas que perturbaram seu túmulo.

Outro dia uma amiga me recomendou um novo slasher, que estava sendo vendido como “o filme mais assustador de todos os tempos”: In a Violent Nature, novo filme da Shudder. Segundo o imdb, aqui o filme se chamará Uma Natureza Violenta.

Comecei a ver e já saquei que o roteirista e diretor Chris Nash quer ser “diferentão”: o formato de tela é o 4 x 3, da época das tvs de tubo. Por que diabos alguém em 2024 vai usar um formato obsoleto? Ora, pra fazer “filme de arte”.

Ok, deixa o formato pra lá, isso não define a qualidade de um filme. Vamulá. Por um lado, In a Violent Nature acerta em tentar mostrar o slasher por um ângulo diferente. Por outro lado, é um filme chaaato…

Somos apresentados a Johnny, uma espécie de cosplay de Jason Voorhees: um morto vivo grandalhão e muito forte, mudo, que persegue e mata as pessoas, e que não morre. A única diferença é a máscara, em vez de máscara de hockey, esse aqui usa uma máscara diferente, disseram que é dos bombeiros (mas heu nunca tinha visto aquela máscara). E a camera acompanha o Johnny em looongos passeios pela floresta. Às vezes escutamos diálogos ao fundo, mas continuamos andando pela floresta.

Sobre os diálogos ao fundo, tem uma cena onde Johnny chega perto de um grupo de jovens à beira de uma fogueira, mas não ataca. Por que? Porque o roteiro deve ter dito “fica aí quieto porque é o momento de explicar pro espectador a sua história”. E aí a gente fica ouvindo um bate papo longo e chato contando tudo o que aconteceu com o Johnny. Mas é uma cena ruim, que explica demais e que se estende demais.

Não sei se isso acontece durante todo o filme, mas me deu a impressão de que In a Violent Nature não tem trilha sonora – o que intensifica o tédio nesses entediantes passeios.

Por outro lado, algumas mortes aqui são muito boas. Tem uma cena em plongée (quando a câmera está pegando os personagens por cima), provavelmente filmada por drone, onde Johnny ataca duas vítimas, que é muito bem filmada – ele se levanta, joga o machado, depois anda na direção dos dois. Tem outra cena, a da menina fazendo yoga, que pode entrar na lista de “gores mais gore do cinema” (apesar de heu ficar na dúvida se um corpo se manteria em pé com aquilo tudo acontecendo). Quem estiver atrás de mortes bem filmadas, com bons efeitos práticos e de maquiagem, vai curtir.

Mas são poucos os momentos de ação e gore. Parece que o diretor queria valorizar mais as caminhadas do que os ataques do Johnny. E, pra piorar, no fim do filme tem um longo e entediante diálogo num carro, que não leva a lugar algum. São mais de dez minutos de blablablá, chegou um momento que me perdi. Se você reparou em algo interessante nesse diálogo, escreva aqui embaixo. E depois desse diálogo, a gente pensa “ok, ouvi esse papo chato, agora vai ter alguma coisa pra compensar”, e nada. O filme acaba.

Resumindo: gostei da ideia de ver um slasher sob outro ponto de vista, e gostei muito de algumas mortes. Mas esse filme podia ter meia hora.

Meu Malvado Favorito 4

Crítica – Meu Malvado Favorito 4

Sinopse (imdb): Gru, Lucy, Margo, Edith e Agnes dão as boas-vindas a um novo membro da família, Gru Jr., que tem a intenção de atormentar seu pai. Gru enfrenta um novo nêmesis, Maxime Le Mal e sua namorada Valentina, e a família é forçada a fugir.

Reconheço que não tenho tido muita vontade de ver animações. Mas admito que gosto do Gru, e gosto ainda mais dos minions. Então bora pro novo filme da franquia, o sexto se a gente contar com os dois filmes dos minions.

Comentei aqui outro dia sobre MaXXXine e a trilogia X. São três filmes bem diferentes entre si, o que mostra uma certa coragem do diretor Ti West, que não quis procurar o caminho fácil das repetições de fórmula. Já Meu Malvado Favorito 4 (Despicable Me 4, no original) segue o caminho oposto: “se deu certo, vamos repetir a fórmula”. Por um lado, é seguro, porque o filme é muito divertido e muito engraçado. Mas, por outro lado, precisamos reconhecer que estamos vendo ideias recicladas.

(E agora fico pensando quem mais é maluco igual a mim e vê filmes tão distintos quanto MaXXXine e Meu Malvado Favorito 4…)

Para o bem ou para o mal, Meu Malvado Favorito 4 é igual aos outros. Gru encontra um novo inimigo, e ao mesmo tempo rola uma trama paralela que o faz ficar entre ser bonzinho ou voltar a ser malvado. E, claro, os minions trazem piadas ótimas.

Heu adoro o humor anárquico dos minions. Só pra dar um exemplo: tem um momento onde acontece uma explosão e um minion começa a pegar fogo – e logo tem outro minion com um espetinho assando uma linguiça no coleguinha em chamas!

Rola uma novidade, alguns minions viram super minions (lembram heróis já conhecidos, tipo Superman, Ciclope (do X-Men), Hulk, Senhor Fantástico e Coisa (do Quarteto Fantástico)). Mas esse sub plot é meio bobo.

Agora, tenho uma reclamação. Inventaram um novo filho pro Gru, um bebê. Mas, por que diabos as meninas não crescem?

Sobre a dublagem brasileira, Meu Malvado Favorito é um dos raros casos onde defendo a dublagem. O Gru brasileiro do Leandro Hassum é é tão bom que a gente nem sente vontade de conhecer o original do Steve Carrell.

Meu Malvado Favorito 4 é reciclado. Mas vai agradar os fãs da franquia.

MaXXXine

Crítica – MaXXXine

Sinopse (imdb): Na década de 1980, em Hollywood, a estrela de cinema adulto e aspirante a atriz Maxine Minx recebe sua grande chance. Mas conforme um assassino persegue as estrelas de Hollywood, um rastro de sangue ameaça revelar o passado sinistro dela.

Estreou o aguardado terceiro filme da trilogia X!

Em 2022 Ti West lançou X, um bom slasher com cara de anos 70. Poucos meses depois, tivemos Pearl, um prequel, contando a história da velhinha do filme anterior. MaXXXine é o filme que segue a história de X. Ou seja, é bom ter visto Pearl, mas é essencial ter visto X.

Antes de tudo, preciso dizer que MaXXXine é um bom filme, mas achei o mais fraco dos três. Mas reconheço que parte dessa conclusão é head canon. Porque fui ao cinema esperando ver um terror slasher, e MaXXXine é mais um suspense tentando emular Brian de Palma do que um filme de terror – só vemos três mortes em tela! MaXXXine tem muito menos mortes, nudez e sexo do que X.

Mas, por outro lado, tiro o meu chapéu para Ti West com a sua concepção de trilogia. Em vez de fazer “mais do mesmo”, que é o que a maior parte do público esperava (não me lembro qual filme dizia que uma continuação de filme de terror apenas precisa se preocupar sem ter mais mortes e mais violência gráfica), Ti West criou três filmes distintos, com propostas diferentes. X parece um slasher filmado nos anos 70. Já Pearl tem outro ritmo e parece ter sido feito nos anos 40 ou 50 (peço desculpas, conheço pouco do cinema dessa época). MaXXXine parece um suspense policial filmado nos anos 80. Sim, é a mesma personagem do primeiro filme, mas são filmes completamente diferentes nas suas propostas.

(Lembrei de A Morte te Dá Parabéns, que tem uma continuação completamente diferente do primeiro filme.)

Nesse sentido de ambientação nos anos 80, palmas para Ti West. Tudo aqui emula os anos 80, não só os óbvios figurinos, penteados e trilha sonora. O filme realmente parece ter sido feito naquela época. Segundo o imdb, a produção procurou equipamentos e câmeras usadas nos anos 80, e evitaram “truques modernos” durante as filmagens.

MaXXXine é recheado de referências a outros filmes. Quando sair no streaming, devem pipocar alguns vídeos no youtube tipo “10 referências que você não reparou em MaXXXine!”. Algumas estão muito na cara, como o Kevin Bacon de terno claro e curativo no nariz, igual ao Jack Nicholson em Chinatown; ou citarem Marilyn Chambers, que era atriz pornô e fez um filme de terror em 1977, Rabid, dirigido por David Cronenberg. Outras são menos óbvias, teve uma que comentei com alguns amigos depois da sessão e ninguém tinha reparado. Tem uma cena em uma boate que lembra muito Dublê de Corpo, e está tocando uma música muito parecida com Relax, do Frankie Goes to Hollywood (música usada no Dublê de Corpo). Aguardei até os créditos e confirmei: é outra música do Frankie Goes to Hollywood. Ti West provavelmente usou a mesma banda pra fazer mais uma referência.

(Aliás, em alguns momentos vemos a tela dividida, justamente como Brian de Palma costumava fazer.)

O elenco tem muito mais star power do que os anteriores (X tinha a Jenna Ortega, mas antes do hype de Wandinha). MaXXXine conta com Elizabeth Debicki, Giancarlo Esposito, Kevin Bacon, Michelle Monaghan, Sophie Thatcher, Bobby Cannavale, Halsey e Lily Collins, além, claro da Mia Goth, que, mais uma vez, está muito bem no papel – logo no início, na audição para o papel, ela já mostra que é muito boa. Ah, não sei vocês, mas toda vez que o Kevin Bacon aparecia, heu achava que era o Ethan Hawke.

Sou poucas mortes, mas temos uma violência gráfica bem forte. Diria que tem uma cena em particular onde não morre ninguém que é a mais forte de todas, que é quando Maxine se defende de um agressor atacando suas partes íntimas. Essa cena vai dar o que falar!

Agora, vamos ao principal problema do filme. Quando X acaba, policiais encontram uma câmera no meio de vários cadáveres. MaXXXine se passa seis anos depois, a Maxine Minx hoje é uma estrela pornô. Mas ela estava nas filmagens encontradas, e todas as outras pessoas que aparecem nas filmagens morreram. Como é que não teve uma investigação policial sobre isso? Como é que conseguiram abafar um caso desse porte? MaXXXine dá a entender que existe alguém poderoso por trás, mas se essa pessoa é tão poderosa a ponto de apagar uma investigação policial envolvendo sete mortos, acho que o roteiro deveria ter deixado isso mais claro. Do jeito que ficou, parece que o que aconteceu no final de X foi algo pequeno e discreto.

Além disso, não gostei do final de MaXXXine. Achei toda aquela sequência mal construída, mas não entro em detalhes pra não dar spoilers.

Mas, mesmo achando MaXXXine um degrau abaixo dos outros dois, podemos dizer que Ti West fez uma boa trilogia. MaXXXine estreia semana que vem, dia 11 de julho, e merece ser visto no cinema.

Demons (segunda crítica)

Crítica – Demons

(Esta é a segunda crítica que faço para este filme, escrevi sobre ele em fevereiro de 2010. Mas esta está mais completa.)

Sinopse (imdb): Um grupo de pessoas é convidado aleatoriamente para a exibição de um filme misterioso, apenas para se encontrarem presos num teatro com demônios vorazes.

Hora de falar de Demons, clássico trash de 1985. Tenho duas histórias pessoais com esse filme, relacionadas a duas vezes que assisti nos cinemas. Vou falar sobre o filme, depois conto as histórias pessoais.

Demons foi dirigido por Lamberto Bava, filho de Mario Bava, diretor, roteirista e diretor de fotografia de vários clássicos de terror italianos – seu filme La ragazza che sapeva troppo, de 1963, é considerado o primeiro filme “giallo”. Lamberto Bava também é um dos roteiristas, ao lado de um tal de Dario Argento.

Pessoas são convidadas para a inauguração de um cinema, e durante a sessão, começam a se transformar em monstros. Sim, é um argumento meio trash. Mesmo assim, o modo como o filme apresenta a metalinguagem é muito bem construído, porque temos duas camadas. A primeira é que estamos assistindo a um filme onde pessoas estão assistindo a um filme. A outra é que, conforme as coisas acontecem no “filme dentro do filme”, coisas semelhantes acontecem no filme que estamos vendo.

Outro destaque em Demons é a maquiagem. Era 1985, não tinha efeitos em cgi, tudo era efeito prático e de maquiagem. E a maquiagem dos monstros é muito muito boa. A cena da primeira pessoa começando a transformação, em frente ao espelho do banheiro, marcou a minha juventude pelo gore apresentado. Digo mais, tem um detalhe ressaltado pelo meu amigo Célio Silva, crítico do G1: este é talvez o único filme que mostra a troca de dentes por presas. Sempre vemos a pessoa transformada, com uma dentição diferente, mas (quase) nunca vemos como essa dentição foi transformada. Aqui tem uma cena mostrando!

A fotografia também é muito boa, Lamberto Bava consegue mostrar o cinema em alguns ângulos bem criativos. E tem algumas cenas muito bem filmadas, como a parte onde o personagem está em uma moto matando demônios com uma katana.

A boa trilha sonora original é de Claudio Simonetti, da banda Goblin, que trabalhou em dezenas de filmes de terror, como Suspiria, Tenebre e Terror na Ópera. Além disso, a trilha usa músicas rock’n’roll, de artistas como Motley Crue, Billy Idol, Accept e Saxon.

Agora, precisamos entender que é um filme trash. Um bom trash, mas não deixa de ser trash. O roteiro tem algumas coisas que não fazem o menor sentido, estão lá só pelo visual, como um demônio que sai das costas de uma personagem.

Além disso, tem uma trama paralela bem chatinha com um grupo fora do cinema. E se estamos falando de um filme de menos de uma hora e meia, fica estranho ter uma parte arrastada. Aquela trama paralela podia ser encurtada – ou mesmo cortada fora do filme.

No elenco, nenhum ator conhecido, e nenhuma boa atuação. Este é daquele formato de filme onde os atores não têm muito espaço para grandes atuações. Só uma curiosidade relativa ao elenco: o homem com a máscara de ferro que distribui os ingressos no início do filme é interpretado por Michele Soavi, que depois viraria diretor de filmes como Dellamorte Dellamore e O Pássaro Sangrento.

Demons teve uma continuação lançada em 1986. Provavelmente vi na época, mas não me lembro de absolutamente nada…

Vamos para as histórias? Segundo o imdb, Demons foi lançado no Brasil em 1988, o que é compatível com a minha primeira história. Vi no Studio Copacabana, uma sala pequena e meio vagabunda que tinha numa galeria na rua Raul Pompeia, Copacabana (se não me falha a memória, mesma galeria que também teve a Bunker, a Mariuzinn e a Le Boy). Vi sozinho, num cinema que ficava no subsolo de uma galeria, igual ao cinema do filme. Confesso que fiquei bolado com a ideia de ficar preso naquele cinema!

A outra história aconteceu este ano. Estava rolando uma maratona noturna no Estação Net Rio, com filmes passando nas cinco salas, a gente podia trocar de sala à vontade. Estava com meus três filhos, e vi que ia ter Demons em uma das salas, fui com eles pra lá. Vimos o filme, e quando acabou, minha filha de 23 anos e meu filho de 15 disseram, quase ao mesmo tempo, “pai, esse é o pior filme que eu já vi na minha vida!”. Bem, o filho de 13 anos não reclamou, acho que ainda tenho esperança de ter um filho que goste de cinema trash…

Um Lugar Silencioso – Dia Um

Crítica – Um Lugar Silencioso – Dia Um

Sinopse (imdb): Uma mulher vive os aterrorizantes primeiros minutos de uma invasão alienígena na cidade de Nova York.

Hollywood gosta de franquias. Um terceiro filme de Um Lugar Silencioso não chega a ser surpresa. A Paramount disse que seria um prequel, mas pra mim Um Lugar Silencioso – Dia Um é um spin off, já que vemos outros personagens no mesmo universo.

Meu medo era a troca de diretor. John Krasinski deu lugar a Michael Sarnoski (que dirigiu Pig, um dos melhores filmes recentes do Nicolas Cage). Mas podemos dizer que Sarnoski fez um bom trabalho.

Somos apresentados à protagonista, interpretada pela Lupita Nyong’o (não me lembro se ela tem nome), que está numa clínica tratando um câncer terminal. Os pacientes vão até a cidade de Nova York pra assistir a uma peça de teatro, quando chegam os monstros alienígenas e começam a destruir tudo.

Essa parte “filme catástrofe” é muito boa. São sequências tensas, e a parte técnica é perfeita. Lembrei da franquia Alien: no primeiro filme, mal vemos o monstro, mas nas continuações temos uma grande quantidade deles. Aqui e o mesmo, são dezenas de monstros espalhados, destruindo tudo. Tem uma cena em plano sequência, da Lupita andando meio sem destino no meio do caos, que é talvez a melhor sequência do filme.

Mas aí acabam as sequências de catástrofe e o filme muda. Caímos num momento drama que achei meio arrastado. E então algumas conveniências de roteiro começaram a me incomodar. Vou citar duas delas aqui.

A primeira é sobre como funciona a audição dos monstros. Parece que a audição é mais ou menos apurada dependendo do que o roteiro pede. Um exemplo: em uma cena, o som de uma roupa se rasgando é suficiente pra rapidamente atrair o monstro. Mas em outra cena vemos centenas, talvez milhares de pessoas andando, e os monstros demooooram pra aparecer… Tem uma outra cena onde um personagem está quebrando vidros de carros pra disparar alarmes e atrair os monstros, e outro personagem chuta uma latinha – e TODOS os monstros param de seguir os alarmes pra irem na direção da latinha!

(Tem um detalhe que parece que não viram os filmes anteriores. As pessoas andam descalças e pisam de um modo a fazer menos barulho. Aqui o personagem do Joseph Quinn anda de sapato social por mais da metade do filme. Não era melhor alguém ter dito pra ele andar descalço?)

Outra conveniência de roteiro é o gato. Tem um gato que acompanha a Lupita ao longo de todo o filme. Mas tem cenas onde o gato não está. Então a gente combina assim: se der pra aparecer, a gente coloca o gatinho. Mas se for complicado, tipo uma cena debaixo d’água, a gente deixa de lado e depois mostra o gatinho molhado. Ah, detalhe: o gato não mia!!!

Tem um outro probleminha, nada grave, mas, nós, espectadores, sabemos que os monstros são extremamente sensíveis aos sons, então é importantíssimo que se fique em silêncio. Mas, os personagens do filme “ainda” não sabem. Achei que o início foi meio abrupto nesse sentido, podiam ter desenvolvido melhor esse novo perigo desconhecido.

Assim como nos outros filmes, o elenco é pequeno e funciona bem. Quase todo o filme fica em cima da Lupita Nyong’o e do Joseph Quinn, e tem pequenas participações de Alex Wolff e Djimon Hounsou.

Apesar dessas “roteirices”, Um Lugar Silencioso – Dia Um não é de todo ruim. Vai agradar os menos exigentes.